Israel não foi estabelecida para ser um porto de abrigo para os Judeus, mas para gerar uma sociedade que apresenta uma alternativa desejável e sustentável para um mundo fracturado e cheio de ódio.
Para os Palestinianos, esta decisão foi meramente uma experiência, molhar o pé. Mas o sucesso do experimento deveria ser um sinal de alerta para todos nós. Se desejamos evitar que uma resolução da Assembleia Geral da ONU sancione e por fim revogue o estado de Israel, é imperativo que despertemos agora.
Israel não foi estabelecida para ser um porto de abrigo para os Judeus às custas das outras pessoas. Nos foi dada soberania em prol de gerarmos uma sociedade cujos valores apresentem uma alternativa sustentável para um mundo dilacerado pela guerra e ódio.
Israel—uma Solução para o “Problema do Racismo”
Em 29 de Novembro de 1947, as Nações Unidas votaram esmagadoramente a favor do estabelecimento de dois estados independentes na Palestina — um estado Judeu e um estado Árabe. Tivesse a resolução sido baseada somente nos sentimentos de culpa do mundo depois do Holocausto, ela nunca teria sido passada.
Em Julho de 1938, percebendo o grave perigo que enfrentavam os Judeus na Alemanha face a Hitler, trinta e duas nações se reuniram em Évian na França, para discutirem como ajudar os Judeus a saírem. Mas quando questionados sobre quantos Judeus estariam dispostos a receber, nem um único país apresentou qualquer ajuda na prática. Tudo o que os EUA, França, Grã-Bretanha e os vinte e nove países ofereceram foi conversa fiada, mas aceitação alguma. O delegado Australiano, T. W. White, melhor descreveu a mentalidade prevalecente na conferência: “Como não temos nenhum verdadeiro problema racial, não temos desejo de importar um.”
Para o mundo, não apenas para Hitler, os Judeus eram um problema. Ao nos darem um estado, eles não nos fizeram um favor, mas esperavam se livrarem a si mesmos de um. Agora, parece que se arrependeram dessa decisão.
Desde Tolstói a Rav Kook, o Mundo Nos Diferencia
O “problema Judaico” é um antigo enigma. Questionava-se o escritor Liev Tolstói, “Que tipo de criatura única é [o Judeu], a quem todos os governantes de todas as nações do mundo desgraçaram e esmagaram e expulsaram e destruíram, perseguiram, queimaram e afogaram, e que, apesar de sua ira e fúria, continua a viver e florescer? …O Judeu é o símbolo da eternidade. …É ele aquele que guardou a mensagem profética há tanto guardada e a transmitiu para toda a humanidade” (Liev Tolstói, “O Que é o Judeu?”).
Tolstói não está a sós. Quase não há pessoa no mundo que considere os Judeus pessoas vulgares. Nem todos nos odeiam, mas nenhum nos julga segundo o mesmo critério pelo qual julgam outras nações. Estes dois pesos e duas medidas é inerente dentro de qualquer pessoa no mundo. O que as pessoas esperam de nós, elas não esperam de mais ninguém.
A mesma expectativa era verdadeira quando foi o estado de Israel estabelecido. Talvez sonhássemos de sermos como todas as outras nações, termos nossa própria terra onde poderíamos viver nossas vidas em paz e segurança, mas o mundo tinha outros planos para nós. Se ele nos quisesse dar paz e segurança, ele não nos plantaria na região mais volátil do planeta, rodeados de milhões de Árabes que não querem nada mais senão que desaparecêssemos.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo precisava de curativo do ódio que havia causado sua eclosão. Bem no fundo, as pessoas esperavam que esse curativo viesse de nós. Elas ainda esperam e sempre vão esperar. O mundo não consegue esperar qualquer outra coisa de nós pois esta é a razão pela qual o povo Judeu foi criado para começar — para ser “uma luz para as nações.”
Quando quer que os problemas surgem, as pessoas culpam os Judeus. Nós atribuímos isto a procurar um bode espiatório, mas as pessoas sentem genuinamente que nós somos a causa dos seus problemas. Quer o saibamos quer não, nosso papel no mundo é trazer a paz e união. Portanto, quando o ódio prevalece, as pessoas instintivamente voltam sua ira sobre nós. Na sua visão, nós não fizemos o nosso trabalho. Rav Kook espelou a visão do mundo quando escreveu, “Qualquer tumulto no mundo vem somente por Israel. Agora somos evocados a levar a cabo nossa grande tarefa voluntária e conscientemente: de nos edificarmos e o mundo inteiro arruinado junto connosco” (Cartas do Raiah, Vol. 2).
Nem Nação Startup nem Produtores de Supermodelos
Nos tornámos uma nação no pé do Monte Sinai depois de jurarmos ser “como um homem com um coração.” Imediatamente depois, nos foi dada a tarefa de sermos “uma luz para as nações,” para espalharmos pelo mundo o caminho para alcançar a união. Escreveu o Ramchal que “Moisés desejou completar a correcção do mundo nesse tempo [quando Israel saíram do Egipto]. Foi por isso que ele pegou na multidão misturada, pois assim pensou que então seria a correcção do mundo” (O Comentário do Ramchal sobre a Torá). A “grande tarefa” que escreveu Rav Kook que devemos assumir “voluntária e conscientemente” é nos edificarmos através da união e connosco, unirmos o mundo. Até que comecemos a levar a cabo nossa tarefa, o antissemitismo não vai parar.
Se pensarmos que nossa meta em Israel é sermos uma nação startup, ou exportarmos supermodelos e super-mulheres estrelas de cinema, estamos a pedir um duro despertar. Há alguns anos atrás, Helen Thomas membro sénior dos seguranças para a imprensa da Casa Branca chocou o mundo e foi forçada a se demitir por dizer que os Judeus deviam “sair da Palestina” e “voltarem para casa para a Polónia e Alemanha.” Hoje essa visão é mainstream, embora ninguém admita isto bem antes das eleições. Mas quando o mundo vê que estabelecer um estado Judeu na Palestina nada trouxe senão a guerra, o terrorismo mundial e conflitos, como não se pode ele arrepender da decisão de nos ter dado um estado?
A Essência do Nosso Povo
Se queremos permanecer aqui vamos precisar do apoio do mundo. E para ganharmos o apoio do mundo precisamos de regressar às nossas raízes. “Ama teu próximo como a ti mesmo” não é um slogan de autocolante. Ele é a nossa lei geral, a essência do nosso povo. Se não vivermos segundo ele, não somos Israel e o mundo não justificará nossa reivindicação da terra.
Somente quando estamos unidos podemos ser “uma luz para as nações” pois união é aquilo que o mundo precisa todavia não consegue alcançar a menos que mostremos o caminho. Quando nossos antepassados experimentaram lutas e guerras impulsionadas pelo ego, eles não suprimiram seu ódio de uns pelos outros. Em vez disso, eles aumentaram a importância da sua união acima do ódio. “O ódio atiça o conflito,” observou Rei Salomão, “mas o amor cobre todos os crimes,” concluiu ele.
Há cerca de vinte séculos atrás fomos expulsos da terra de Israel por termos sucumbido ao ódio infundado e não o cobrirmos com amor. Esse ódio está ainda no aberto. Se não o cobrirmos de amor seremos expulsos daqui uma vez mais.
Em vez de discutirmos, precisamos de nos relacionar a nossas disputas como oportunidades para cobrirmos nossos egos com amor. Este método de trabalhar acima do egoísmo é um exemplo que somente nós podemos dar ao mundo, uma vez que somente nós o fizemos anteriormente. Tudo o que precisamos é de reinstalar essa atitude para com os conflitos e a compartilhar com o mundo.
O mundo justificará nossa soberania em Israel enquanto apresentarmos um exemplo de amor acima do ódio. Se sucumbirmos às brigas mesquinhas, as nações não terão razão para nos deixar ficar numa terra nossa; elas já têm problemas suficientes.
Nós levámos a paciência do mundo até ao limite. Agora, ora nos unimos e nos tornamos o modelo exemplar que é suposto sermos, ou seremos exilados e exterminados, não só em Israel mas por todo o mundo.
Publicado originalmente no The Jerusalem Post