Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Pode a Coexistência Surgir das Brasas do Ódio?

Judeus e Árabes compartilham um pai comum cuja misericórdia e generosidade uniu pessoas diferentes e frequentemente hostis sob sua alçada.

Enquanto as brasas se apagam após a furiosa onda de “Piro-Terrorismo,” como se referiu a ela o Ministro da Educação Naftali Bennett, medimos os danos e contamos nossas bênçãos de que ninguém se magoou a sério. E assim devemos fazer pois fomos poupados de novo.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-11-29

Sem Política, as Pessoas se Dão Bem Foto: Dreamstime

Mas à parte das bênçãos, agora que as chamas se extinguem, devemos pensar seriamente sobre as causas originais da fúria ardente. E dizendo “causas originais,” não me refiro à estagnação do “processo de paz” (Alguma vez houve uma descrição mais cínica de um estado de guerra contínuo que “processo de paz”?). Com “causas originais,” me refiro à raiz do ódio entre Israelitas e Palestinianos, pois na verdade, nem sempre houve ódio e a ascendência comum que compartilhamos costumava desempenhar um papel maior nas nossas relações.

Se observarmos o conflito árabe-israelita de um ângulo diferente, podemos bem achar uma lacuna no abismo de perpétuas hostilidades.

Um Tempo de Mudança

Durante a curta história da Israel moderna, temos procurado a paz. E durante este tempo, o único paradigma que temos tido tem sido a fórmula da “terra pela paz.” Diferentes variações disso têm sido tentadas durante os anos, desde tratados de paz tais como com o Egipto, para as zonas A, B e C na Cisjordânia seguidos do 2º Acordo de Oslo, até a uma retirada unilateral, tal como em Gaza. Todas produziram pobres resultados, no máximo. O sonho de Shimon Peres de um “novo Médio Oriente” se realizou, mas não é nada como o falecido primeiro ministro havia imaginado. Em vez de paz, temos terrorismo por todo o país, praticado por Palestinianos não-treinados e por vezes juvenis motivados por nada senão ódio.

Claramente, a fórmula da “terra pela paz” falhou e devemos procurar um novo paradigma. Em prol de alcançar a paz e não falar meramente sobre ela, devemos pensar além da questão da terra e começar a olhar para as pessoas que são na realidade aquelas que têm de fazer a paz, os Israelitas e Palestinianos.

Sem Política, As Pessoas Dão-se Bem

Inicialmente, Maomé não percepcionava os judeus e muçulmanos como inimigos. “Quando Maomé chegou a Medina,” escreve o historiador Zachary Karabell, ele assinou um acordo, “que ficou mais tarde conhecido como a ‘Constituição de Medina.’ Ele era um modelo do ecumenismo.” O acordo criou uma comunidade e Maomé declarou que “quanto aos judeus, eles pertencem à comunidade e devem reter sua própria religião; eles e os muçulmanos devem dar ajuda uns aos outros quando isso for necessário” (Karabell, Paz Esteja Convosco: Catorze Séculos de Cooperação e Conflito Muçulmanos, Cristãos e Judaicos).

A genial coexistência não durou muito na Arábia e Maomé eventualmente subjugou ou destruiu as tribos judias que lá viviam e resistiram aos seus ensinamentos. Porém, ao contrário do antissemitismo cristão, os muçulmanos não percepcionavam os judeus como a origem de todo o mal. O famoso autor turco, Harun Yahya, escreve que até ao “regime Vichy [que governava em Marrocos] inspirado pelos nazis ter iniciado suas práticas antissemitas … os 250.000 judeus marroquinos eram uma parte inseparável de Marrocos, sua cultura, história e civilização e ajudaram a construir e formá-la fazendo-a aquilo que ela é hoje.” Além do mais, continua Yahya, “Durante séculos, estas duas comunidades existiram lado-a-lado em harmonia e amizade.” Até em Jerusalém, judeus e árabes viviam pacificamente lado-a-lado durante séculos, até que a política se tenha intrometido aí, também.

Aparentemente, quando você se concentra nas pessoas em vez dos territórios, pode colocar a política (e os políticos) de fora e instar uma atmosfera completamente diferente.

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O Lugar Onde a Paz Começa: Um Circulo de Conexão de Árabes e Israelitas em Eilat Foto: Screenshot

Colocar a Ênfase de Volta nas Pessoas

Antes do estabelecimento do Estado de Israel, os líderes das colónias judias procuravam a paz e acreditavam que ela era alcançável. Além do mais, eles enfatizavam o aspecto humano em vez do político. Rav Kook, o líder espiritual do Sionismo religioso, escreveu, “Eu sei de certeza que a nação árabe como um todo, incluindo a maioria dos árabes em Israel, estão cheios de tristeza e vergonha das más acções que uma pequena minoria deles levam a acabo devido aos seus instigadores” (Tesouros do Raiá).

Similarmente, o celebrado pensador, Martin Buber escreveu, “Nosso retorno à terra de Israel não nega os direitos dos outros. Desejamos estabelecer nossa residência comum com a nação árabe como uma justa aliança e comunidade próspera, económica e culturalmente, cujo desenvolvimento permita a cada uma das nações se desenvolver individualmente sem interrupção” (“Esperanças da Solidariedade Judaica-Árabe”).

E finalmente, David Ben Gurion, que mais tarde se tornaria Primeiro Ministro de Israel, disse na convenção da Histadrut em Março de 1944: “Só mais um comentário sobre o sentido do estado Judaico: Esse não é um estado governado somente por Judeus. Na terra de Israel, há árabes e outros que não são judeus. É inconcebível que não haja completa igualdade política, civil e nacional no estado Judaico. Não só a igualdade pessoal, mas igualdade sectária, também: completa autonomia em todas as questões de idioma, religião e cultura. Num estado Judaico, é possível que um árabe seja eleito como Primeiro Ministro ou como Presidente, se ele assim merecer.”

Lamentavelmente, assim que abandonámos a ideia de nos educarmos para a coexistência, perdemos a capacidade de alcançar a paz. Enquanto os corações das pessoas se encheram de ódio e incitamento, a vida de harmonia em Israel se tornou de um sonho numa miragem.

Unir-nos de Baixo para Cima

Agora que os políticos desistiram de aquecerem os relacionamentos entre Israelitas e Palestinianos e desistiram de confiar no governo (qualquer governo) para alcançar a paz, é hora de começar a construí-la de baixo para cima.

Quando os membros do Movimento Arvut (responsabilidade mútua), que deriva suas ideias do conceito de conexão humana descrito na sabedoria da Cabala, decidiram testar o princípio da união acima das diferenças na prática, eles descobriram um simples método de deliberação chamado Círculos de Conexão. Basicamente, um circulo de conexão é um circulo de discussão no qual todo o participante é igual e fala somente na sua vez, não interrompe os outros oradores e acrescenta à conversa mas não rejeita as ideias dos outros participantes.

Os resultados dos Círculos de Conexão de longe excederam as expectativas de qualquer um. Como demonstram estas ligações, uma e outra vez, as pessoas provaram que quando se sentam num circulo como iguais, as diferenças, hostilidades, barreiras culturais e até barreiras linguísticas desaparecem.

Adicionalmente, nesse vídeo (em Hebraico; então certifique-se que a opção de Legendas está activada) que foi filmado na cidade turística de Eilat, na fronteira entre Israel e o Egipto, é possivelmente a melhor prova do poder humano da conexão feito através do Circulo de Conexão. O vídeo, intitulado, “O Lugar Onde Começa a Paz,” trás alguns destes muitos testemunhos de Árabes que experimentaram Círculos de Conexão com Judeus.[*] Uma mulher disse sobre os árabes e israelitas depois da sessão: “Nós somos como uma família, não judeus ou árabes, sem racismo.” Outro homem disse, “Podemos ser um exemplo para o mundo inteiro de que nós [árabes e judeus] verdadeiramente queremos a união, que queremos viver uns com os outros.” Todavia outro homem se referiu a nossa história comum: “É nosso dever vivermos juntos pois viemos do mesmo pai [Abraão].

“Não há como fugir disto,” disse ele, olhando para o entrevistador. Finalmente, um jovem foi questionado sobre como ele achava que podia haver paz entre os árabes e Judeus. Ele respondeu, “Ela começa com um círculo, onde eu escuto e educo minhas crianças desde a infância com amor, entendendo o outro e teremos gerações de pessoas muito felizes e optimistas.”

“O circulo de hoje conteve sete cadeiras, mas ficaria muito feliz se ele contivesse 80 milhões, onde todos nos sentamos juntos, concretizando nossos desejos.” Finalmente, um homem de meia idade concluiu, “Se este circulo se espalhar adequadamente, não só em Eilat, é isto que nos trará a paz, não os políticos, não os nossos [políticos árabes] nem os deles [políticos judeus]. Somente se este circulo se espalhar, trará ele a paz e aproximará ele os corações das pessoas. Inversamente, esqueça; não haverá paz.” Novamente, todas estas citações vieram dos árabes que experimentaram apenas um Circulo de Conexão.

A teoria por trás desta simples técnica é ainda mais simples que a própria técnica e ela reside no princípio que nos fez um povo para começar: “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12). Isto significa que não suprimimos as diferenças entre nós. Não usamos qualquer eufemismo ou politicamente correcto mas em vez disso trazemos nossos ódios para o circulo, alegoricamente os empilhamos no meio e nos unimos acima deles.

Moisés escalou o Monte Sinai, da palavra, sina’a [ódio] e nos trouxe a Torá, a lei de amar aos outros como a nós mesmos, somente quando concordámos nos unir “como um homem com um coração,” assim nos diz RASHI. Similarmente, quando nos juntamos num circulo, isso torna-se uma profunda experiência de união, como é evidente através dos olhos acesos dos entrevistados enquanto falavam sobre seus sentimentos e conclusões.

Regar Nossas Raízes Comuns

Quando Baal HaSulam escreve nos Escritos da Última Geração, “O judaísmo deve apresentar algo de novo às nações; é isto que elas esperam do retorno de Israel à terra,” ele se refere à união. Nós somos o povo que introduziu a união como base para fundar uma nação, ou como o colocou Baal HaSulam no livro supracitado, “a sabedoria da doação.” Nós seremos “uma luz para as nações” somente quando doamos união sobre o mundo inteiro. Em uma das suas cartas, escreveu o Rav Kook, “O amor fraterno de Esau e Jacob e Isaac e Ismael, se levantará acima de todos os tumultos que a perversidade induziu e regressará a eles com luz e misericórdia intermináveis” (Cartas do Raiá). Esta luz da união foi o que acendeu os olhos dos árabes que participaram no círculo e é aquilo que acende os olhos dos judeus, cristãos, muçulmanos e de toda a pessoa, religiosa, secular e de tudo o que se encontra no meio quando elas experimentam os Círculos de Conexão pelo mundo inteiro.

União é o único ingrediente que o mundo precisa, mas que não faz ideia de como produzir. Em Israel, nós, israelitas e árabes, podemos produzi-lo e portanto nos tornarmos imediatamente um modelo exemplar que o mundo alegremente vai abraçar. Compartilhamos um pai comum, cuja natureza era misericórdia e generosidade. Foi assim que ele uniu tantas pessoas diferentes segundo sua alçada. Hoje, nós devemos sintonizar-nos no legado de Abraão e estabelecer a união entre nós. Se queremos a paz e coexistência, este é o caminho a seguir.
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[*] Todos os participantes foram escolhidos aleatoriamente de entre visitantes que passeavam pelo calçadão de Eilat numa tarde de verão.

Publicado originalmente no Haaretz

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