Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 9: Pluralmente Falando

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

Afetando a Coesão Social através do Meio Social

Perseguição e antissemitismo, ou seu termo mais contemporâneo, Judeu fobia, têm sido a quota de nosso povo durante (pelo menos) os passados dois milênios. E todavia, como vimos pelo livro, o ódio aos Judeus não nasceu do ar. Ele está  enraizado  na fundamental embora normalmente inconsciente exigência de cada ser humano sendo que os Judeus têm e os empurrarão para a realização do propósito da vida: de receber deleite ilimitado e  prazer.

Até então discutimos a meta e o papel da nação  Judaica, e a razão para nossa angústia durante as eras. Doravante discutiremos os princípios que precisamos de seguir em prol de alcançar nossa meta, que coincide com a meta  da humanidade.

 

O IMPULSO PELA SUPERIORIDADE

No Capitulo 2 apresentamos as palavras de nossos sábios a respeito dos desejos fundamentais e a base da Criação, e os quatro níveis que perfazem o desejo de receber. Abreviadamente, dissemos que a realidade consiste de um desejo de doar prazer e um desejo de receber. Aprendemos desses sábios que o desejo de receber prazer está dividido em quatro níveis, conhecidos como “inanimado”, “vegetativo”, “animado” e “falante”. Contudo, ele ainda é essencialmente um desejo que veste uma vestimenta diferente em diferentes níveis de desenvolvimento.

Por exemplo, o desejo mais básico da existência é de    se sustentar a si mesmo. No nível humano, esse desejo apareceria como estando contente com um  abrigo,  que  seja até uma pequena cabana, e o meio para se manter quente, vestido e alimentado. Este é o nível inanimado do desejo. Tal como os materiais inanimados que  mantêm  seus átomos e moléculas juntos mas fazem muito pouco mais, tal pessoa só desejará se sustentar a si mesma, aparentemente “mantendo seus átomos  e  moléculas juntas” e muito pouco  mais.

No nível vegetativo do desejo, uma pessoa quererá sustentar a si mesma no mesmo nível que todos os outros. Como todas as plantas de certo tipo florescem e murcham ao mesmo tempo, tal pessoa quererá fazer o mesmo que todos na sua cidade ou aldeia ou seguir a última tendência vista na TV. Se todos são pobres, essa pessoa não se sentirá pobre enquanto que seu padrão de vida esteja a par com aquele do meio ambiente social. E se a nova tendência em roupa é usar o sapato esquerdo no pé direito, e vice-versa,    a  pessoa  do  nível  vegetativo  estará  mais  confortável  ao usar o sapato errado no pé errado, desde que ele ou ela  esteja alinhada com a tendência prevalecente na moda.

A pessoa do nível animado difere da do  nível  vegetativo em que ele ou ela procura a buscar expressão própria. Tal pessoa não se interessa mais em ser  como  todas as outras, mas precisa de estabelecer a sua individualidade. Na maioria, este nível conduz a  criatividade aumentada e distinção no assunto de escolha  da pessoa.

O nível falante (humano) é o mais complexo e enganador. Aqui não é suficiente se exprimir. Neste nível,    o desejo é de ser superior. Este é o desejo que  faz  as  pessoas, quererem ser reconhecidas como especiais, até únicas. Por outras palavras, nesse nível  constantemente  nos comparamos aos  outros.

Além do mais, nos nossos dias não nos contentamos  ser os melhores em algo, almejamos ser os melhores, sempre. Pense nas estatísticas desportivas sobre as quais escutamos constantemente: a ambição de Michael Phelps   de quebrar o recorde de Mark Spitz de sete medalhas de ouro em natação nos Jogos Olímpicos de 1972, ou os jogadores de basquetebol se compararem a si mesmos a Michael Jordan, ou o impulso de Roger Federer de continuar vencendo títulos do tênis, embora ele já tenha ganho mais torneios Grand Slam que qualquer outro antes dele. E todavia, ele ainda fica incomodado pelo fato de que não tenha vencido uma medalha de ouro Olímpica.221

O desporto pode ser um exemplo notável, mas certamente não é a exceção, ele é em vez disso a norma. O filme que ganhou mais dinheiro na sua primeira semana, o álbum que vendeu mais cópias, a empresa que vende mais telefones/     computadores/     automóveis,     competição   e comparações estão em todo o lado. Pergunte a um  estudante do ensino médio, “Você vai bem na escola?” E provavelmente vai obter uma resposta dentro  das  linhas de, “Estou no top 5% da minha turma” (assumindo que questionou um bom estudante). Assim, ser bom já não é o suficiente, superioridade tornou -se o lema de nossas vidas. A isso chamamos de “ser alguém”. Ser eu mesmo, não é  bom o suficiente, se não sou alguém, sou um João-  ninguém.

Há um conto Chassídico sobre Rabi Meshulam Zusha de Hanipol (Anipoli), irmão do reconhecido  Rabi Elimelech de Lizhensk, um dos fundadores da Chassidut. Rabi Zusha costumava dizer, “Quando for para os céus, se for questionado, ‘Porque não foste tu Elimelech (o irmão estimado de Zusha), eu saberei o que dizer. Mas se me for questionado ‘Porque não foste tu Zusha’, eu não saberei o que dizer”.222 A moral é clara, seja você mesmo e atualize o seu potencial, é isto o que precisa fazer na vida.

Mas Rabi Zusha viveu no século XVIII.  Hoje,  tal  moral seria inaceitável porque o que importa é não quem você é, mas quem você é em comparação aos outros, sua posição na percentagem divisória das classes. Quando o principal lema na sociedade é tão alienante e antissocial,  não é de se admirar que nossa sociedade esteja se desmoronando.

 

DE EU, A NÓS, A UM

Com nosso presente conhecimento da natureza humana, não podemos evitar esta atitude competitiva e alienante porque ela vem de dentro de nós, uma ditadura  do  quarto  nível  falante  do  desejo,  e  não  conseguimos parar a evolução dos desejos, tal como não  conseguimos parar a evolução do todo da Natureza. Além do mais, se vamos alcançar o propósito da criação de nos tornarmos semelhantes ao Criador, precisamos de um desejo robusto como o combustível que nos empurra para    a frente, que significa que não devemos diminuir ou  oprimir nossos desejos, ou não alcançaremos a meta da nossa vida.

E todavia, não sermos capazes de parar o aumento de nossos desejos egocêntricos não significa que nós devemos render a uma tendência do piorar  das  relações humanas em todos os níveis. Nossa sociedade não tem que declinar até a um ponto em que tudo o que conseguimos fazer é acumular mantimentos, procurarmos abrigo e nos deitarmos esperando que certo milagre nos  venha  salvar dos nossos semelhantes homens e mulheres.

Na realidade, até se escolhermos nos proteger a nós mesmos, a fúnebre história de nossa nação indica, e a lei    da Natureza dita que as nações não nos permitirão permanecer passivos. Quando problemas se  acumulam,  está garantido que os Judeus serão culpados por isso uma vez mais e consequentemente atormentados, talvez  pior  que nunca. Contudo, contrariamente às provações  passadas, há muito que podemos fazer para prevenir isto   de se revelar.

RECORDAR  O  PRIMEIRO  “GUERREIRO  DO EGO”

Quando o nível falante de desejos inicialmente irrompeu como egoísmo, a Babilônia estava no seu pico, e Abraão    foi aquele enfrentado por tentar solucionar o mistério do declínio social do seu povo. Seus conterrâneos estavam tão imersos    em    construir    sua    torre    que    abandonaram completamente sua camaradagem. Eles não eram mais “de uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), tudo com que se preocupavam era a torre.

O livro, Pirkey de-Rabbi Eliezer (Capítulos de Rabi Eliezer), retrata o desanimo de Abraão com a nova paixão do seu povo: “Rabi Pinhas diz que não haviam pedras lá [na Babilônia] para construir a cidade e a torre. O que fizeram eles? Eles formaram tijolos e os queimaram como artesãos até que eles a construíram [a torre] com sete milhas de altura. Aqueles que levantariam os tijolos subiam do leste, e os que desciam o faziam pelo ocidente. E se um homem caísse e morresse eles não se importariam com ele. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam em lamuria dizendo, ‘Quando virá outro em seu lugar’? Quando Abraão, filho de Terah, passou e os viu construindo a cidade e a torre, ele os amaldiçoou em nome de Deus”.223

Mas Abraão fez mais que amaldiçoar os construtores. Primeiro, ele tentou remendar a divergência e reunir seu povo novamente. O Midrash Rabá conta-nos que Abraão reuniu todo o povo no mundo,224 e Rabi Behayei Ben Asher conta -nos como ele expôs a pretensão de Nimrod dos poderes celestiais. No seu Midrash, Rabeinu [nosso  Rav] Behayei, ele escreve, “[Nimrod] disse para ele, ‘Eu criei a terra e os céus com meu poder’. Abraão respondeu, ‘…quando saí da caverna, vi o sol se levantar no Leste e se pôr no Oeste. Fazei-o levantar no Oeste e se pôr no Leste, e eu me dobrarei perante vós. Caso contrário, aquele que deu a minha mão a força de queimar estátuas me dará a força e eu te matarei’. Nimrod disse a seus conselheiros, ‘Qual será  a sentença deste’? Eles responderam, ‘Ele é aquele de quem dissemos, ‘Uma nação virá em diante dele e herdará este mundo e o mundo vindouro’. E agora, como a sentença que ele havia decretado, assim lhe será feito. Prontamente, eles o jogaram na fornalha. Nessa altura o Senhor cheio de misericórdia sobre ele o salvou, como está escrito, ‘Eu sou   o Senhor, que te trouxe para fora de Ur dos Caldeus’”225

Depois de seu caloroso debate com o  rei,  Abraão  levou sua família, seus estudantes e suas posses e fugiu da Babilônia. No caminho ele reuniu para sua  comitiva pessoas que concordavam com sua mensagem — “Quando enfrentados com egoísmo, unam-se acima dele”.  Por  outras palavras, quando o ódio irrompe entre amigos, tornem a meta comum de revelar o Criador — a qualidade de doação, a força fundamental que cria a realidade  —  mais importante que as partes rivais, e assim se  unam  acima da rivalidade. Os bônus de tais ações são união aumentada, aquisição subsequente da qualidade de doação pelos anteriores adversários, e consequentemente, a revelação  do Criador.

A frase acima descreve a essência da  fusão,  o  remendar da divergência com a qual Abraão tentou cobrir seus conterrâneos. E essa essência, união acima das diferenças aumenta coesão e (se quiser) revela o Criador, nunca mudou. Na realidade, ela nunca mudará, pois ela é     a Lei de Doação da  Natureza.

Como detalhado na Introdução a este livro, o grupo    de Abraão teve sucesso em se unir e cresceu no que se tornou o povo de Israel, uma nação cujo traço comum é o desejo pelo Criador. Através da  união  acima  das diferenças, como explicado no Capítulo 1, Israel desenvolveram um método pelo qual mudar o nosso pensamento do modo “eu” para o modo “nós”, assim percebendo o “Uno”, o  Criador.

Assim, enquanto Israel andavam de força em força ao empregar união sobre o egoísmo, o resto do mundo experimentava episódios de fluxo e refluxo, com impérios  se levantando e caindo e a cultura hedónica de comodismo assumindo predominância. Por esta razão, até hoje, na era mais hedónica de todas, o monoteísmo de Abraão é a noção predominante de divindade, enquanto a Torre da Babilônia é um símbolo de presunção e folia humana.

É por isso que os únicos que podem educar o mundo  de modo a que um se possa tornar tão sábio como Abraão são aqueles que foram seus estudantes, os filhos de Israel, conhecidos mundialmente como Judeus. Esta sabedoria foi o legado de Abraão para eles, e a transmitir como ele fez é sua obrigação para o mundo.

O LEGADO DO GUERREIRO DEIXADO  À  SUA DESCENDÊNCIA

Hoje, pessoas suficientes compreendem que o único modo de evitar uma catástrofe global é se unirem. Isso pode ser chamado por outros termos, tais como “colaboração,” “coordenação,” ou “consideração,” mas qualquer que seja    o termo, é justo dizer que já compreendemos que somos interdependentes e interligados. Esta realidade cria uma situação onde estamos de fato unidos em todos os nossos sistemas globais. Contudo, à extensão de que estamos conectados, estamos também emocionalmente alienados e rancorosos com a  situação.

Uma maneira de resolver este contraste é ao tentar nos “desglobalizar” a nós mesmos. Embora não haja dúvida que desmontar a corrente de abastecimento dos países em desenvolvimento e produzir tudo nacional causaria desafios enormes econômicos e financeiros, alguns dizem que valeria o preço. Talvez, valha a pena ou não, ninguém nega que o isolacionismo teria uma robusta etiqueta do seu preço. Além do mais, aos olhos de alguns, esta noção é completamente  irrealista.  O  Economista  Mark  Vitner, em primeiro  lugar,  descreveu  tentar  desatar  a  interligação global como “tentar  reconstituir  ovos  mexidos.  Não  pode  ser  feito facilmente”.226

A opção contrária à desglobalização é a de abraçar a globalização, a expandir, coordenar, aperfeiçoar, e ao mesmo tempo aprender a gostarmos uns dos outros para que todos beneficiem da prosperidade. Tudo o que precisamos em prol de o alcançar é o método pelo qual mudamos nossos padrões de pensamento de eu (concentrado em mim mesmo), para nós (concentrado em todas as outras pessoas), para um (concentrado na sociedade como uma  entidade).

Hoje, praticamente 4000 anos depois da  fuga  de Abraão da Babilônia o mundo está pronto para escutar. Sofremos o suficiente, e tornamo-nos demasiado espertos  ao pensar que conseguimos safar-nos sozinhos, que podemos à Mãe Natureza, ou a Deus, que não precisamos dela porque somos mais fortes e espertos.

 

POR QUÊ FORMAR UMA SOCIEDADE QUE PROMOVE A COESÃO?

No Capítulo 1, discutimos o conceito de “equivalência de forma” dizendo que se você é semelhante a algo, você consegue vê-lo, identificá-lo, revelá-lo. Será mais fácil para nós compreender esse conceito se considerarmos como os rádios funcionam. Um rádio consegue apanhar ondas somente quando ele cria ondas idênticas dentro dele. Similarmente,   detectamos   coisas   que   existem   de modo aparente no exterior, mas somente de acordo com o que criamos por dentro. É assim que descobrimos o Criador, a qualidade de doação, ao formar essa qualidade dentro de nós, assim também a descobrindo fora de nós.

Foi este princípio, “equivalência de forma,”  que  tornou o método de Abraão tão bem sucedido. Seu grupo criou essa qualidade entre eles mesmos e assim descobriu    o Criador. Isto é, ao mudar do modo “eu” para o modo “nós,” eles descobriram o modo “um,” o Criador, o único modo que na realidade  existe.

No mundo de hoje, obter coesão social é de suprema importância para nossa  sobrevivência.  Podemos  considerar que a revelação do Criador é um “acessório” de espécie, se não fosse o fato do Criador ser a qualidade de doação, um traço sem o qual nunca alcançaremos união, e assim nunca remendaremos a falésia global que ameaça dobrar o mundo numa confrontação global. É por isso que  é vital que aceleremos a divulgação do método de Abraão para alcançar união através de equivalência de forma.

Para fazer isso, primeiro devemos abandonar uma crença comum da nossa sociedade, a ideia de que temos “livre arbítrio”. A ciência demonstra que não há tal coisa, pelo menos não da maneira que pensamos normalmente nela, que fazemos o que queremos pela nossa própria livre escolha. Em recentes anos, dados que provam a nossa dependência da sociedade se têm  acumulado.  Estes  estudos demonstram que não só nosso sustento depende   da sociedade, mas até nossos pensamentos, aspirações e chances de sucesso na vida. Na realidade, até a própria definição de sucesso é sujeita às vontades da sociedade. E por último mas não menos importante, a uma grande extensão, nossa saúde física é significativamente afetada  pela sociedade.

Em 10 de Setembro, 2009, O New York Times publicou uma história chamada, “Os Seus Amigos Estão Lhe Tornandolo Gordo”? Por Clive Thompson.227 Na sua história, Thompson descreve uma experiência fascinante realizada em Framingham, Massachusetts. Na experiência, que mais tarde foi publicada no celebrado livro, Conectados: O Surpreendente Poder das Nossas Redes Sociais  e  Como Elas Moldam as Nossas Vidas – Como os Amigos dos Amigos dos Amigos dos Seus Amigos Afetam Tudo o Que Você Sente, Pensa e Faz — as vidas de 15.000 pessoas foram documentadas e registadas periodicamente durante quinze anos. A análise dos dados dos professores Nicholas Christakis e James Fowler revelou descobertas surpreendentes sobre como nos afetamos uns aos outros em todos os níveis, físico, emocional e mental, e como ideias podem ser tão contagiosas como vírus.

Christakis e Fowler haviam descoberto que havia uma rede de interligações entre mais de 5000 dos participantes. Eles descobriram que na rede, as pessoas se afetavam reciprocamente umas às outras. “Ao analisar os dados de Framingham”, Thompson escreveu, “Christakis e Fowler dizem que pela primeira vez conseguiram descobrir certa base sólida para uma teoria potencialmente poderosa na epidemiologia: que bons comportamentos, como deixar de fumar ou estar em forma ou ser feliz — passam de amigo para amigo praticamente como se fossem vírus contagiosos. Os participantes de Framingham, sugerem os dados, influenciaram a saúde uns dos outros só ao socializar. E o mesmo foi verdadeiro sobre maus comportamentos — aglomerações de amigos pareceram se ‘infectar’ uns aos outros com obesidade, infelicidade e tabagismo. Ficar saudável não é só uma questão dos seus genes e sua dieta, aparenta. Boa saúde é também um produto, em parte, da  sua clara proximidade a outras pessoas saudáveis”.228

Ainda mais surpreendente foi a descoberta dos pesquisadores que estas infecções podiam “saltar” conexões. Eles descobriram que pessoas podiam se afetar umas às outras mesmo sem conhecer umas às outras! Além do mais, Christakis e Fowler descobriram provas destes efeitos até em três graus de distância (amigo de um amigo de um amigo). Nas palavras de In Thompson, “Quando um residente de Framingham se tornou obeso, seus amigos eram 57 por cento mais propensos a se tornarem obesos, também. Ainda mais surpreendente… isso parecia saltar elos. Um residente de Framingham era rudemente 20 por cento mais propenso a se tornar obeso se o amigo de um amigo se tornasse obeso, até se o amigo conector não tivesse ganho um único quilo. Certamente, o risco de obesidade de uma pessoa subiu cerca de 10 por cento se um amigo de um amigo ganhasse peso”.229

Citando o Professor Christakis, Thompson escreveu, “Em certo sentido podemos começar a compreender as emoções humanas como a felicidade da maneira que podemos estudar a debandada dos búfalos. Você não pergunta a um búfalo individual, ‘Porque você corre para a esquerda’? A resposta é que a manada inteira corre para a esquerda”.230

Mas há mais sobre o contágio social que observar a nossa condição de peso ou coração. Numa palestra na TED, o Professor Christakis explicou que nossas vidas sociais, e logo — julgando pelos parágrafos anteriores — muito das nossas vidas físicas, dependem da qualidade e força das nossas redes sociais e o que corre pelas veias dessa rede. Nas suas palavras, “Formamos redes sociais porque os benefícios de uma vida conectada superam os custos. Se eu fosse sempre violento para você … ou o fizesse triste … você cortaria os laços comigo e a rede se desintegraria. Então o espalhar de coisas boas e valiosas é necessária para  sustentar e nutrir redes sociais. Similarmente, redes sociais são necessárias para o espalhar de coisas boas e valiosas como amor, e  gentileza,  e  felicidade,  e  altruísmo,  e  ideias. …Penso que redes sociais estão fundamentalmente relacionadas à bondade, e o que penso que o  mundo  precisa mais agora são mais ligações”.231

Mas não somos somente afetados pelas pessoas ao  nosso redor. Somos significativamente afetados pelas mídias, pela política, tanto nacional como internacional, e somos afetados pela economia. Em  Mundo  em  Fuga: Como a Globalização Está Reformando Nossas Vidas, o reconhecido sociólogo Anthony Giddens sucinta mente, embora com exatidão, exprime nossa presente conectividade e confusão: “Para o melhor ou para o pior, estamos sendo promovidos para uma ordem global que ninguém compreende totalmente, mas que está a fazendo seus efeitos serem sentidos sobre todos nós”.232

Em recentes anos, o mundo corporativo pegou a  noção, e cursos e treinamentos abundantes surgiram na Internet, oferecendo alavancar da  nova  tendência:  contágio social. Em Homo Imitans: A Arte da Infecção Social: Mudança Viral em Ação, o psiquiatra e consultor    de liderança de negócios, Dr. Leandro Herrero, oferece um sumário astuto da natureza humana com respeito à influência do meio ambiente social: “Nós somos máquinas copiadoras intelectualmente complexas, racionalmente elegantes, altamente iluminadas e simples”.233 E para completar sua ironia sobre os méritos  da  natureza  humana, ele escreve, “Os cordéis da rica tapeçaria de comportamentos do Homo Sapiens são feitos de imitação    e influência”.234

Contudo, o problema não está com nosso comportamento de uns para os outros ou para a Terra, não que haja muito a nos orgulharmos em respeito a nosso tratamento de uns para os outros e para a Mãe Terra. E todavia, nosso comportamento é um sintoma de uma mudança profunda, uma explosão de egoísmo no nível do desejo, para a qual ninguém tem uma solução.

Com isso dito, muitas pessoas já compreendem que a mudança tem que vir de dentro de nós. Pascal Lamy, Diretor-geral da Organização Mundial  do  Comércio  (OMC), afirmou que “O verdadeiro desafio hoje é tentar mudar nosso pensamento, não apenas nossos sistemas, instituições ou políticas. Nós  precisamos  da  imaginação  para perceber a imensa promessa, e desafio, do mundo interligado que criamos. …O futuro reside em mais globalização, não menos, mais cooperação, mais interação entre os povos e culturas, e ainda maior partilha de responsabilidades e interesses. É união na nossa diversidade global  de que hoje precisamos”.235

Certamente, Lamy está certo em muitos aspectos. Em recentes anos os neurocientistas têm estado ativos a respeito de uma descoberta relativamente nova, neurônios-espelho. Abreviadamente, neurônios-espelho são células localizadas numa região entre os córtices pré-frontal  e  motor  do cérebro, e estão envolvidas em preparar e executar o movim ento dos membros. Contudo, de acordo com uma história publicada no Psychology Today, eles também  representam um papel vital na nossa interligação social. “En 2000, Vilayanur Ramachandran, o carismático neurocientista, fez uma previsão audaz:  ‘neurônios-espelho  farão  pela psicologia o que o ADN fez pela biologia’. …Durante muitos anos, eles vieram a representar tudo o que nos faz humanos.

“Para o seu livro de 2011, O Cérebro Contador de Histórias, Ramachandran levou suas afirmações  mais  longe. …ele argumenta que neurônios-espelho subjazem à empatia, permitindo nos imitar outras pessoas, que eles aceleraram a evolução do cérebro, que eles ajudam a explicar a origem da linguagem, e mais impressionante de tudo, que eles promoveram o grande salto para a frente na cultura humana que aconteceu há cerca de 60.000 atrás. ‘Poderíamos dizer que os neurônios-espelho serviram o mesmo papel na evolução humana inicial como a Internet, Wikipedia e blogar fazem hoje’, conclui ele.

“Ramachandran não está sozinho. Escrevendo para The Times (Londres) em 2009 sobre o nosso interesse nas vidas das celebridades, o filósofo eminente, A.C. Grayling, rastreou tudo a esses neurônios-espelho. ‘Nós temos uma grande dádiva para a empatia’, escreveu ele. ‘Esta é uma capacidade biologicamente evoluída, como demonstrado pela função dos ‘neurônios-espelho’. No mesmo jornal este ano, Eva Simpson escreveu sobre porque as pessoas ficaram tão emocionadas quando o campeão de Ténis Andy Murray se desfez em lágrimas. … ‘Culpando os neurônios-espelho, células cerebrais que nos fazem reagir da mesma maneira que alguém que estamos observando’. Num artigo do New York Times em 2007, sobre as ações heroicas de um homem para salvar outro, essas células apareceram novamente: ‘as pessoas têm ‘neurônios-espelho, ‘‘Cara Buckley escreveu, ‘que as fazem sentir o que outra pessoa está a experimentar’.236

De acordo com Jarrett, parece que “ neurônios-espelho desempenham um papel causal (enfatizando a origem) em nos permitir compreender as metas por trás das ações das outras pessoas. Ao representar as ações de outras pessoas nos caminhos dos movimentos do nosso próprio cérebro, assim conta a razão, estas células fornecem-nos uma simulação instantânea das suas intenções, uma base altamente eficaz para a empatia”. 237

Embora encontramos muitos dissidentes para as  teorias que rodeiam os neurônios- espelho, está claro que nossos cérebros dedicam porções do  cérebro  explicitamente para a comunicação com os outros, sem ter contato físico com eles, mas somente contato visual. Num sentido, estas células validam as palavras de Christakis e Fowler, “O grande projeto do século vinte e um, compreender como o todo da humanidade vem  a  ser  maior que a soma de suas partes, é só o princípio. Como uma criança que desperta, o superorganismo humano está se tornando autoconsciente, e isto seguramente  nos  ajudará a alcançar nossas  metas.”238

 

COESÃO NUMA ESCALA GLOBAL

Regressando por um momento ao nosso antepassado comum monoteísta, depois da expulsão da Babilônia, Abraão estabeleceu uma sociedade isolada que se movimentou como um grupo e funcionava em garantia mútua. Ele criou um meio social que reforçava conexão, união e coesão, e anexava todos esses  elementos  à  aquisição da qualidade de doação, o Criador. Nossa tarefa hoje é de fazer precisamente isso, mas numa escala global.

Porque temos realmente de nos tornar conscientes de que somos um superorganismo, claramente, precisamos funcionar como um, em reciprocidade e responsabilidade mútua uns para os outros. Mas uma vez que não conseguimos ensinar o mundo inteiro como funcionar  desta maneira, precisamos de demonstrar ao mundo um exemplo,   e   o   mundo   fará   o   resto   através   de   nossa habilidade de ter empatia, ou como Dr. Herrero colocou, pela “imitação e influência”. Afinal de contas, quando as pessoas veem uma boa ideia elas abraçam-na naturalmente. Desta forma, quando as pessoas virem que os Judeus têm algo que poderia funcionar também para elas, e que os Judeus desejam partilha-la, elas não só nos apoiarão, mas se juntarão a nós. Isto, como mencionado na Introdução, é como Abraão reuniu mais e mais pessoas para sua companhia enquanto viajava da Babilônia a Canaã, como “milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo de ‘a casa de Abraão”.239

 

QUATRO FATORES DE INFLUÊNCIA

No seu ensaio, “A Liberdade”,240 Baal HaSulam discute extensamente a estrutura da psique humana, e no que nós precisamos de concentrar em prol de alcançar uma mudança duradoura nas nossas sociedades.  Através  de  uma longa análise da ação recíproca entre a herança e o meio ambiente, Ashlag explica que quatro fatores se combinam para nos fazerem quem nós somos:

  1. Genes;
  2. A maneira como nossos genes se manifestam durante a vida
  3. O ambiente direto, tal como família e amigos
  4. O ambiente indireto, tal como a media, a economia, ou os amigos dos amigos.

Uma vez que não escolhemos nossos pais, não conseguimos controlar o conjunto genético. Mas nossos genes são meramente o “nós potencial,” não o “nós real”  que eventualmente se manifesta quando somos adultos. O “nós”  real  consiste  de  todos  os  quatro  fatores.  Além  do mais, os últimos dois, que se relacionam ao ambiente, afetam e mudam nossos genes para se adequarem ao ambiente.

Vamos examinar o seguinte exemplo maravilhoso de como o ambiente muda os genes, como é relatado por Swanne Gordon da Universidade da Califórnia num ensaio intitulado, “Evolução Pode Ocorrer em Menos De Dez Anos”, publicado no Science Daily. “Gordon e seus colegas estudaram guppies — peixes pequenos de água doce… Eles introduziram os guppies no próximo Rio Damier, numa secção acima da cascata de barreira que excluía todos os predadores. Os guppies e seus descendentes também colonizaram a porção inferior do rio, abaixo da cascata de barreira, que continua predadores naturais. Oito anos mais tarde…, os investigadores descobriram que os guppies no ambiente de baixa predação…se haviam adaptado a seu novo meio ao produzir maior ou menor descendência com cada ciclo de reprodução. Tal adaptação não foi vista nos guppies que colonizaram o ambiente de elevada predação… ‘Fêmeas de elevada predação investem mais recursos na atual reprodução porque uma elevada taxa de mortalidade, impulsionada pelos predadores, significa que estas fêmeas podem não ter outra chance de se reproduzir’, explicou Gordon. ‘Fêmeas de baixa predação, por outro lado, produzem embriões maiores porque beb ês maiores são mais competitivos nos meios ambientes de recursos limitados típicos de espaços de baixa predação. Além do mais, fêmeas de baixa predação produzem menos embriões não só porque têm embriões maiores mas também porque investem menos recursos na atual reprodução”.241

O Dr. Lars Olov Bygren, um especialista de saúde preventiva, documentou um exemplo ainda mais surpreendente de como os genes mudam através dos efeitos ambientais. John Cloud da Time Magazine descreveu a pesquisa de Dr. Bygren sobre os efeitos a longo prazo que os anos de fome e fartura tiveram sobre os residentes da aldeia Sueca isolada de Norrbotten. Contudo, Dr. Bygren  observou não só os efeitos das oscilações dietéticas tinham sobre as pessoas que as atravessavam. Ele também  examinou “se esse efeito podia começar ainda antes [ênfase acrescentada] gravidez: Podiam as experiências dos pais no princípio de suas vidas de algum modo mudar os traços que eles passavam a seus descendentes?”242 “Era uma ideia herege”, escreve Sr. Cloud. “Afinal, tivemos um acordo prolongado com a biologia: sejam quais forem as escolhas que tomemos durante nossas vidas que arruínem nossa memória a curto-prazo ou nos tornem gordos ou acelerem  a morte, mas elas não mudarão nossos genes — o nosso próprio ADN. Isso significava que quando todos tivéssemos filhos nossos, a lousa genética estaria limpa.

“Há mais, quaisquer tais efeitos da criação (ambiente) sobre a natureza de uma espécie (genes) não era suposto acontecer tão rapidamente. Charles Darwin, cujo Sobre a Origem das Espécies… nos ensinou que as mudanças evolucionárias tomam lugar durante muitas gerações e durante milhares de anos de seleção natural. Mas Bygren e outros cientistas agora haviam amassado a evidência histórica sugerindo que condições ambientais mais poderosas … conseguem de algum modo deixar uma impressão sobre o material genético em ovos e esperma. Estas impressões genéticas conseguem fazer curto – circuito na evolução e transmitir novos traços numa única geração”.243

Baal HaSulam, regressando ao seu ensaio, “A Liberdade”, sugeriu um conceito muito semelhante que se alinha   com   os   achados   de   Dr.   Bygren.   Na   seção, “O Ambiente como um Fator”, ele escreve (ênfase acrescentada), “É verdade que o desejo não tem liberdade. Em vez disso, ele é operado pelos mencionados quatro fatores [Genes; como eles se manifestam, ambiente direto, ambiente indireto]. E se está obrigado a pensar  e  a examinar como eles sugerem, negados de qualquer força para criticar ou  mudar”…244

Na seção subsequente, “A Necessidade  de  Escolher  um Bom Ambiente”, Baal HaSulam  acrescenta,  “Como  nós vimos, é uma coisa simples, e deve ser observada por todo e cada um de nos. Pois embora cada um tenha a sua própria origem, as forças são reveladas abertamente  somente através do ambiente em que a pessoa se encontra”.245

Isto pode soar determinista porque se somos completamente governados pelos nossos meios ambientes, pareceria que não teríamos livre arbítrio.  E  todavia,  escreve Baal HaSulam, que podemos e devemos escolher nosso ambiente muito cuidadosamente. Nas suas palavras, “Há liberdade para a vontade de inicialmente escolher tal ambiente … que conceda à pessoa bons conceitos. Se ela   não fizer isso, mas está disposta a entrar em qualquer meio que apareça…, esta pessoa está destinada a cair num mau ambiente… Como consequência, será forçada a conceitos imundos…” Tal pessoa, conclui ele, “certamente será  punida, não devido aos seus maus pensamentos ou ações, nos quais não se tem livre arbítrio, mas por não escolher estar num bom ambiente, pois nisso há definitivamente  uma escolha. Desta forma, aquele que almeja  continuamente escolher um ambiente melhor é digno de louvor e recompensa. Mas aqui, também, não é devido aos seus bons pensamentos e ações, …mas devido aos seus esforços para adquirir um bom ambiente, que traz … bons pensamentos”.246

Vemos desta forma que todos somos potencialmente demoníacos, tal como somos potencialmente angélicos. A escolha de agirmos de um extremo ou do outro, ou  qualquer mistura dos dois, depende não se escolhemos ser de uma maneira ou da outra, mas do ambiente social sobre o qual nos colocamos a nós mesmos, ou que formamos para nós mesmos.

Enquanto pais, instintivamente alertamos nossas crianças a se afastarem de más crianças no bairro, e de maus estudantes na escola. Assim, a consciência da influência do ambiente é inerente nos nossos genes parentais, por assim dizer. Agora devemos expandir essa consciência e perceber que não é suficiente ver que nossos filhos andam com as crianças “certas”. Devemos começar a desenhar um novo paradigma de pensamento para nós mesmos, bem como para nossos filhos. Ele é um paradigma no qual a responsabilidade mútua representa um papel líder, preocupação mútua e camaradagem assumem a ribalta, e o discurso público muda correspondentemente.

Em outras palavras, a máxima conhecida de Rabi  Akiva, “Ama teu próximo como a ti mesmo” deve tomar forma e ser moldada como um modo de vida para a sociedade. Esse paradigma social é o ADN do nosso povo, nosso legado para o mundo, e é o que o mundo, até inconscientemente, espera que transmitamos.

Numa era de consecutivas e sobrepostas crises globais, o mundo tem numa necessidade desesperada de uma corda salva-vidas, uma lasca de esperança. Nós Judeus somos os únicos que lhes podemos oferecer essa esperança, que é chamada “garantia mútua”. O próximo capítulo esboçará os conceitos básicos da implementação da garantia mútua como o paradigma social predominante.

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