Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
-Se um educador favorece determinada criança mais do que outras, ele deveria ser um educador?
-Nesse caso ele deveria trabalhar em si mesmo, imediatamente (com o melhor de suas habilidades), ou ser tirado do grupo de crianças.
Trabalhando com crianças, o educador muda e se desenvolve constantemente. Somos todos humanos, por isso nos desenvolvemos constantemente. Quando trabalhamos com os outros, mesmo que no papel de “educadores”, graças ao grupo também estamos sendo educados.
Se o educador agisse de maneira a tornar todos os seus estados de desequilíbrio e distorção em relação às crianças um objeto de trabalho em si mesmo, e se ele desenvolvesse uma atitude balanceada em direção às outras pessoas, seria muito bom! Na verdade, porém, isso é muito diferente. A melhor maneira de agir é criar um ambiente no qual suas atitudes não ocasionem nenhuma mudança drástica em nenhuma direção.
Quando você descreve esse tipo de educador, estabeleço um paralelo com a minha profissão. Como psicoterapeuta, eu não tenho direito de expressar minha afeição pelas pessoas com quem trabalho. De outro modo, meu trabalho terminaria. Eu, no entanto, tenho um grupo de apoio, que reúne pessoas como eu, outros psicoterapeutas. Nós nos ajudamos e resolvemos as dificuldades que não podemos resolver com os pacientes. Para um educador do sistema integrado, haverá um grupo de educadores como ele, junto ao qual ele possa solucionar suas dificuldades?
-Educadores se unem em encontros. Eles estudam constantemente com o propósito de se elevarem, para discutir suas dúvidas e resolvê-las entre eles. Adicionalmente, eles estudam constantemente todos os tipos de fontes textuais e assim avançam. Paralelamente ao trabalho com crianças, eles devem se afinar na direção certa. Uma vez feito isso, podem vir para o grupo de crianças.
Antes de o educador vir ao grupo, ele deve ler e pesquisar materiais novos. Em outras palavras, ele deve se afinar. Ele não pode apenas levantar e entrar no grupo de crianças. Ele tem de assumir um disfarce específico, criá-lo internamente e somente assim vir ao grupo. Isso requer uma preparação e uma boa afinação toda vez que ele vier ao grupo. E essa afinação geralmente acontece dentro do grupo de educadores, professores e instrutores.
– Qual é a máscara que ele deve vestir?
– A imagem de uma pessoa que é um guia do sistema. É como se ele não fosse uma pessoa, mas um sistema que faz de uma criança um “produto semiacabado”.
Um educador deve pensar frequentemente em como “dar um puxão” nas crianças e guiá-las na direção necessária, a partir de perguntas opostas, influências positivas ou negativas, a partir dos outros e com a ajuda da influência coletiva sobre cada pessoa.
Ele não deve apenas manipular a criança automaticamente. Em vez disso, sempre deve procurar o melhor jeito de a criança agir de acordo com a escolha de uma meta específica. É assim que eu devo me conectar com os outros; é assim que eu devo me posicionar.
O mais importante é que as crianças devem acumular tantos modelos comportamentais quanto possível ─ os modelos mais contraditórios e multifacetados, positivos e negativos, os mais diversos.
Depois disso, a partir de debates, jogos e socialização, elas devem saber qual modelo é mais adequado, qual devem usar e nele permanecer. A pessoa deve trazer a si mesma a um estado em que todos são iguais e então escolher a imagem necessária de acordo com essa visão.