Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Você falou repetidamente sobre quão importante é para uma criança receber ensino superior tão cedo como na sua adolescência. Por que é importante e por que deve um adolescente passar tanto tempo nisto?
– Penso que é necessário. Além do mais, a escola moderna só pode prejudicar a pessoa.
O ensino superior treina a pessoa a trabalhar com livros, visitar bibliotecas, participar em trabalho de laboratório e fazer exames. Ele mantém-a em movimento. Ela tem de participar nestes processos, entender como estudar disciplinas diferentes, como escolher textos de estudo e estudá-los, como escolher o material necessário e fazer relatório sobre ele e como levar a cabo trabalho de laboratório. Isto lhe dá as aptidões para para ser auto-suficiente na vida.
Na escola, as crianças vêm simplesmente para a aula, se sentam lá, tudo é mastigado para elas, elas abanam suas cabeças, são avaliadas e vão para casa. As escolas de hoje matam toda a independência. Quando a criança termina a escola, ela é incapaz de concretização activa e auto-estudo. Mas um liceu lhe fornece isso, pelo menos parcialmente.
Ligeiramente alterando a escola e o liceu, teremos uma pessoa que consegue se desenvolver independentemente para o resto da sua vida. Hoje, as pessoas que terminam a escola ou o liceu não recebem as aptidões necessárias para progredir independentemente pela vida. Elas permanecem simples executantes.
– Nas escolas e nas universidades, há a noção do “marrão.” Esta é uma pessoa que leva a cabo escrupulosamente todas as tarefas e faz tudo pelas regras. O lado oposto do “marrão” são jovens homens e mulheres espertas que usam atalhos e acham movimentos novos e inconvencionais e assim alcançam a meta pelo caminho mais curto. Do seu ponto de vista, que caminho é melhor e mais preferível para educar a criança?
– Estes são tipos completamente diferentes de pessoas. Nós temos de dar a cada um a oportunidade iniciar a sua própria pesquisa nos laboratórios de diferentes departamentos desde a idade mais jovem.
Enquanto eu crescia, havia um centro de acolhimento jovem perto da nossa casa. Haviam muitos laboratórios nessa casa, como de fotografia, física, botânica e zoologia. Nesse tempo, todas essas coisas eram inovações. Além disto, haviam muitos clubes de atletismo.
Na minha opinião, como parte do processo de estudo é necessário alocar tempo para trabalho cientifico adicional para que os estudantes se possam testar a si mesmos.
O que permanece na memória da pessoa depois do liceu são precisamente os projectos de laboratório onde ela fez alguma coisa sozinha na prática, onde ela obteve resultados, os calculou e etc. Tudo o demais deixa lembranças muito ténues de fórmulas estranhas que estão desconexas do trabalho concreto.
“Marrões” e aqueles que “puxam as estrelas do céu” têm diferentes abordagens para a vida. Ambos precisam de receber uma oportunidade para se desenvolver.
Eu não vejo qualquer outra maneira senão deixar que cada estudante trabalhe independentemente. Mas temos definitivamente de lhe perguntar: O que fazes além do programa de estudo? Participas em alguma coisa? Quais são as tuas concretizações cientificas? O grau o seu carácter cientifico não é importante. O que é importante é que isto força a pessoa a procurar o material necessário nas bibliotecas e periódicos semanais e lhe dá uma oportunidade para criar.
– Quem deve trabalhar como instrutores, professores e educadores nestas lojas e laboratórios?
– Os membros do liceu.
É muito bom se engajar na actividade cientifica durante o liceu. Penso que é também necessário diminuir a carga dos estudantes, para os libertar de disciplinas excessivamente teóricas e lhes dar uma chance de participar na pesquisa cientifica.
– A partir de que idade faz sentido organizar estes clubes “científicos” para crianças?
– Eu senti um chamamento para entrar na engenharia e queria estudá-la desde os 9 ou 10 anos de idade. Lembro-me claramente que na nossa pequena cidade não encontrei coisa alguma além do centro de acolhimento jovem com os seus clubes de passatempo.
É durante a infância que a criança começa a se interessar em alguma coisa especifica. Da nossa parte, nós temos de apoiá-la de todas as maneiras que pudermos.
Neste momento falamos principalmente sobre criação. Mas a criação tem de ocorrer juntamente com a educação. Como? A educação funciona junto com a criação à medida que a educação da pessoa é útil para o mundo. Somente no caso da utilidade será a educação não só procurada pelos outros, mas também trará sucesso e junto com isso, a criança será capaz de avançar. A sua actividade útil para os outros será afirmada pela Natureza porque ela será apoiada pela Natureza.
A pessoa deve saber exactamente a que medida o seu passatempo ou interesse é necessário, se ele se encaixa no fluxo comum e se está conectado às direcções principais do desenvolvimento da sociedade. Se não, então todo o seu trabalho será insustentável.