Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
Eu não estudei a base da representação, mas tudo no trabalho de um actor está direccionado para criar a comunicação certa. Isto é natural. Quando representamos papeis dos nossos amigos, nós nos entendemos uns aos outros melhor e como resultado, a quantidade de conflitos diminui imediatamente. As estatísticas também demonstram isto. Uma pessoa começa a julgar a todos, incluindo a si mesma e ao seu amigo. Além de estar no seu próprio papel, ela pode aprender mais um papel e viver ambos. Ela pode tornar-se o seu próprio juiz, ou o advogado do seu amigo. Estas personalidades tornam-se totalmente iguais! Representando, a pessoa torna-se objectiva.
– Durante os workshops, devemos monitorizar a medida à qual as crianças aprenderam a se entender e justificar umas às outras?
– É claro. Se eu começar a viver o papel de outra pessoa, isso significa que eu justifico essa pessoa até ao final. Eu me culpo a mim mesmo inteiramente. Isto é natural. Eu “entro” nela, então eu sou ela e ela é eu.
Suponhamos que surgiu um conflito num dos nossos grupos. O egoísmo das crianças súbita e drasticamente aumentou e elas não conseguiram fazer nada acerca disso. Durante os estudos elas escutam artigos sobre amizade e unificação em prol de alcançar uma meta comum e elas cantam e comunicam. Tudo é normal. E então subitamente, um minuto mais tarde, há uma explosão de egoísmo e um conflito irrompe como se as crianças tivessem sido substituídas por outras pessoas. E meia hora mais tarde, noutra lição, as relações amistosas são restauradas entre elas.
O que podemos fazer para que estas explosões de egoísmo não ocorram? Como podemos impedir que o egoísmo irrompa para a superfície, para que a separação não surja? As crianças admitem que não conseguem controlar estas explosões.
Então o que planeamos fazer? Primeiro de tudo, gravar o processo inteiro com uma camera, incluindo o criticismo mútuo e acusações. Isto nos permitirá ver orgulho, inveja, o desejo de poder sobre os outros e no geral, todos os sentimentos e impulsos que são inerentes em cada pessoa. Depois vamos mostrá-lo às crianças. Deixar que cada uma delas represente o papel do seu amigo.
Suponhamos que eu e você brigamos, isso era gravado e agora estamos a assistir ao processo inteiro do lado de fora. Inicialmente, eu estou 100% seguro que estou certo e vivo o meu papel novamente. Nos recordamos do que experimentamos.
Mas o professor diz, “Que cada um de vocês aprenda sobre o comportamento da outra pessoa e tente entender por que ela agiu dessa maneira.” Então agora eu tenho de olhar para o processo inteiro através dos olhos do meu amigo, eu tenho de sair de mim mesmo e entrar no seu estado. Eu tenho de me ver a mim mesmo “dentro de você” como você me vê, como e por que você me culpa e por que você me está a criticar. Depois disso eu tenho de representar o papel do meu amigo e o amigo representa-me a mim.
Sabemos que isto não é fácil para as crianças. Posteriormente discutimos a que medida tivemos sucesso em representar o primeiro papel e o segundo. Portanto, o seu primeiro personagem, que participou no conflito na realidade, se torna apenas um de dois papeis. Você olha para o seu primeiro estado com mais objectividade, a sua posição muda e você já está algures entre estas duas imagens.
E não importa se tudo não resultar perfeito de imediato. A coisa mais importante é que como resultado, as qualidades da criança comecem a ganhar um carácter “multifacetado.” Ela começa a entender que é possível ser diferente e que é possível aprender a se elevar acima de si mesma.
Numa criança, explosões egoístas são expressas poderosamente e ocorrem imediatamente. Mas podemos ajudar a criança a transcendê-las.
– No palco, o egoísmo concorda com este tipo de trabalho.
– Com a representação de um papel diferente?
– Sim. E ele faz-o! É um prazer tremendo.
– E nós não precisamos de coisa alguma além disso.
– Mas durante momentos de verdadeiras explosões, é muito difícil negociar com o egoísmo.
– Não é assim tão difícil, realmente. É exactamente assim que as crianças começam a participar no processo de trabalhar sobre o egoísmo. Vamos deixá-las se sentarem num semi-circulo em frente dos seus amigos e representarem. E quanto mais a criança consegue se elevar acima de ser escrava do seu egoísmo e vestir um papel diferente do fundo do seu coração, trocando de “lugar” com o seu amigo, maior a aprovação que ela vai ganhar da sua sociedade.
Vivendo imagens estranhas e puxando qualquer uma delas como se de um baralho de cartas, a criança começa a tratar estes papeis “objectivamente” para que ela nãos e identifique pessoalmente com qualquer um deles.
A atitude da criança para o seu “Eu” muda. Ela faz a pergunta, “O que restou dela, do seu ‘Eu’?” Uma pessoa começa a perceber que ela é pura e não preenchida de coisa alguma. Ela começa a ver tudo como puramente uma representação. Deste modo, a pessoa até começa a tratar os seus próprios impulsos como fenómenos que são instalados nela por certo programa.