Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Se a representação é tão importante para o desenvolvimento do homem, por que é que foi tão ridicularizado e até perseguido durante tantos séculos? Algumas pessoas foram até queimadas na fogueira por causa dele.
– Os actores sempre foram ridicularizados. Eles só se tornaram respeitados na nossa era “progressista”. A humanidade não tem a abordagem certa para criar uma conexão entre nós. Nós nos conectamos através do nosso egoísmo. Nós não o fazemos através de interferência, mas como quer que cada um de nós acha mais conveniente para si mesmo. Nós nos conectamos através de uma espécie de amortecedor: “Eu dou a você e você me dá.” É assim que compramos, vendemos e trocamos gracejos. Dependendo da nossa era e de outros factores, nós mudamos nossos níveis de estatuto, poder e força.
De toda a direcção estabelecemos o máximo contacto egoísta possível, enquanto mantendo certa distância como uma rede de segurança contra quaisquer curvas inesperadas nos nossos relacionamentos, até reparando nas mudanças da nossa entoação. Ele controla-nos por dentro. E a humanidade seguiu automaticamente o seu princípio, que permitiu a toda a pessoa definir o seu lugar imediatamente. Ele funciona se formos uma manada de animais onde cada e espécimen conhece o seu lugar e função. Ele sabe quando consegue ou quando não consegue fazer algo. E exactamente a mesma coisa acontece na sociedade humana. Por sermos egoístas, nós agimos segundo o mesmo princípio.
Mas quando aparece a representação, torna-se pouco claro. Quem são estas pessoas? São elas plebeus ou senhorios? São elas fracas ou fortes? São elas boas ou más? Ou talvez sejam bandidos? A individualidade da pessoa se perde, nos privando da capacidade de formar comunicação normal egoísta.
No passado tudo estava claramente delineado. As pessoas aspiravam colocar cada um no seu lugar fixo, você é psicólogo então terá de usar uma camisa preta e não pode ser o inverso.
As pessoas até definiram diferentes lugares dependendo das suas profissões, do seu grémio. Você tinha de viver na rua que lhe havia sido atribuída e escolher uma esposa de um circulo especifico. A sua família tinha de se reger segundo um padrão definido de vida e o seu chapéu e veste tinham de ter um corte especifico, sem outras opções. Tudo era predeterminado, até à comida que as pessoas comiam, absolutamente tudo. Até lhe era dito, “Isto será o seu cemitério.”
Tudo estava claro, quem vive onde, sua origem, quem é permitido que ele entre em contacto e de quem ele se deve manter afastado.
Mas os actores misturaram tudo isso. Eles fizeram troça e riram de todos. Certo actor minorca representava como se fosse príncipe! Isto era admissível somente se as pessoas interiorizassem a ideia de que o trabalho de um actor é a mais baixa de todas as profissões possíveis, imoral e plebeu.
Durante a necessitada divisão da sociedade, especialmente durante a Idade Média, ninguém podia sequer pensar sobre desenvolver seus contactos ou fazer com que as outras pessoas os entendessem. Todos tinham de ser perfeitamente obedientes. O máximo que era permitido era que forasteiros dançassem um minueto juntos.
Mas hoje tudo é o oposto. Nós temos de comunicar uns com os outros da maneira certa. E para isso, nós temos de aprender a “entrar” nos personagens das outras pessoas.
Nós temos de entender que a humanidade teve de atravessar todas as suas fases em prol de alcançar a presente fase. Hoje, nós temos de quebrar todos os limites do passado e formar a comunicação social certa. E para isso, a pessoa tem de aprender a representar os personagens das outras pessoas.