Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Acho muito mais interessante representar personagens negativos. Eles tocam-me muito mais, enquanto os positivos acabam por ser chatos. Uma vez que estes papeis nos influenciam muito mais, como os devemos tratar?
– Imagens negativas, música triste e acontecimentos trágicos são sempre mais vivos que os positivos, que nos parecem achatados. Isto está claro pois a pessoa é o desejo de desfrutar. Como resultado, nossas sensações mais intensas vêm de uma carência de algo. Quando o prazer vem até à pessoa, ela considera-o óbvio: “Enquanto egoísta, é isto que eu mereço, então não sinto o prazer com tanta intensidade. Mas uma carência de algo, que mereço mas que não tenho, é algo que sinto muito intensamente.” É assim que o egoísmo se avalia a si mesmo, unilateralmente, com uma propensão para a sensação de carência.
Que papeis devem ser representados pelas crianças, positivos ou negativos? Perguntas sobre isto não devem surgir. Eu tenho de representar o papel seja ele qual for. A pessoa primeiro deve dissecar o personagem inteiro em fragmentos e então tentar analisá-los tão objectivamente quanto o possível, escolhendo os mais indicadores e aprender a reproduzi-los, a criar estas sensações dentro dela, se tornando um director e depois exprimi-las.
Por exemplo, foi-me pedido para representar João. Isso significa que tenho de me lembrar das circunstâncias em que o conheci, me lembro dos seus traços de personalidade, como ele se movimenta e tudo aquilo que é típico do João. Eu tenho de entender aquilo que me é apelativo e aquilo que eu desgosto. Eu tenho de discernir tudo isto em relação ao meu egoísmo.
– E se eu não gostar de alguma coisa? Tenho eu de tentar justificar estas qualidades e concordar com elas?
– A coisa mais importante é representá-las. É muito importante lembrar o personagem muito distintamente, como ele é e o que ele é. Quando a pessoa começa a representar o papel e entra no personagem, ela sente a sua nova atitude para aquilo que está a ocorrer. Depois a pessoa concorda involuntariamente com como seu protótipo se comportou nesta situação. Representando qualquer papel, eu me aproximo da pessoa que eu represento.
– Há até uma expressão, “se apaixonar pelo seu personagem.”