Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”
Uma melhoria econômica verdadeira e duradoura depende das mudanças nas relações humanas.
Pontos-chave
- A economia é um reflexo das nossas relações sociais. Portanto, a crise na economia é em primeiro lugar e principalmente uma crise em nossas inter-relações.
- A função do homem é egoísta — com o objetivo de maximizar o lucro para si. Na realidade de escassez, esta função cria um conflito inerente entre as pessoas, manifestando-se na competição e num jogo de soma-zero onde o ganho de um é necessariamente a perda do outro.
- Existe interdependência entre nós no mundo global-integral em que a humanidade evoluiu. Por isso as conexões egoístas entre nós param de funcionar. Essa lacuna entre o nosso egoísmo e nossa interconexão é a razão para a crise.
- As leis do mundo global-integral nos compelem a nos conectarmos em responsabilidade mutua e atuarmos como células de um organismo único em benefício da população inteira.
- Quando a responsabilidade e a solidariedade social forem a base de um novo paradigma econômico — uma economia equilibrada e funcional — como ditado pelas leis do mundo global-integral, alcançaremos uma vida de conforto, com prosperidade pessoal e social e um sistema equilibrado, harmonioso e sustentável.
- Fornecer informação e formação, e criar um ambiente de apoio são necessários para nos conectarmos em responsabilidade mútua.
A Crise Econômica Mundial Está Desafiando o Paradigma Econômico
De acordo com a economia clássica, as pessoas aspiram maximizar os lucros por motivos completamente egoístas. O filósofo britânico do século XVII, Thomas Hobbes, colocou desta forma: “Cada homem deve supostamente buscar o que é bom para si mesmo, naturalmente, e o que é, só pela causa da paz, por acaso”¹. Essa visão, que ainda prevalece, afirma que o comportamento social é apenas um resultado após o fato, e que nossos antepassados fizeram tratados sociais apenas pelos lucros que eles renderam, não porque eles foram atraídos pela companhia uns dos outros.
Na última década, uma nova escola de pensamento surgiu, conhecida como “economia comportamental”. Esta nova escola centra-se sobre o comportamento humano real, em vez de nas forças do mercado abstrato e considera esse comportamento como um meio para compreender a forma como tomamos decisões financeiras. A economia comportamental descreve a natureza e o poder das relações humanas, suas colaborações na medida em que as tendências e percepções fundamentais da economia humana dependem de valores de mutualidade.
A atual crise mundial e nossas tentativas sem sucesso de resolvê-la pode significar que as respostas aos desafios da humanidade se encontram nessas novas vias de investigação. Na verdade, até agora todos os esforços para resolver a crise falharam. Cortes de taxa de juros, resgates, programas de expansão e aumento do déficit governamental baseiam-se na economia clássica, que depende de um conjunto de movimentos monetários (principalmente cortes nas taxas de juros) e medidas fiscais ¹Thomas Hobbes, Rudimentos,1651, iii (expandindo os orçamentos governamentais redução de impostos e assim por diante).
A intervenção do governo e a assistência do banco central pretendia mover o mercado de volta ao equilíbrio. A falha subsequente para conseguir isso sugere que é hora de substituir o paradigma econômico existente. Qualquer novo paradigma deve subir a um nível acima, apontar o problema e, portanto, a solução está no nível das relações humanas, e não no nível monetário.
Economia comportamental implica um novo rumo e uma nova solução para a crise
Se entendermos o impacto crítico que a natureza das relações das pessoas tem na economia, entenderemos o tipo de sistema econômico que devemos construir para que desempenhe suas funções de forma eficaz e mantenha a sua estabilidade. Quando os sistemas econômicos e financeiros se adaptarem ao mundo global-integral, onde laços econômicos atravessam fronteiras, e onde as pessoas dependem e afetam umas as outras, haverá uma estabilização do sistema socioeconômico. Só então o sistema evitará choques e frequentes crises que nos abalam. Soluções anteriores para estas crises são insuficientes, por isso, desde o início de 2012, o mundo está enfrentando uma situação econômica grave, que é na verdade uma continuação da crise que começou no Verão de 2007.
Assim, não só a economia deve mudar. Porque os sistemas econômicos e financeiros são reflexos das relações humanas, toda a comunidade internacional deve fornecer soluções que reorganizem o sistema das relações humanas. Em outras palavras, quando nossas atitudes mudam em direção à conexão, à unidade, à coesão social, e à responsabilidade mútua, vamos descobrir a solução para o paradigma econômico de hoje…
A Evolução da Economia
As pessoas não podem existir sem levar em conta a sociedade. Como seres sociais, nós somos obrigados a viver entre as pessoas, sermos assistidos por elas e contribuir com nossa parte para o bem comum. A evolução da humanidade, do clã do homem das cavernas através do feudalismo e depois o capitalismo reflete a evolução de nossas interconexões e nossa interdependência. De acordo com essas mudanças, a maneira que nós comerciamos e intercambiamos bens e serviços também evoluiu para refletir as épocas e suas características.
Em tempos pré-históricos, humanos viviam em clãs. Então vieram as vilas e cidades e em seguida,os estados. Por milhares de anos, as pessoas trabalharam para se sustentarem a si mesmas,aos seus parentes e as pessoas que as rodeiam. Mas como comércio internacional evoluiu, as Nações mais desenvolvidas começaram a conquistar as subdesenvolvidas e novas terras foram descobertas. A revolução industrial levou a urbanização e estreitou as conexões entre as pessoas.
As pessoas não podem existir sem levar em conta a sociedade. Como seres sociais, nós somos obrigados a viver entre as pessoas, sermos assistidos por elas e contribuir com nossa parte para o bem comum. A evolução da humanidade, do clã do homem das cavernas através do feudalismo e depois o capitalismo reflete a evolução de nossas interconexões e nossa interdependência. De acordo com essas mudanças, a maneira que nós comerciamos e intercambiamos bens e serviços também evoluiu para refletir as épocas e suas características.
Comércio e Intercâmbio
É através do comércio e do intercâmbio que a economia atual evoluiu. Esta economia é impulsionada pelo egoísmo da humanidade, que se esforça para lucrar, mesmo em detrimento de outros. Uma pessoa pode ser um agricultor, outra pode ser um fabricante e conectando-se, ambos se beneficiam. Eis porque nós construímos todas as nossas conexões em paridade com a nossa natureza egoísta. No passado, ela envolveu a e troca de produtos sem o uso de dinheiro. Mais tarde, nós aprendemos a usar moedas de metais preciosos e, em seguida, notas de papel que representavam o valor financeiro de quem as emitiram.
Hoje, a maioria das transferências de dinheiro é, na verdade, virtual. A transferência é feita de uma conta para outra através de redes de computadores. A Revolução da Tecnologia da Informação mudou drasticamente as relações humanas, e a virtualização das relações é expressa através das finanças e também dos mercados financeiros.
Segue-se que a economia é um tipo de compromisso entre egos individuais e a necessidade de conectar-se a fim de se sustentarem mutuamente, através de algum tipo de consentimento geral. Claramente, a economia global tem muito a ver com jogos de poder e política, bem como considerações sobre moral, que não são tomados em conta no paradigma da economia clássica.
Em vez disso, a economia lida com elementos contrastantes e não está sujeita às leis físicas da natureza. Pelo contrário, ela é nossa própria criação, expressando um dos meios que usamos para sobreviver como espécie, e como nós lidamos com certos relacionamentos. Isso é de suma importância, porque em vez de tentar forçar um paradigma ultrapassado em nós mesmos, nós podemos desenvolver um paradigma diferente que expresse a mudança na interação humana que existe no mundo interconectado de hoje, na interdependência e na reciprocidade dos laços econômicos e sociais, que estão apenas se estreitando.
Toda a Verdade Sobre a Crise Econômica
Esta crise manifesta-se em nossa abordagem ao mundo e à sociedade. A crise está dentro de nós e em nossas inter-relações. A natureza funciona em harmonia e equilíbrio, e agora nos cabe mudar a nós mesmos e como nos relacionamos com as outras pessoas. Como resultado, os sistemas que temos construído, incluindo o sistema socioeconômico, devem ser equilibrados e harmoniosos, como é a Natureza.
Entre as características da crise econômica estão os preços inflados de produtos, serviços, ações e empréstimos. Como resultado, assistimos a uma crise de confiança na economia. No final do dia, a imagem falsa do mundo que foi construída e cultivada durante muitos anos por aqueles que faziam suas próprias agendas se desintegrou. As pessoas começaram a entender que em uma economia baseada em mentiras, especulação e manipulação é impossível confiar em alguém. Não surpreendentemente, em um estado de desconfiança geral, o sistema econômico de hoje é insustentável.
Assim, a nossa economia contemporânea é uma fotografia de um mundo de interconexões distorcidas, manipulações e falsos valores. Uma concorrência desenfreada e sem escrúpulos foi criada, juntamente com o comportamento irracional do consumidor, já que os consumidores acreditam erroneamente que o que eles compram define sua essência (“eu compro, logo existo”). Hoje, os valores da sociedade são determinados por marcas, celebridades e símbolos de status, não por interesses racionais das pessoas. Nestas circunstâncias, o colapso da economia foi apenas uma questão de tempo.
A Diferença Entre um Mundo Transformado – Global e a Economia Anacrônica
Uma explicação mais sistêmica da raiz da crise é que o mundo tornou-se global e conectado. Todos os sistemas, incluindo o econômico e o social, estão vinculados, um afeta o outro. Os mercados financeiros, por exemplo, constituem um único sistema global. Portanto, tudo o que acontece nos Estados Unidos afeta a Europa e o resto do mundo e vice-versa. Os mercados de ações tornaram-se há muito tempo um barômetro global que expressa as nossas esperanças, nossas crises , nosso desespero e nosso crescimento.
Além disso, os mercados financeiros estão afetando outros sistemas, especialmente o mundo dos negócios, o desempenho das economias e nosso bem-estar financeiro pessoal. O mundo tornou-se um complexo sistema global de sistemas interdependentes, ligados de uma forma que não escolhemos, mas que não podemos ignorar.
Ao mesmo tempo, no entanto, as nossas relações humanas ainda se baseiam em valores individualistas. Nossas relações são inerentemente egoístas e competitivas e mudaram muito pouco nos vários séculos passados. Naturalmente, já que nossa economia reflete essas relações, também reflete esses valores.
Estamos diante de uma enorme lacuna entre as leis do mundo global-integral e a natureza egoísta das relações humanas e a economia deles derivada. Essa lacuna é a verdadeira razão porque atravessamos crises econômicas e sociais. Até que nós preenchamos essa lacuna, vamos continuar a experimentá-la como uma crise.
As leis do novo mundo nos obrigam a nos unirmos e mudar os sistemas econômicos e sociais para que se tornem baseados na consideração mútua, cooperação e sinergia, compartilhamento de recursos e conhecimento, no consumo equilibrado e na unificação dos mecanismos econômicos, monetários e fiscais. Ambos os sistemas expressam a responsabilidade entre as pessoas, enquanto que a economia atual continua a se basear na maximização do benefício e ganho pessoal e concorrência e assim apoia o conflito inerente entre as pessoas.
Devido à importância do dinheiro em nossas vidas, a crise econômica está recebendo muita atenção, e a dependência econômica entre os países e mercados de ações é clara e aceita por todos. Ainda uma interdependência semelhante existe em outros sistemas, como na ecologia, na educação e ciência. Na verdade, cada sistema afetado pelas relações humanas está agora em crise.
A Crise como uma Oportunidade
Em geral, a ascensão de um novo sistema econômico tomou a humanidade de surpresa. No passado, nós construímos conexões e sistemas sociais e econômicos para coincidir com nossas necessidades e a maneira com que nós nos inter-relacionávamos.Agora, de repente, esses sistemas parecem insuficientes para gerir nossas vidas, assim podemos viver em paz e conforto. Em vez disso, o sistema global-integral parece ter suas próprias leis.
A interdependência e estreitamento das conexões entre todos os sistemas de vida nos deixam sem escolha a não ser mudar nossas próprias interconexões em conformidade.A interdependência entre as pessoas, empresas e países não podem existir em um sistema econômico baseado em um jogo de soma zero, caracterizado pela concorrência agressiva, ênfase na maximização do ganho pessoal, e da manipulação.
A interdependência entre os diversos elementos do sistema global está em contraste com as diferenças sociais e econômicas que continuam a existir dentro e entre países. Este sistema global, baseado no ego tornou-se completamente ineficaz, tornando-se impossível continuar a usá-lo. Na verdade, as relações que construímos anteriormente levaram a esta crise. Em certo sentido, a crise nos oferece a oportunidade de examinar a natureza das nossas relações e mudá-lo para que se encaixe no que é necessário neste mundo global, e da necessária interdependência de suas partes. Tal harmonia e congruência necessariamente criam uma economia diferente, mais otimista, equilibrada e estável.
A Economia e as Relações Humanas
No final do dia, a rede de conexões entre nós determina tudo. Essa rede é espalhada em todo o mundo e consiste de muitos elementos — países, exércitos, fundos, matérias-primas, domínios religiosos, laços sociais, esperanças para o futuro e assim por diante. Todos são partes desta rede entre nós, é por isso que o conceito é tão difícil para nós compreendermos… Por enquanto, aqueles que podem entendê-lo são aqueles que lucram o máximo dele.
Muitas pessoas argumentam que devemos examinar o sistema financeiro e corrigi-lo. Mas precisamos entender que toda a realidade mudou. O sistema tornou-se global e integral, e isso é o que impede nossas tentativas de vivermos com o atual sistema socioeconômico. Tudo o que construímos no sistema existente resultou da nossa natureza egoísta. Mas nossa realidade atual requer que retribuamos ao invés de explorarmos. A conexão entre nós agora é muito mais forte e nos obriga a “atualizar” as nossas conexões para a união e responsabilidade (em que todos são responsáveis pelo bem-estar uns dos outros).
Porque não sabemos como nos aproximar da rede global-integral, estamos perdendo nossa capacidade de nos comunicar corretamente uns com os outros. Eis porque nós enfrentamos esta crise mundial de confiança. Os bancos não acreditam nos fabricantes, os cidadãos não acreditam em seus governos e os governos não acreditam uns nos outros.
No passado, a comunicação era clara e baseada no dar e receber, na consideração individual de ganhos e perdas e na necessidade de cooperar, mesmo contra nossa vontade. O ego desempenhou um papel fundamental e todos nós entendíamos que isto era assim.
No sistema global integral de conexões, no entanto, precisamos de uma economia que reflita a interdependência entre nós, mas nós ainda não adaptamos o nosso “sistema operacional” a ele.
Estamos ainda vivendo no sistema econômico e social, com base em como lidamos com os relacionamentos no passado.
Ao mesmo tempo, estamos descobrindo a interdependência entre nós. O problema é que ainda temos que entender como isso funciona. Ainda não detectamos a sua natureza altruísta! Aqui reside o problema: Esta crise contemporânea não pode ser resolvida pelas formulas antigas, uma vez que tudo depende de como rapidamente a humanidade pode se unir e avançar na direção da responsabilidade mútua.
Os Economistas Estão Perplexos
A caixa de ferramentas da economia clássica é inadequada para o nosso tempo e nosso pensamento antiquado está nos conduzindo ainda mais profundamente para a crise atual. Claramente, isso deve ser alterado, como Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel em economia, disse em uma palestra no 4º Encontro de Ciências Econômicas em Lindau, “Os modelos macroeconômicos padrão falharam em todos os testes mais importantes da teoria
científica. Eles não vaticinaram que a crise financeira aconteceria; e quando aconteceu, eles subestimaram seus efeitos.” 1
Precisamos nos adaptar e à natureza das nossas relações com as qualidades de nossas conexões no sistema global-integral. Ao continuar a desenvolver a economia comportamental, estamos dando um passo na direção certa — assim como a economia tornou-se global, assim também nossas relações sociais.
É por isso que as relações baseadas no ego não funcionam mais. Temos de aprender as qualidades necessárias para os relacionamentos no novo mundo. Isso nãoapenas nos levará ao equilíbrio com o mundo global-integral, mas nos permitirá entender e acolher as mudanças que devem ser feitas nos sistemas social e econômico.
A mudança é inevitável; ela não pode ser interrompida. Quanto mais a negamos, mais iremos experimentar a mudança como uma crise. Mas, se em vez disso, chegarmos a compreender o significado da mudança e fazer as alterações necessárias, sentimentos de angústia darão lugar à esperança , à prosperidade , à harmonia e paz, entre nós e entre a humanidade e a natureza.
Portanto, tudo o que precisa mudar é a natureza de nossas inter-relações. Se nos comprometermos com um novo tratado econômico e social, um integral e global, com a responsabilidade entre nós, poderemos começar a transformar o paradigma econômico existente, e cada sistema vida que a humanidade construiu. Tal mudança é possível somente através de ampla educação e informação. Isto irá criar um ambiente de empatia que nutre os valores de responsabilidade e destaca as suas vantagens. Apenas tal processo evolutivo pode garantir uma economia estável e eficiente que permite a vida harmoniosa, equilibrada e sustentável para todos.
1 “Curta Metragem de 2011, Lindau Nobel Laureate Meeting in Economic Sciences,” The New Palgrave Dictionary of Economics Online, http://www.dictionaryofeconomics.com/resources/news_lindau_meeting