Os cortes fiscais do Presidente Trump acenderam controvérsia inesperada. Vozes da esquerda chamam-lhe “suicídio económico.” Aquelas da direita dizem que são um “milagre.” Mas a pergunta que importa realmente agora é “será que vão gotejar?”
Para responder à enganadora pergunta da “gota,” creio que precisamos de olhar além da teoria económica e tomar a natureza humana e valores sociais em consideração também.
O Incentivo Económico
“A Economia em Cascata” é a ideia de que quanto mais riqueza estiver na classe alta, mais os negócios de investimento serão realizados para fazer crescer a economia e assim beneficiando as classes média e baixa também. Contudo, o criticismo sobre esta ideia cresce uma vez que os dados parecem pintar um quadro diferente.
Por exemplo, o contribuidor da Forbes e fundador da firma de serviços financeiros Wendell Charles, Evan Kirkpatrick, concluiu que os dados sobre o crescimento económico e taxas de impostos desde 1945 não demonstram correlação entre baixar os impostos e o aumento da actividade económica.
Em paralelo, a tendência rapidamente crescente da automação nos negócios levanta uma grande pergunta em relação aos investimentos futuros na mão-de-obra humana, uma vez que a relação custo-eficiência da automação aplicada cresce continuamente. Um estudo PwC recente sugere que quase 40 por cento dos empregos nos EUA podem ser automatizados nos primeiros anos da década de 2030.
Então de uma rápida observação da história e especulação para o futuro, o incentivo para a riqueza gotejar do topo parece questionável. Mas e se o incentivo não for puramente económico? É possível incentivar os ricos a fazerem investimentos que beneficiem as classes baixas, até se isso não aumentar o seu lucro directo?
O Incentivo Social
De uma perspectiva sociológica, quando os ricos ganham mais zeros na sua conta bancária, eles ganham algo além do lucro material. Eles ganham estatuto social, porque o jogo financeiro é jogado de um jeito que transforma a acumulação de riqueza numa meta em si mesma.
Embora os jogadores e indivíduos da classe alta não precisem necessariamente de um corte nos impostos, eles não o vão afirmar, pois ainda assim lhes interessa. E não é maior liberdade financeira que eles procuram, é estatuto social.
Será que qualquer um de nós se comportaria diferentemente no seu lugar? Baseando-nos na nossa psicologia, claro que não. Pense nos super-ricos como estrelas da NBA. Eles procuram aumentar a pontuação constantemente, porque esse é o jogo que todos à sua volta estão a jogar, um jogo que é respeitado pelo resto da sociedade. Tanto os super-ricos como as estrelas da NBA personificam nossa natureza social enquanto seres humanos.
Mas o que aconteceria se fornecessemos à classe alta o mesmo incentivo para investir na sociedade? E se nossa sociedade jogasse um tipo diferente de jogo, onde aquele que contribui para o bem-estar da sociedade é aquele que “pontua” mais?
Enquanto criaturas sociais, vergonha e honra moldam nosso comportamento social mais que qualquer outra coisa. Se transformassemos as contribuições sociais num valor supremo da nossa cultura, então nossos heróis culturais seriam aqueles que personificariam isso e colocaríamos toda uma diferente dinâmica na competição da sociedade.
Em vez de competirmos por mais zeros na nossa conta bancária, competiríamos e mediríamos pelo maior impacto positivo na socieddade, através do investimento na ciência, educação, medicina, infraestrutura ou qualquer outra coisa que contribua directamente para tornar o todo da sociedade mais próspero.
Para reconhecer o impacto potencial do reconhecimento social, pense apenas na recente campanha do “#Me Too” que denunciava os maus tratos sexuais e pense quais seriam os resultados de uma campanha semelhante na sua intensidade, mas que colocasse os holofotes naqueles que sistematicamente acumulam extrema riqueza e evitam contribuir para a sociedade. Seguramente, esse é um cenário extremo, mas facilita para ver como uma mudança nos valores sociais é praticável.
Nós temos de cultivar uma cultura que encoraje a contribuição social, gerando doadores, não pela força ou regulamentação, mas através de uma activação melhorada da nossa natureza social. Por outras palavras, se queremos certificar-nos que a “economia em cascata” funciona, temos de a acoplar a uma “humanidade de baixo para cima.”
Publicado originalmente no Newsmax