Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Quão rigorosa deve ser a disciplina?
– Tudo deve ser colocado na mesa para discussão! Nós até temos mais tarde que buscar razões para serem discutidas com todos. Mas deve ser uma discussão, não uma condenação! Nessas discussões, cada criança coloca-se na posição do outro – uma vez, ela é o acusado e numa outra vez, é o acusador; uma vez ela defende os outros e posteriormente defende-se e assim por diante. Ou seja, devemos ajudar uma pessoa a sair de si mesma. Todos estamos a lutar contra a nossa natureza, que é um mecanismo externo, alienígena em relação ao qual temos de nos elevar e usá-lo na direção oposta. Isto é o que é importante.
– Para resolver conflitos, há algum problema em criar um comitê de trabalho de educadores e instrutores que se juntem à noite, por exemplo, para discutir o dia que passou e as dificuldades que ocorreram? Ou deve tudo ser feito junto com as crianças?
– Os educadores devem definitivamente se juntar e discutir as coisas. Mas principalmente, todo o trabalho de educação, ordem e regulação de todas as relações internas deve ser constantemente incumbidas às crianças.
Falando de um modo prático, no final do nosso trabalho no campo, as crianças devem conduzir todo o seu trabalho e serem capazes de trabalhar em si mesmas de forma independente.
– Às vezes, uma criança destrói o espaço ao seu redor e não se encaixa. De fato, ela interfere com os processos. Sob que condições uma criança deve ser expulsa?
– Existem várias possibilidades. Se a criança é difícil e não entende nada, porque simplesmente não escuta, não é culpa dela. É assim que ela é e você precisa ligá-la a uma criança mais velha para que esta vá influenciá-la corretamente. Esta é a melhor coisa.
Nenhum educador de adultos pode fazer isso. Um adulto é percebido por uma criança como “mobília”, nulo. Mas uma outra criança 3 ou 4 anos de idade mais velha já é tudo para ela e nós devemos usar isso. Uma criança mais velha pode recorrer a essa criança “não cooperativa” e pedir-lhe para ajudá-la na cozinha ou em outro dever. Dessa forma, ela a ocupa por algum tempo, levando-a para fora do coletivo e trabalhando com ela individualmente.
Talvez esta criança “não cooperativa” goste de serrar, aplainar a madeira ou modelá-la. E através disto ela entrará gradualmente na atmosfera geral. E então, sob a influência da criança mais velha, ela começará a entender e a sentir o que está acontecendo aqui. Estes tipos de oportunidades definitivamente devem ser criados.
Expulsar uma criança do campo e enviá-la para casa é um caso extremo. Só é possível fazer isso se não é mais uma criança mas um jovem adulto que não consegue se reajustar psicologicamente. Há pessoas assim, mas são muito raras.
– Existe um estereótipo de que, se uma pessoa não se encaixa, é expulsa e pronto.
– Definitivamente não! Não podemos fazer isso. Nós sempre usamos as crianças mais velhas e o seu ambiente para influenciar as mais jovens o mais intensamente possível. Esse tipo de criança pode também ser transferida para um grupo mais velho. “Você tem 12 anos e é assim que você é?! Nós vamos transferi-la para o grupo de 15 anos de idade e ver como te comportas lá. “As crianças mais velhas rapidamente a colocam “na linha ” e ela vai assumir o comportamento esperado.
– Como devemos organizar a interação entre as crianças neste ambiente do campo e as crianças “selvagens”, locais?
– Não temos crianças locais ou crianças “selvagens”. Devemos selecionar claramente e saber o que estamos a fazer. Recebemos a matéria-prima das crianças, e temos que enviá-las como seres humanos.
– Mas suponha que façamos uma viagem para algum lugar que tenha grupos da população local.
– Não deve haver grupos de população local. Deve haver um isolamento total.