Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– É nossa tarefa enquanto educadores usar o potencial egoísta das pessoas para gradualmente construir o sistema de interacção acima dele?
– É exactamente assim que esse potencial é actualizado. Ele não pode ser realizado de qualquer outra maneira pois é suprimido por todos os outros. Nós somos sempre limitados, como se estivéssemos na prisão com nossas mãos atadas.
Na medida que nos conseguirmos unir uns com os outros, nos elevando acima do nosso egoísmo, veremos que o podemos abandonar, nos libertarmos dos seus grilhões. Na medida que prepararmos uma intenção para nos conectarmos em avançado, podemos nos libertar do egoísmo. Então veremos como todas as coisas se realizam imediata e maravilhosamente, como somos verdadeiramente livres e não temos de nos limitar.
Não há lado nenhum onde nos escondermos do egoísmo. E não precisamos de fazer isso! Ele cresce e isso é óptimo! Você só tem de construir a sua conexão com os outros acima dele e então este egoísmo existirá por uma boa causa.
– Isto é realmente inspirador, no nível conceptual. Mas no sentido prático, o que precisa uma criança em prol de tomar este passo na direcção das outras pessoas?
– Ela deve estar diariamente em contacto com o resto das crianças sob a supervisão do educador.
– O que tem de acontecer aqui? Ela precisa de ver outra pessoa?
– Uma criança começa a percepcionar a realidade até antes de nascer. Mas falamos de crianças numa idade em que elas podem ser aceites num grupo e certos limites físicos podem ser introduzidos.
Uma criança de dois anos de idade exprime necessidades muito rudimentares por um colectivo, tais como por alguém com quem ela possa brincar ou olhar para. Antes disso, ela quase não repara nos outros.
Desta idade para a frente, nós aceitamos crianças neste sistema, que as ajuda a desenvolver a sensação certa dos outros, uma sensação do “próximo” e a atitude certa para com ele. Se uma criança for educada deste jeito, não há dúvidas que dentro de alguns anos ela se tornará um elemento integral da sociedade.
O egoísmo que vem à superfície nela é simultaneamente compensado. Não é uma tentativa de equilibrá-lo, mas precisamente sua suplementação com intenções altruístas. A criança desenvolve-se harmoniosamente, sem sentir quaisquer limitações ou semelhante dos seus pais, escola e educadores.
Recebendo a educação correcta, ela fácil e livremente adapta o egoísmo a quaisquer circunstâncias e descobre que a Natureza lhe trás somente bondade, que todas as características “negativas” estão lá somente para a alertar, “Isso não é permitido! Não toques nisto! Não faças aquilo! Isto não te pertence!”
Quando a pessoa constrói a intenção certa sobre o egoísmo, ela descobre que nada é proibido, que a Natureza é infinitamente boa em tudo aquilo que faz para ela e no caminho que a conduz até nós.
– Qual é a intenção certa?
– Integralidade, a interconexão certa. Quando eu incluo os desejos de outra pessoa nos meus e ela faz o mesmo, então nos tratamos um ao outro da maneira certa.
Ambos somos egoístas, mas acima do nosso egoísmo nós construímos um interface recíproco para que eu percepcione o seu egoísmo como meu e ela percepcione o meu egoísmo como seu. Sucede-se que ambos trabalhamos no nosso egoísmo comum. Isto é, nós rodamos simultaneamente como duas rodas, sem qualquer resistência de uma para a outra.
Suponhamos que ela tem 50 quilos de egoísmo e eu tenho 100. O seu egoísmo está contra mim e o meu está contra ela. Mas se acima deste egoísmo nós construirmos nossa acção recíproca e formos incluídos um no outro, então começamos a percepcionar o sistema que nos eleva acima do nosso egoísmo interconectado, nós sentimos integração, amor e conexão. Nossa realização mútua corresponde ao nosso egoísmo mútuo que usamos para nos conectarmos um com o outro.
Nossas intenções podem ser medidas em unidades de esforços interiores. É claro, hoje isto é difícil de fazer. Ainda não conseguimos medir os esforços éticos e morais de uma pessoa. Mas em princípio, isto pode ser medido.
Nós construímos uma nova camada da existência da pessoa, uma nova dimensão. Chamemos-lhe “espiritual.” Este é o futuro da humanidade onde todas as coisas que estão no nível terreno se tornarão a base para a super-estrutura que temos de criar.
Quando o egoísmo crescer até ao seu nível máximo e o realizarmos na totalidade, vamos movimentar-nos para essa super-estrutura com nossos pensamentos e sentimentos e deixaremos de sentir nossa existência terrena completamente. Ela simplesmente vai desaparecer das nossas sensações. Meu “EU” existirá somente na super-estrutura espiritual e eu me associarei somente a esta camada.