Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
As Raízes do Antissemitismo
No decorrer da história, nunca houve uma nação mais perseguida que os Judeus. No decorrer da história, nunca uma nação sobreviveu a toda e cada perseguição e emergiu cada vez mais forte.
A aparente indestrutibilidade dos Judeus levantou muitas perguntas, claramente mais entre não-Judeus que entre Judeus, pois os Judeus estavam demasiado preocupados com a sobrevivência. O reconhecido escritor Alemão, Johann Wolfgang von Goethe, exprimiu seu espanto com a tenacidade dos Judeus no seu livro, Wilhelm Meisters Lehrjahre [A Aprendizagem de Wilhelm Meister]: “Cada Judeu, não importa quão insignificante, está envolvido em certa decisiva e imediata perseguição de uma meta… É o povo mais perpétuo na terra.”124
Semelhante a Goethe, o professor de Cambridge, T.R. Glover, sublinha o enigma da existência Judaica em O Mundo Antigo: “Nenhum povo da antiguidade teve uma história mais estranha que os Judeus… A história de nenhum povo antigo deve ser tão valiosa, se a pudéssemos ao menos recuperar e compreender. …Mais estranha ainda, a antiga religião dos Judeus quando todas as religiões de cada raça antiga do mundo pré-Cristão desapareceram … A questão não é ‘O que aconteceu’? Mas, ‘Porque aconteceu’? Porque vive o Judaísmo”?125
Similarmente, Ernest van den Haag, professor de Jurisprudência e Política Pública na Universidade de Fordham, escreveu, “Num mundo onde os Judeus são somente uma minúscula percentagem da população, qual é o segredo da importância desproporcional que os Judeus tiveram na história da cultura ocidental?”126
O matemático, físico, inventor e filósofo Francês Blaise Pascal, era fascinado com a antiguidade do povo Judaico. No seu livro, Pensees, ele escreveu, “Este povo não é eminente somente pela sua antiguidade, mas são também singulares pela sua duração, que sempre continuou da sua origem até agora. Pois, enquanto as nações da Grécia e da Itália, de Lacedemônia, de Atenas e de Roma, e outras que vieram muito depois, há muito pereceram, estes permanecem sempre, e apesar dos empreendimentos de muitos Reis poderosos que tentaram uma centena de vezes os destruir…eles foram independentemente preservados.”127
Certamente, como inumeráveis indivíduos reconhecidos durante as eras anotaram, os Judeus não conseguem ser aniquilados. Os Judeus têm uma missão para concretizar, e até que o façam, a Natureza, Deus, o Criador, Jeová, ou como quer que escolha O chamar, não o deixará acontecer. E todavia, enquanto os Judeus continuam evitando assumir sua tarefa pretendida, eles certamente podem, e foram, e serão torturados e mortos praticamente até à extinção. Para desenterrar as raízes da Via Dolorosa Judaica durante a história, precisamos de viajar para trás no tempo para o começo da Criação.
No Capítulo 2 tomamos nota que o Criador tem senão um desejo – fazer o bem às Suas criações, nomeadamente a nós humanos. Mas porque presentemente não temos percepção d’Ele, não conseguimos receber d’Ele.
Quando queremos dar um presente a um amigo, aproximamo -nos desse amigo e lhe damos. Tem que haver contato entre o dador e o receptor. De igual modo, para que Ele nos dê, o Criador e a Criação têm que se conectar. E na conexão, como citamos Baal HaSulam, “Sente-se o maravilhoso benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua completa, boa e generosa mão. Devido à abundância do benefício que um alcança, maravilhoso amor aparece entre uma pessoa e o Criador, incessantemente derramando sobre a pessoa pelas próprias rotas e canais através dos quais o amor natural aparece. Contudo, tudo isto vem a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí em diante.”128
Isto, dissemos no Capítulo 2, suscita a necessidade de “equivalência de forma,” ou seja, ser como o Criador, ter uma natureza de dar. Lamentavelmente, a vasta maioria de nós não tem desejo por isso; veementemente nos ressentimos de dar a menos que tenhamos lucro subjacente, um motivo anterior para o fazer. RASHI, o grande comentador sobre a Bíblia, escreveu que o versículo, “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21), significa que “Assim que se é agitado para fora do ventre de sua mãe, Ele [o Criador] planta nele a inclinação ao mal,” a qual, como dito no Capítulo 3, é egoísmo, o desejo de recebermos para nós mesmos.
Desta forma, considerar que o Criador é benevolente e que nós somos opostos, a colisão entre o homem e Deus parece inevitável. Como alguma vez O podemos alcançar se Ele nos fez naturalmente opostos a Ele? O remédio do egoísmo reside no que descrevemos anteriormente como “o ponto no coração”. Essa sede de compreender do que se trata a vida, e sobre o que faz o mundo girar (e não é dinheiro), é o anseio que permitiu a Adam, Abraão e seus descendentes, Moisés, e a nação inteira que surgiu dos exila dos da Babilônia, a desenvolver um método de correção que torna a inclinação do mal em bondade.
SÍMBOLOS DE UMA COLISÃO INTERNA
Uma pessoa pode argumentar se a Bíblia, o Antigo Testamento, é uma documentação histórica genuína de eventos. Mas os grandes sábios de Israel durante as eras não tinham preocupação pela relevância histórica da Bíblia. Em vez disso eles viam-na como uma alegoria que retrata os processos internos espirituais que se experimenta durante o caminho da correção. Para eles, Nimrod, rei da Babilônia, representa meridá [Hebraico: rebelião], desafio contra a qualidade de doação o Criador; Faraó significa a epítome da inclinação ao mal e também Hamã, embora numa fase tardia do nosso desenvolvimento espiritual.
É por isso que RASHI interpreta o Talmude Babilônico como se segue: “Seu nome era Nimrod pois ele himrid [incitava] o mundo inteiro contra o Senhor”.129
A respeito de Faraó, Maimônides explica afetuosamente, “Vós deveis saber, meu filho, que Faraó, o rei do Egito, é na realidade a inclinação ao mal”130 Similarmente, Elimelech de Lizhensk, do autor de Noam Elimelech (A Agradabilidade de Elimelech), escreveu simplesmente, “…Faraó, que é chamado ‘a inclinação ao mal.’”131
Rabi Jacob Joseph Katz acrescentou profundidade à distinção a respeito de Faraó. Ele acrescentou que as palavras, “Faraó havia deixado o povo ir” (Êxodo 13:17), designam a fase no nosso desenvolvimento espiritual em que uma pessoa se liberta dos pesados grilhões da inclinação ao mal. Nas suas palavras, “‘E quando Faraó havia deixado o povo ir’ – quando os nossos órgãos escapam à autoridade da inclinação ao mal, como durante o êxodo do Egito, eles saem dos quarenta e nove portões de Tum’á [impureza, egoísmo] para a santidade [doação]”.132
Dentro do mesmo livro, Rabi Katz acrescenta suas visões a respeito de Hamã: “A instrução de Hamã de fazer uma forca de cinquenta cúbitos de altura é o conselho da inclinação ao mal”.133 Similarmente, Rabi Jonathan Eibshitz escreve no seu livro Yaarot Devash [Colméias] sobre “Hamã, que é a inclinação ao mal…”134
Mais recentemente, Cabalistas e acadêmicos Judaicos começaram a sentir que o tempo era fugidio e que a Era da Correção se aproximava. Eles começaram a acrescentar chamados implícitos e por vezes explícitos para a ação nas suas palavras. Assim, Rav Yehuda Ashlag, sentindo que a aplicação do método de correção era urgentemente necessária, fez um elo direto entre superar a inclinação ao mal e o modo como deve ser alcançado hoje – através de união. Num ensaio intitulado, “Há Um Certo Povo”, Baal HaSulam conta-nos, “‘Há um certo povo espalhado no estrangeiro e disperso entre os povos.’ Hamã disse isso na sua visão, que nós [o povo de Hamã] teremos sucesso em destruir os Judeus porque eles estão separados uns dos outros, então nossa força contra eles certamente prevalecerá, porque isto [separação entre eles] causa separação entre o homem e Deus.”135 Isto é, o egoísmo dos Judeus os separa da qualidade de doação, o Criador, então a força do ego, a inclinação ao mal, “certamente prevalecerá”. “É por isso que,” continua Baal HaSulam, “Mordecai foi para corrigir esse defeito, como é explicado no versículo, ‘Os Judeus se reuniram…’ para se reunirem a si mesmos, e para defender suas vidas. Isto significa que eles se haviam salvo ao se unirem’.”136
Podemos desta forma concluir que quer Nimrod, Faraó, Balaque ou Hamã tivessem na realidade existido ou não é de importância menor. O que é importante é que os traços retratados por estes personagens existem dentro de nós e a Bíblia só narra alegoricam ente as fases pelas quais os podemos superar.
Quando prevalecemos sobre essas qualidades de egoísmo, somos recompensados com a redenção – a qualidade de doação, a equivalência de forma com o Criador. E porque o Criador nos deseja fazer bem, assim que tenhamos corrigido estes traços dentro de nós, eles não nos assombrarão mais, uma vez que fomos redimidos do egoísmo e adquirimos Sua qualidade de doação.
Se qualquer um destes exemplos de egoísmo vivesse hoje, certamente os categorizaríamos como anti- Semitas da pior espécie. Para esse efeito, o Rav Kook fez uma previsão ameaçadora (e verdadeira) enquanto traçando um elo direto entre os antissemitas modernos e os bíblicos. Numa afirmação algo pouco ortodoxa ele escreve, “Amaleque, Petlura [Líder ucraniano suspeito de ser antissemita], Hitler, e assim por diante, despertaram por redenção. Aquele que não escutou a voz do primeiro Shofar [um símbolo do chamado para a redenção], ou a voz da segunda … pois suas orelhas estavam bloqueadas, escutará a voz do Shofar impuro, o imundo [não kosher]. Ele escutará contra sua vontade.”137
DOIS CAMINHOS – UM DOCE, UM DOLOROSO
O estado da redenção completa – a realização do Criador por toda a humanidade – é mandatária. Baal HaSulam diz que há dois caminhos pelos quais a conseguimos alcançar: o caminho da Torá, quando voluntariamente adoptamos a lei da doação como nosso modo de vida, ou o caminho do sofrimento, onde a realidade nos impele a independentemente adotar a Lei da Doação como nosso modo de vida.138
Por muito compulsórias as palavras desses dois sábios contemporâneos possam soar, elas repousam sobre uma base sólida. O Talmude escreve, “Rabi Eliezer diz, ‘Se Israel se arrependem, eles são redimidos. Se não, eles não são redimidos.’ Rabi Yehoshua disse para eles, ‘Se eles não se arrependem, eles não são redimidos, mas o Senhor colocará sobre eles um rei cujos decretos são tão duros como os de Hamã, Israel se arrependerá, e Ele os reformará’.”139
Até nessa ocasião importante no sopé do Monte Sinai, quando coletivamente recebemos a Torá com um espetáculo espetacular audiovisual, aparentemente não foi tão alegre ou tão festivo como foi descrito. O Talmude conta-nos que as circunstâncias foram tais que não houve muito mais que pudéssemos fazer senão a receber. Na terminologia de hoje, diríamos que o Criador nos deu uma oferta que não podíamos recusar: “Está escrito, ‘E eles estiveram no fundo da montanha’. Rav Dimi Bar Hamã disse que isso significa que o Senhor forçou a montanha sobre Israel como um cofre, e disse para el es: ‘Se vós aceitais a Torá [Lei da Doação], muito bem, mas se não, lá será vossa sepultura’.”140
Certamente, ninguém disse que é fácil ter a primogenitura. Mas os Judeus, os descendentes do clã de Abraão, são precisamente isso. Eles foram os primeiros a alcançar o propósito da Criação; assim, cabe-lhes naturalmente a eles conduzir o caminho para o resto da humanidade. Enquanto evitarmos essa tarefa, encontraremos rejeição por todas as nações.
OS MÉDICOS DO MUNDO
Imagine que descobriu uma série de exercícios que podem curar o câncer e o prevenir de alguma vez regressar. Imagine que havia contado ao mundo sobre isso, como Abraão o fez na Babilônia, mas foi rejeitado porque os exercícios eram monótonos e cansativos e ninguém realmente se sentia indisposto.
Agora imagine que anos mais tarde, biliões de pessoas pelo mundo têm câncer. Elas vagamente se recordam que você disse que tinha uma cura, e que no seu desespero elas voltam-se para você, rogando que lhes salve as vidas. Mas você se esqueceu completamente disso. Você sabe que a cura existe, você sabe que muitas pessoas disseram que era um remédio poderoso (Segulá), mas uma vez que se sente forte e saudável, não vê razão porque deve reaprender esses exercícios, muito menos os ensinar a biliões de pessoas. Pode imaginar como o mundo se sentiria acerca de você, o que as pessoas pensariam, e o que fariam elas?
É precisamente aqui que os Judeus se encontram em relação ao mundo. O mundo está começando a se sentir indisposto e as pessoas estão começa ndo a procurar uma saída da sua miséria. Elas sabem que somos o povo escolhido, e que somos aqueles que se supõe trazer a redenção. As pessoas podem não saber que a redenção envolve mudar sua natureza para a doação, mas elas sabem que a redenção é desejável.
Tais versículos do Novo Testamento como “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação é dos Judeus”,141 e “Que vantagem tem o Judeu? …Grande de todas as maneiras. Primeiro de tudo, a eles foram confiados com os oráculos de Deus”,142 são somente duas das incontáveis menções da posição e papel únicos do papel, como descrito pelos escritos Cristãos. Quando não levamos a cabo nossa missão, inadvertidamente nos aproximamos do perigo e ódio, que se traduzem no que agora conhecemos como antissemitismo.
Que somos diferentes e únicos está documentado na história, nas páginas das nossas escrituras, naquelas do Cristianismo e do Islão, e nos escritos de uma miríade de acadêmicos e estadistas. Abaixo estão alguns dos inumeráveis excertos de indivíduos bem conhecidos exprimindo suas visões sobre a singularidade dos Judeus:
Winston Churchill, Primeiro Ministro do Reino Unido durante a 2ª Guerra Mundial: “Algumas pessoas gostam dos Judeus, e algumas não. Mas nenhum homem preocupado consegue negar o fato de que eles são, além de qualquer questão, a raça mais formidável e mais marcante que apareceu no mundo.”143
Lyman Abbott, um Congressista Americano, teólogo, editor e escritor “Quando por vezes nossos preconceitos não cristãos se inflamam contra o povo Judeu, recordemo- nos que todos nós temos e tudo o que devemos, sob Deus, ao que o Judaísmo nos deu.”144
Huston Smith, um professor de estudos religiosos nos Estados Unidos, autor de As Religiões do Mundo, que vendeu mais de duas milhões de cópias: “Há um ponto chocante que corre pela história Judaica como um todo. A civilização ocidental nasceu no Médio Oriente, e os Judeus estavam na sua encruzilhada. No apogeu de Roma, os Judeus eram próximos do centro do Império. Quando o poder derivou para o leste, o centro Judaico era na Babilônia; quando ele saltou para Espanha, lá novamente estavam os Judeus. Quando na Idade Média o centro da civilização se moveu para a Europa Central, os Judeus esperavam por isso na Alemanha e Polônia. O levantar dos Estados Unidos para conduzir o poder mundial encontrou o Judaísmo lá concentrado. E agora, hoje, quando o pêndulo parece balançar de volta ao Mundo Antigo e o Oriente se levanta para importância renovada, lá novamente estão os Judeus em Israel…”145
Liev Tolstói, o romancista Russo, autor de Anna Karenina: “O que é um Judeu? Que espécie de criatura única é que todos os governantes de todas as nações do mundo desgraçaram e esmagaram e expeliram e destruíram, perseguiram, queimaram e afogaram, e que, apesar de sua cólera e sua fúria, continua a viver e florescer. O que é este Judeu que eles nunca tiveram sucesso em atiçar com todos os atiçamentos no mundo, cujos opressores e perseguidores só sugeriram que ele negue (e renegue) sua religião e lance para o lado a lealdade aos seus antepassados?!
“O Judeu é o símbolo da eternidade. …Ele é aquele que há muito guardou a mensagem profética e a transmitiu a toda a humanidade. Um povo tal como este nunca pode desaparecer. O Judeu é eterno. Ele é a incorporação da eternidade.”146
Certamente somos o símbolo da eternidade, como Tolstói disse porque a qualidade de benevolência do Criador está nos nossos “genes espirituais”. E todavia, não seremos deixados em paz até que, como no exemplo com o câncer e o exercício curativo, conscientemente nos elevemos a nós mesmos ao nível espiritual e elevemos o todo da humanidade imediatamente posteriormente.
Como foi afirmado e acima citado, agora é a hora da correção geral. Em tal tempo, os eventos tornam-se inclusivos, globais. Tal como foi o caso com a 1ª Guerra Mundial, e tanto quanto o mais com a 2ª Guerra Mundial, as atrocidades da qual estão embutidas na nossa memória coletiva para nos recordar quem nós somos, e o que é suposto que concretizemos.
Para evitar tais cataclismos no futuro, precisamos de ter uma observação cuidada em algumas sugestões e afirmações dadas anteriores, e posteriores ao Holocausto. O próximo capítulo sublinhará essas afirmações e sua pertinência a nossas vidas hoje. Assim que saibamos o que foi dito, seremos capazes de valorizar o que precisamos de fazer para nos ajudarmos a nós mesmos e ajudar o mundo.