Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 5: Exilados

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

As Raízes do Antissemitismo

No decorrer da história, nunca houve uma nação mais perseguida que os Judeus. No decorrer da história,  nunca  uma  nação  sobreviveu  a  toda  e cada perseguição e emergiu cada vez mais forte.

A aparente indestrutibilidade dos Judeus levantou muitas perguntas, claramente mais entre não-Judeus que entre Judeus, pois os Judeus estavam demasiado preocupados com a sobrevivência. O reconhecido escritor Alemão, Johann Wolfgang von Goethe, exprimiu seu espanto com a tenacidade dos Judeus no seu livro, Wilhelm Meisters Lehrjahre [A Aprendizagem de Wilhelm Meister]: “Cada Judeu, não importa quão insignificante, está envolvido em certa decisiva  e imediata  perseguição  de  uma  meta…  É o povo  mais perpétuo na terra.”124

Semelhante a Goethe, o professor de Cambridge, T.R. Glover, sublinha o enigma da existência Judaica em O Mundo Antigo: “Nenhum povo da antiguidade teve uma história   mais   estranha   que   os   Judeus…   A   história  de nenhum povo antigo deve ser tão valiosa, se a pudéssemos ao menos recuperar e compreender. …Mais estranha ainda,  a antiga religião dos Judeus quando todas as religiões de cada raça antiga do mundo pré-Cristão desapareceram … A questão não é ‘O que aconteceu’? Mas, ‘Porque aconteceu’? Porque vive o Judaísmo”?125

Similarmente, Ernest van den Haag, professor de Jurisprudência e Política Pública na Universidade de Fordham, escreveu, “Num mundo onde os Judeus são somente uma minúscula percentagem da população, qual é o segredo da importância desproporcional que os Judeus tiveram na história da cultura ocidental?”126

O matemático, físico, inventor e filósofo Francês Blaise Pascal, era fascinado com a antiguidade do povo Judaico. No seu livro, Pensees, ele escreveu, “Este povo não é eminente somente pela sua antiguidade, mas são também singulares pela sua duração, que sempre continuou da sua origem até agora. Pois, enquanto as nações da Grécia e da Itália, de Lacedemônia, de Atenas e de Roma, e outras que vieram muito depois, há muito pereceram, estes permanecem sempre, e apesar dos empreendimentos de muitos Reis poderosos que tentaram uma centena de vezes os destruir…eles foram independentemente preservados.”127

Certamente, como inumeráveis indivíduos reconhecidos durante as eras anotaram, os Judeus não conseguem ser aniquilados. Os Judeus têm uma missão para concretizar, e até que o façam, a Natureza, Deus, o Criador, Jeová, ou como quer que escolha O chamar, não o deixará acontecer. E todavia, enquanto os Judeus continuam evitando assumir sua tarefa pretendida, eles certamente podem, e  foram,  e  serão  torturados  e  mortos praticamente até à extinção. Para desenterrar as raízes da Via Dolorosa Judaica durante a história, precisamos de viajar para trás no tempo para o começo da Criação.

No Capítulo 2 tomamos nota que o Criador tem senão um desejo – fazer o bem às Suas criações, nomeadamente a nós humanos. Mas porque presentemente não temos percepção d’Ele, não conseguimos receber d’Ele.

Quando queremos dar um presente a um amigo, aproximamo -nos desse amigo e lhe  damos.  Tem  que haver contato entre o dador e o receptor. De igual modo, para que Ele nos dê, o Criador e a Criação têm que se conectar. E na conexão, como citamos Baal HaSulam, “Sente-se o maravilhoso benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua completa, boa e generosa mão. Devido à abundância do benefício que um alcança, maravilhoso amor aparece entre uma pessoa e  o Criador, incessantemente derramando sobre a pessoa pelas próprias rotas e canais através dos quais o amor natural aparece. Contudo, tudo isto vem a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí em diante.”128

Isto, dissemos no Capítulo 2, suscita a necessidade de “equivalência de forma,” ou seja, ser como o Criador, ter uma natureza de dar. Lamentavelmente,  a vasta maioria   de nós não tem desejo por isso; veementemente nos ressentimos de dar a menos que  tenhamos  lucro subjacente, um motivo anterior para o fazer. RASHI, o grande comentador sobre a Bíblia, escreveu  que  o  versículo, “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21), significa que “Assim que se   é agitado para fora do ventre de sua mãe, Ele [o Criador] planta nele a inclinação ao mal,” a qual, como dito no Capítulo  3,  é  egoísmo,  o  desejo  de  recebermos  para  nós mesmos.

Desta forma, considerar que o Criador é benevolente     e que nós somos opostos, a colisão entre o homem e Deus parece inevitável. Como alguma vez O podemos alcançar   se Ele nos fez naturalmente opostos a Ele? O remédio do egoísmo reside no que  descrevemos  anteriormente  como “o ponto no coração”. Essa sede de compreender do que se trata a vida, e sobre o que faz o mundo girar (e não é dinheiro), é o anseio que permitiu a Adam, Abraão e seus descendentes, Moisés, e a nação inteira que surgiu  dos  exila dos da Babilônia, a desenvolver um método de correção   que torna   a inclinação   do mal em bondade.

 

SÍMBOLOS DE UMA COLISÃO INTERNA

Uma pessoa pode argumentar se a Bíblia, o Antigo Testamento, é uma documentação histórica genuína de eventos. Mas os grandes sábios de Israel  durante  as eras não tinham preocupação pela relevância histórica  da  Bíblia. Em vez disso eles viam-na como uma alegoria que retrata os processos internos espirituais  que  se experimenta durante o caminho da correção. Para eles, Nimrod, rei da Babilônia, representa meridá [Hebraico: rebelião], desafio contra a qualidade de doação o Criador; Faraó significa a epítome da inclinação ao mal e também Hamã, embora numa fase tardia do  nosso  desenvolvimento  espiritual.

É por isso que RASHI  interpreta  o  Talmude Babilônico como se segue: “Seu  nome  era  Nimrod  pois  ele himrid [incitava] o  mundo  inteiro  contra  o  Senhor”.129

A respeito de Faraó, Maimônides explica afetuosamente,  “Vós  deveis  saber,  meu   filho,   que   Faraó,  o  rei  do  Egito,  é  na  realidade  a  inclinação  ao mal”130 Similarmente, Elimelech de Lizhensk, do autor de Noam Elimelech (A Agradabilidade de Elimelech), escreveu simplesmente, “…Faraó, que é chamado ‘a inclinação ao mal.’”131

Rabi Jacob Joseph Katz acrescentou profundidade à distinção a respeito de Faraó. Ele acrescentou que as palavras, “Faraó havia deixado o povo ir” (Êxodo 13:17), designam a fase no nosso desenvolvimento espiritual em que uma pessoa se liberta dos pesados grilhões  da  inclinação ao mal. Nas suas palavras, “‘E quando Faraó havia deixado o povo ir’ – quando os nossos órgãos escapam à autoridade da inclinação ao mal, como durante o êxodo  do Egito, eles saem dos quarenta e nove portões de Tum’á [impureza, egoísmo] para a santidade [doação]”.132

Dentro do mesmo livro, Rabi Katz acrescenta suas visões a respeito de  Hamã:  “A  instrução  de  Hamã  de fazer uma forca de cinquenta cúbitos de altura é o conselho da inclinação ao mal”.133 Similarmente, Rabi Jonathan Eibshitz escreve no seu livro Yaarot Devash [Colméias] sobre “Hamã, que é a inclinação ao mal…”134

Mais recentemente, Cabalistas e acadêmicos Judaicos começaram a sentir que o tempo era fugidio  e que  a Era   da Correção se aproximava. Eles começaram a acrescentar chamados implícitos e por vezes explícitos para a ação nas suas palavras. Assim, Rav Yehuda Ashlag, sentindo que a aplicação do método de correção era urgentemente necessária, fez um elo direto entre superar a inclinação ao mal e o modo como deve ser alcançado hoje – através de união. Num ensaio intitulado, “Há Um Certo Povo”, Baal HaSulam conta-nos, “‘Há um certo povo espalhado no estrangeiro e disperso entre os povos.’ Hamã disse isso na sua visão, que nós [o povo de Hamã] teremos sucesso em destruir  os  Judeus  porque  eles  estão  separados  uns  dos outros, então nossa força contra eles certamente  prevalecerá, porque isto [separação entre eles] causa separação entre o homem e Deus.”135 Isto é, o egoísmo dos Judeus os separa da qualidade de doação, o Criador, então a força do ego, a inclinação ao mal, “certamente prevalecerá”. “É por isso que,” continua Baal HaSulam, “Mordecai foi para corrigir esse defeito, como é explicado no versículo,  ‘Os Judeus se reuniram…’ para se reunirem a si mesmos, e para defender suas vidas. Isto significa que eles se haviam salvo ao se unirem’.”136

Podemos desta forma concluir que quer Nimrod,  Faraó, Balaque ou Hamã tivessem na realidade existido ou não é de importância menor. O que é importante é que os traços retratados por estes personagens existem dentro de nós e a Bíblia só narra alegoricam ente as fases pelas quais  os podemos superar.

Quando prevalecemos sobre essas qualidades de egoísmo, somos recompensados com a redenção – a qualidade de doação, a equivalência de forma com o Criador. E porque o Criador nos deseja fazer bem, assim que tenhamos corrigido estes traços dentro de  nós,  eles  não nos assombrarão mais, uma vez que fomos redimidos do egoísmo e adquirimos Sua qualidade de  doação.

Se  qualquer  um  destes  exemplos  de   egoísmo   vivesse hoje, certamente os categorizaríamos como anti- Semitas da pior espécie. Para esse efeito, o Rav Kook fez uma previsão ameaçadora (e verdadeira) enquanto  traçando um elo direto entre os antissemitas modernos e    os bíblicos. Numa afirmação algo pouco ortodoxa ele escreve, “Amaleque, Petlura [Líder ucraniano suspeito de  ser antissemita], Hitler, e assim por  diante,  despertaram por redenção. Aquele que não escutou a voz do primeiro Shofar  [um  símbolo  do  chamado  para  a  redenção],  ou a voz da segunda … pois suas orelhas estavam bloqueadas, escutará a voz do Shofar impuro, o imundo [não kosher]. Ele escutará contra sua  vontade.”137

 

DOIS CAMINHOS  – UM DOCE, UM DOLOROSO

O estado da redenção completa – a realização do Criador por toda a humanidade – é mandatária. Baal HaSulam diz que há dois caminhos pelos quais a conseguimos alcançar: o caminho da Torá, quando voluntariamente adoptamos a lei da doação como nosso modo de vida, ou o caminho do sofrimento, onde a realidade nos impele a independentemente adotar a Lei da Doação como nosso modo de vida.138

Por muito compulsórias as palavras desses dois sábios contemporâneos possam soar, elas repousam sobre uma base sólida. O Talmude escreve, “Rabi Eliezer diz, ‘Se Israel se arrependem, eles são redimidos. Se não, eles não são redimidos.’ Rabi Yehoshua disse para eles, ‘Se eles não se arrependem, eles não são redimidos,  mas  o  Senhor colocará sobre eles um rei cujos decretos são tão duros  como os de Hamã, Israel se arrependerá, e Ele os reformará’.”139

Até nessa ocasião importante no sopé do Monte Sinai, quando coletivamente recebemos a Torá com um  espetáculo espetacular audiovisual, aparentemente não foi tão alegre ou tão festivo como foi descrito. O Talmude conta-nos que as circunstâncias foram tais que não houve muito mais que pudéssemos fazer senão a receber. Na terminologia de hoje, diríamos que o Criador nos deu uma oferta que não podíamos recusar: “Está escrito, ‘E eles estiveram  no  fundo  da  montanha’.  Rav  Dimi  Bar  Hamã disse que isso significa que o Senhor forçou a montanha sobre Israel como um cofre, e disse para el es: ‘Se vós  aceitais a Torá [Lei da Doação], muito bem, mas se não, lá será  vossa sepultura’.”140

Certamente, ninguém disse que é fácil ter a primogenitura.  Mas  os   Judeus,   os descendentes do clã  de Abraão, são precisamente isso. Eles foram os primeiros    a alcançar o propósito da Criação; assim, cabe-lhes naturalmente a eles conduzir o caminho para o resto da humanidade. Enquanto evitarmos essa tarefa, encontraremos rejeição por todas as nações.

 

OS MÉDICOS DO MUNDO

Imagine que descobriu uma série de exercícios que podem curar o câncer e o prevenir de alguma vez regressar.  Imagine que havia contado ao mundo sobre isso, como Abraão o fez na Babilônia, mas foi rejeitado porque os exercícios eram monótonos e cansativos e ninguém realmente se sentia  indisposto.

Agora imagine que anos mais tarde, biliões de pessoas pelo mundo têm câncer. Elas vagamente se recordam que você disse que tinha uma cura, e que no seu desespero elas voltam-se para você, rogando  que  lhes  salve  as  vidas.  Mas  você  se  esqueceu completamente disso. Você sabe  que a cura existe, você sabe que muitas pessoas disseram  que era um remédio poderoso (Segulá), mas uma vez que   se sente forte e saudável, não vê razão porque deve reaprender esses exercícios, muito menos os ensinar a biliões de pessoas. Pode imaginar como o mundo  se  sentiria acerca de você, o que as  pessoas  pensariam,  e o que  fariam elas?

É precisamente aqui que os Judeus se encontram em relação ao mundo. O mundo está começando a se sentir indisposto e as pessoas estão começa ndo a procurar uma saída da sua miséria. Elas sabem que somos o povo escolhido, e que somos aqueles que se supõe trazer a redenção. As pessoas podem não saber que a redenção envolve mudar sua natureza para a  doação,  mas  elas sabem que a redenção é  desejável.

Tais versículos do Novo Testamento como “Vós  adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação é dos Judeus”,141 e “Que vantagem tem o Judeu? …Grande de todas as maneiras. Primeiro de tudo, a eles foram confiados com os oráculos  de Deus”,142 são somente duas das incontáveis   menções   da posição e papel únicos do papel, como descrito pelos escritos Cristãos. Quando não levamos a cabo  nossa missão, inadvertidamente nos aproximamos do perigo e ódio, que se traduzem no que agora conhecemos como antissemitismo.

Que somos diferentes e únicos está documentado na história, nas páginas das nossas escrituras, naquelas do Cristianismo  e  do  Islão,  e  nos   escritos   de   uma  miríade de acadêmicos e estadistas. Abaixo  estão  alguns dos inumeráveis excertos de indivíduos bem conhecidos exprimindo suas visões sobre a singularidade dos Judeus:

Winston Churchill, Primeiro Ministro do Reino  Unido durante a 2ª Guerra Mundial: “Algumas pessoas gostam dos Judeus, e algumas não. Mas nenhum homem preocupado consegue negar o fato de que eles são, além de qualquer questão, a raça mais formidável e mais marcante que apareceu no  mundo.”143

Lyman Abbott, um Congressista Americano, teólogo, editor e escritor “Quando por vezes nossos  preconceitos não cristãos se inflamam contra o povo Judeu, recordemo- nos que todos nós temos e tudo o que devemos, sob Deus, ao que o Judaísmo nos  deu.”144

Huston Smith, um professor de  estudos  religiosos  nos Estados Unidos,  autor  de  As  Religiões  do  Mundo,  que vendeu mais de duas milhões de cópias: “Há um ponto chocante que corre pela história Judaica como um todo. A civilização ocidental nasceu no Médio Oriente, e os Judeus estavam na sua encruzilhada. No apogeu de Roma, os  Judeus eram próximos do centro do Império. Quando o poder derivou para o leste, o centro Judaico era na Babilônia; quando ele saltou para Espanha, lá novamente estavam os Judeus. Quando na Idade Média o centro da civilização se moveu para a Europa Central, os Judeus esperavam por isso na Alemanha e Polônia. O levantar dos Estados Unidos para conduzir o poder mundial encontrou  o Judaísmo lá concentrado. E agora, hoje, quando  o pêndulo parece balançar de volta ao Mundo Antigo e o Oriente se levanta para importância renovada,  lá novamente estão os Judeus em Israel…”145

Liev Tolstói, o romancista Russo, autor de Anna Karenina: “O que é um Judeu? Que espécie de criatura  única é que todos os governantes de todas as nações do mundo desgraçaram e esmagaram e expeliram  e destruíram,  perseguiram,   queimaram   e  afogaram,  e   que, apesar de sua cólera e sua fúria, continua a viver e florescer. O que é este Judeu que eles nunca  tiveram  sucesso em atiçar com todos os atiçamentos no mundo, cujos opressores e perseguidores só sugeriram que  ele  negue (e renegue) sua religião e lance para o  lado  a  lealdade aos seus  antepassados?!

“O Judeu é o símbolo da eternidade. …Ele é aquele que há muito guardou a mensagem profética e a transmitiu a toda a humanidade. Um povo tal como este nunca pode desaparecer. O Judeu é eterno. Ele é a incorporação da eternidade.”146

Certamente somos o símbolo da eternidade, como Tolstói disse porque a qualidade de benevolência  do Criador está nos nossos “genes espirituais”. E todavia, não seremos deixados em paz até que, como no exemplo com o câncer e o exercício curativo, conscientemente nos  elevemos a nós mesmos ao nível espiritual e  elevemos o todo da humanidade imediatamente  posteriormente.

Como foi afirmado e acima citado, agora é a hora da correção geral. Em tal tempo, os eventos tornam-se inclusivos, globais. Tal como foi o caso com a 1ª Guerra Mundial, e tanto quanto o mais com a 2ª Guerra Mundial, as atrocidades da qual estão embutidas na nossa memória coletiva para nos recordar quem nós somos, e o que é suposto  que concretizemos.

Para evitar tais cataclismos no futuro, precisamos de  ter uma observação cuidada em algumas sugestões e afirmações dadas anteriores, e posteriores ao Holocausto.   O próximo capítulo sublinhará essas afirmações e sua pertinência a nossas vidas hoje. Assim que saibamos o que foi dito, seremos capazes de valorizar o que precisamos de fazer para nos ajudarmos a nós mesmos e ajudar o mundo.

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