Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
− Você diz que a criança tem de crescer de uma forma que lhe permita perceber o mundo de forma holística desde a infância.
− Sim, somente dessa maneira. Afinal, estamos em um mundo global. Isso já está claro para muitas pessoas. Nós ensinamos as crianças a se adaptarem ao mundo.
− É uma boa ideia colocar um globo na frente de uma criança de 3 anos e girá-lo?
− Certamente, mesmo antes da idade de 3 anos. Mesmo que ela ainda não entenda o que é um globo, deixe-a jogar com essa bola. A criança reterá uma impressão dela.
Você pode não estar ciente disso, mas há imagens em seu subconsciente, lembranças de uma idade muito precoce, praticamente desde a idade 0 até 1 ano, que podem ser evocadas: lá está você sendo deitado, sendo enrolado em fraldas, alimentado e lavado. Você não vê a si mesmo ou o mundo ainda, mas algo já está lá. Em cada bebê há um adulto olhando do interior, enquanto o corpo ainda é pequeno. Não percebemos isso, porque só prestamos atenção ao corpo.
As imagens e ideias que uma criança retém antes da idade de 9 ou 10 anos são as bases de seu desenvolvimento. Depois disso ela só forma e os realiza, mas não é mais possível mudar nada.
Se não construirmos os fundamentos corretos em uma criança, se não lhes dermos a educação correta ao longo desses anos, será impossível elevá-la depois. Ela já terá outras ideias, outros exemplos de comportamento e relacionamentos. Por isso, tem de ser feito literalmente desde a idade 0, ou pelo menos começando aos 3 anos de idade.
− Quando os professores e os pais interagem com as crianças, eles se deparam com o problema de que é difícil trabalhar com a criança, porque ela é muito instável. Num momento ela está correndo e no momento seguinte está gritando, caindo no chão e chafurdando lá. Ou ela pode sair da sala de repente, porque é isso que ela tinha
vontade de fazer. Devemos limitá-la ou de alguma forma usar essa dinâmica?
− Você não deve fazer nada com ela. Você tem de criar um ambiente deliberadamente integrado ao seu redor. Isso é tudo. Significa que nesse ambiente ela depende de todos e todos dependem dela. Ela tem de entender isso sem explicações, mas, se necessário, pode lhe explicar, mostrando-lhe o mundo.
Quem é você? Você é um guia para o mundo no qual ela se encontra. Isso significa que você tem de mostrar a ela esse mundo e demonstrar como ele funciona. Mostrar- lhe como você trata os outros, como os outros tratam você, como você compartilha com os outros e faz algo por eles. Ela tem de ver tudo isso.
E gradualmente, com base nessas interconexões extremamente sutis, mostrar que, se ela não participa de tudo junto com todo mundo e não considera os outros, se ela não deseja estar integralmente conectada com eles, os outros não a tratarão do jeito que ela quer. E essa é a razão para seu sofrimento.
Então a criança começará a entender esse sistema a partir do interior, estudá-lo a partir da vida. Afinal, a vida está nos ensinando com uma vara, com pequenas decepções: assim é como você foi tratado, assim é o que sua mãe ou babá fez, ou as crianças ao seu redor. Isto é, ela tem de receber punição, mas também a remuneração adequada por ter a atitude certa para o ambiente integrado.
− Suponha que, durante uma atividade comum, uma criança venha até o professor e o chute. Isso realmente acontece hoje em dia.
− Se você pegar uma criança de rua despreparada e a trouxer para esse tipo de sistema, é claro que ela experimentará estados horríveis, porque não entenderá nada. Estamos falando de crianças que começaram a receber educação desde o nascimento. Temos de tornar nossas vidas mais fáceis de alguma forma. Nós não podemos frear as crianças que já se formaram de maneira egoísta, então temos de começar com as crianças que foram preparadas.
Depois disso, é possível, gradualmente, começar a aceitar crianças não corrigidas nesse ambiente, ou seja, aquelas que cresceram no meio ambiente sem correção. Uma vez que tenhamos um ambiente forte, podemos introduzir nele outras crianças e corrigi-las. Isso porque a correção só acontece sob a influência do exemplo dos outros.