Rendimento Básico Universal é uma ideia bela, todavia extremamente perigosa. Mas se bem executada, podem bem salvar a humanidade
Em anos recentes, houve um aumento no debate ao redor da ideia do Rendimento Básico Universal (RBU). RBU basicamente significa que se você está vivo você merece receber dinheiro suficiente para o manter acima da linha da pobreza e prover todas as suas necessidades básicas. O dinheiro pode vir ora de um governo ou de outra instituição pública, mas a recepção do dinheiro não está dependente de qualquer outra coisa senão estar vivo.
Através de um programa chamado o Projecto de Segurança Económica (PSE), financiado por figuras de tão alto perfil como Chris Hughes, co-fundador do Facebook e Robert Reich, antigo Secretário do Trabalho na primeira administração Clinton, a ideia está a ser promovida como uma solução possível para o desafio do desemprego na era burguesa de excesso de mão-de-obra. Eles não estão sozinhos. Já, mais de uma centena de pensadores, cientistas, professores universitários e artistas assinaram a Declaração de Acreditação do projecto. Outros, tais como o magnata da alta tecnologia, Elon Musk, que disse, “Há uma grande chance que acabemos com um rendimento básico universal devido à automação” e o aclamado astrofísico, Stephen Hawking, que declarou, “A automação e Inteligência Artificial vão dizimar os empregos da classe média,” também estão a fazer conhecido seu reconhecimento de que a era do trabalho como a conhecemos em breve vai terminar, definitivamente.
O um por cento do topo e as celebridades naturalmente ficariam incomodadas com a perspectiva de um futuro no qual sua segurança é colocada em perigo por uma multidão frustrada, desesperada e esfomeada que venha para tomar aquilo que lhes pertence. Mas também os governos, estão interessados em experimentar com o RBU, possivelmente como meio de evitar a agitação social. O Canadá, por exemplo, está prestes a lançar um piloto na província de Prince Edward Island e o Conselho de Fife na Escócia está no presente a considerar uma esquema de experimentação para o RBU. No ano seguinte, a Holanda vai lançar aquilo que o The Atlantic chamou como a “experiência do dinheiro-de-graça,” que garante aos residentes de Utrecht e cidades circundantes “uma soma fixa de €960 por mês.”
Eu sou todo a favor de permitir às pessoas viverem em dignidade. Penso que a sociedade tem de fornecer a todo o cidadão e residente comida, roupa, segurança, cuidados de saúde e educação. Porém e este é um grande porém, como antes escrevi há quase quatro anos atrás no meu livro, Como um Feixe de Juncos: Como a União e a Responsabilidade Mútua São a Necessidade do Momento, dar dinheiro incondicionalmente às pessoas seria um desastre. Se queremos ver o fim da humanidade, vamos dar a todos dinheiro de graça. A natureza humana cuidará do resto e não vai ser bonito.
Não Há Vida sem uma Razão para Viver
Se os governos chegarem a um estado onde têm de dar às pessoas quantias substanciais de dinheiro só por estarem vivas, então seu próximo plano necessariamente vai envolver meios para reduzir o número de pessoas que estão vivas em prol de reduzir as despesas.
Mas dinheiro gratuito não é apenas um fardo sobre o governo. Uma pessoa sem compromissos torna-se uma ameaça. Sem aspirações, esperanças e sonhos, as pessoas não conseguem desfrutar de coisa alguma. Quando trabalhamos pelo nosso vencimento, ganhamos não só o dinheiro, mas também o desejo pelo dinheiro. Sonhamos com o que faríamos com ele, quanto mais queremos e o que devemos fazer para ganhar mais dinheiro. Mas se é dada a mesma quantia de dinheiro a uma pessoa hoje, amanhã e para sempre e se cada folha de ordenado não requer concretizar qualquer obrigação, então teremos feito do futuro o mesmo que é hoje. Sem desejos, esperanças e sonhos, as pessoas enlouquecem. Não há pior punição que satisfazer o desejo de uma pessoa antes que ela o deseje.
Sem saberem por que se devem elas levantar da cama de manhã, ou ao meio dia, ou à noite, as pessoas ficarão insanas. Elas vão se tornar violentas apenas para que se sintam livres. Isto é o abc da psicologia, você não precisa realmente de ser psicanalista para ver isto. Se alguém rouba a dignidade das pessoas, isso é a negação da sua capacidade de contribuir. Qualquer país ou comunidade que implemente o RBU e não o condicione quanto à concretização de compromissos sela o seu destino. Com o tempo, as pessoas se tornarão violentas e desprovidas de emoções humanas.
Como Usar o RBU para Nosso Benefício
Se o RBU quer ter sucesso, ele tem de fazer parte de um plano maior. O facto da Inteligência Artificial estar a dizimar empregos, como Hawking disse, não é negativo em si mesmo. Pelo contrário, isso nos liberta para perseguir nossas metas enquanto seres humanos em vez de sermos subjugados à escravidão moderna e exploração. A sociedade tem muito a ganhar da liberdade das pessoas, desde que elas a usem de uma maneira pró-social.
Por outras palavras, se o RBU for dado em troca do envolvimento das pessoas em actividades que contribuam para a sociedade, então há todas as razões para lhes continuarmos a pagar. Se elas se envolverem em actividades negativas, seus pagamentos devem ser retidos. Sendo isto dito, a sociedade deve ajudá-las a aprender como contribuir positivamente e não esperar automaticamente que as pessoas entendam o que isto significa ou como o levar a cabo.
O único ingrediente que todas as sociedades necessitam desesperadamente, especialmente em áreas menos afluentes, é a coesão social e solidariedade. Portanto, o primeiro “emprego” que os benfeitores do programa do RBU terão será se conectarem entre eles. O emprego vai consistir de encontros que incluem ensino claro sobre a ciência por trás e importância da conexão e solidariedade na comunidade, bem como workshops onde os estudantes praticarão aquilo que aprenderam e melhorem suas aptidões de comunicação e solidariedade emocional.
Nem todos os fundos devem ir directamente para as pessoas. Alguns dos recursos devem apoiar criar um ambiente caloroso na comunidade. Crianças e adultos em semelhança devem desfrutar de aulas gratuitas em cursos complementares tais como música, arte e desporto. A atmosfera amigável na vizinhança vai complementar a escolaridade dos residentes, lhes permitindo criar um meio ambiente que muda suas mentalidades da desconfiança para a abertura e preocupação mútua.
Como tempo, os estudantes seniores nos cursos de conexão se tornarão eles mesmos professores, os permitindo ganhar vencimento adicional e expandir o impacto de sua transformação além das fronteiras dos seus bairros. À medida que o efeito positivo da transformação ondula pelas cidades e comunidades, os benefícios económicos da atmosfera positiva se começarão a manifestar. Com muito menos hostilidade e com uma atmosfera geral de apoio, municipalidades e estados gastarão muito menos em policiamento e serviços sociais. Devido aos ânimos elevados e sentido de propósito das pessoas, sua saúde vai melhorar e doenças relacionadas à depressão se tornarão praticamente obsoletas, poupando biliões de dólares para o sobrecarregado sistema de saúde nacional. Adicionalmente, o abuso de substâncias vai cair dramaticamente, uma vez que as pessoas não terão necessidade de escapar de um meio ambiente hostil em casa, na escola ou no trabalho. Desesperança se transformará em esperança à medida que as pessoas aprendem novas maneiras significativas de se conectar e comunicarem.
Embora o RBU seja o incentivo inicial para a mudança, seu impacto será profundo e de longo alcance. Em resposta à coluna da última semana, um leitor perguntou-me que medidas seriam tomadas para garantir que as pessoas não manipulam o destinado sistema para seu próprio ganho e interesse pessoal. Temos tendência a negligenciar o impacto da sociedade sobre nossas visões e acções. Mas se pensarmos da horrível cobrança que as pessoas pagam às vezes quando sofrem de serem envergonhadas online, vamos perceber o poder da sociedade sobre nós. Na mesma medida, uma pessoa que explorar um sistema que a inteira sociedade estima vai sofrer tamanha repreensão que ela ou ele vai pensar duas vezes antes de tentar o jogo sujo de novo. Naturalmente, haverão excepções e incidentes, nenhum sistema é à prova de falhas. Independentemente, com um ambiente prevalecente de responsabilidade mútua e preocupação de uns pelos outros, tais eventos serão a excepção, em contraste com o presente estado em que eles são a norma.
Acredito realmente que chegou a hora de uma revisão social. O 8 de Novembro foi uma data marcante. Estamos no limiar de uma nova era, mas a escolha é nossa de que tipo de era será esta. Se puxarmos para o mesmo lado e pensarmos com audácia, temos todas as razões para ter sucesso. A humanidade produz tudo aquilo que precisamos para uma vida confortável para todos. Se aprendermos os benefícios do cuidado recíproco, entraremos numa nova e excitante fase na história da humanidade.
Publicado originalmente no Haaretz