Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Nós recebemos muitos pedidos de organizações que trabalham com crianças cujo comportamento é aberrante e que foram incapazes de se encaixar na estrutura, tais como jovens delinquentes. Estas organizações dizem, “Venham até nós e façam o que quiserem,” porque elas desistiram completamente e não têm qualquer ideia do que fazer. Devemos iniciar um diálogo com elas?
– Antes de mais, estas organizações estão abertas para nós e isso torna-as uma boa escolha. Em segundo lugar, elas têm a oportunidade de fazer perdurar instrutores e educadores. Isso significa que nós temos de entrar aqui, mas antes de mais, trabalhar sobre psicologia.
As crianças que estão lá não estão receptivas a coisa alguma e estão isoladas em si mesmas. Elas têm um comportamento normativo especifico que é rigidamente fixo e não as permite escutar coisa alguma. Mas elas estão prontas para ouvirem sobre si mesmas, “O que me impulsiona? Por que isto me impulsiona ou a outra pessoa qualquer? Por que ela é desse jeito?” E etc.
Eles também têm de ser abordados do ponto de vista da psicologia geral. Isto é interessante. Ela deixa que a pessoa se revele a si mesma e ao comportamento das outras, “Por que ele é agressivo? Por que ele entra em brigas?” Fazendo uma gravação em vídeo delas de fora e começando a mostrar-lhes quem elas são. Isto vai atingi-las. Elas se verão a si mesmas do lado de fora num passeio e numa briga e depois os educadores devem começar a explicar-lhes o que impulsiona cada uma delas e por que cada uma delas se comporta desse jeito.
Deste modo você vai cativar o seu interesse. Elas se começarão a ver a si mesmas do lado de fora e a escutar os seus motivos para os seus comportamentos que elas nem sequer suspeitavam. Isto vai beliscá-las e as fará estar em alerta.
E depois você será capaz de conversar com elas, “O que são as forças negras dentro da pessoa que a obrigam a agir desse jeito? Isto é ela? Ou é a Natureza que deliberadamente joga com ela deste jeito, como se zombando delas, fazendo um monstro delas apesar de tudo? E como fantoches, elas têm de se mover segundo suas ordens.”
Se lhes mostrarmos isto, vamos tocar em todo e cada um deles pois este tipo de criança levanta seu nariz para qualquer um, incluindo para si mesma. Perder o seu sentido de auto-estima é a coisa mais horrível que pode acontecer nesse tipo de meio ambiente.
Isto significa que se conseguirmos comunicar com elas com este primeiro golpe contra o amor próprio, vamos ganhá-las e seremos capazes de trabalhar com elas. Por outras palavras, teremos de as trazer a um estado onde o amor próprio está verdadeiramente satisfeito.
Nós temos de revelar o facto de que neste momento elas não são livres, que elas operam segundo a influência de instintos, na prática representando um papel que é programado dentro delas e que elas não têm nada que lhes pertença. Mas é possível se representar a si mesmo de uma maneira diferente e começarmos a trabalhar com a permuta de papeis, eu estou no seu lugar, você está no lugar dele e etc.
Quando lhes ensinamos a representarem-se umas às outras e a “entrarem” umas nas outras, as crianças começarão a entender-se melhor. Daí para a frente é um caminho directo para as fazer se olharem umas para as outras, estudando e se entendendo umas às outras, se tornando incluídas umas nas outras. Quando uma criança representa o papel de outra pessoa, ela cria o modelo da pessoa dentro dela e depois ela consegue de algum modo unir, conectar e entender a outra pessoa.
Penso que essa correcção facilita a disposição ideal para a educação pois as crianças lá estão numa área cerrada. Nós temos de nos certificar que a nossa abordagem é muito equacionada. Também, devemos ser pacientes, especialmente no começo. Mas vai começar a resultar rapidamente. Se usarmos a gravação e depois análises psicológicas, as crianças problemáticas estarão muito receptivas a isto pois seu amor próprio é muito desenvolvido, então alcançaremos grande sucesso nesses lugares.
– Eu servi no exército soviético nos anos 80, que era de muitas maneiras construído como uma prisão. Externamente há somente uma coisa, mas na prática há algo completamente diferente. Durante o dia haviam discussões patrióticas e à noite, abuso e formas extremamente abomináveis de interacção.
As discussões oficiais que tomaram lugar durante o dia irritavam as pessoas ainda mais, de facto, as enfureciam pois havia uma diferença colossal entre aquilo que acontecia de noite e aquilo que era discutido durante o dia.
Quando começarmos a aplicar nosso método, o que acontecerá com esta diferença? O que deve ser feito acerca da brutalidade nocturna?
– Quando uma pessoa começa a representar o papel de outra pessoa além do seu próprio papel, ela começa a ver o que a impulsiona e perde a motivação para agir do jeito que ela fazia no passado. Ela já não tem mais a energia para os mesmos tipos de acções. Isso assim é porque ela não é ela própria, há algo que se senta dentro dela e que a faz se mover. Ela já perde a sua paciência com o seu próprio eu.
Estou seguro que isto terá um efeito imediato no comportamento das crianças tanto em comunidades fechadas como em sociedades abertas.