Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
As crianças não podem se encaixar em nosso limite ultrapassado, e isso não é culpa delas, mas nossa. Devemos, portanto, revisitar imediatamente nossos padrões de comportamento e desenvolver uma atitude diferente para com as crianças para não mantê-las “presas” o tempo todo. Estamos tentando impor nossas normas de comportamento e nossas limitações sobre elas. Elas, porém, não podem mais viver dessa maneira.
No passado, as pessoas não viam problema em viver a vida inteira na mesma aldeia, sem nunca deixá-la. Hoje, até mesmo os moradores de vilarejos são diferentes: eles sentem que precisam viajar, ver e aprender muitas coisas de modo que, quando regressarem a suas aldeias, ainda estarão conectados com o mundo. As pessoas hoje são diferentes!
Somos nós, portanto, que precisamos nos conter, e não as crianças.
− Isso, porém, é muito difícil, porque temos hábitos.
− É claro. E as crianças são mais fáceis de frear. Nada, no entanto, resultará disso, porque dessa forma estamos quebrando a Natureza.
A Natureza está nos mostrando a nova fase do seu desenvolvimento. Ela está nos dizendo: “Aqui está ele, o ser humano do futuro. Ele não está corrigido, não está terminado nem moldado ainda, mas essas são as suas verdadeiras qualidades iniciais, seus desejos, movimentos e direção.” Esse é um desafio que está sendo apresentado para nós, e temos de responder a ele.
− Você chama as crianças de hoje “o povo do futuro”. Muitos pais e professores, no entanto, dizem que elas são mais parecidas com macacos.
Uma mulher que conheci tinha um macaco de estimação em casa e tive uma experiência em primeira mão que me convenceu de que esses animais são indisciplinados e estúpidos, destruindo tudo em seu caminho. E agora muitas pessoas estão atribuindo precisamente esse modelo de comportamento a seus filhos.
− Estou certo de que se alguém ensinasse as boas maneiras corretas a esse macaco, ele então começaria a comer com garfo e faca e colocaria um guardanapo ao redor de seu pescoço. E pareceria maravilhoso sentado à mesa.
Se uma pessoa não recebe educação, ela agirá como se acabasse de sair da selva. Tudo depende do ambiente circundante. Temos, portanto, de criar um ambiente para as crianças que corresponda às exigências de nossa era.
Não podemos dizer: “Nós não podemos fazer nada com elas, porque elas não são como nós.” Então o quê!? Podemos realmente tratar nossas crianças, a coisa mais preciosa que temos, dessa maneira? É impressionante como somos egoístas.
Não existe um sistema de educação. O sistema de ensino existe, porque queremos as crianças fora de nossas costas, damos a elas algum tipo de profissão e as enviamos em seu caminho. Educação, no entanto, é algo que não lhes damos. Não construímos as pessoas fora disso. Quando fazemos algo para as crianças, não nos preocupamos com o seu conforto e não fazemos disso nosso objetivo, não coordenamos nossas ações com a sua natureza.
Hoje há enormes desejos, anseios, inquietação e desatenção sendo expressos por nossas crianças. Internamente, elas trabalham em uma velocidade enorme. O que podemos fazer para tornar as coisas simples e fáceis para elas, a fim de que se sintam bem e livres?
Que diferença faz o tipo de mundo que construiremos? Pode ser qualquer um, desde que as crianças estejam felizes. Essa deve ser a atitude de todos em relação a suas crianças. Então por que não nos sentimos dessa maneira? Nós, adultos, somos egoístas, querendo freá-las, para nossa própria conveniência, e isso é tudo o que existe para elas.