Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Há mais de um tipo de jogo que cativou centenas de milhares de pessoas: jogos de apostas, tal como nos casinos e cartas. Sua popularidade está a crescer constantemente. Por quê? E o que há de perigoso nestes jogos? Na sua escola de educação integral e global, há lugar para jogos de risco? E se não, por quê?
– A competição é uma coisa boa. Não importa com o quê ou com quem você compete — uma roda de roleta, uma máquina de slot-machine, ou outras pessoas. Em qualquer dos casos, você entra num concurso. Isto é, se você se elevar acima de certa circunstância, fenómeno, ou incidente. Você quer ascender e se afirmar a si mesmo.
É muito interessante observar as pessoas que jogam. Eu passei uma semana inteira em Las Vegas observando minha esposa, que ficou louca com os jogos. No lar ela é normal, uma avó normal. Mas quando ela se encontrou a si mesma entre as “caça-niqueis”, ela perdeu a cabeça.
Quando uma mulher crescida com dois níveis universitários, vivendo na outra extremidade do mundo, muito longe de Las Vegas, se encontra a si mesma neste lugar, algo pouco claro se acende nela, certa força estranha a atrai para o jogo de risco.
Juntos decidimos que só poderíamos gastar $50 numa noite para jogar um jogo que custa 10 ou 20 centimos por jogada. Ela jogou e eu observei do lado de fora, observando o ser humano nela desaparecer e se transformar nos mesmos “caça-niqueis.” A máquina acaba por jogar contra a máquina, elas competem e nada mais além disso.
Usei minha esposa como exemplo porque ela é uma mulher normal, de pés-na-terra, sem quaisquer vícios em particular, muito terrena e equilibrada. É simplesmente surpreendente o que toma lugar dentro de nós. Uma pessoa tem uma necessidade de se elevar acima do acaso, acima de si mesma, acima desta máquina, ou seja se afirmar a si mesma.
E se dermos a uma pessoa a oportunidade de competir por algo que é bom e útil para a sociedade, então ela será capaz de satisfazer esta necessidade. Ela existe e não pode ser suprimida. Portanto, é necessário dar à pessoa a oportunidade de reflectir, criar, participar e se afirmar a si mesma. Isto é possível na sociedade integral pois lá, cada um de nós é um indivíduo distinto.
Ao mesmo tempo, cada um de nós é apenas uma roda dentada que é muito pequena e nada há de especial nela. Mas por vezes ela começa a abrandar ou muda de direcção, fazendo se salientar das outras. Rodando harmoniosamente com todas, ela se exprime a si mesma ao máximo e ao mesmo tempo ela experimenta preenchimento e satisfação.
A educação integral dará à pessoa a oportunidade de se encontrar a si mesma no jogo chamado vida. Vamos sentir que constantemente avançamos em frente e como crianças, estamos a representar e a realizar um estado superior e por trás disso um novo estado superior emerge. Esta aventura excitante, uma ascensão interminável, será sentida por todas as pessoas.
As pessoas procuram drogas e jogos de apostas, prontas para saltar de uma ponte para um abismo em busca de sensações intensas. Uma pessoa descobrirá tudo isto na interacção integral com os outros pois ela contém oportunidades surpreendentes para a auto-realização. E então, os radicalismos de hoje não será algo que realmente preencha as pessoas.
– Se o entendi correctamente, seremos capazes de concretizar a característica de correr riscos precisamente através da mudança constante de estados?
– A Natureza nos fez de uma maneira que o único modo de nós nos preenchermos e nos realizarmos harmoniosamente é na integração. Então não teremos de “descomprimir” ficando bebedos, entrando em brigas, ou criando frenesim nos estádios porque não haverão necessidades que restem para concretizar. Nós temos de ver o verdadeiro campo da nossa actividade na conexão integral. Este é o campo para o qual fomos criados, o espaço onde revelamos e corrigimos nossos mais profundos e obscuros instintos.