Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– De acordo com a teoria dos jogos, o componente mais importante de um jogo são suas regras. Essas regras deveriam ser fixas ou deveriam estar sujeitas a mudanças?
– Elas mudam constantemente, porque nós investigamos mais profundamente dentro de nós mesmos e também o mundo ao nosso redor e constantemente nos descobrimos como globalmente conectados em camadas mais profundas. A Natureza é integrada e global em cada um de seus níveis; não há nem um único átomo no universo que não evoque mudanças no universo inteiro quando muda. Essa globalidade é total. O problema é que nós ainda não podemos sentir esse sistema e, assim, não podemos governar a sociedade humana.
Você pode imaginar que o estado ideal que a Natureza definiu para nós é aquele no qual qualquer movimento que façamos — físico, integral, no nível dos desejos ou em nossas mentes — está em total harmonia com o universo inteiro!? É simplesmente inconcebível o que nós temos de alcançar e como nós vamos perceber a Natureza no final do nosso desenvolvimento. A Natureza, porém, irá nos levar a isso.
Há um elemento de jogo, quando nos comparamos a essa natureza global e integrada e continuamente nos movemos frente a ela, porque há muita coisa que nós não sabemos. Nós não sabemos nosso próximo passo. De alguma forma, nós temos de antecipá-lo, representá-lo. Talvez nós possamos representá-lo e de alguma forma implementá-lo em nossa sociedade, possivelmente em partes da sociedade em que estejamos estudando esse fenômeno que queremos introduzir em nosso ambiente imediato ou na sociedade humana geral.
Há muitos elementos de jogo como esse que pertencem mais a uma pesquisa do que a um jogo. A pesquisa, porém, também é uma forma de jogo. E desde que estudemos a Natureza e a nós mesmos em níveis cada vez mais profundos, o jogo é constantemente todo o caminho para a total equivalência com a Natureza, um estado que nós não podemos imaginar hoje.
Nós, entretanto, podemos supor que isso é o que a Natureza tem decretado e incutido, e é para onde a Natureza está nos levando. Aparentemente, o egoísmo foi deliberadamente criado no homem, para que lhe fosse possível jogar, quer dizer, se desenvolver, todo o caminho até o ponto de entender, tomar consciência, se adaptar e até mesmo participar do governo dessa Natureza totalmente integrada.
– Existem algumas qualidades ou características de comportamento que podem revogar essa oportunidade e impedir alguém de se desenvolver?
– Se a pessoa não concordar, se ela se opuser ao sistema integrado. E nós vamos ver isso muito rapidamente, primeiramente no exemplo de países cujos regimes brutalmente suprimem a habilidade das pessoas de se desenvolverem integralmente.
O que significa “desenvolvimento integrado”? Nesse estágio, regimes fundamentalistas parecem estar mais perto de realizar a integração, porque eles unem a sociedade, liderando as pessoas sob seu slogan, símbolo ou bandeira. Em certo ponto ao longo do caminho, eles devem parecer mais bem sucedidos e mais correspondentes à integração, pelo menos dentro de seu país especifico. Depois, porém, eles irão se posicionar contra qualquer um, contra o governo mais global. Nesse ponto eles irão naturalmente começar a desmoronar. Sua destruição irá evocar mudanças enormes, sua reconstrução interna. Como resultado, cada regime fundamentalista e sociedade virão em contato consciencioso com o seu próprio povo e com outros. E por esses regimes serem egoístas — ainda que conectados internamente com seus egos —, por um lado eles irão parecer estar trabalhando em companheirismo, aparentemente em uma forma que combina com a Natureza. Por outro lado, no entanto, seu vinculo será apenas para ter êxito em destruir os outros, o que os torna opostos à Natureza. Por essa razão, eles terão um sucesso de vida curta, em que o vinculo entre eles prevalece, mas, eventualmente, eles ruirão, uma vez que sua oposição à Natureza se manifeste.
Nós devemos estudar esses fenômenos, mas do ponto de vista de cada uma e todas as partes como um todo, próximo da unidade global.