A Triste História sobre Kamtzá e Bar Kamtzá
O Talmude (Masechet Gitin) conta-nos que em tempos, quando o Templo ainda estava de pé, um rico Judeu em Jerusalém tinha um amigo chamado Kamtzá e um inimigo chamado Bar Kamtzá. Um dia o rico Judeu decidiu faz um festim. Ele enviou seu servo convidar seu amigo, Kamtzá, para o festim, mas o servo erroneamente convidou seu inimigo, Bar Kamtzá. O surpreso Bar Kamtzá aceitou isto como um gesto de reconciliação e aceitou o convite. Ele colocou suas melhores roupas e foi para a casa do homem que ele pensava não ser mais seu inimigo.
Quando o anfitrião reparou que Bar Kamtzá lá estava, ele ficou furioso e exigiu que saísse de imediato. O humilhado Bar Kamtzá rogou ao anfitrião que o deixasse ficar. Ele até se ofereceu a pagar sua própria alimentação e bebida e a de todos os outros, também. O anfitrião não só o recusou sem mercê, mas até fez com que Bar Kamtzá fosse arrastado para fora de sua casa e jogado para as ruas.
Humilhado e desgraçado, Bar Kamtzá jurou vingança não só contra seu anfitrião, mas também contra os convidados, que apoiaram o anfitrião. “Os caluniarei ante o Imperador,” decidiu ele.
Bar Kamtzá foi até ao Imperador Nero e lhe disse que os Judeus planeavam se revoltar contra ele. Passada alguma astuta persuasão, o imperador foi convencido que Bar Kamtzá dizia a verdade e enviou seu exército para destruir Jerusalém e o Templo.
Com as gerações, esta famosa história simbolizou o ódio infundado que conduziu ao nosso declínio moral e social e para nosso subsequente exílio. No clima social de hoje, não poderia ser mais pertinente. Como podemos ver, ler e escutar cada dia, conflitos, manipulações e desonestidade nunca foram tão prevalecentes entre nós. O sarcasmo e difamação que usamos uns para os outros não apontam para nossa perspicácia, mas para nossa aversão de uns pelos outros.
Hora de Conectarmos De Novo Nossos Cordéis do Amor
As Três Semanas marcam o tempo entre a quebra das muralhas de Jerusalém e a ruína do Templo. O Santo Shlá escreveu que “ódio infundado causou a ruína do Templo.” Certamente, como salientou Baal HaSulam, “É uma pena admitir que um dos mais preciosos méritos que perdemos foi a sensação natural que conecta e sustenta toda e cada nação. Os cordéis de amor que conectam a nação, que são tão naturais e primitivos em todas as nações, se tornaram degenerados e desconectados dos nossos corações e desapareceram.” Como resultado, a única coisa que nos mantém juntos como uma nação é o ódio do mundo para nós.
O mundo ocidental de hoje ainda oferece aos Judeus liberdade de expressão e liberdade de movimento. Devemos usar esta liberdade para restabelecer o amor fraterno acima da nossa alienação e reconstruir nosso povo. Agora, antes que a porta da liberdade se feche uma vez mais, nossa nação deve trabalhar incessantemente para se reconstruir a si mesma das ruínas do ódio sem fundamento e realizar a vocação do nosso povo — de se tornar um modelo exemplar de uma nação verdadeiramente unida, uma que todas as nações queiram imitar para que também elas, possam beneficiar desse poder único da união.
Construir o Templo No Interior
Enquanto reflectimos sobre a ruína do Templo, devemos também considerar o futuro. Quando O Livro do Zohar descreve a construção do Terceiro Templo, ele não fala de tijolos e arcos; ele fala das nossas conexões. Ele descreve o remendar de nossos corações quebrados, que sofrem da enfermidade do ódio sem fundamento. O Zohar explica como o mundo inteiro virá a abraçar a conexão que irradia do povo unido de Israel. Construir o Terceiro Templo é portanto feito dentro de nós e entre nós, remendando nossos laços quebrados e cobrindo nosso ódio com amor, ou como escreveu Rei Salomão, “Amor cobre todos os crimes.”
Tal como invocamos uma força negativa quando nos separamos uns dos outros, invocamos uma força positiva quando nos conectamos uns com os outros. Esta força inverte nossa suspeita recíproca em preocupação recíproca e nosso isolamento em responsabilidade mútua. A beleza deste poder e´que mantemos nossa individualidade e concretizamos nossas características pessoais enquanto contribuímos para a sociedade e colectamos os benefícios das contribuições dos outros. Deste modo, tecemos um “cobertor” de conexão que cobre nossa separação.
O Gene da União
O Judaísmo de hoje está fracturado e fragmentado em provavelmente mais pedaços que alguém conseguiria contar. Mas o “gene” da união repousa latente dentro de cada um de nós e podemos trazê-lo de volta à vida se assim escolhermos. Se, apesar de nossos egos explosivos, procuramos juntar forças na direcção de nossa meta comum enquanto nação Judaica — para fornecer à humanidade um exemplo de união num tempo em que ela tanto precisa dele — vamos concretizar nossa vocação.
Agora é a hora de ser pro-activo. O mundo desce em espiral e é claramente visível que o ego tem pelo menos uma grande parte de responsabilidade nesta descida. Mas ninguém sabe como impedir nossa conduta suicida colectiva. Nós, os Judeus, os portadores do princípio, “ama teu próximo como a ti mesmo,” devemos enfrentar o desafio, rebaixar nossos egos e nos unirmos acima deles. Esta é a verdadeira e positiva mensagem que devemos retirar das Três Semanas e é a única coisa que vai garantir nossa segurança e felicidade em Israel e pelo mundo fora.
Publicado originalmente no The Jerusalem Post