Nas últimas semanas, muito tem sido dito sobre o “estado da juventude”. De acordo com os dados das autoridades que combatem o abuso de álcool e drogas, crianças nos graus 7 – 11 participam de festas onde o álcool flui como água e nas quais também se envolvem em sexo livre. ‘A combinação de álcool, hormônios, puberdade, e a ausência de um adulto responsável é muito perigoso’, diz o Dr. Yossi Harel Fish, cientista-chefe da Autoridade Antidrogas israelense e especialista na área de comportamentos de risco das crianças. ‘Se no passado os adolescentes saíam para se divertir e também bebiam pouco, hoje o propósito do entretenimento é do beber em si”.
“‘Mais tarde, à noite, as roupas são retiradas conforme essas crianças se embebedam e logo a atmosfera se intensifica. Essas festas ocorrem nos quartos com jacuzzi, em lofts de luxo ou em florestas distantes. Na maioria dos casos os pais não sabem o que está acontecendo ou talvez prefiram não saber”. Isto pode ser parte da explicação de por que eles não perguntam…
Se você também leva em conta as palavras da moda sobre a juventude atual, tais como “eles são indiferentes, frios e alienados” ou “os jovens de hoje são superficiais”, juntamente com termos como “a geração da tela”, você obtém uma combinação que, segundo estudos recentes realizados pela Universidade de Michigan, há um declínio de 80% na capacidade dos jovens de hoje de se sentir empatia para com o outro. ”Nossos filhos são menos humanos, e nós não percebemos isso”, disse o antropólogo Tamir Leo recentemente. Leo está certo, mas somente quanto à segunda parte da frase; na verdade, nós não percebemos o que está acontecendo com os jovens de hoje.
Os jovens não são o problema
Nós somos o problema: os pais, e não a juventude. Nada neste mundo acontece por si só. Não existe tal coisa como “juventude boa” ou “juventude má”. Cada geração é produto de sua educação. E nossa geração é o resultado direto de nossa negligência. Nós atraímos esse trabalho sobre nós mesmos por nossas próprias mãos.
Nós podemos construir o mundo que queremos para nós mesmos. Nós temos dedicado nossas vidas à busca de uma vida confortável, uma carreira de sucesso e realização pessoal, construindo nosso status e acumulando bens materiais, e ao longo do caminho temos abandonado nossos filhos. Onde estávamos quando eles abandonaram as pracinhas, os jogos de bola e os passeios na natureza e caíram na dose venenosa das telas, sexo, álcool e drogas e rolaram para um estado onde não sabem como se comunicar, senão através da tela?
Em vez de lhes preparar a infraestrutura para uma vida feliz, nós os enviámos para a escola na esperança de que algo de bom acontecesse com eles lá. Mas o que pode acontecer num sistema cujo único objetivo é fornecer informações? Um sistema cujo único objetivo é prepará-los para ganhar dinheiro, para ter sucesso, para tornar-se famoso, mas não para o que eles realmente precisam na vida. Nós criamos uma realidade distorcida para eles, que é tudo, menos o que a vida realmente é. Ele inclui infinitas conexões entre uma pessoa e uma máquina e zero conexões entre as pessoas e entre um coração ao próximo. A escola hoje é um dos piores lugares que uma pessoa pode estar, a fonte da maior parte dos “vírus” que afetam nossos filhos.
Do Ministério da Informação ao Ministério da Educação
O que vai acontecer na próxima geração? Numa década, em duas décadas? Quando nossos filhos vão gerir o mundo? Se continuarmos assim, o futuro não parece tão brilhante.
Se quisermos dar aos nossos filhos um cartão de entrada para a vida, devemos tornar a educação, e não o ensino da informação, uma importante missão nacional. O Ministério da Educação, e as escolas como suas instituições líderes, precisa de uma reformulação. Em vez do envolvimento obsessivo em informação, notas e testes de desempenho internacionais, as escolas devem se concentrar na construção do ser humano na criança. Ela tem que lidar com a maior causa de angústia que a juventude sente hoje: a sua incapacidade de falar, de se abrir, e, especialmente, a sua incapacidade de se conectar corretamente com o ambiente.
A pesquisa mostra que as crianças e adolescentes simplesmente não sabem como conversar entre si. Essa é uma das razões para eles beberem ou fumarem: beber embota a dor e preenche o vazio interno.
Essa meta vem junto com uma das habilidades mais altamente exigidas no mercado de trabalho de hoje, que é o trabalho em equipe. Quanto mais global o mundo se torna, mais nós precisamos saber como trabalhar juntos, como construir a relação correta entre nós, desenvolver relações de confiança e cooperação. Mas, em vez de se concentrar em tais habilidades, o sistema de ensino se concentra numa linha de montagem de químicos, matemáticos ou outros tecnocratas.
Um tipo diferente de educação
Educação significa prover um jovem com as ferramentas certas para compreender a si mesmo e aos outros, compreender os impulsos que ele e os outros têm, ensiná-lo a construir um relacionamento com um parceiro e ter uma família, e como tornar o mundo um ambiente aconchegante e humano. Uma criança precisa sentir que a escola lhe ensina como viver e prepara-la para a vida real no complicado século XXI.
Dinâmicas sociais, que devem resultar de workshops, jogos e atividades durante o dia na escola, devem transformar a criança em seu próprio “psicólogo”. Ela tem que estudar e explorar a sua natureza, descobrir a si mesma, e, assim, ser capaz de lidar com a vida com sucesso.
Os jovens de hoje estão enfrentando uma realidade distorcida de normas e comportamentos que veem nas telas. Eles veem padrões artificiais do que é considerado bonito e esperam que as cenas que eles veem se realizem na vida. A escola deve se tornar um mediador que está ciente da montanha-russa hormonal que esses jovens experimentam e ajudá-los a aprender sobre o mundo interior de ambos os sexos, respeitando os outros e ser sensível a eles. Em última análise, a maioria dos problemas decorre da falta de compreensão mútua.
Os adolescentes precisam sentir que têm alguém com quem falar e que vai ouvi-los. Eles devem sentir que o que acontece com eles também acontece com os outros, e, portanto, não há nenhuma razão para se sentir envergonhado ou esconder nada. Esse processo deve ser acompanhado pela correta orientação profissional, mas o ponto principal é que a criança tem um mundo interior inteiro ao qual a escola não se refere de forma alguma, e assim não entende por que está lá e só se torna cada vez mais frustrada com o passar dos dias.
Minha sala privada
Na verdade, é dessa geração aparentemente indiferente que todas as questões sobre o sentido da vida vão irromper e que vai abrir a porta para um mundo que é muito mais profundo do que o que estamos acostumados. Mas até que isso aconteça, nós temos que explicar o que está acontecendo com eles, qual é a razão do seu desenvolvimento, o que eles passam e de onde vem a sua incapacidade de se satisfazer. Nós também precisamos estudar um pouco mais sobre a vida e o propósito da vida, a fim de fazer isso.
O que está acontecendo entre os jovens e também entre nós hoje é uma fase natural do nosso desenvolvimento. O ego humano está mudando e essa é a razão para a diferença entre gerações. É o ego que nos torna insensíveis e indiferentes, viciados em tecnologia, fechados em nossa pequena concha, em nossa sala privada.
Mas essa é apenas a fase intermediária, uma paragem ao longo do processo do nosso desenvolvimento interno. Nós não viemos a esse mundo para se comunicar através de um teclado ou uma tela de toque, mas para romper todas as partições que nos mantêm separados, e para comunicar de um coração para outro numa dimensão de sentimentos e mente que transcende a nossa realidade corporal.
Publicado originalmente no YNET