Numa quinzena, muitos de nós estarão a mastigar matzot, a comer a maror (amargura), que é na realidade bastante doce e a beber quatro copos de vinho na noite do séder, a primeira noite de Pessach. Quatro copos não são equivalente para a imperativa de ‘beber até não saber distinguir o certo do errado’ de Purim, mas ainda consegue uma boa pontuação na escala “esparrinhada”, então combinado com boa comida e esperançosamente boa atmosfera familiar, podemos esperar ter um bom séder no geral.
Na Páscoa, celebramos nos tornarmos livres, liberados da escravidão de Faraó. Somos ordenados a mencionar e comemorar Pessach cada ano para que não nos esqueçamos que Deus nos salvou da escravidão. Esta é uma lição vantajosa pois você não pode valorizar o presente se não tiver percepção do passado.
Porém, Faraó não morreu na história de Pessach, nem está ele agora morto. Ele opera de maneiras muito mais clandestinas e subtis que nessa altura, mas elas ainda são muito prejudiciais.
Maimónides, o grande académico do século 12, escreveu numa carta para seu filho: “Deveis saber, meu filho, que Faraó, rei do Egipto, é certamente a inclinação do mal.” Inclinação do mal, lamentavelmente é algo que todos temos. De facto, julgando pelo modo como conduzimos nossas sociedades, nosso crescente egocentrismo e até crueldade uns para os outros, parece que Faraó tem vantagem, até agora.
Como em Hollywood, também na vida, neste caso, Faraó perderá. Mas ele não será derrotado sem uma luta. E porque até este dia não há um Faraó do qual precisemos de escapar, mas há tantos Faraós quanto pessoas, uma vez que elas estão dentro de nós, nós precisamos de achar uma nova táctica.
Está escrito num livro especial do século 18, A Gentileza de Elimélech, que “Faraó, que é chamado ‘a inclinação do mal,’ faz-nos de dura cerviz,” ou seja altivos e teimosos. Esta arrogância separa-nos ainda mais uns dos outros e torna-nos mais como Faraó.
Mas o que significa que temos uma inclinação do mal? Isso significa que somos maus uns para os outros. Você não pode ser mau para o nada. Tem de haver um objectivo sobre o qual o mal se possa manifestar. Se fossemos maus até ao núcleo, mas nos sentássemos sossegadamente nos nossos lares não magoando coisa alguma ou alguém, ninguém pensaria que somos maus e não seríamos capazes de detectar nossa impiedade, até se nos quiséssemos examinar. Na maioria, os objectivos de nosso mal são outras pessoas. Todos estamos a demonstrar demasiado mal uns para os outros, tornando nosso mundo como o deserto Egípcio que a a terra que mana leite e mel do que devia ser se não fosse Faraó.
Para onde podemos fugir deste Faraó? Qual é a nova táctica que podemos empregar? A verdade da questão é que você não pode fugir do Faraó interno. Em vez disso, você foge para os outros!
Faraó, a inclinação do mal, causa nossa má vontade uns para os outros e nós o derrotaremos ao desenvolver boa vontade uns para os outros. Se não tivermos tal vontade, isso não significa que não a possamos ter e que sermos bons uns para os outros é uma noção ingénua. O que significa é que simplesmente nos temos de esforçar mais e incluirmos mais pessoas no esforço até que desenvolvamos esta boa vontade.
Pessach não é simplesmente passar de um lugar para outro através de um mar dividido. Pessach significa passar de um estado de mente para outro! É passar do ódio infundado para a solidariedade ilimitada entre nós. Este é o êxodo do Egipto que devemos levar a cabo hoje. O mandamento para nos lembrarmos do que os Egípcios nos fizeram no Egipto é tão importante hoje porque se o esquecermos, esqueceremos que estamos a lutar com Faraó — aquele dentro de nós.
Então não deixemos passar esta oportunidade onde estamos todos juntos para esta ocasião significativa e realmente passamos da má vontade para a boa vontade. Vamos fazê-lo juntos; é muito mais fácil deste modo e vamos decidir esta Pessach que colocamos nosso ódio passado numa grande pilha, tão alta como o Monte Sinai e que estamos todos a subir acima dela, nos encontrando uns aos outros no cume.
Feliz Pessach
Publicado originalmente no Jewish Journal