Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Outro aspecto importante em psicologia é o “ciclo de experiência”, a preparação e a escolha de como agir, o ato em si e a realização e a integração da experiência resultante.
Quão importante é assegurar que projetos iniciados pelas crianças sejam completados? Se as crianças começarem a fazer algo, devemos encorajá-las a conduzir o processo à conclusão?
– Conduzir as coisas à conclusão é uma obrigação! E no processo, tudo deve ser descrito, filmado, completado e documentado. Conclusões claras devem ser tiradas e elas deverão ser muito concisas para que todos possam entendê-las, mesmo quando expressas em poucas palavras.
– Dessa forma nós treinamos uma criança para a demanda de tornar toda situação na vida concreta e real. Mais tarde, isso as ajudará a terem certeza de que não “sujam” a si mesmas através da vida, mas que sempre usam suas experiências ao máximo e aprendem com elas.
As crianças fizeram uma excursão e tiveram uma discussão. Talvez elas tenham criado algum tipo de novos limites ou regras de comportamento por si mesmas. Tudo tem de ser documentado e as discussões devem ser mínimas. O mais importante é a conclusão. Isso torna uma pessoa prática, preparando-a para qualquer forma de atividade.
– A identidade profissional de uma pessoa é parte extremamente importante de sua identidade geral. Assim sendo, as crianças deveriam procurar sua identidade profissional no grupo?
– Se nós não desenvolvermos em uma criança a conexão com os outros, jamais discerniremos quais são suas inclinações. Isso porque, em si mesma, uma pessoa é um pequeno animal. Suas inclinações são expressas precisamente em suas conexões com a sociedade, com o ambiente ao seu redor.
Isso significa que as crianças se sentam e decidem: “Você, Johnny, é melhor que seja um encanador. E você será um bom cientista…”. A criança deverá solucionar essas questões também num contexto de grupo?
Qualquer uma de nossas atividades visa à conexão entre nós. Mesmo que eu estude borboletas, isso significa que a sociedade de algum modo “delega” a mim essa atividade. Eu tenho de entender minha significância, o fato de que alguém precisa disso.
Primeiramente temos de passar vários anos estudando com crianças de idades entre 5 ou 6 até 10 ou 11 anos. Isso inclui conectá-las umas às outras, bem como visitar vários lugares — industrial, científico, médico e locações sociais, os quais gradualmente lhes permitirão entenderem as várias áreas das atividades humanas.
Essas viagens são discutidas todo o tempo, toda informação deve ser documentada. Cada criança escreverá um pequeno relatório, a partir do qual começaremos a conhecer sua abordagem e a discernir seus interesses. Por exemplo, ela pode gostar de conectar e dobrar tubos, talvez por isso ela realmente se torne um encanador. Ou talvez ela esteja interessada em como as pessoas são curadas. Ou ela goste de colecionar plantas ou borboletas, e assim por diante.
Dependendo de como ela descreve o que acontece — com uma inclinação física ou matemática, ou de uma maneira sensível — nós estaremos aptos a ver sua inclinação, para as ciências humanas ou em direção a questões concretas. Gradualmente tudo se tornará claro e as constantes discussões trarão à tona o mais importante: eu em relação aos outros. Essa é a profissão de uma pessoa.
Afinal, uma profissão significa que “eu sirvo às outras pessoas e à sociedade de alguma forma”. Isso define meu lugar na sociedade, meu salário e minha posição. Eu somente posso encontrar esse lugar depois de muitas impressões, discussões e sensações de tudo o que me cerca.
Apenas perguntar a uma criança “O que você quer ser?” é uma abordagem incorreta. Entre as idades de 4-5 e 11-12 anos (não depois disso), porém, nós já podemos ver a inclinação de uma pessoa com absoluta clareza.
13 anos é a idade para se tornar um estudante universitário. Eu penso que, como parte de nossa formação, aproximadamente na idade de 13 anos uma criança deveria começar a estudar em um programa universitário. Entre 17 e 18 anos ela deveria se graduar na universidade, o que significa receber o que hoje é considerado educação de nível superior. Depois disso ela realmente estará profissionalmente preparada para um tipo específico de atividade.
Deveria ser ensinado a uma criança como se autodesenvolver, como observar a si mesma e aos outros e como se comunicar com os outros. O mais importante, porém, é ensinar-lhe a entender o mundo em que ela vive. Uma pessoa deveria entender sua essência e sua meta na vida.
A educação integrada, global, ou melhor — a formação — desenvolve tanto uma pessoa, que não será difícil para ela estudar qualquer ciência. Isso porque primeiro as pessoas conversam sobre o mundo como um todo, sobre história geral e o sistema global geral. E segundo, elas explicam que a física, a biologia e a química são fragmentos de um enorme sistema global: a Natureza. Nós não estamos aptos a alcançar e absorver isso de uma vez, mas podemos absorver fragmentos. Se você cortar um pequeno pedaço de um bolo enorme, então você poderá comer aquela fatia. Você, porém, não poderá engolir o bolo todo de uma vez. Isso é o que as ciências são separadamente, tal como quando estudamos biologia, que examina células vivas, tecidos e assim por diante.
A criança se relaciona com o estudo como se fosse um campo especifico, o que não é tão assustador. Ela olha para tudo de fora. E mesmo se ela mergulhar mais e mais fundo, não se afoga dentro dele ou fica confusa entre “Onde tudo isso está acontecendo e onde eu estou?”. Ela olha para tudo objetivamente. Ela pode absorver todo o conhecimento em vez de se afogar nele, e isso é muito importante para as crianças!
Eu vejo frequentemente como as crianças têm medo da enorme quantidade de conhecimento jogada sobre elas. Todos os dias, inúmeras fórmulas são apresentadas a elas, indo de uma lição a outra. A física é seguida pela matemática, depois pela biologia, e depois pela história. Uma criança simplesmente se desliga e, no final, não absorve nada. Ela termina a educação formal e retém impressões, mas a maioria dessas impressões é acerca de coisas que aconteceram durante o recreio em vez do que aconteceu na sala de aula.
O importante é precisamente essa abordagem integrada, global que revela o mundo à pessoa. As crianças têm de discutir as lições por si mesmas, bem como a forma como são realizadas, além de todas as suas viagens e suas impressões sobre essas coisas. Desde tenra idade, as crianças deveriam ter a oportunidade de participar do mundo da maneira certa: ir a vários eventos, pelo menos duas vezes por semana, para saber como as coisas funcionam: um aeroporto, um hospital, um depósito, lares para idosos e asilos, fábricas e assim por diante. Assim irão sentir que estão preparando a si mesmas para o mundo real.
As crianças estudam na escola e ao mesmo tempo aprendem sobre o mundo externo. Elas estão mostrando o tipo de conhecimento que é necessário para viver nele. É assim que a preferência de alguém por uma profissão se torna clara, bem como sua atitude em relação ao mundo. Em uma escola normal elas são simplesmente forçadas a estudar. Nesse caso, porém, elas já entenderam que precisam desse conhecimento.
E mesmo que eu não precise realmente saber como o iogurte é feito, eu ainda sei que preciso de iogurte, e isso quer dizer que irei ver como ele é produzido. Afinal de contas, alguém vai fazê-lo, enquanto, ao mesmo tempo, eu irei trabalhar com motores, por exemplo. Isso significa muito! Eu não tenho de ser um médico, mas eu sei por que e como um hospital funciona.
O mais importante é mostrar às crianças que nós estamos incluídos uns nos outros e que todas as nossas profissões existem devido à criação da correta interação social. Dessa forma elas começarão a ter uma atitude muito calma em seus estudos. As crianças não querem ser incomodadas ou assustadas pela possibilidade de ingressarem na universidade na idade de 13 anos, mesmo considerando que elas são crianças normais e não de qualquer modo especiais. Elas têm simplesmente expandido seus limites, sua atitude em relação ao mundo, por isso o mundo não as assusta. O mais importante é superar o medo.