Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Quantas pessoas devem haver num grupo? Os psicólogos repararam que um grupo de 8-12 pessoas é o ideal porque ele simula um modelo da sociedade.
– É exactamente isso que nós fazemos: Nós temos um grupo de 10 crianças mais 2 educadores.
– Neste grupo de 10 crianças e 2 educadores, uma nova qualidade e nova percepção emergem. Se reunimos mil ou 10 mil pessoas, ela seria ainda mais sentida?
– A quantidade de pessoas é de importância menor. O que é mais importante é se elas conseguem ou não se unir umas com as outras e isso depende da capacidade da pessoa transcender o ego pelo bem de se unir com a sociedade, da sua sensibilidade, de quão desenvolvida é a sua sensação do colectivo.
A unificação sob a influência de uma multidão não produz quaisquer resultados. Essa não é uma interacção integral. Uma multidão unida por um eslogan comum, chorando por certa meta animalesca, não é uma sociedade integral.
Para as pessoas se unirem em uma sociedade integral, elas devem fazê-lo para achar a qualidade de outorga recíproca, unificação, união. Neste caso cada uma delas se eleva acima do seu egoísmo e se une com as outras apesar dos seus “crassos” impulsos naturais. Ela não é impulsionada pelo desejo de preenchimento pessoal pois ele nunca a deixará se unir com as outras.
Esta união é o seu recentemente adquirido órgão de percepção que não opera por dentro, mas por fora. É assim que ele está direccionado, de dentro para fora, na direcção da outorga. Ele pode ser criado somente se elevando acima do ego quando cada um se transcende a si mesmo na direcção de se conectar com os outros, acima do seu próprio egoísmo. E portanto, esta sensação não pode ser privada mas somente comum.
Ela é comum pois ela existe através do facto de a criarmos juntos e cada um de nós a percepciona como sendo seu próprio sentido de percepção externa e altruísta. Ele é um para todos nós, ou seja que é um e o mesmo dentro de cada um de nós.
Isto nos dá a oportunidade de falarmos sobre nosso coração e mente comuns, que produzimos juntos e dentro dos quais existimos juntos. Nesse caso percepcionamos todas as coisas de forma absolutamente idêntica, com os mesmos pensamentos e sentimentos circulando dentro de nós.
Nós ascendemos para um nível de sentir o mundo que existe fora de nós. Na realidade, este mundo está dentro de nós, mas começamos a senti-lo saindo do estado anterior egoísta e o sentimos todos juntos. Significando, enquanto desenvolvemos cada novo nível, nós o alcançaremos juntos.
Nós percepcionamos cada novo nível como uma existência que não depende de cada um de nós individualmente. Isto significa que não depende dos nossos corpos ou do nosso presente “Eu.” Se eu simpatizar com o “Eu” que existe nesta integração, então eu me desconecto da minha vida terrena.
Esta vida parece cada vez mais ofuscada e cada vez menos real para mim. Eu começo a entender que meu corpo e todas minhas impressões anteriores e sensações do mundo e da vida tomaram lugar na percepção egoísta. Mas agora atravesso para um novo estado e vejo o mundo diferentemente.
A percepção integral do mundo me dá impressões novas e mais vivas. O passado gradualmente se torna mais distante e menos importante, desinteressante, muito plano e infantil. Fico tão desinteressado nele que estou pronto para o abandonar sem me arrepender disso no mínimo.
A pessoa desenvolve o seu novo estado integral a uma medida que o passado desaparece.
Pensamos, “Como pode desaparecer?! Afinal, aqui nós somos os nossos corpos!” Nós não entendemos que nossos corpos existem somente na nossa percepção, que muda constantemente. É assim que mudamos da sensação do nosso mundo para a sensação do mundo que está no próximo nível. Mas lá ela também existe o nosso desejo e pensamento comuns, enquanto os corpos, como tal, não existem. Somente os pensamentos e desejos existem.