Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Os actores não gostam de representar pessoas psicologicamente instáveis ou experimentar a morte no palco. Quando trabalhamos com crianças, como devemos definir os limites sobre os quais são admissíveis os papeis?
– As crianças devem retratar somente personagens de pessoas com as quais elas entram em contacto. Isto pode ser um príncipe ou um pedinte, uma pessoa rica ou pobre, um malfeitor ou uma pessoa justa, um homem ou uma mulher, não importa.
Mas elas não têm de entrar noutros personagens. Eu preciso entender toda a pessoa com a qual estou em contacto na nossa sociedade, seja uma criança, um adulto, ou um velho homem. Eu tenho de aprender a representar os seus estados dentro de mim e adquirir os seus personagens.
– Então uma criança não deve representar uma pessoa que tenha morrido, por exemplo?
– Por que deve ela entrar em contacto com alguém que tenha morrido? Qual é o sentido disso? Ou, por exemplo, por que deve ela ter de comunicar com uma criança muito nova?
É claro, contacto com um bebé é possível. Mas habitualmente os bebés são cuidados pelas suas mães. Ela entende o bebé instintivamente. É assim que um animal entende o outro na Natureza. Eles são praticamente um organismo e a mãe exibe a sensação animal para com a criança.
Para entender o relacionamento entre a criança e a mãe, nós temos de ser incluídos neles e temos de representar estes estados. Mas para isso, nós não temos de ter contacto com o bebé pois há uma mãe para isso.
Porém, eu tenho de entender todas as outras pessoas e como resultado, acumular o mundo inteiro, toda a humanidade, dentro de mim.
– Deve uma criança representar várias situações de vida em vez de coisas abstractas? Deve ela retratar um medo verdadeiro em vez de abstracto?
– Que tipo de medo abstracto pode haver?
– A criança pode ver algo num filme por exemplo.
– A vida está cheia de imagens e impressões verdadeiras. É necessário ensinar à criança o entendimento certo e o modo certo de se juntar a toda a situação da vida e todo o incidente que ela encontrar.
Como é que a criança acha o meio certo de comunicar com um grupo especifico de pessoas que são de um sector social especifico? Ou como ela se entende a si mesma? Quem é ela? Deixe-a representar a si mesma. Parece-lhe que ela está sempre em si mesma, dentro da natureza que lhe pertence. Mas deixe-a imaginar o oposto.
Eu sou o director e este director observa-me a representar a “eu mesmo.” Isto me faz olhar para mim mesmo com criticismo e como exprimo meu “Eu”. É como se dois planos começassem a coexistir dentro de mim.
Sucede-se que este é o único modo em que eu consigo comunicar até com meu eu. Este é o único modo de me entender a mim mesmo.
Talvez seja ensinado aos actores a representar de outras maneiras, provavelmente usando termos profissionais específicos. Não estou familiarizado com as bases da representação, eu falo do jeito como eu entendo este processo, do modo como eu o vejo.
Nós temos de conhecer a natureza do homem. Apenas agora começamos a entender que todos somos egoístas e não vemos ou sentimos os outros. Mas em prol de salvar nossa civilização, nós temos de nos tornar semelhantes à Natureza e nos tornarmos integralmente conectados.
Representar é muito importante para o desenvolvimento pessoal. Para me elevar de um nível para o próximo, eu tenho de literalmente representar o próximo nível. É assim que a criança retrata um piloto ou motorista, por exemplo e quando ela se torna adulta ela realmente se torna um deles. Representar está instalado em nós pela Natureza.
A mesma coisa ocorre nos nossos workshops. Quando eu represento outras pessoas, é como se eu me tornasse elas e os personagens delas entram em mim. É assim que a pessoa acumula o mundo inteiro dentro dela.