Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Como deve ocorrer esta reorganização? Pode acontecer como um jogo ou uma loteria?
– Deve acontecer arbitrariamente e constantemente. Pode ser feito através de uma loteria ou com um computador por seleção aleatória, como em uma slot machine. Podemos jogar seleções de dez pessoas por grupo usando um metro de números aleatórios.
As crianças devem entender que não importa quem está no seu grupo. Pelo contrário, quanto mais inesperada e desconhecida a pessoa que fica ao meu lado, maior a minha oportunidade de me sintonizar de forma diferente através dela, sentir as coisas de maneira diferente e ascender.
– E se a criança não quiser mudar o ambiente circundante?
– Mudará de qualquer maneira. O que pode ela fazer acerca disso? A máquina deu os resultados, e agora essas dez pessoas estão sendo substituídas por outras dez, e depois com outras dez, então nunca haverá repetição.
Mas se há um certo período em que um treino específico é realizado, como se algo acontecesse ontem e hoje você quisesse discernir algo sobre isso, nesse caso é necessário manter o mesmo grupo. Mas, alguns dias depois, o grupo ainda precisa de ser alterado. É melhor mudar os grupos tantas vezes quanto possível, e isso inclui os educadores. Uma criança tem que se sentir confortável em qualquer sociedade e ser capaz de se conectar com ela. E todas as pessoas devem influenciar todas as outras corretamente.
– Mas as crianças nem sempre se combinam nas suas qualidades. Além disso, mesmo se as misturarmos, elas ainda assim passarão o seu tempo livre com as pessoas que estão mais próximas delas. Como devemos nos relacionar com isto?
– Claro, não devemos intervir por estas serem atraídas umas pelas outras de acordo com os seus hobbies ou porque elas vieram do mesmo lugar. Afinal, são crianças.
Mas isso exige uma abordagem criativa dos educadores. Temos que mostrar às crianças que, idealmente, você tem que ter uma atitude absolutamente igual a todos. O mundo é construído de tal forma que temos que alcançar o nível de equilíbrio total com todos.
Claro, ainda estamos longe desse ideal, mas devemos levá-las para isso. É claro que se uma pessoa específica é sua amiga, você sai com ela no seu tempo livre. As duas se ajudam uma à outra e querem estar juntas, dormir ao lado uma da outra, fazer uma viagem no mesmo grupo e assim por diante. Mas, ao mesmo tempo, devemos ajudá-las a se separar de algum jeito.
Até um certo ponto, uma pessoa tem que ser como um individualista, sentindo que não está apegada a ninguém. Ela está ligado à sociedade, mas a ninguém em particular. Isso é muito importante porque pode-se eclipsar o outro. “Nós” é o mais importante. Não eu, e não eu com o meu amigo. “Nós” somos apenas nós, uma certa superestrutura comum em toda a humanidade. Em princípio, é sem face. Esta é uma imagem comum do homem.
– O que você acabou de dizer fundamentalmente difere da abordagem da psicologia.
– A psicologia é construída no encorajamento de uma pessoa, ao dar-lhe a energia egoísta para mudar por dentro. Esta diz-lhe: “Ame a sua cidade, preocupe-se em manter a sua rua limpa … Ame o que é seu e a si mesmo, e respeite o que é o meu” isto é ” tente jogar junto com o seu egoísmo.” Desta forma, os psicólogos tentam trazer uma pessoa para algo mais social do que individualista. Mas isso não vai ajudar. Nosso objetivo é o contrário: temos que elevar uma pessoa inteiramente.
– As crianças devem ter tempo livre? E se sim, para quê?
– As crianças não precisam de tempo livre. Elas não precisam de nada. Pelo contrário, elas estão sempre a jogar jogos e estão sempre conectadas umas com as outras. Se deixarmos uma criança sozinha, o que ela fará? Ela ainda assim vai brincar com alguém.
– Sim, lembro-me de como ficava aborrecido durante o meu tempo livre. Eu não tinha nada para fazer.
– Claro. É horrível. O que você vai fazer – andar na floresta, em algum campo? Não há absolutamente nada para fazer. Uma criança não deve ter tempo livre, nem ela quer. Uma criança deve estar sempre jogando.