Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– É claro, nós estamos todos a representar. Afinal, não sabemos como nos comportar. Os animais se comportam naturalmente. Eles não têm sensações de vergonha ou inveja. É verdade que eles realmente experimentam inveja biológica, se puder chamar às emoções de um animal isso. Esta sensação que eles têm é determinada por factores biológicos. Os animais se comportam como quer que a Natureza os tenha programado para se comportar.
Mas o desejo do homem está num nível superior. Ele trabalha duro para tentar ganhar a aprovação social e honra. É como se ele trabalhasse para os outros em prol de receber conhecimento e vários privilégios deles. O homem deseja sentir o seu poder sobre os outros que lhe são semelhantes e ele é obrigado a representar na sua frente. Ele não se pode permitir a liberdade de exprimir suas qualidades naturais. Nossas qualidades inatas nos transformariam num mero rebanho de animais. Mas quando a pessoa representa (que é aquilo que todos fazemos), então já não é mais um rebanho. É uma sociedade humana.
Realizando diferentes papeis, nós transformamos o rebanho numa sociedade humana. É assim como diferimos dos animais. Nós estamos sempre a representar a partir de certa personalidade e nunca nos comportamos como somos de verdade, até quando estamos sozinhos.
Quanto mais a humanidade se desenvolve, mais ela se engaja em comunicação mais estreita e as pessoas seguem constantemente exemplos que elas vêem nos outros. Desse modo, todos somos como actores, vasculhando pelos papeis que observamos nos outros e “vestindo-os” quando a circunstância certa surge. É assim que nos comportamos. Isto é natural para cada um de nós. Por vezes reparamos nisto nos outros, tal como nos adolescentes que tomam os actores de Hollywood famosos como modelos exemplares e tentam emular os personagens populares que eles representaram.
Mas a habilidade de representar é algo diferente. Um actor representa um papel conscientemente em vez de inconscientemente, ao contrário da pessoa comum que reuniu vários exemplos desde a infância e simplesmente imita o comportamento dos outros.
Numa fase especifica começamos a entender que a tarefa do homem é chegar à integração total, se tornar como um homem, a sentir cada um de nós como uma parte de certo mecanismo natural inteiramente coordenado.
Para isso, o homem tem de sentir a natureza dos outros e “representar” junto com eles. Obviamente, não é um acidente que o homem tenha sido dotado com a habilidade de representar. Toda a pessoa tem de sentir e entender todas as outras. E para isso, eu tenho de concordar inteiramente com a existência de algo que é o oposto das minhas qualidades naturais.
Eu sou um pequeno e primitivo egoísta que constantemente quer “chafurdar” tudo para si mesmo. Mas para me conformar à sociedade para que possa adequadamente me conectar a ela, eu tenho de me tornar um actor.
Então é maravilhoso que eu represente outras pessoas. Minha própria natureza me empurra para forçar cada um a fazer aquilo que eu quero, até se eu não souber o que é que eu quero.
Mas para um artista, é importante fazer o oposto e aprender das outras pessoas. É importante para ele ser capaz de adaptar suas qualidades aos outros e representar junto com eles e isto não diminui a pessoa minimamente. Pelo contrário, é assim que ela se conecta ao meio ambiente e se eleva a um nível superior. Portanto, a pessoa estuda as pessoas e se aproxima delas, desenvolvendo a capacidade de estar na comunicação certa com elas.