Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”
Que nós estamos em meio a uma “crise global” não está mais em questão. Uma vez que há também evidências de que a “globalização” abrange muito mais do que a correlação entre os mercados financeiros globais, um significado mais preciso do termo deve abordar a natureza interconectada da sociedade como um todo. Nós somos “globais” e não apenas no sentido financeiro, mas também, se não principalmente, no social, e também no sentido emocional. Nossas emoções afetam as de outras pessoas de forma tão intensa que podem iniciar movimentos sociais de país em país, trafegando através de um “hot spot” à outro, pelos fios que ligam a rede mundial de computadores.
A “primavera árabe” tem se expandido muito além do mundo árabe. Em cada país, as causas e as manifestações dos protestos usam uma “roupagem” diferente. No Egito, manifestações de massa derrubou o governo. Na Síria, a resistência do povo heroico diante da carnificina é um testemunho da profunda mudança espiritual que surgiu. Cidadãos simplesmente não podem mais tolerar a tirania.
Iêmen, Líbia e muitos outros países estão tanto na lista de países onde a agitação irrompeu, ou estão prestes a participar.
Quando você analisa as crises em cada país, é fácil ver que as injustiças sociais, econômicas e políticas estão na base de todos eles. No entanto, esses erros não são novidade. Eles têm atormentado a humanidade por milhares de anos. Por que, então, o mundo todo está protestando especificamente agora, e por que todos simultaneamente?
As respostas estão na estrutura da evolução da natureza humana. Como Jean M. Twenge e W. Keith Campbell belamente ilustrou na Epidemia Do Narcisismo: Vivendo Na idade Da Titularidade (Free Press, 2009), o que mais nos assusta hoje não são apenas o narcisismo e egocentrismo em si, mas o grande volume destas pessoas, e à que taxa alarmante de crescimento isto vem ocorrendo.
Como narcisistas, nos colocamos no centro de tudo, e em todos os “graus” e isto, de acordo com os benefícios que todos podem nos trazer. Conectamos-nos ao mundo através das lentes do nosso bem-estar. No entanto, é precisamente assim que não funcionará, se quisermos ter sucesso nesta era de globalização, com o mundo estando interconectado e interdependente.Para se ter sucesso, é preciso querer beneficiar à todos aqueles a quem estamos ligados tanto quanto quisermos beneficiar à nós mesmos. Se estivermos conectados e dependentes uns dos outros, então, se eles são felizes, nós também o seremos. E se os outros são infelizes, nós, também, seremos infelizes, como demonstrado por Nicholas A. Christakis, MD, PhD, e James H. Fowler, PhD, em Connected: o poder surpreendente de nossas redes sociais e como Eles moldam nossas vidas – como os amigos “amigos” seus amigos afetam tudo o que sente, pensa, e faz.
A solução, portanto, está na mudança de nosso ponto de vista do benefício próprio ao benefício- social, colocando a nossa sociedade em primeiro lugar e os nossos egos depois, a fim de, eventualmente, beneficiar a nós mesmos.
Em termos práticos, esta solução implica em três objetivos:
- Disposições necessárias para dar garantias a todos os membros da sociedade.
- Garantindo a manutenção das referidas disposições por inculcar valores pró- sociais na sociedade utilizando meios de comunicação e da internet, com foco nas redes sociais.
- Usando nosso trabalho pró-social de aperfeiçoamento pessoal, para que possamos realizar plenamente o potencial que está dentro de cada um de nós.
Para atingir a Meta 1, um painel internacional de estadistas, economistas, sociólogos e representantes de todas as nações, deve ser configurado para elaborar um plano para estabelecer uma economia justa e sustentável. Note-se que o termo “justa” não se refere à distribuição igual de fundos ou recursos (naturais ou humanos). Em vez disso, em uma economia justa nenhuma pessoa na Terra é deixada Abandonado. Assim, uma criança morrendo de fome no Quênia pode não precisar ter o último modelo de iphone, mas ela, sem dúvida, tem o direito à alimentação adequada, um teto sobre a cabeça, educação adequada, e cuidados de saúde adequados.
Por outro lado, uma criança da mesma idade na Noruega pode já ter o iPhone mais recente, mas ainda se sente miserável ao ponto de tirar sua própria vida, ou pior ainda, de outros, como os acontecimentos recentes no país têm mostrado.88 A angústia nos dois casos é muito diferente,
mas igualmente agudas, e ambas devem ser abordadas pelo painel, tendo em mente que, em 2008 laureado com o Premio Nobel e colunista do New York Times, Paul Krugman, disse: “Estamos todos no mesmo barco.”.
Alcançar o Objetivo 2 requer uma mudança de mentalidade. Desde que a mídia determina a agenda pública, é a mídia que devem conduzir o caminho para aniquilar egocentrismo. Em vez da atual “Eu, eu, eu”, atitude cultivada pela mídia ao longo das décadas passadas, seus novos lemas devem ser “Nós, nós, nós,” garantia “mútua”, e “um por todos e todos por um.” Se a mídia descrever os benefícios da responsabilidade mútua e os males da abordagem narcisista, vamos naturalmente gravitar em torno de partilha e carinho, e não para as desconfianças e isolamentos. Se comerciais, infomerciais, e infoentretenimentos começarem a mostrar os valores da doação individual, todos nós vamos começar a querer doar, assim como hoje, quando a mídia mostra reverência para os ricos e poderosos, fazendo com que todos queiram ser ricos e poderosos, também.
Essa mentalidade vai garantir que a nossa sociedade continue a ser justa e compassiva para com todas as pessoas, e, ao mesmo tempo em que todas as pessoas de boa vontade contribuam para essa sociedade. Além disso, muitas dos atuais agências de regulação e restrição, como a polícia, o exército, e os reguladores financeiros, podem tornar-se obsoletos ou exigir apenas uma fração destes recursos humanos e financeiros que atualmente exigem. Consequentemente, os recursos serão destinados para melhorar nossas vidas diárias, e não apenas para mantê-la relativamente segura.
Em tal atmosfera encorajadora e pró-social, a Meta 3, “Usando nosso trabalho pró-social para o aperfeiçoamento pessoal”, terá um desdobramento natural. A própria sociedade irá incentivar, lutar e fazer esforços para garantir que cada um de nós perceba o seu potencial pessoal ao máximo, porque quando esse potencial é usado para o bem comum, a sociedade será beneficiada. Além disso, liberado da necessidade de nos proteger de um ambiente hostil, um tesouro de novas energias irá se revelar para a nossa realização pessoal. O resultado será a erradicação da depressão e todos os seus males e afins, e uma dramática melhora da nossa satisfação na vida.
Depois de alguns meses de vida em uma sociedade com mentalidade orientada, ficaremos perplexos pelo tempo que passamos imaginando que o interesse próprio pudesse ser uma boa ideia. O evidente sucesso e felicidade de uma sociedade trará motivação crescente para promovê- la e fortalecê-la, criando um movimento perpétuo em favor da sociedade, e, ao mesmo tempo, em favor de cada um dos seus membros, sem descuidar de nenhum deles.
Em nossa realidade globalizada, apenas uma forma de governo que considera a felicidade e o bem-estar de todas as pessoas no mundo igualmente importante pode se provar sustentável e bem sucedida.
88 J. David Goodman, “At Least 80 Dead in Norway Shooting,” The New York Times (July 22, 2011), http://www.nytimes.com/2011/07/23/world/europe/23oslo.html?pagewanted=all