Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Quando a pessoa se torna actriz profissional e é absorvida no novo modo de vida, ela começa a temer muitas coisas. A imagem de Mefistófeles (o diabo) imediatamente emerge no seu subconsciente. Por que esse medo surge?
– A pessoa tem medo de se perder a si mesma. Estando imersa em certo papel, por vezes ela sente que se ela ficar lá mais um minuto, ela não será mais capaz de voltar atrás.
Estes medos e apreensões estão bem garantidos. A estrutura psicológica da pessoa não está equilibrada e é possível formatar completamente o programa comportamental que opera nela, como num computador. Se um programa diferente for inserido lá, a pessoa pode esquecer tudo e se comportar diferentemente. Estas práticas e métodos são aplicadas por estruturas de poder em vários países do mundo.
Nossas crianças estão claramente conscientes que elas trabalham pelo bem de entenderem o seu amigo, pelo bem de sentirem a sua natureza. Para concretizar isto, eu sou incluído nas qualidades do meu amigo e crio a imagem dele dentro de mim. E meu amigo faz o mesmo em relação a mim. Portanto, haverão duas imagens em mim e duas imagens dentro dele. Isto nos permite comunicar correctamente e começar a nos entendermos um ao outro. É por isso que estamos a representar.
O facto de nos podermos entender um ao outro hoje não significa que nos entenderemos um ao outro amanhã. Nosso entendimento recíproco deve ser constantemente renovado. Amanhã teremos um novo egoísmo pois ele cresce constantemente. Nossos humores mudarão, bem como muitas outras coisas à nossa volta, tais como as circunstâncias nas nossas famílias e os relacionamentos com nossos amigos na escola. Tudo isto influencia nossas personalidades. Mudanças ocorrem a toda a hora.
Este tipo de trabalho numa equipe, onde nos observamos um ao outro, criticamos e encorajamos o trabalho um do outro, nos permite acumular uma enorme colecção de ferramentas analíticas e observar o inteiro processo do lado de fora, não mais através dos olhos de um actor que experimenta diferentes papeis, mas através dos olhos do director. Tal como a Natureza nos ordena por aí e joga connosco, eu, também, começo a ver este jogo. Eu desenvolvo uma atitude muito sensível para aquilo que está a acontecer e começo a entender que a vida é senão uma representação de vários papeis.
Portanto, se as crianças trabalham sobre certa situação com seus amigos e observam seus comportamentos juntas, não acho que quaisquer problemas surjam.
– É possível tentar representar o papel do director também?
– Falamos de crianças e crianças infantis nisso. Quando elas fazem 7 ou 8 anos, o egoísmo começa a se manifestar nelas de uma maneira severa. É então que devemos gradualmente começar a introduzir elementos de representação. “Tenta estar na sua posição agora e ele estará na tua. Lembra-te como ele gritou contigo ontem e agora tenta tu representar esse papel.”
É possível dirigir ou gerir este processo nessa idade? Eu não excluo esta possibilidade. Isso depende de há quanto tempo o grupo tem estudado e que aptidões ele adquiriu.
– Cada vez que uma cena é encenada, até se for a mesma cena, ela é representada diferentemente.
– Isto é aparente, especialmente quando representamos os mesmos papeis.
– Devem as crianças repetir as mesmas cenas uma e outra vez?
– Isto vai acontecer de qualquer jeito.
– O que podemos aprender disso?
– Neste processo, as crianças estarão constantemente a se estudar a si mesmas. Penso que é necessário gravar tudo aquilo que acontece com elas, assistir e deixar que as crianças avaliem aquilo que elas viram e então repetir.
Uma criança começa a ver quão relativo são o seu comportamento e opinião, que nada há de absoluto nelas. Aquilo que há de absoluto é o todo unificado que é criado quando todas elas se unem. E juntos construiremos o Absoluto. Mas o que quer que exista em cada um de nós, isso sempre muda.