Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
-Se um educador se envolve profundamente no ambiente das crianças, consequentemente funde-se com ele. Não é um problema ele se tornar a mesma coisa que as crianças, não é degradação para o educador?
– Eu não acho que seja degradante. Uma pessoa que educa crianças tem de estar no nível das crianças. Se ela controla a si mesma constantemente, se leva essas crianças a um estado específico, então ela está no nível de educador e no nível das crianças, simultaneamente.
O educador deve reter esses dois níveis dentro dele e entender claramente: este sou eu e esse são elas. Como eu as manipulo? Como eu as faço se controlarem? Como eu faço com que elas se tornem cientes de seu comportamento, sua natureza e suas inclinações? Onde elas devem se levantar e acima de quê? Como elas podem se superar e para que, com que objetivo?
Ele está sempre com elas, analisando o que está acontecendo e experimentando todos os estados junto com elas. Ele, no entanto, está presente como um diretor ou produtor de teatro. Ele molda os grupos, usando estados conflitantes, mesmo aqueles que são artificiais. Fabricando todos os tipos de problemas para as crianças, ele provoca grandes convergências entre elas.
Afinal de contas, o grupo trabalha de maneira compatível, apesar de as crianças serem muito diferentes. Por exemplo, crianças novas podem entrar no grupo, ou haverá mudanças entre os instrutores, as coisas podem ficar tensas, ou podem ocorrer algumas interrupções e problemas podem aparecer.
Colocamos as crianças nessas situações constantemente, vemos como elas resolvem isso, como elas encontram um “denominador comum” em cada situação.
O educador tem de ser como o diretor de teatro ou o produtor desse processo, e tem de fazer isso com dinamismo, mantendo o controle constantemente.
-As crianças deveriam perceber que o educador está nesses dois níveis?
-Sim, claro, elas devem entender isso. Ele está com elas, mas ele sabe e entende mais do que elas.
Na realidade, eu não vejo nenhuma diferença entre a função de um instrutor, educador, professor e a função do profissional que regula o comportamento de massas e multidões, que controla uma sociedade, uma nação ou mesmo a humanidade. Em princípio, é a mesma profissão. Só que, no primeiro caso, existe um pequeno grupo de crianças que estamos educando e, nos outros casos, existe um grande número de pessoas envolvidas, e eu também tenho de educá-las.
Como alcançar os adultos, as massas e multidões? Eu não acho que exista grande diferença entre o instrutor de um pequeno grupo e uma pessoa que precisa controlar um grande número de pessoas, isto é, não controlar, mas educar.