Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Uma amiga minha que trabalha como guia turística na Índia começou a ter dificuldades porque os turistas dizem que ela está em nirvana, não reage adequadamente e não consegue explicar coisa alguma adequadamente. Será que as crianças que entram neste sistema integral não se tornam anjos, desconexos da realidade?
– Não. Eu não chamaria a este estado angélico. A divisão esquizofrénica, dolorosa e incorrecta do mundo em partes é explicada pelo facto de que a pessoa não se corrige a si mesma.
Ela não está a trabalhar com o seu egoísmo para se elevar acima dele e percepcionar dois níveis de atitude para a vida. Ela não está preparada para isto e não está num colectivo que consiga criar um novo sentido junto com ela.
A sua amiga é uma mulher infeliz que está a arriscar perder a sua abordagem normal, egoísta e terrena para a vida e vai acabar num mau e desadequado estado. O nosso ensino não é baseado no método indiano, que destrói ou reduz o egoísmo, mas desenvolve-o, por muito estranho que pareça. Nós dizemos que tudo é construído sobre a justaposição de opostos.
O mundo não é uma luta de opostos, mas em vez disso a sua combinação adequada. A dialéctica está certa quando diz que o mundo é composto de dois opostos, mas está errada em pensar que um deles deve ser destruído.
Um deles deve ser elevado acima do outro e os dois devem ser usados correctamente, como halteres. Isto é um dipolo. Dentro da tensão entre o mais e o menos, podemos achar a qualidade que os conecta. Com a sua ajuda vamos descobrir o verdadeiro mundo integral, isso não destrói nenhuma das suas partes.
Entendo o estado desta mulher, mas não posso oferecer-lhe qualquer conselho. Isto não acontece às nossas crianças. Pelo contrário, todos os dias o egoísmo saudável é exprimido nelas cada vez mais e elas até se tornam mais densas e duras. Porém, elas entendem de onde vem o seu egoísmo.
Ao mesmo tempo, nós conduzimos estudos teóricos e práticos com elas em prol de clarificar este egoísmo, entendê-lo, nos separarmos dele e pesquisá-lo do lado de fora, estudando tanto o nosso próprio egoísmo como o dos outros. Cada um muda de lugar em prol de ser incluído no próximo: Neste momento eu sou como você, você é como ele e etc.
Eu tenho de conhecer todos meus amigos e representar o papel de cada um deles. Isto nos permite ser incluídos uns nos outros e esta inclusão reciproca gradualmente cria uma nova entidade, a percepção integral, que não “me” inclui mas somente “nós.”