Tensões à volta da inauguração são de precedentes nunca vistos. Este é um momento revelador para todos nós.
Nos dias antes da inauguração de Trump, temos testemunhado apresentações de extrema resistência ao tentar de algum modo achar uma maneira de a prevenir. Quase 200.000 mulheres vão marchar em Washington junto com outros grupos de protesto, que planeiam perturbar a inauguração causar danos.
Em acréscimo, temos ouvido falar das falsas notícias das ligações de Trump à Rússia, celebridades que rejeitam convites para aparecer e algumas até evocam um golpe militar para prevenir que Trump se torne presidente.
Estas acções sem precedentes de resistência representam que um fenómeno significativo toma lugar. Para mim, trata-se muito menos de política e muito mais de entender a natureza humana e o comportamento social.
Ao escrutinar o processo em mãos, vamos todos beneficiar ao nos entendermos melhor a nós mesmos e por sua vez, como podemos construir sociedades mais saudáveis, com mais coesão e equilibradas.
O Verdadeiro Problema em Mãos
Nicolas Fitz escreve no Scientific American, descrevendo as desigualdades na sociedade americana, que “Há uma grande divisão entre nossas crenças, nossos ideais e entre a realidade.”
Esta diferença entre aquilo que dizemos e o que sentimos de verdade e fazemos agora se expõe a si mesma e para muitos, não é fácil de engolir.
Se as pessoas que apoiam a democracia, o pluralismo e a liberdade de pensamento não conseguem aceitar outras que falem, pensem, ou votem diferentemente, ou se as pessoas que apoiam os direitos das minorias, gentileza e compaixão na realidade se desconectam dos seus membros de família por eles terem uma opinião diferente, então os valores que elas ostentam nada significam.
Os ideais do liberalismo eram supostos criar uma sociedade mais justa, mas não o fizeram. Na realidade o que temos hoje é uma sociedade extremamente polarizada junto com extrema disparidade económica.
Abandonar o Que Não Estava a Resultar
Enquanto o liberalismo tem seus últimos suspiros, compreensivelmente muitas pessoas não o conseguem simplesmente aceitar. Elas combatem esta mudança com toda sua força, sentindo que algo que as definia e que foi doutrinado na sua mentalidade está a ser severamente ameaçado. Porém, devemos ver que esta luta é inutil. Aquilo que agora termina não vale realmente assim tanto para agarrarmos a ele.
Quando olhamos para o mundo que Trump tem de enfrentar enquanto presidente, vemos uma realidade dominada pela crise. Sob a pretensão liberal dos direitos civis e das liberdades, a América alcançou um ponto em que as diferenças sócio-económicas se tornaram escandalosamente amplas. Os Estados Unidos se tornaram agora a mais desigual de todas as nações ocidentais.
Três estudos, publicados durante os últimos vários anos no Perspectives on Psychological Science, demonstram que as pessoas não fazem ideia de quão desigual a sociedade americana se tornou. Os 20% de agregados familiares no topo têm mais de 84% da riqueza e os 40% do fundo reúnem míseros 0.3%.
As tensões raciais aumentaram, também, enquanto os campus se tornam viveiros de antissemitismo e o movimento “Black Lives Matter” entrou na cultura dos campus, fanfarronando qualquer um que os desafie. Paradoxalmente, a intolerância por aqueles que pensam diferente se tornou o novo normal na cultura liberal tão auto-iludida e cega aos seus próprios defeitos que criou um código social mais próximo do fascismo que qualquer outra coisa.
Na Europa, os líderes liberais tais como Angela Merkel simplesmente não conseguiram antever como as políticas de imigração de fronteira aberta trariam a Europa a uma crise que a transformariam completamente política e socialmente. Os governos e os media politicamente correctos ocultaram as taxas de crime reais dos migrantes e procuraram silenciar qualquer um que desse nome ao problema por aquilo ele é. Esta trágica abordagem trouxe a Europa a uma crise que ninguém sabe como resolver e a crescentes tendências nacionalistas.
Até o Dalai Lama, amplamente considerado um líder humanitário, salientou o defeito deste pensamento e ainda assim é como se os líderes fossem simplesmente incapazes de agir diferentemente sob a coação das camisas de forças liberalistas que usavam.
Esta desconexão da realidade tem durado algum tempo, mas o mundo alcançou um ponto tão perigoso, que generais abertamente preparavam o público para uma Terceira Guerra Mundial inevitável apenas semanas antes da eleição americana. Devemos todos nos sentir muito sortudos por termos sido poupados por agora, graças a uma muito necessária chamada de atenção e uma mudança de curso.
Trump enquanto Revelação
Trump, imperfeito como possa ser, significa que o mundo se separa da abordagem anterior que tem falhado tanto ao mundo. Ele representa a separação da falsidade e um regresso ao pragmatismo que pode atender às verdadeiras necessidades das pessoas, não de ideias. Foi por isso que os americanos votaram nele. Eles estavam fartos de serem tão esquecidos numa cultura de ideais filosóficos e retórica vazia. Palavras bonitas não conseguiam mais esconder a verdade feia da realidade sócio-económica americana.
A campanha de eleição e as últimas semanas da presidência de Obama revelaram ainda mais o verdadeiro sentimento por trás dessas palavras elevadas. Sondagens se revelaram inuteis. Os meios de comunicação são vistos como ferramentas para manipular o discurso e opinião pública. O fenómeno de falsas notícias cristalizou o sentimento de que não podemos confiar naquilo que nos é dito.
A grande revelação da nossa cultura de egoísmo está em mãos. Não há bastião da verdade que reste. O egoísmo está a ser revelado nãos ó como a força impulsionadora da nossa economia e política, mas como aquilo que verdadeiramente nos separa uns dos outros. A divisão política se tornou a mais notável, mas não é a única. Nossos egos têm crescido descontroladamente e tornado nossos relacionamentos mais e mais difíceis em muitas frentes, sociais e pessoais. Casamentos, famílias, relações laborais, amizades e nosso bem-estar pessoal, todos sofreram.
Porém, esta é na realidade uma revelação importante. Na Cabala, ela é referida como “o reconhecimento do mal” (ha’Karat ha’Rá), que é a fase preliminar antes que a verdadeira correcção possa tomar lugar.
A Luz no Fim do Tunel
Enquanto nosso paradigma de exploração termina e muitos forçosamente tentam resistir-lhe, há forças maiores em jogo que ninguém consegue impedir.
Com a revolução tecnológica que está a substituir os trabalhadores humanos com robôs e a automação, uma nova ordem sócio-económica é iminente. Como Guy Standing escreve no TheGuardian, O Rendimento Básico Universal é uma necessidade urgente.
Standing também explica que, basicamente, tudo aquilo que não envolva a capacidade social significativa ou inteligência generalizada é potencialmente automatizável. O colunista do The New York Times, Thomas Friedman, recentemente disse numa entrevista “Conectar pessoas será um enorme emprego. …Penso que os melhores empregos serão empregos de pessoas-para-pessoas. Vamos criar todo um novo conjunto de empregos e indústrias à volta do coração, à volta de conectar pessoas às pessoas.”
A realidade em si nos empurrapara nos focarmos nas pessoas e para maior cooperação. Portanto, não importa em que lado do espéctro político você se encontra. Todos nós precisaremos de nos concentrar mais em fortalecer a conexão humana para sobreviver às mudanças que são inevitáveis na evolução inevitável da nossa sociedade.
Ir com a Corrente
A vindoura administração Trump seguramente reconhece que são tempos de mudança. Não é coincidência que os gigantes da alta tecnologia como Elon Musk e Travis Kalanick se tenham juntado ao fórum Estratégico de Política de Trump. Estes dois visionários de Silicon Valley estão na frente da revolução da tecnologia de informação bem como da evocação do Rendimento Básico Universal na futura economia americana.
Ainda vamos ver como os governos vão lidar com a crescente necessidade de fornecer vencimento bem como ocupações significativas para aqueles que ficam sem empregos. Uma vez que os empregos de “pessoas-para-pessoas” se vão tornar prioritários e as aptidões sociais se vão tornar mais e mais necessárias, teremos necessidade de nos treinar nesses campos. Escrevi sobre as infraestruturas de educação que vão ser necessárias para cultivar esta nova cultura de interacção humana positiva para a qual agora somos promovidos.
Aprender a Trabalhar COM o Egoísmo, Não Para Ele
Não devemos esperar que a mudança acontença; precisamos de ajudar a fazer com que ela aconteça. Em vez de lutar e resistir, devemos aprender dos nossos erros e nos tornarmos inovadores que conduzam o caminho para o tipo de sociedades que queremos verdadeiramente ver.
Primeiro, precisamos de reconhecer que é nosso crescente individualismo e interesse pessoal que nos tem colocado em desiquilibrio. Um dos exemplos mais notáveis é como jogamos quantidades massivas de comida fora, enquanto tantas pessoas estão esfomeadas. Não é que não sejamos inteligentes o suficiente enquanto espécie para achar soluções e para cuidar das necessidades básicas de todos, é que o interesse pessoal simplesmente se mete no caminho.
Depois, precisamos de aprender como trabalhar com nossas tendências individualists em favor do todo, em vez de às suas custas. Esta prática de ver o benefício do colectivo maior em vez do benefício estreito e egoísta têm sido o objectivo de gerações de Cabalistas que aperfeiçoaram um método de transformação para compartilhar com a humanidade.
Esse é um método que ensina como nos elevarmos genuinamente acima das diferenças de opinião e percepção, de modo a melhorar nossos relacionamentos e permitir a cooperação. A capacidade de nos conectarmos em preocupação recíproca pelo bem de um propósito compartilhado está muito em falta na cultura de hoje. Está a tornar-se crucial que a instalemos dentro de nós, para criar um futuro sustentável.
Em anos recentes, o Movimento Arvut (Garantia Mútua), fundado pelos meus estudantes, tem conduzido eventos de Mesa-Redonda e sessões de Círculos de Conexão pelo mundo com sólido sucesso. Estas duas técnicas, sobre as quais elaboro no meu livro, Completando o Círculo, implementam o princípio descoberto por Abraão o Patriarca e aperfeiçoado pelos seus descendentes e discípulos: “Ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12). Nossas diferenças vão permanecer, mas independentemente precisamos de aprender como valorizar e complementar uns aos outros.
Acima de tudo, se desejamos viver segundo os valores de abertura e aceitação mútua nas nossas sociedades, precisamos de substituir as ideologias com práticas concretas.
América Pós-Inauguração
Os desenvolvimentos naturais estão a afastar-nos do idealismo filosófico perigoso que é desconexo da realidade e para uma abordagem mais pragmática na qual criamos e praticamos o tipo de relações humanas que permitem sociedades mais coesas e equilibradas.
Recomendo a todos aqueles que desejam ver tempos melhores pela frente (independentemente de se chamarem liberais ou conservadores) a se prepararem para uma nova era onde a conexão humana é nossa prioridade mais alta. Tal mudança de perspectiva ajudaria significativamente não só na América, mas também o mundo no geral.
Publicado originalmente no Huffington Post