Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

O Que Significa Para Os Judeus Quando O Presidente da Áustria Diz Que Todas As Mulheres Vão Usar Véu

Quando ele foi eleito como presidente da Áustria, por uma margem de menos um ponto percentual, o Sr. Alexander Van Der Bellen declarou, “Serei um presidente da Áustria pró-Europa aberta ao mundo”. Na semana passada, o Sr. Van Der Bellen declarou sobre a islamofobia: “Vai chegar um dia quando teremos de pedir a todas as mulheres para usarem um véu. Todas as mulheres! Por solidariedade para com aqueles que o fazem por motivos religiosos”.

Foto: Dreamstime.com, Licença: N/A2017-05-04

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Por um lado, estamos vendo a realização de um processo sobre o qual tenho alertado há anos: a capitulação da Europa ao islã. Por outro lado, há um processo reacionário onde burcas (véu muçulmano) e burkinis (maiô muçulmano de corpo-inteiro) são proibidas em muitos países Europeus, particularmente aqueles que sofreram mais nos últimos anos com o terrorismo Islâmico, como a França.

A corrida apertada na eleição na Áustria indica que o público austríaco está dividido ao meio. Um quadro semelhante se desenrolou na votação do Brexit no Reino Unido, na eleição presidencial dos Estados Unidos. Em geral, os países ocidentais estão ficando politicamente menos tolerantes, mais divididos, embora nenhuma visão pareça ter uma clara vantagem. Esta situação torna quase impossível uma governança eficaz, garantindo que a instabilidade só vai aumentar nos próximos anos. A menos que essa tendência de crescente intolerância política e escalada de agressão seja invertida, a Europa irá inevitavelmente encontrar-se envolvida em outro conflito violento, que pode se espalhar para o resto do mundo. Se uma violenta erupção ocorrer, os Judeus, como sempre, pagarão o preço mais pesado.

Narcisistas Forçosamente Emaranhados

Como diz a maldição Chinesa, estamos vivendo em tempos interessantes. Como nunca antes, duas trajetórias contraditórias estão impactando a humanidade. Por um lado, nós nos tornamos narcisistas ao ponto que o nosso nível de ódio em relação às outras pessoas atingiu níveis patológicos. Por outro lado, nós nos tornamos tão interdependentes que não conseguimos escapar da sociedade.

A algumas gerações atrás, as pessoas dependiam da sociedade para comida, abrigo e saúde. Hoje, como estamos tão preocupados conosco mesmos, precisamos de garantias constantes do nosso valor. Como resultado, precisamos desesperadamente que os outros nos curtam na mídia social e aprovem as imagens (falsas) que postamos lá. Em muitos casos, somos tão dependentes disso que as pessoas que sofrem bullying online recorrem ao suicídio.

Embora a mídia social ainda seja a maneira mais comum de conciliar a necessidade de vida social com a necessidade de privacidade, claramente não é uma solução sustentável. As crescentes taxas de depressão e incidentes atrozes, como transmissões ao vivo de assassinatos e suicídios, indicam que os dias da mídia social como nossa saída preferencial estão contados.

Interdependência e antipatia mútuas são tão evidentes na política, como são no processo social que acabo de descrever. Conforme nosso narcisismo aumenta, também aumentam a nossa intolerância e agressão. E visto que não podemos nos desapegar da sociedade, nos viramos contra ela.

Tudo isso significa uma coisa: não há solução para nossa situação no nosso modo atual de pensar. Para evitar a ruína total da sociedade, teremos que superar nossas diferenças e forjar uma nova forma de solidariedade.

Hoje, é de conhecimento comum que uma boa equipe requer diversidade, e que a exposição à diversidade nos deixa mais inteligentes. Cada equipe de esportes sabe que um bom trabalho em equipe rende mais vitórias do que grandes nomes na lista que jogam por si mesmos. Mesmo que saibamos disso, está ficando cada vez mais difícil cooperar. Nossos egos crescentes estão tornando cada vez mais difícil para nós formar ligações significativas, resultando na desintegração em todos os níveis, desde a unidade familiar e em toda a sociedade.

A razão para isto é simples: nosso único objetivo é nosso próprio prazer (geralmente imediato). Queremos tudo agora, gratificação instantânea. E se nos conectamos com outras pessoas, é a fim de explorá-las, ou abertamente, ou pela aparente ajuda, quando na verdade, um motivo oculto nos motiva a agir.

Um Método Inexplorado

Tal alienação teria deixado a sociedade humana sem esperança se não fosse a existência de uma solução inexplorada. Se a usarmos, iremos não só resolver a crise atual que enfrentamos, mas vamos vê-la como etapas preparatórias, necessárias em direção a um futuro mais seguro e brilhante. Albert Einstein disse uma vez, “Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando os criamos”. Se aplicarmos essa solução, renasceremos para um novo nível de pensamento, para o qual os problemas atuais serão a base.

A primeira pessoa a pensar nessa solução foi Abraão, o Patriarca, quase quatro milênios atrás. Como eu escrevi no ensaio “Por que as Pessoas Odeiam os Judeus” e no meu livro Como um Feixe de Juncos: Por que a Unidade e a Garantia Mútua São o Apelo do Momento, o Midrash (Beresheet Rabbah), Maimônides e muitas outras fontes nos dizem que, semelhante ao que está acontecendo hoje, os Babilônios no tempo de Abraão estavam ficando cada vez mais alienados. Estes livros nos dizem que, quando Abraão refletiu sobre a alienação dos Babilônios, percebeu o que estamos percebendo agora: que não podemos impedir a intensificação do egoísmo, mas se não encontrarmos uma forma de lidar com o ego, ele nos destruirá.

Na Mishneh Torá (capítulo 1), Maimônides escreve que para encontrar uma solução para o problema do ego crescente, Abraão observou a natureza. Ele percebeu que, na natureza, tudo é equilibrado. O que mantém a estabilidade é o fato de que além do egoísmo, existe uma força de equilíbrio, um desejo de se conectar e construir, que coincide com o desejo de desconectar e destruir. Este equilíbrio, Abraão concluiu, permite que os opostos tornem a vida possível: quente e frio, conexão e separação, criação e destruição e todos os outros opostos que compõem o nosso universo. Nos humanos, no entanto, Abraão descobriu que “a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude” (Gênesis 08:21).

Assim que percebeu que havia encontrado a chave para a estabilidade social, Abraão começou a difundi-la. Nas palavras de Maimônides, “ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus [cidade de Abraão na Babilônia], conversar com eles e lhes dizer que o caminho no qual eles estavam andando não era o caminho da verdade”.

Abraão explicou que a única maneira de superar o ego que tinha irrompido entre eles era reforçar a unidade entre si. Visto que a natureza negou à humanidade o equilíbrio entre as forças que adota com o resto da natureza, Abraão sugeriu que eles poderiam “compensar” a ausência da força de conexão criando-a. É por isso que hoje o conhecemos como um homem de misericórdia e bondade, já que se esforçou para conectar as pessoas.

Conforme mais e mais pessoas se reuniram em torno de Abraão para aprender a sua solução, ele se tornou uma ameaça para Nimrod, o rei da Babilônia, que, finalmente, expulsou Abraão. Fora da Babilônia, Abraão continuou a reunir seguidores e alunos que endossaram a ideia de que o caminho para superar o ego é aumentando a unidade em sincronia com a intensificação do ego.

Abraão passou seu conhecimento para Isaque, que passou para Jacó, que depois passou para José. Depois de séculos de aperfeiçoamento de um método exclusivo de conexão, os hebreus obtiveram uma poderosa unidade que mesmo que viessem de etnias e lugares diferentes, eles se tornaram uma nação no sopé do Monte Sinai, da palavra Hebraica sinaa (ódio). Conforme os hebreus superaram a montanha de ódio e a alienação entre si ao nutrir sua unidade a um nível que corresponde ao da sua separação, eles equilibraram o egoísmo que estava crescendo neles e criaram uma sociedade sólida baseada na justiça social e responsabilidade mútua que até hoje é a base do que definimos como humanismo.

O sociólogo holandês-americano Ernest van den Haag perguntou em A Mística Judaica: “Em um mundo onde os judeus são apenas uma pequena porcentagem da população, qual é o segredo da importância desproporcional que os judeus tiveram na história da cultura ocidental?” Da mesma forma, o historiador cristão Paul Johnson escreveu em A história dos Judeus: “Numa fase muito precoce de sua existência coletiva eles acreditavam que tinham detectado um esquema divino para a raça humana, do qual sua própria sociedade era para ser um piloto. Eles trabalharam seu papel com imenso detalhe. Eles se apegaram a ele com persistência heroica em face de um sofrimento selvagem. Muitos deles ainda acreditam. Outros o transmutaram em esforços de Prometeu para elevar nossa condição por meios puramente humanos. A visão judaica tornou-se o protótipo para muitos projetos de grande semelhança para a humanidade, divina e artificial. Os judeus, portanto, ficaram bem no centro da perene tentativa de dar à vida humana a dignidade de um propósito”.

A maneira que Abraão e seus discípulos manipulavam o ego era muito simples, mas eficaz. O livro Likutey Etzot (Conselhos Diversos) descreve isso da seguinte forma: “A essência da paz é conectar dois opostos. Portanto, não se assuste se vir uma pessoa cuja visão é completamente o oposto da sua e ache que nunca será capaz de fazer as pazes com ela. Também, quando você vir duas pessoas que são completamente opostas uma da outra, não diga que é impossível fazer as pazes entre elas. Pelo contrário, a essência da paz é tentar fazer as pazes entre dois opostos.”

Por Seu Mérito, Haverá Paz no Mundo

Após a “cerimônia de inauguração” no sopé do Monte Sinai e o início oficial do povo Judeu, a jovem nação experimentou inúmeros testes para sua unidade. Eles superaram enormes conflitos internos à medida que lutavam para aumentar sua unidade sobre seus egos crescentes. Ao fazer isso, eles poliram e melhoraram o seu método de conexão. O Rabino Shimon Bar Yochai descreveu essa abordagem no livro O Zohar (porção Beshalach): “Todas as guerras na Torá são de paz e amor”.

Imediatamente depois que os judeus se tornaram uma nação, eles foram mandados para ser “uma luz para as nações”, ou seja, transmitir o método de conexão que tinham construído entre si ao resto do mundo. Abraão pretendeu espalhar seu método em toda Babilônia, e se não fosse pela interferência do rei Nimrod, teria tido sucesso. Noé e Moisés ambos tentaram completar o trabalho de Abraão, mas também falharam, devidos aos impedimentos que encontraram. O grande Cabalista, Ramchal, escreveu no livro Adir Bamarom (Poderoso no Alto): “Noé foi criado para corrigir o mundo no estado em que estava naquela época. Naquela época já existiam as nações, e elas também receberão correção dele”. No Comentário do Ramchal sobre a Torá, o sábio escreve sobre Moisés: “Moisés desejava completar a correção do mundo naquele tempo. … No entanto, ele não teve êxito devido às corrupções que ocorreram ao longo do caminho”.

O Livro do Zohar conecta o trabalho na unidade entre os judeus ao seu papel na direção das nações na porção AhareiMot: “Eis quão bom e agradável é quando irmãos se sentam juntos. Esses são amigos, conforme se sentam juntos, a princípio parecem ser pessoas em guerra, desejando matar um ao outro. Depois, voltam ao amor fraterno. De agora em diante, vocês também não se separarão… e por seu mérito vai haver paz no mundo”.

Inúmeras fontes judaicas conectam os problemas do mundo com a falha de Israel não realizar sua tarefa. O Talmude Babilónico (MasechetYevamot63a) escreve, “nenhuma calamidade vem ao mundo, exceto por causa de Israel”. O RavKook elabora esta atribuição em seu livro Orot (Luzes): “a construção do mundo, que está se desintegrando sob as tempestades terríveis de uma espada cheia de sangue, exige a construção da nação Israelita. A construção da nação e a revelação de seu espírito são um… com a construção do mundo, que está se desintegrando em antecipação de uma força total da unidade e da sublimidade, e tudo isso está na alma da Assembleia de Israel”.

Em seu ensaio “Garantia Mútua“, o RavYehudaAshlag, autor do Comentário Sulam (escada) sobre O Livro do Zohar, escreve, “Está sobre a nação israelita se qualificar a si e todas as pessoas do mundo a se desenvolver até tomarem para si essa obra sublime do amor ao próximo, que é a escada para o propósito da criação”.

Desde a ruína do Segundo Templo dois mil anos atrás, devido ao ódio infundado, os judeus em geral têm exibido desunião e um desejo de assimilar e abandonar sua vocação. Mas o mundo acha que é dever deles ser “uma luz para as nações,” para trazer a luz da unidade ao mundo. Quanto mais o mundo cair em desunião e em incapacidade de resolver seus conflitos, mais vai virar sua frustração contra os judeus. E quanto mais os judeus tentarem evitar o seu dever, mais severamente o mundo irá puni-los.

O detrator mais satânico do judaísmo na história, Adolf Hitler, escreveu em sua composição cheia de ódio, MeinKampf: “Quando durante longos períodos da história humana eu examinei a atividade do povo Judeu, de repente surgiu em mim a temível pergunta se inescrutável destino, talvez por razões desconhecidas para nós, pobres mortais, não, com determinação de eterna e imutável, desejava a vitória final desta pequena nação”. Hitler nem percebeu que o problema com os judeus era sua separação. Em outros lugares no MeinKampf ele escreveu, “o judeu é apenas unido quando um perigo comum o obriga a ser ou um espólio comum o seduz; se esses dois motivos estão faltando, as qualidades do crasso egoísmo vêm deles mesmos”.

Um Mundo Esperando Nossa Decisão

Em um mundo dividido como hoje, o método de conexão que Abraão, Isaque e Jacó desenvolveram é imperativo para a sobrevivência da humanidade. A tensão em torno da Coreia do Norte é um exemplo de como qualquer conflito local poderia arrastar o mundo para uma catástrofe nuclear. O ego está se tornando demente, irracional e muito, muito perigoso.

Conscientemente ou não, o mundo culpa os judeus por seus infortúnios. Quanto mais o mundo mergulhar em uma crise após a outra, mais os judeus serão responsabilizados por todos elas. Thomas Lopez-Pierre, concorrendo a um assento no Conselho de NYC, disse recentemente, “Gananciosos Senhorios Judaicos estão na vanguarda da limpeza étnica /empurrando inquilinos pretos/hispânicos para fora de seus apartamentos”. Como estas acusações se tornam cada vez mais comuns, elas levarão à conclusão natural de que para se livrar do problema devemos nos livrar dos judeus.

A menos que os judeus sirvam como exemplo de unidade, como Abraão concebeu, onde superam conflitos, aumentando de unidade em sincronia com o ego crescente, eles serão tratados como foram tratados na Alemanha do século XX. No início, a eles será dada a opção de irem para Israel, assim como Hitler tentou persuadir os judeus a deixar a Alemanha e se mudar para Israel. Se os judeus não deixarem voluntariamente, o mundo irá recorrer à outra opção: o extermínio.

Mas os Judeus não precisam se sentar passivamente e ver como sua destruição se aproxima. Eles podem optar por ser “uma luz para as nações”. No início de 1900, o Rav Hillel Zeitlin escreveu em Sifran Shel Yehidim: “Se Israel é um verdadeiro redentor do mundo inteiro, deve ser qualificado para essa redenção. Israel deve primeiro redimir suas almas. … Mas quando virá a salvação deste mundo? É agora que essa nação, cuja maioria perdeu sua antiga forma espiritual e está imersa em bate-bocas, lutas e ódio infundado? Portanto, neste livro, eu faço um apelo para estabelecer a unidade de Israel. … Se esta for estabelecida, haverá uma unificação de indivíduos para fins de elevação e correção de todos os males da nação e o mundo”.

Com efeito, o mundo estagnado, oscilando entre esquerda e direita, está aguardando a nossa decisão de nos unir e nos tornar um modelo de responsabilidade mútua, solidariedade e fraternidade. Essa decisão é a diferença entre o céu e o inferno para os judeus, em particular, e para o mundo em geral.

Publicado originalmente no Haaretz

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A Fogueira Israelita

Lag Ba’omer celebra o surgimento da imensa luz da união através do ‘Livro do Zohar.’ É um chamamento para nós começarmos esta jornada para sermos “como um homem com um coração.”

lag baomer

Uma fogueira durante as festividades de Lag Baomer em Bnei Brak . (foto:REUTERS)

Uma vez por ano, crianças e jovens de toda Israel colectam qualquer pedaço de madeira em que consigam pôr suas mãos e os empilham em grandes acervos, que incendeiam na noite de Lag Ba’omer, o 33º dia da contagem do omer, que começa no primeiro dia de Pêssach e termina em Shavuot. Nesse dia, dezenas de milhares de pessoas afluem para a sepultura do autor do Livro do Zohar, Rabi Shimon Bar Yochai, para orar e celebrar a escrita deste livro seminal da sabedoria da verdade, também conhecida como “a sabedoria da Cabala.”

Lag Ba’omer não é considerado o mais fundamental dos festivais no Judaísmo, mas tal como todos os dias festivos judaicos, ele marca um ponto profundo na nossa evolução enquanto nação e no desenvolvimento espiritual de todo e cada um de nós.

Lag Ba’omer Resumido

Há cerca de 20 séculos atrás, precisamente nesta altura do ano, entre Pêssach e Shavuot, Rabi Akiva ensinava seus 24.000 estudantes. Mas segundo o Talmude (Yevamot 62b), porque estes estudantes não seguiram a lei mais fundamental de Rabi Akiva, “Ama teu próximo como a ti mesmo,” todos eles morreram numa praga que os atingiu. Somente cinco estudantes sobraram porque seguiram a orientação do seu professor e se seguraram ao princípio do amor pelos outros.

Destes cinco estudantes, dois em específico transmitiram o princípio de seu professor – Rabi Yehuda HaNasi, chefe redactor e editor do Mishná e Rabi Shimon Bar Yochai (Rashbi), autor do Livro do Zohar.

Escondidos numa Gruta

No período posterior à revolta de Bar Kokhbá contra o Império Romano (cerca de 132-136 E.C.), Rashbi estava entre os dissidentes mais proeminentes que estavam contra o governo romano na Terra de Israel. O imperador romano, Adriano, enviou homens em busca de Rashbi para o acharem e executarem.

Segundo a lenda, Rashbi e seu filho, Rabi Elazar, fugiram para a Galileia onde se esconderam durante 13 anos numa gruta comendo somente alfarrobas de uma árvore e bebendo a água de uma nascente próxima. Durante esse tempo, eles mergulharam na sabedoria do oculto, a sabedoria da Cabala e revelaram os segredos da criação. Seus esforços lhes concederam o entendimento dos níveis mais profundos da natureza e o entendimento da união subjacente na base da existência.

Passados 13 anos, Rashbi ouviu falar da morte do Imperador Adriano e saiu da gruta. Ele reuniu mais oito estudantes, sem contar com seu filho e lhes ensinou os segredos da Torá que ele havia revelado. Com seus estudantes, Rashbi foi para outra gruta e com sua ajuda ele escreveu o Livro do Zohar, que é uma interpretação do Pentateuco, partes dos Profetas e dos Escritos (Ketuvim) e é o livro seminal na sabedoria da Cabala.

O Livro do Zohar descreve as relações naturais que existem entre todas as pessoas. Ao contrário da ideia popular, ele não fala de criaturas místicas e poderes esotéricos, mas em vez disso fala sobre nós – o processo que atravessamos enquanto desenvolvemos nossa espiritualidade através das nossas relações com as outras pessoas.

Através das suas insinuações e intimações, Rashbi explica como devemos construir nossas relações correctamente através do amor pelos outros e como o amor pelos outros trará a paz ao mundo inteiro. Na porção Aharei Mot, está escrito no livro, “Eis, quão bom e quão suave é que irmãos se sentem juntos, inicialmente, eles parecem pessoas em guerra, desejando se matar uns aos outros. Então, eles retornam a estar em amor fraterno. Doravante, também vós não vos separeis … e pelo vosso mérito haverá paz no mundo.”

Estes irmãos e amigos que O Zohar menciona são pessoas tal como eu e você, que decidiram se conectar para uma única finalidade: para alcançar essa união subjacente na base da existência que mencionamos anteriormente. Ao reconhecerem seu ódio reciproco e o esforço subsequente para se elevarem acima dele e se unirem, eles se conectam a essa força de união e estabelecem tal profundo amor entre eles, tal amor fraterno, que até O Zohar não consegue descrever e simplesmente se refere a ele como “uma chama ardente de amor” ou “a luz do Zohar.”

A Conexão entre ‘O Zohar‘ e Lag BaOmer

Lag Ba’omer, o 33º dia da contagem do omer é o dia em que Rashbi faleceu. Esse é também o dia em que a sabedoria da Cabala foi dada ao mundo através do selo do Livro do Zohar.

A tradição de acender fogueiras em Lag Ba’Omer simboliza a grande luz que apareceu no nosso mundo negro quando O Zohar foi assinado, selado e entregue à humanidade – uma luz que consegue estabelecer entre nós conexões de amor.

Uma Luz no Final do Túnel

A escuridão do impasse em que nosso mundo caiu durante as últimas décadas deriva do nosso egoísmo desenfreado. Este é exactamente o mesmo mal que consumiu os 24.000 estudantes de Rabi Akiva. Tal como o Templo foi arruinado e os estudantes de Rabi Akiva morreram somente por causa do ódio infundado, a alienação de hoje e atmosfera de animosidade na sociedade estão destinadas a causar o caos no mundo no geral e em Israel em particular.

A saída do labirinto requer que usemos o mesmo método de conexão e união que nossos antepassados usaram há 20 séculos atrás. Se o implementarmos entre nós e nos conectarmos acima da rejeição interior que sentimos de uns pelos outros, nós vamos acender a mesma grande chama que antes ardeu e a luz do Zohar será revelada.

Meu professor, Rav Baruch Shalom Ashlag (RABASH), escreveu, “Em cada um há uma centelha de amor pelos outros. Contudo, a centelha não consegue acender a luz do amor. Portanto, ao se conectarem juntas, as centelhas se tornam uma grande chama” (Os Escritos do RABASH, vol. 2, “Qual é o Grau Que A Pessoa Deve Alcançar”).

Estabelecer uma Solução Duradoura Entre Nós

Hoje, está a tornar-se cada vez mais claro que nossa sociedade requer uma solução fundamental, duradoura e sustentável para os problemas que enfrentamos. A grande regra da Torá “Ama teu próximo como a ti mesmo,” está ao nosso alcance de executar, se escolhermos juntos instalá-la entre nós. Nós somos certamente egoístas até ao núcleo e nossa “inclinação é má desde nossa juventude,” como nos diz a Torá. Todavia, até uma viagem de um quilómetro começa com um pequeno passo e agora precisamos de tomar esse passo e começar a marchar num novo caminho: o caminho da união, conexão e fraternidade.

Lag Ba’omer simboliza a aparição da imensa luz da união no nosso mundo através do Livro do Zohar. É uma grande oportunidade para começarmos esta jornada para a responsabilidade mútua, para sermos “como um homem com um coração,” para sermos aquilo de que se trata a nação de Israel – amor pelos outros e para compartilhar essa luz com as nações, tal como fomos ordenados a fazer, “uma luz para as nações.”

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Comentário: O Judaísmo é Racismo?

Através da sua união ou a falta desta, os judeus determinam se o ódio ou amor pelos outros prevalece por todo o mundo e o mundo se relaciona a eles respectivamente.

É permitido o regresso dos membros depois de uma ameaça bombista no Centro de Comunidade Judaica de Louisville, no Kentucky, no começo deste mês. (foto:REUTERS)

Bem recentemente, Thomas Lopez-Pierre, que pede um assento no Município de Nova Iorque, falou, “Senhorios judeus gananciosos estão na linha da frente da limpeza étnica expulsando inquilinos negros e hispânicos dos seus apartamentos.” O sionismo já foi acusado de racismo, mas hoje vemos o argumento de que os judeus só favorecem os seus correlegionários a ganhar mais e mais propulsão.

Faz sentido pensar no judaísmo como uma religião racista. Afinal, somos considerados um “um povo que vive separado e não se considera como qualquer nação.” (Números 23:9). Com o passar das eras, fomos definidos como “o povo escolhido,” “uma luz para as nações” e outras descrições que nos separam do resto da humanidade. Mas será que o judaísmo em si é racista? Será que ele aspira subordinar as outras nações? Ele exige converter não-judeus ao judaísmo? O judaísmo afirma que ser judeu concede regalias que não são dadas às pessoas de outras fés?

Como vemos, a verdade é o inverso. O judaísmo significa mais compromisso e mais exigências dos seus próprios aderentes e não de qualquer outra pessoa. Em vez de exigir a subjugação dos outros, ele exige o compromisso dos judeus de servirem a humanidade.

União que Corresponde a Inimizade

Durante as eras, numerosos académicos e pessoas de fé questionaram o sentido e propósito do judaísmo. O historiador de Cambridge T.R. Glover escreveu em O Mundo Antigo: “Nenhum povo antigo teve uma história mais estranha que os judeus. …A história de nenhum povo antigo deve ser tão valiosa, se pudéssemos ao menos recuperá-la e entendê-la. …Mais estranho ainda, a antiga religião dos judeus sobrevive quando todas as religiões de toda a raça antiga desapareceram … Também, é estranho que as religiões vivas do mundo todas se edificam sobre ideias religiosas derivadas dos judeus. A grande questão não é ‘o que aconteceu?’ mas ‘por que aconteceu?’ ‘por que o judaísmo vive?'”

Para entender o judaísmo, precisamos regressar ao seu começo e conectá-lo à sua meta final. Há cerca de 3800 anos atrás na área conhecida como o Crescente Fértil, a humanidade dava seus passos de bebé para se tornar uma civilização. Nesse tempo, a Babilónia era o império governante e governava as terras exuberantes entre os rios Tigre e Eufrates.

Até então, os problemas começaram a aparecer. A vaidade das pessoas começou a cobrar seu pedágio quando o Império Babilónio e seu rei, Nimrod, tentaram construir uma torre “cujo topo alcançará os céus” pois eles queriam fazer um nome para si mesmos (Génesis 11:4). Mas em vez de uma torre, está escrito no livro Pirkei de Rabi Eliezer (Capítulo 24), os construtores ficaram tão hostis que “queriam falar uns para os outros mas não conheciam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um pegou na sua espada e lutaram uns com os outros até à morte. Certamente, metade do mundo ali morreu e dali eles se dispersaram por todo o mundo.”

Para contrariar a inimizade dos Babilónios de uns para os outros, o Patriarca Abraão percebeu que eles deviam cultivar uma medida correspondente de conexão e união. Ele entendeu que na criação, tudo está unido e as aparentes contradições na realidade se complementam uma à outra e formam um todo perfeito. Abraão também entendeu que se os Babilónios soubessem da inteireza da natureza eles deixariam de odiar as outras pessoas e no seu lugar, estimariam a diversidade e beneficiariam dela.

Imediatamente após esta revelação, Abraão começou a circular seu conceito, ou como Maimónides o descreve em Mishnê Torá (Capítulo 1), “Ele começou a dar respostas ao povo de Ur dos Caldeus [a cidade de Abraão na Babilónia], a conversar com eles e a dizer-lhes que o caminho sobre o qual eles trilhavam não era o caminho da verdade..”

Embora Rei Nimrod confrontasse Abraão e exigisse que ele deixasse de circular suas ideias, Abraão insistiu em continuar até que finalmente Nimrod expulsou Abraão da Babilónia. Quando o expatriado deambulava para aquilo que se tornaria a Terra de Israel, escreve o Maimónides em Mishnê Torá (Capítulo 1), “Milhares e dezenas de milhares se reuniram à sua volta. Ele plantou este princípio [da união] nos seus corações, compôs livros sobre ele e ensinou a seu filho, Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou e informou Jacob e nomeou-o professor, para se sentar e ensinar… E Jacob nosso Pai ensinou a todos seus filhos.”

Estes três patriarcas do Judaísmo deram-lhe sua essência: União é o remédio para o ódio. Quando o ódio aumenta, não o esconda debaixo da carpete, mas reconheça-o e nutra a união correspondente. Em palavras sucintas de Rei Salomão (Provérbios 10:12): “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes.”

Sucede-se que o judaísmo não deriva de afinidade biológica ou geográfica, mas em vez disso de uma percepção ideológica de que a união é a chave para solucionar todo o problema. A palavra hebraica Yehudi [Judeu] vem da palavra yihudi [unido], está escrito no livro Yaroot Devash (Parte 2, Drush nº2). Em outras palavras, o único critério pelo qual uma pessoa se pode tornar judia é a sua aceitação do princípio de que o amor deve cobrir todos os crimes e a união deve ser a base de todas as relações humanas. As miríades que se juntaram a Abraão vieram de todo o Crescente Fértil e do Oriente Médio e Extremo e todas foram acolhidas desde que seguissem a lei da união.

A Percepção Aguçada dos Antissemitas

Os hebreus sofreram tal como todos os outros da intensificação do ego. A única diferença entre eles e o resto das nações foi que eles haviam decidido não lutar uns com os outros quando a hostilidade aumentava entre eles, mas em vez disso aumentar o amor entre eles. Embora nossos antepassados com frequência sucumbissem aos conflitos internos ferozes e habitualmente violentos, no final eles sempre se lembraram daquilo que tinham de fazer e como alcançar a paz. É por isso que está escrito no Livro do Zohar (Beshalach), “Todas as guerras na Torá são pela paz e pelo amor.”

Quando alcançamos um nível suficiente de união, nos tornamos uma nação e fomos imediatamente ordenados a ser “uma luz para as nações,” para transmitir aquilo que Abraão queria transmitir aos Babilónios em primeiro lugar. O grande Cabalista Ramchal escreveu que tal como Abraão, também Noé e Moisés quiseram completar a correcção do mundo nos seus tempos respectivos, mas as circunstâncias os impediram. Em Adir BaMarom (Poderoso no Alto), Ramchal escreveu, “Noé foi criado para corrigir o mundo no estado em que ele estava nesse tempo. Nesse tempo haviam já as nações e também elas receberão correcção dele.” No Comentário do Ramchal sobre a Torá, o sábio escreve sobre Moisés: “Moisés desejou completar a correcção completa do mundo nesse tempo. ….Contudo, ele não teve sucesso por causa das corrupções que ocorreram no caminho.”

Também as nações, reconheceram o nosso papel único enquanto portadores da redenção, embora muito poucas conectassem a redenção à união. Foi na realidade o mais satânico caluniador do Judaísmo na história, Adolf Hitler, que estava entre aqueles que conectaram o judaísmo à união. Na sua composição plena de ódio, Mein Kampf, escreveu Hitler sobre o destino único dos judeus e sobre a importância da sua união. “Quando durante prolongados períodos de tempo da história humana escrutinei a actividade do povo judeu, subitamente surgiu em mim a questão temerosa se o impenetrável Destino, talvez por razões desconhecidas a nós pobres mortais, não havia, com resolução eterna e imutável, desejado a vitória final desta pequena nação.” A respeito da união judaica ou a falta dela, escreveu Hitler, “O judeu está somente unido quando um perigo comum o força a assim estar ou quando um prémio comum o atiça; se estes dois terrenos estiverem em falta, as qualidades do mais crasso egoísmo se tornam as suas.”

Outro antissemita notável que observou a qualidade única da antiga sociedade judia foi Henry Ford. Em O Judeu Internacional — o Principal Problema do Mundo, escreveu Ford, “Os reformistas modernos, que constroem os sistemas sociais modelo, fariam bem em olhar para o sistema social sob o qual os primeiros judeus se organizavam.” Ford queria tomar um exemplo dos judeus, mas dado que eles estavam separados, ele recorreu aos seus antepassados, os “primeiros judeus.”

Desde a ruína do Segundo Templo devido ao ódio infundado, os judeus têm estado imersos em ódio. Eles esqueceram o princípio do amor que cobre todos os crimes e deixam que o ódio governe seus corações. Mas uma vez que eles estão destinados a ser “uma luz para as nações,” o mundo os culpa de todo o acto de ódio que se revela em qualquer parte do mundo. Os judeus podem não saber que têm a chave para acabar com o ódio, mas o mundo o sente e exige isto deles.

O maior comentador sobre o Livro do Zohar do século 20, Rav Yehuda Ashlag, escreveu no ensaio “A Garantia Mútua”: “A nação israelita havia sido construída como uma espécie de portal pelo qual as centelhas de amor pelos outros brilhariam sobre o todo da raça humana por todo o mundo.”

Rav Hillel Zeitlin também salientou a importância da união judaica para a correcção do mundo. Em Sifran Shel Yehidim escreveu ele, “Se Israel é o verdadeiro e único redentor do mundo inteiro, ele se deve qualificar para esta redenção. Israel deve primeiro redimir suas almas. …Mas quando virá a salvação do mundo? Será agora que esta nação está imersa em brigas, discussões e ódio infundado? Portanto, neste livro, apelo ao estabelecimento da união de Israel. …Se isto for estabelecido, haverá uma unificação de indivíduos com a finalidade da elevação e correcção de todos os males da nação e do mundo.”

Dois Pesos e Duas Medidas

Um dos critérios para determinar se uma pessoa é antissemita são os “dois pesos.” Isto é, as pessoas são testadas sobre se elas julgam os judeus e Israel diferentemente de todos os outros. Se formos honestos, devemos admitir para todos, até os judeus, julgam Israel e os judeus diferentemente de todas as outras nações. Estes “dois pesos” estão escritos nas escrituras e toda a pessoa no mundo sente que os judeus são diferentes.

Os judeus são diferentes mas eles não são racistas, uma vez que o judaísmo autêntico dita que qualquer um que adira à ideia da união acima do ódio seja considerado judeu. Todavia, os judeus são certamente únicos.

No presente, porque os judeus não são “uma luz para as nações,” ou seja que não espalham a luz da união, o mundo os odeia. Se os judeus retornarem a ser aquilo que eram quando se tornaram uma nação após prometerem se unir “como um homem com um coração,” o mundo olhará para eles como a nação mais valiosa no planeta. Através da sua união ou separação, os judeus determinam se o ódio ou o amor pelos outros vai prevalecer pelo mundo inteiro e o mundo se relaciona a eles respectivamente.

Nenhum outro texto resume esta mensagem tão claramente como este excerto do Livro do Zohar. Na porção Aharei Mot, está escrito no livro, “Vejam, quão bom e quão suave é que irmãos se sentem juntos. Estes são os amigos quando se sentam juntos, inicialmente parecem eles pessoas em guerra, desejando se matar umas às outras. Então, regressam eles ao amor fraterno. Doravante, também vós não vos separais … e pelo vosso mérito haverá a paz no mundo.” Façamos aquilo que devemos fazer.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Independência Significa Independência Do Ódio Mútuo

A única forma de independência para Israel é quando colocamos nossos braços um contra o outro. Então podemos realmente comemorar.

Foto: Dreamstime.com, Licença: N/A2017-04-30

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Em cada Dia da Independência, eu me lembro da faca especial de Shabat que o pai de meu professor, Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam), autor do comentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar, mantinha em seu gabinete. A faca tinha uma inscrição especial em seu cabo que dizia, Medinat Ysrael (O Estado de Israel), e Baal HaSulam a usava apenas para cortar o chalá na medida em que abençoava HaMotzi na véspera do Shabat. Ele apreciava Israel não por causa do que é, mas pelo que orava para que ele se tornasse.

Há 69 anos, Israel começou como um país pobre e minúsculo, e altamente dependente de seus aliados. Israel de hoje, no entanto, tem exército forte, economia robusta, tecnologia avançada e medicina moderna. No entanto, apesar de todo o seu progresso, uma pergunta permanece: “Israel tornou-se independente?”

Longe de Ser Independente

Segundo o Dicionário de Merriam Webster, ser independente significa que “não estamos sujeitos ao controle dos outros” e não “exigir ou confiar em outra coisa”. Por essa definição, estamos longe de sermos independentes. Como indicaram as recentes decisões da Assembleia Geral das Nações Unidas, nós dependemos da visão positiva do mundo em todos os aspectos das nossas vidas: econômica, diplomática, acadêmica, cultural e até mesmo em defesa das nossas fronteiras.

Israel não é o único país que depende dos outros para a sua sobrevivência. Na verdade, nenhum país do planeta pode reivindicar independência. Em uma era de globalização, a autossuficiência é a fabricação de políticos e governantes com fome de poder que exibem a palavra diante da multidão durante as festividades de massa. Eles clamam: “Nós manteremos nossa independência e nossa soberania hoje, amanhã e depois”, quando na verdade nenhum país pode sobreviver sozinho, especialmente Israel, cujo direito de existir é questionado diariamente.

A resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU afirma que a atividade de colonização de Israel constitui uma “violação flagrante” do direito internacional e “não tem validade legal”. A resolução, que abre as portas a sanções econômicas, acadêmicas e outras contra Israel, indica que Israel não é tão independente como às vezes afirma ser. Se não fosse a eleição de Donald Trump como presidente, Israel estaria em uma posição internacional muito pior do que está hoje. Por enquanto, Israel recebeu um hiato da pressão internacional, mas, a menos que se mova na direção certa, a pressão voltará com vigor.

Unidade como Condição para a Soberania

Quando eu me refiro ao movimento na direção certa, estou me referindo à busca do papel pelo qual nos foi dada a soberania. Se nos conectarmos à nossa vocação, nos tornaremos realmente a nação favorita do mundo. Conectar-nos à nossa vocação significa viver como é exigido da nação israelense.

Apesar das constantes ameaças contra Israel, ele é o único país do mundo cujo futuro está nas suas próprias mãos. Nós fomos estabelecidos como uma nação com base na responsabilidade mútua e amor ao próximo. Fomos declarados uma nação somente depois que nos comprometemos a nos unir “como um só homem com um só coração”. A unidade era nosso lema e, enquanto podíamos manter um traço disso, conseguimos manter a soberania sobre a terra. Quando perdemos nossa união, fomos exilados da terra.

Ao longo dos séculos, nossos sábios estavam conscientes da importância da unidade. O Midrash (Tanhuma, Nitzavim) escreve sobre Israel: “Quando está escuro para vocês, a luz eterna está destinada a brilhar para vocês, como foi dito (Isaías 60):” E será para vocês uma luz eterna”. Quando? Quando todos forem um feixe, como foi dito (Deuteronômio 4), ‘Vocês estão vivos, cada um de vocês neste dia’. Claramente, se uma pessoa toma um feixe de juncos, ela pode quebrá-los imediatamente? Mas se tomar um de cada vez, até mesmo um bebê pode quebrá-los. Assim, você descobre que Israel não é redimido até que eles sejam todos um feixe”.

Os primeiros líderes do Estado de Israel também estavam conscientes da importância primordial da unidade para o jovem país. David Ben Gurion escreveu: “Ama o próximo como a ti mesmo” (Levítico, 19:18) é o mandamento superior no judaísmo. Com estas palavras, a lei humana e eterna do judaísmo foi formada … O Estado de Israel será digno de seu nome somente se sua estrutura social, econômica, política e judicial estiver baseada nestas palavras eternas”.

A.D. Gordon ecoou as palavras de Ben Gurion quando escreveu: “Todos os israelitas são responsáveis ​​uns pelos outros’… [e] somente onde as pessoas são responsáveis ​​umas pelas outras há Israel”. E finalmente, Eliezer Ben Yehuda, vivificador da língua hebraica, acrescentou: “Ainda temos que abrir os olhos e ver que só a unidade pode nos salvar. Somente se todos nos unirmos … para trabalhar em favor de toda a nação, nosso trabalho não será em vão”.

A Única Coisa que Precisamos Fazer

A unidade de Israel não é uma meta em si mesma. Nós tínhamos a intenção de ser a vanguarda, o líder, levando toda a humanidade à unidade. O mandamento de ser uma “luz para as nações” significa que devemos mostrar ao mundo o caminho para a unidade. O Livro do Zohar escreve (Aharei Mot): “Quão bom e agradável é que os irmãos também se sentam juntos”. … Vocês, os amigos que estão aqui, como estavam em carinho e amor antes, doravante também não se separarão … e por seu mérito haverá paz no mundo”.

Esse sentido do propósito judaico de corrigir o mundo permeou a mentalidade judaica ao longo dos tempos. O escritor e estadista alemão Johann Wolfgang von Goethe escreveu em Wilhelm Meisters Lehrjahre: “Todo judeu, por insignificante que seja, está empenhado em alguma busca decisiva e imediata de um objetivo”.

Sobre a busca desse objetivo, Martin Buber escreveu sobre o Estado de Israel: “Queremos o Estado de Israel não para os judeus; queremos para a humanidade. A construção da nova humanidade não ocorrerá sem o poder especial do judaísmo”. E o Rav Kook também acrescenta: “O propósito de Israel é unir o mundo inteiro em uma única família”.

Hoje, para onde quer que nos viremos, o mundo está nos culpando por alguma transgressão. A única coisa que precisamos fazer é se unir. Nossos sábios e nossas escrituras estavam certos; a paz mundial depende da nossa unidade, como o Sefat Emet escreve: “Os filhos de Israel se tornaram responsáveis ​​por corrigir o mundo inteiro”.

Acontece que nossa força e independência, e a força e independência do mundo, dependem inteiramente de nossa disposição de se unir. Se escolhermos a unidade, para transmiti-la ao mundo, veremos uma mudança dramática para melhor. Este será o princípio de sermos uma “luz para as nações”.

Se nos unimos, a onerosa interdependência que chamamos de “globalização” se transformará em apoio mútuo. Não precisamos ensinar as nações a se unir; só precisamos dar um exemplo disso.

O pastor francês Charles Wagner foi citado em O Livro dos Pensamentos Judaicos: “Israel deu à humanidade a categoria de santidade. Só Israel conheceu a sede da justiça social e a santidade interior que é a fonte da justiça”. Assim como agora quando estamos desunidos, as nações nos rejeitam, quando nos tornarmos um modelo de unidade elas nos abraçarão.

Portanto, este Dia da Independência, vamos finalmente começar a ser o que estamos destinados a ser. Vamos ser um país unido na responsabilidade mútua, cujo povo se empenha em amar a seus próximos como a si mesmo e deseja transmitir essa unidade ao mundo inteiro.

Feliz Dia da Independência a todos!

Publicado originalmente no Haaretz

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O Que Se Segue para a França?

Fendas na sociedade francesa estão a tornar-se mais difíceis de superar. A menos que tratadas como oportunidades para impulsionar a conexão, o crescente peso vai esmagá-los.

A sempre presente ameaça do terrorismo e as fendas na sociedade francesa a respeito da imigração, economia, o Frexit e outros problemas pesados estão a tornar as presentes eleições francesas excepcionalmente tensas. O resultado das votações vai influenciar não só a França, mas toda a Europa uma vez que a União Europeia vacila, luta para sobreviver. Apesar das tensões da UE, em prol de ter sucesso, o presidente recentemente eleito terá de dar preferência aos assuntos domésticos da França e alcançar aquilo que no presente parece impossível: a união do povo francês.

Foto: wikimedia.com, Licença: N/A2017-04-27

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O novo presidente indubitavelmente vai enfrentar feroz oposição, talvez semelhante a aquela que Donald Trump enfrenta nos EUA. Mas até se, ao contrário da América, a eleição seja decidida por uma grande maioria, o novo presidente ainda terá de lidar com enxames de imigrantes que inundam a França e tomam conta de Paris. Além de apresentar um grande risco de segurança e um desafio político e humanitário, a questão das relações com os imigrantes continuará a dividir o povo francês e a perturbar suas vidas.

Albert Einstein disse uma vez, “Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser solucionados no mesmo nível de pensamento em que nos encontrávamos quando os criámos.” Certamente, em prol de solucionar os problemas da França, o presidente francês e o povo francês terá de se elevar a um novo nível de pensamento: um nível abrangente e todo inclusivo onde todas as pessoas importam e todas as visões estão incluídas sob um guarda-chuva de união.

O novo nível de pensamento significa que as pessoas param de tentar persuadir infrutiferamente a todos que somente elas estão certas e todos os outros estão errados.

Em vez disso, as pessoas vão se unir acima das suas diferenças. Em termos simples, união acima das diferenças significa que aceitamos que todos temos visões diferentes, mas também aceitamos que a união do nosso país (neste caso da França) é mais importante que a predominância da minha visão pessoal. Portanto, cada um de nós diz para si mesmo, “Eu acredito naquilo que acredito mas há outras pessoas que acreditam diferentemente. Agora, vamos pegar em todas essas visões diferentes e utilizá-las para o benefício da sociedade inteira.”

Um Desafio Formidável, uma Chance para a Prosperidade

Tal como os diferentes órgãos no nosso corpo, nós somos diferentes de todas as maneiras.

No corpo, esta diversidade garante nossa saúde e nossa existência. Por exemplo, os pulmões e o fígado ambos lidam com o sangue que flui através deles. Todavia, se eles lidassem com o sangue do mesmo modo, não teríamos oxigénio ou teríamos sangue cheio de toxinas. Seja qual a opção, não sobreviveríamos. Pode não ser assim tão óbvio, mas a sociedade humana funciona muito como nossos corpos e cada pessoa nela é como um órgão único. Se uma pessoa obriga outra pessoa a agir ou a pensar do mesmo modo que a próxima, isso impede a pessoa oprimida de actuar segundo seu papel único e inflige danos na inteira sociedade humana.

No seu ensaio, “A Liberdade,” o grande comentador do Livro do Zohar, Rav Yehuda Ashlag, escreveu, “Qualquer um que extermine uma tendência de um indivíduo e a desenraize isso causa a perda desse sublime e maravilhoso conceito do mundo… Segundo isto aprendemos que terrível mal infligem essas nações que forçam seu reino sobre as minorias, as privando da liberdade sem lhes permitir viverem suas vidas segundo as tendências que elas herdaram dos seus antepassados. Elas são consideradas não mais nem menos que assassinas.”

O desafio formidável do próximo presidente francês será galvanizar partes claramente diferentes da sociedade francesa para trabalharem pelo benefício da nação inteira, tal como diferentes órgãos trabalham pelo benefício do corpo inteiro. Se tiver sucesso, a França se tornará uma poderosa nação e derradeiramente próspera. Se o novo presidente falhar em unir o povo francês, o país e sua sociedade se vão desmoronar. Tudo o que precisam de fazer é olhar para seu aliado da costa ocidental do Atlântico para verem quão difícil é para um presidente ter sucesso quando metade da nação se opõe a ele.

Tratar os Problemas do Modo que os Atletas Tratam os Pesos

O corpo humano não é o único exemplo de diferenças que se complementam. Toda a natureza é composta de opostos que se complementam uns aos outros: luz e trevas, quente e frio, macho e fêmea, vida e morte. O mesmo princípio se deve aplicar a uma vida social sana. Está escrito no livro Likutei Halachot (Regras Sortidas), “A essência da vitalidade, existência e correcção na criação é alcançada por pessoas de opiniões divergentes se misturarem juntas em amor, união e paz.” Os crescentes abismos das sociedades de hoje indicam que devemos intensificar nosso trabalho na união respectivamente.

Certamente, os problemas não são destinados a serem resolvidos, é suposto que eles sejam alavancas para maior coesão social. Escreveu Rav Kook no seu livro Cartas do Raiá, “A grande regra sobre a guerra das visões, quando cada visão vem para contradizer a próxima, é que não precisamos de a contradizer, mas em vez disso construir por cima dela e portanto nos elevar.”

Os franceses não precisam de ocultar os abismos na sociedade francesa. Em vez disso, eles devem preservar e acarinhar as várias facções na sociedade e usar aquilo que cada uma delas tem para oferecer pelo benefício da nação inteira. As diferenças entre o povo francês vão enriquecer, animar a sociedade francesa e acrescentarão cor ao país.

O líder futuro da França terá de manter dois níveis opostos um sobre o outro, divergências e diferenças até ao ponto do ódio, no fundo e por cima dele, uma camada de solidariedade e responsabilidade mútua. As tensões sociais não vão desaparecer. Pelo contrário, elas vão continuar a crescer e portanto permitirão e obrigarão os franceses a construirem pontes mais fortes entre eles. Deste modo, as diferenças entre as facções não serão revogadas ou suprimidas, mas em vez disso abraçadas como contribuintes para a diversidade e força de una sociedade francesa unida.

Em prol de construírem seus músculos, os atletas se forçam a levantar pesos cada vez mais pesados. Similarmente, as divergências dentro da sociedade francesa estão a tornar-se cada vez mais difíceis de superar. Se os franceses tratarem suas divergências como oportunidades para trabalharem sobre seus (músculos de) conexão, eles terão uma sociedade robusta e poderosa. Se eles desistirem e não tentarem levantar o peso crescente, ele vai indubitavelmente esmagá-los.

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O Holocausto da Memória à Premonição

Quanto mais nos odiamos, mais o mundo nos odeia. Se não vivemos à altura do nosso propósito, a humanidade não vê propósito para nossa vida.

Apenas há alguns anos atrás o Yom Ha’Shoá, Dia da Lembrança do Holocausto era um dia para lembrar que o impensável na realidade aconteceu, que seis milhões de homens, mulheres e crianças foram assassinados simplesmente porque eram judeus. Hoje, o Dia da Lembrança do Holocausto não é mais meramente um dia de pesar. Hoje, ele é um lembrete de que aquilo que aconteceu pode acontecer de novo. É um lembrete de que aquilo que aconteceu na Alemanha pode acontecer em qualquer outro país, de que a democracia não é vacina contra o antissemitismo e de que o liberalismo não se traduz em tolerância para os judeus. Enquanto os sinais de alerta que vimos antes da Segunda Guerra Mundial surgem de novo pelo mundo, não os devemos negligenciar. Devemos empregar o único remédio que alguma vez salvou os judeus da tragédia: a união do nosso povo.

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O crescimento alarmante do antissemitismo é perturbador, mas em si mesmo, ele não apresenta um perigo de outro Holocausto. Aquilo que apresenta um perigo de longe maior e actua como catalisador que pode desencadear tal cataclismo é uma espécie muito mais sinistra de antissemitismo: antissemitismo judaico.

O ódio pelos judeus, pogrons e assassinatos existiram na Europa do Leste durante séculos, mas os episódios mais traumáticos da história judaica tomaram lugar em países que eram aparentemente tolerantes para os judeus.
Nestes países, os judeus desfrutavam de níveis tão elevados de liberdade e respeito social que muitos deles começaram não só a abandonar sua herança, mas até a repugnarem. Está escrito no Midrash Rabá (Êxodo, 1:8) que nos Egipto, Faraó se virou contra os hebreus somente quando eles disseram, “Sejamos como os Egípcios.” O Primeiro Templo foi arruinado por três razões, duas das quais, derramamento de sangue e idolatria, envolveram o abandono de nossa herança e nos virarmos uns contra os outros. Os gregos não tiveram sequer de lutar contra os judeus em prol de conquistarem a Judeia pois os judeus helenistas lutaram contra seus correlegionários por eles. E finalmente, o Segundo Templo foi arruinado e nós fomos exilados por causa do ódio sem fundamento entre nós.

Até no exílio, os mais trágicos episódios de nossa história se revelaram quando tinhamos tanta liberdade que quisemos abandonar nossa identidade. A historiadora Jane Gerber escreve que na Espanha do século XV, a judiaria espanhola considerava Espanha a nova Jerusalém e acreditava que “a presença de tantos judeus e cristãos de ascendência judaica nos círculos internos da corte, municipalidades e até da igreja católica poderiam fornecer protecção e evitar o decreto” da expulsão. Eles estavam muito enganados. De facto, o inquisitor chefe, Tomás de Torquemada, era ele mesmo de descendência judaica.

Esse mesmo padrão se repetiu na Alemanha pré-holocausto. O historiador Werner Eugen Mosse escreve que desde a metade do século XIX, os judeus emancipados começaram a rejeitar sua herança. Eles denunciaram a circuncisão, mudaram o dia de repouso do sábado para o domingo e substituíram o Bar Mitsvá por um exame oral. Tal como os judeus espanhóis consideravam Espanha a nova Jerusalém, escreve o Prof. Donald Niewyk que “a vasta maioria dos judeus [alemães] era apaixonadamente comprometido à sua única pátria, a Alemanha.” Até quando o Partido Nazi apareceu em cena, muitos judeus não viram o perigo em iminência. A Associação Nacional de Judeus Alemães até apoiou e votou a favor de Hitler e do Partido Nazi.

Nos Estados Unidos da América, os judeus em massa estão a virar suas costas à sua herança e ao Estado Judeu. Numerosos judeus americanos apoiam activamente o movimento BDS e participam em eventos e discussões destinados a apoiar e avançar a eliminação do Estado de Israel. A maioria dos judeus casa com não-judeus e os judeus milenares preferem não estar afiliados ao judaísmo de todo. Se esta tendência não for invertida, não há sombra de dúvida que alguma forma de cataclismo vai cair sobre a comunidade judaica na América e não num futuro distante.

Como o Antissemitismo Judaico Instiga as Catástrofes Judaicas

A palavra hebraica Yechudi vem da palavra Yichudi, ou seja unido, explica o livro Yaarot Devash (Parte 2, 2º Drush). União tem sido o núcleo do judaísmo desde sua origem no pé do Monte Sinai. Nos diz o Midrash (Shemot 2:4) que o nome Sinai vem da palavra hebraica Sinaá, ou seja ódio. Os hebreus foram declarados uma nação somente quando circularam a montanha do ódio entre eles e se comprometeram a se unir “como um homem com um coração.” O Rei Salomão resumiu a essência do judaísmo com o versículo, “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Prov. 10:12).

Tal como escrevi em “Por Que as Pessoas Odeiam os Judeus,” por toda a linhagem que começou com Abraão, Isaac e Jacob, os hebreus lidaram com o ódio ao cobrirem seu ódio com amor. Eles não consideraram os conflitos como crises, mas em vez disso como oportunidades para aumentarem seu amor de uns pelos outros. O Livro do Zohar (Beshalách) escreve sobre isso, “Todas as guerras na Torá são pela paz e pelo amor.”

Imediatamente após se comprometerem a se unirem “como um homem com um coração,” os judeus foram ordenados a ser “uma luz para as nações.” Sua união única, aumentada pelo ódio coberto de amor, era destinada aos tempos em que a escuridão do ódio preenche o mundo e que ele precisa do remédio da união. É por isso que cada vez que o ódio prevalece e a guerra irrompe, os judeus são acusados de a causarem. Os judeus também podem ser usados como bodes espiatórios para os governantes culparem pelos seus próprios fracassos, mas a acusação dos judeus como causadores clandestinos da guerra funciona muito bem porque isso reflecte os sentimentos genuinos das pessoas pelos judeus, até quando o politicamente correcto inibe sua expressão aberta.

O judaísmo é a única religião cuja fundação é puramente ideológica. Os fundadores da nação judia não tinham qualquer afiliação de uns pelos outros e vieram de todo o Crescente Fértil. Como elaborei em “Quem É Você Povo de Israel,” ele se juntaram a Abraão porque subscreviam a ideia de que uma sociedade próspera não se consegue sustentar ao suprimir os conflitos e o ódio, mas ao cultivar uma união que é mais forte que o ódio. Este é o sentido das palavras do Rei Salomão, “Amor cobre todos os crimes” e é por isso que o Zohar afirma que as guerras na Torá se tratam de paz e amor.

Quando Abraão percebeu que cobrir o ódio com amor é o antídoto para o ódio, ele compartilhou-o tanto quanto conseguiu com seus conterrâneos de Ur dos Caldeus. Enquanto deambulava para Canaã, ele continuou a divulgar sua mensagem e a reunir apoiantes. Moisés, escreve o Ramchal no seu comentário sobre a Torá, queria continuar os passos de Abraão e libertar o mundo do ódio, mas porque as pessoas eram ainda incapazes de perceber a sua noção e a seguir, ele não teve sucesso. Ainda assim, ele formou uma nação cuja tarefa era cultivar o método de união acima do ódio até que o mundo estivesse disposto e capaz para o adoptar. Essa nação foi chamada Yechudim (judeus), da palavra Yichudi (unido). Respectivamente, quando um gentio questionou a Hilel o ancião como ele se poderia tornar judeu, Hilel respondeu simplesmente, “Aquilo que odeias, não faças ao teu próximo; isto é toda a Torá.” (Talmude, Maséchet Shabat 31a) e Rabi Akiva disse, “Ama teu próximo como a ti mesmo; esta é a grande regra da Torá” (Talmude de Jerusalém, Nedarim, 30b).

Enquanto os judeus se atrasarem em levar a cabo sua tarefa de compartilhar o método da união e portanto serem “uma luz para as nações,” as nações vão odiá-los. Quando eles sucumbem ao ódio e se começam a odiar uns aos outros, as nações os empurram sem misericórdia uns para os outros. Nós chamamos a isto antissemitismo, mas na realidade é a raiva das nações pelos judeus por abandonarem o caminho da união e negarem seu método do mundo. Em 1929, o Dr. Kurt Fleischer, líder dos liberalistas na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, exprimiu sucintamente que a atitude das nações para os judeus quando disse, “O antissemitismo é o flagelo que Deus nos enviou em prol de nos conduzir juntos e nos manter juntos.” Se ao menos os judeus tivessem agido segundo essa percepção…

A Hora de Agir

Muito recentemente, cerca de 575 “Estudantes judeus de liceus americanos evocaram a Birthright Israel para tomar uma posição contra a nova lei de Israel que impede que os apoiantes do boicote de entrarem no país.” A jornalista e ensaísta Tuvia Tenenbom descreveu que esse mesmo espírito anti-Israel numa entrevista televisionada no Algemeiner após visitar as comunidades judaicas por todos os EUA. “Estado após estado, templo após templo, aquilo que vi e aquilo que testemunhei foi um pesadelo,” diz Tenenbom. “Você vê rabinos, ou supostos rabinos, líderes ou supostos líderes, de pé no pódio e tudo aquilo que conseguem dizer para seus espectadores é que Israel é um estado apartheid e que o judaísmo é racismo. É isso que eles pregam, repetidas vezes.”

Tal espírito de ódio interno dentro de nossa nação indubitavelmente vai instigar outro cataclismo sobre os judeus. Ele não será causado por esta ou por aquela afiliação política. Todas as visões políticas são por definição falsas e erradas enquanto instigarem a separação entre os judeus.

Nossa única tarefa neste mundo é nos unirmos acima das nossas diferenças e portanto sermos “uma luz para as nações.” Nos são apresentadas disputas não para debater quem tem razão, mas para mostrar ao mundo que a solução para todas as fricções reside em nos elevarmos acima delas com união, em cultivar uma fraternidade que seja mais forte que o ódio e portanto fundir uma sociedade sólida e próspera. Enquanto não dermos este exemplo, as nações nos vão odiar. Quanto mais nos odiarmos, mais elas nos vão querer eliminar. Segundo a visão delas, se nós não vivemos à altura do nosso propósito, não há propósito para estarmos vivos.

Se queremos impedir outro holocausto, devemos nos elevar acima de nossas diferenças e nos unirmos tal como fizeram nossos antepassados quando subiram o Monte do Ódio (Sinai). Nossa mensagem para o mundo no Yom ha’Shoá deveria ser que “Nunca mais” significaria que jamais odiaremos novamente nossos próprios irmãos.

Está escrito no Livro do Zohar, a porção Aharei Mot, “Vêde, quão bom e quão agradável é quando os irmãos se sentam juntos. Estes são os amigos quando se sentam juntos, inicialmente, eles parecem pessoas em guerra, desejando se matar uns aos outros. Depois, eles retornam a estar em amor fraterno. Doravante, também vós não vos separais … E pelo vosso mérito haverá a paz no mundo.”

Se os judeus viverem à altura das palavras de nossos sábios e se unirem acima das nossas diferenças, não só vamos dispersar as nuvens de tempestade reunidas sobre nossa nação, mas também vamos expulsar o espírito agressivo que toma posse do mundo nos nossos dias. Se queremos prevenir outra guerra mundial e outro holocausto, devemos ser “uma luz para as nações,” acima das nossas diferenças e nos tornarmos um exemplo de fraternidade acima do ódio.

Publicado originalmente no Haaretz 

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Trump deve iniciar a próxima etapa da Política de ‘América Primeiro

Os últimos ataques terroristas provam que o Presidente Trump está no topo das coisas. Mas se ele quer fazer a América grande outra vez, ele terá que implementar a próxima fase da “América Primeiro” e unir os “Estados Unidos”.

Presidente Americano Donald Trump dá um discurso sobre os ataques de mísseis numa base aérea síria, no seu estado Mar-a-Lago em West Palm Beach, Flórida, EUA, 6 de Abril, 2017. . (foto:REUTERS)

Apesar da controvérsia sobre se o presidente Donald Trump deveria ter consultado o Congresso antes de lançar o ataque de mísseis, em 07 de abril, sobre a base aérea da síria denominada “Shayrat Airbase”, de cujos aviões aparentemente foram lançadas as bombas de gás sarin, contra civis, apenas três dias antes, o sentimento geral é que era necessária uma resposta militar.

Dois meses atrás, Carl Bildt, ex-PM sueco, zombou do presidente Trump imputando-lhe responsabilidade no ataque terrorista que houve na Suécia perpetrado por imigrantes. O sr. Bildt tuitou, “Suécia? Ataque terrorista? O que ele tem fumado”? Dois meses mais tarde, o primeiro-ministro sueco atual declarou que a Suécia ‘nunca voltará’ aos dias de migração em massa, depois que um imigrante ilegal matou quatro pessoas e feriu 15 em um ataque, batendo um caminhão no centro de Estocolmo .

Depois de meses de escárnio pelas declarações de Trump que a administração Obama espionara-o e seus conselheiros, antes da eleição, Eli Lake da Bloomberg revelou que Susan Rice, ex-conselheira de segurança nacional de Barack Obama, fez precisamente isso. A meu ver, o presidente Trump tem provado que, no mínimo, ele merece uma chance de liderar o país, como o ex-vice-presidente Joe Biden coloca no mês passado.

Onde ir a partir daqui

Apesar dos esforços persistentes de nomes como CNN e The New York Times para desacreditar o presidente Trump, e apesar de indivíduos maduros dentro do GOP, que parecem agir como uma quinta coluna, Trump deve prosseguir com sua agenda e elevar a América para o próximo nível. E, por “próximo nível”, quero dizer consolidar, unir e fundir a sociedade americana em um todo coeso. Como presidente dos Estados Unidos, esta é a sua principal obrigação para o povo americano, e nada que ele possa fazer vai ganhar-lhe mais respeito aos olhos do povo americano.

A era Obama foi um dos períodos mais divisivos que os EUA viu desde o fim da II Guerra Mundial, se não mais. As fendas que Donald Trump expos, por sua própria eleição, estiveram em formação durante décadas. Trump não criou-as, mas sua eleição trouxe-as à superfície. Em toda a sociedade norte-americana, a marginalização acelerada está ocorrendo, e o centro está rapidamente encolhendo em ambos os lados do mapa político. Trump chegou ao poder com o que poderia ser a última chance da América para reunir-se em uma sociedade com uma agenda comum, objetivos comuns e consenso sobre o que é bom para a América. Caso ele falhe, o próximo presidente pode ter que enfrentar problemas tais como estados declarando a independência política do governo central, confrontos desenfreados e entre a polícia e civis, e outros problemas mais característicos de países do Terceiro Mundo, do que do líder do mundo livre.

O fato de que Trump foi eleito prova que, apesar das tentativas da mídia para retratar uma imagem diferente, o povo americano está em grande parte atrás dele. Assim como ele passou sobre a mídia e dirigiu-se ao povo americano diretamente, durante a eleição, como presidente, ele pode fazer isso ainda mais eficazmente. Passos como o fornecer a “faculdades e universidades para negros um impulso há muito aguardado, como ele intenciona, para superar seus antecessores, incluindo o primeiro presidente Afro-Americano da nação”, pode ganhar-lhe pontos e são um passo na direção certa. No entanto, se eles não fazem parte de toda uma estratégia de conexão, não produzirão o resultado desejado.

Um dos principais ativos do presidente é a sua abordagem empresarial para a governança. Ele está disposto a fazer alterações tanto na política e como no pessoal. Como este é o caso, eu sugiro que Trump olhe para a montagem de seu gabinete, alocando pessoas que estão comprometidas com a conexão da totalidade do povo americano, ao invés de promover uma agenda política ou setorial específica.

Os desafios atuais da sociedade americana são realmente pesados, mas uma abordagem proativa pode fazer maravilhas. O governo não deve considerar problemas como crises isoladas, mas sim como indicadores de desunião na sociedade. As tensões entre a polícia e as comunidades afro-americanas, questões LGBT, o crescimento de lacunas econômicas, e a classe média encolhendo, tudo destaca a falta de responsabilidade mútua e da ausência de um sentido de inter-relação e interdependência na sociedade. O modo de trabalho deve ser semelhante ao de uma família saudável: Tem que priorizar, mas sem deixar os membros da família para trás. Se Trump olhar o povo americano da forma como uma família saudável trata todos os seus membros, não há dúvida de que América será grande novamente.

Trump pode estabelecer um precedente único

Há um outro elemento que o presidente deve tentar utilizar. Tal como acontece com qualquer administração nas últimas décadas, a de Donald Trump está repleta de judeus em posições-chave. É uma crença comum de que os judeus usam o poder financeiro para pavimentar seu caminho para os níveis mais altos da administração. No entanto, ver seu sucesso como um mero resultado de riqueza, perde a força chave dos judeus. Judeus estão no topo, principalmente porque são grandes conectores, tornando-os figuras-chave no funcionamento de todo o sistema. De muitas maneiras, os judeus são como peças centrais, mediadores que ajudam a conectar as pessoas, a fim de produzir o resultado desejado. O problema é que cada administração usa os judeus, a fim de promover a sua própria agenda. Trump criará um precedente se usa-los a fim de promover uma agenda de unidade entre todos os americanos. Todo mundo vai beneficiar-se com isso.

Há uma boa razão pela qual os judeus se destacam em conectar pessoas. O povo judeu é a única nação do mundo que tem um aniversário oficial. De acordo com a Torá, no dia 6 do mês hebraico de Sivan, no ano de 2488 no calendário hebraico (1272 aC), o povo judeu foi marcado, tendo cumprido o pré-requisito de comprometer-se a unir-se “como um homem com um coração. ”de agora em diante, a ascensão e queda do povo judeu dependerá de seu nível de adesão ao princípio da unidade.

Durante séculos, os judeus sofreram inúmeras disputas e conflitos internos. Eles os superaram por meio da aplicação da lei que o rei Salomão sucintamente formulou, “O ódio suscita contendas, e o amor cobre todos os crimes” (Pv 10:12). Em algum momento, por volta do início da Era Comum, eles perderam a capacidade de superar seu partidarismo e desunião. Em consequência, a alienação entre eles evoluiu para tal ódio que trouxe sobre eles o exílio da terra de Israel e a ruína do Templo.

Os Judeus permaneceram especialistas em conexão, mas porque não queriam mais conectar-se à nação “como um homem com um só coração”, eles usaram a habilidade que tinham afiado durante séculos para promover apenas os interesses de seu próprio círculo social. Desde que o sucesso político exige boas ligações, a fim de pavimentar o caminho para o topo, os políticos sempre mantiveram vários judeus próximos como conselheiros. A posição tem mesmo o seu, título pejorativo oficial: “Tribunal judeu”. Embora mais frequentemente vinculados a empréstimos de dinheiro e bancário, o termo também tem muito a ver com política. Apenas recentemente, Jonathan Levi do “Forward Magazine” perguntou, “É um Tribunal judeu” do Reino de Donald Trump?” Claramente, não é do dinheiro de Kushner que o presidente Trump precisa. O Presidente sente que precisa de Kushner precisamente onde ele o tem, como um “assessor”.

Fazendo a América Grande Novamente

Se Trump realmente quer cumprir sua promessa de fazer a América grande de novo, ele terá que tomar uma abordagem diferente de todos os seus antecessores. Isso também deve exigir que os judeus façam seu trabalho de administração de forma diferente de todas as administrações anteriores. Para tornar a América grande, ela deve ser uma nação unida. Trump precisa exigir que os judeus facilitem conexões e relacionamentos entre si, em ambos os lados do mapa político, e, posteriormente, estendam essa amizade para o resto do povo americano.

Se os judeus, que estão em posições-chave em ambos os lados do mapa, estabelecerem a confiança e responsabilidade mútua entre si, será muito mais fácil para o Presidente conciliar com o Partido Democrata e estabelecer um governo que conte com o total apoio do Congresso. Quanto mais tempo Trump esperar, mais difícil será para ele operar. Forças divisionistas, como Barack Obama, John McCain, e Bernie Sanders crescerão mais forte por meio da tendência inexorável de meios de comunicação neoliberais, que abrangem quase todos os principais meios de comunicação, incluindo, até certo ponto, Fox News.

Quase sempre, os conselheiros sugerem a um governante que caminho percorrer e que táticas abraçar em qualquer situação. Mas Donald Trump não é um presidente comum. Como empresário, ele entende que, a fim de ver os resultados, as coisas precisam ser feitas. Ele é um líder e irá determinar de que maneira ele quer a ajuda dos seus conselheiros. Se ele é inteligente, ele vai dizer-lhes que ele quer que eles elaborem um roteiro que conduz do partidarismo atual para a confiança, cooperação e eventual coesão da sociedade americana e do establishment político.

Isso fará com que a América não seja apenas grande, mas também um modelo para todas as outras nações, “uma luz para as nações”, se vocês quiserem. A implementação de um plano desta natureza irá inverter a trajetória mundial negativa e garantirá o nosso futuro, dos nossos filhos e dos filhos dos nossos filhos.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Meu Primeiro Pessach Com Rabash

Pessach é o feriado mais Cabalístico. Tudo o que foi escrito sobre ele fala sobre o trabalho espiritual pessoal de uma pessoa, e isso eu senti. Dois meses depois que encontrei meu professor, o Rabash, começou o feriado de Pessach. Eu vi pela primeira vez como homens sérios, que passaram por este feriado 50, 60 ou mais vezes durante suas vidas, ficavam animados com os preparativos para o feriado.

Minha emoção interior foi transmitida a eles. Eu estava entre indivíduos que eram pilares centrais, metade delas tinha estudado com Baal HaSulam, e eu, um aluno iniciante, não entendia nada. Eu queria agradá-los de alguma forma, então imediatamente perguntei como seria possível ajudar. Eles disseram que o forno para assar os Matzot não tinha sido preparado, e para eles isso era o principal. Eu trouxe um grande compressor, ligado ao forno, limpei todos os queimadores com ar comprimido e, em seguida, limpei-o com uma escova de ferro. Eles o acenderam e ficaram satisfeitos. Mas ele era pequeno porque os tijolos nos quais os Matzot eram cozidos não eram mais utilizáveis. Eu trouxe um especialista de uma fábrica perto de Haifa que tinha fornos muito grandes. Ele aconselhou encontrar boas pedras.

Depois disso, eu descobri que, embora eu entendesse as leis de Pessach, eles tinham suas próprias leis, uma grande quantidade de suplementos, restrições e muitas restrições convencionais que me surpreenderam. Disseram-me que “isto é o que eles fazem e isso é tudo”. Em geral, eles não perguntavam sobre elas, mas apenas as realizavam. Tudo era derivado de Pessach incorporando a saída de uma pessoa de seu ego. Além disso, isso era uma saída absoluta, desapego e ascensão ao mundo superior! Você se separa e voa para outro mundo! Assim, todas as leis são construídas com base em condições muito rigorosas. Eu fui compelido a arrancar isso deles e descobrir.

Eles não queriam me dizer nada para que eu não tornasse a vida em casa difícil. Eles imediatamente me disseram que os novos alunos sempre se sobrecarregavam e, em seguida, “se queimavam” por causa disso. Mas, apesar de tudo, eu esclareci todas essas leis. Compreensivelmente, em casa, eu não agi assim; era impossível, especialmente com uma esposa e crianças pequenas. Em particular, porque eu pretendia passar as férias em Bnei Brak com os alunos de Rabash, queria sentir tudo profundamente, porque eles seguiam as instruções de Baal HaSulam, e ele era rigoroso sobre limitações muito severas.

Meu mestre, Rav Baruch Shalom Ashlag, convidou-me para uma refeição e assim eu vi como Pessach foi organizada por ele. Depois de cada refeição, ele jogava o prato, colher e garfo em um balde. Tudo isso permaneceria ali até o final de Pessach e não seria lavado, porque se uma migalha de Matzo tocasse na água, Chametz seria criado. Assim, eles lavavam os pratos apenas após o feriado e os mantinham até o próximo feriado. Na hora da refeição, Rabash me sentava ao seu lado, mas eu sentia que tudo o que estava ao meu redor era uma área proibida de entrar, uma espécie de cerca. Os utensílios com que eu comia também eram colocados em um balde separado. Eu não me sentia em oposição a isso; eu entendia que essa era a lei.

Este seria o meu conhecimento com o feriado de Pessach. Para ser honesto, eu “copiei” todos os seus costumes e os utilizei. Antes de Pessach havia muito trabalho. Naqueles dias só eu tinha um carro, então eu viajava com Rabash para o mercado para comprar café para Pessach, pratos, e assim por diante. Além disso, ele recolhia dinheiro para Pessach o ano todo, e antes do feriado viajava para todos os tipos de lugares e verificava o que tinha para comprar: panelas, baldes, pratos e copos. Tudo era muito simples. Ele adorava aço inoxidável e vidro porque estavam limpos, e não estava familiarizado com e não queria utensílios de plástico. Também eram comprados moedores de carne e peixe, que também precisavam ser sem peças de plástico. Em nosso tempo, é muito difícil encontrar moedores de carne sem peças de plástico.

Pergunta: Você não tinha a sensação de que todas essas leis eram excessivas?

Resposta: Não, eu simplesmente sabia que o nosso mundo consiste em ramos que vêm de raízes espirituais, pertencentes ao desejo egoísta. Portanto, eles são completamente cortados e não utilizados em Pessach, e se são usados, é de forma limitada. Suponhamos que fosse possível usar madeira, mas não era permitido cozinhar nela porque absorve tudo o que é cozido nela. Geralmente, existem milhares de restrições diferentes. Por exemplo, os ovos devem ser cozinhados desde o início para o feriado inteiro, tomates, pepinos e alho não são comidos. Em suma, além de carne e batatas, na verdade não havia nada. Era possível usar apenas sal do Mar Morto. Naturalmente, preparávamos pimenta para nós mesmos. Comprávamos café verde, o separávamos, depois cozinhávamos, moíamos, e só então o bebíamos. Durante a triagem, examinávamos todos os grãos para que não houvesse vestígios de vermes. Este era um trabalho muito difícil.

Pergunta: Rabash via como era difícil para você escolher o café?

Resposta: Sim. Uma vez ele viu que eu não era mais capaz de continuar, pegou um grão e disse: “Eu sento e examino os grãos porque quero que este grão seja limpo e bom, e dele o professor possa beber café”. Foi uma lição muito difícil! Mas eu não estava pronto para me envolver com isso por muito tempo! Um minuto depois o choque de suas palavras passou, e eu novamente não podia me obrigar a continuar! Estes não eram obstáculos físicos. Se você tomar uma pessoa do lado de fora, ou eu, especialmente naqueles anos em que tinha acabado de chegar em Israel, e dizer: “Escolha o café e você receberá dinheiro em troca”, eu teria feito isso corretamente e bem. Mas isso foi feito aqui para servir ao meu professor que eu achava ótimo, e especificamente por causa disso, era tão difícil.

Comentário: Além disso, Pessach é um feriado profundamente interno que indica desapego do ego.

Resposta: A ideia é que isso é algo que deve ser sentido. Eu era jovem, e também no segundo e terceiro ano isso ainda não tinha sido internalizado; houve resistência, uma pessoa não quer ouvir ou entender, mesmo que lhe seja dito. É assim que muitos anos se passam até que a pessoa, sob a influência da Luz, comece a ouvir. Pequenas doses de Luz durante muito tempo influenciam você e você gradualmente começa a entender tudo. É impossível exigir isso de um novo aluno. No início, quando ele ainda está animado, pode sentar e estudar de manhã à noite. Mas eu não era assim. Desde o início eu era rígido, egoísta e muito resistente.

Comentário: Apesar de tudo, este é um feriado interno com esforços para chegar à acomodação externa! Você limpou o lugar, pensou e trabalhou com seu ego!

Resposta: Não. Quando você executa todas essas atividades, sente o quanto elas são repugnantes para você e quanto são contra o seu ego. Pessach é a encarnação de um primeiro exame especial: ascensão acima do ego a partir da qual começa toda ascensão espiritual. Uma pessoa sente, em contraste, que quando se envolve em Tefillin, envolve-se em um Tallit, e executa outras Mitzvot físicas (mandamentos) em nosso mundo, não sente nada. Essa é uma Luz que é muito alta, um nível elevado.

Quando você sabe claramente que isso é Cabalá, isso é doação, é possível até certo ponto entender, sentir algo. Isso é muito tangível porque com cada ação que você realiza, é uma ação muito simples, você está desprendendo o ego de si mesmo. Portanto, na mesma medida em que você quer levar tudo para fora, você realmente quer separar o ego de si mesmo. Você veste cada ação física com uma intenção espiritual. Mesmo que não tenha nenhuma relevância para as ações físicas, você a anexa. Ações como esta são a encarnação de um sinal de intenção espiritual. Portanto, é tão importante e próxima de nós.

Comentário: Eu tenho a sensação de que nas lições você está transmitindo o material sobre Pessach através de você! Você nem sequer nos permite conversar uns com os outros para que possamos ler e transmitir isso através de nós.

Resposta: Em primeiro lugar, não há tempo suficiente e você também precisa absorver e preparar isso, até mesmo “engolir” sem mastigar. É por isso que estou com pressa.

Pergunta: Quando começam os sete anos de fome? Quando o grito aparece em uma pessoa, “Salve-nos e tire-nos daqui!”?

Resposta: É quando uma pessoa sente que trabalhar em si mesmo é inútil. Mas não é inútil porque é especificamente isso que a leva a um reconhecimento e compreensão de sua incapacidade de ter sucesso com seus esforços e que ela realmente precisa de ajuda através do grupo. Mas é necessário ver tudo isso! A principal coisa é conectar toda a cadeia em uma pessoa: De que maneira ela deve realizar o trabalho sobre o ego, como é a sua forma alterada, quais mudanças de forma ela está passando e de que maneira, onde Pessach começa e onde acaba, e o que acontece depois de Pessach? Isto é, “Pessach” é o desapego do chão e a partida para uma dimensão superior. Esse é um nível de transição para o mundo espiritual que o mundo implementa ao viver aqui junto conosco nesta Terra.

Pergunta: Você sentia o trabalho interno de Rabash?

Resposta: Com muita dificuldade, com muita tensão interna. Já não viajámos para o mar, ou um parque, em nenhum lugar. Tínhamos apenas uma tarefa: preparar os utensílios para comer. Para isso viajávamos para o mar, eu fui para a água, embora fosse muito frio (por vezes, quase nevava em Pessach) e lá eu mergulhava os utensílios de comer. Rabash não estava realmente certo de uma Mikvah, ele costumava dizer: “Não há questões sobre o mar”. O mar é a água que está completamente pronta para a imersão de pratos tradicionais.

Pergunta: Então para que os pratos eram preparados?

Resposta: A água em si simboliza Ohr Hassadim, que purifica todos os tipos de Kelim. Nós imergimos todos os pratos na água, aqueles de que comemos e também aqueles com os quais comemos. A imersão, por si só, simboliza sua purificação do ego.

Pergunta: Rabash estava com medo de comer algo que não era kosher para Pessach?

Resposta: Quando cheguei a ele, entre seus alunos havia três homens idosos com sérios problemas com os dentes, como aqueles com dentes postiços, o irmão mais novo de Rabash, e Moshe Gebelstein com quem eu tinha estudado nos primeiros meses. Eu lhes sugeri que eu poderia preparar novos dentes falsos para eles. Eles estavam tão felizes que em Pessach eles teriam dentes postiços completamente novos. Então Rabash me disse, como ele perdeu os dentes em uma idade muito jovem, isso aconteceu em Pessach.

No Shabat era costume comer peixe, assim que na sexta-feira, Rabash junto com seu estudante Krakovsky, o americano, viajou de Jerusalem a Jericó, um lugar onde era possível comprar peixes. Quando chegaram lá, compraram peixe e, no caminho de volta, ficou claro que seu carro tinha quebrado e foram obrigados a permanecer para o Shabat com os árabes em uma espécie de caravana, uma barraca.

Em Jerusalém, rumores assustadores se espalharam sobre onde eles poderiam ser encontrados e se perguntavam onde eles estavam! O que aconteceu com eles?! Havia conversa sobre a perda da família de um Rav e seus alunos! Enquanto isso, eles estavam sentados em Jericó e não podiam sair de lá e não podiam se comunicar porque era há muitos anos, por volta de 1935. Eles ficaram sem comida. Era Pessach e não havia nada para comer. Num canto havia sacos de limões e essa era a única coisa que era possível comer.

Rabash disse que os limões que ele comeu eram doces. Depois disso, seus dentes começaram a doer, o esmalte começou a rachar. A proibição de comer comida que não era kosher era tão forte! Além disso, este era um Shabat onde havia uma verdadeira limitação em tudo, era impossível arrancar qualquer coisa de uma árvore, era impossível fazer qualquer coisa. Rabash me contou sobre isso quando eu estava preparando dentes falsos para ele. Em Pessach eles também estavam acostumados a trazer sal do Mar Morto, então não havia mais nenhum outro sal. Há uma montanha especial lá de que era possível obter sal relativamente limpo.

Comentário: Você disse que, às vezes, quando olhava para o Rabash, sentia que ele estava passando por terríveis estados.

Resposta: Ele era muito fechado; portanto, de fato, era impossível ver qualquer coisa. Eu já o conhecia há muitos anos, e apesar de tudo, era impossível determinar os estados espirituais do homem. Nós sentimos os estados físicos porque nos encontramos neles. Portanto, analogamente, é possível saber e sentir em que estado uma pessoa se encontra. Mas em relação aos estados espirituais, não há como.

Pergunta: O que Pessach simboliza para uma pessoa?

Resposta: Essa é uma questão pessoal para uma pessoa. Mas Pessach que celebramos, para aqueles de nós que querem se separar do ego físico e começar a trabalhar no mundo espiritual, é o primeiro sistema de comunicação entre nós e o Criador. Nós queremos sentir o mundo espiritual, suas ações, suas características, sua influência sobre nós, suas respostas a nossa influência, ou seja, todo o sistema da criação, o Criador por um lado, e por outro lado, nós mesmos através deste sistema. Pessach simboliza a transição em que deixamos (passar) de um estado de desapego do Criador para um estado de consciência e contato com Ele.

Pergunta: Isso significa que deixamos de lado tudo o que temos, inteligência, lógica, e assim por diante?

Resposta: Naturalmente, isso é resultado da influência da Luz. Não é necessário esmiuçar sutilmente; a Luz simplesmente influencia a pessoa e a pessoa se torna diferente.

Pergunta: O que é esse desejo dentro de mim de ir para o mundo superior? O que é esse grito dentro de mim, a própria saída?

Resposta: Isso é dado. É dado a uma pessoa quando ela trabalha em si mesma e ascende com a ajuda de suas forças e meios internos.

Do programa do Kab.TV “Notícias com Michael Laitman” 04/04/17

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Trinta E Cinco Séculos Mais Tarde, Ainda É Faraó Versus Moisés

De governantes do Egito nos tornamos seus escravos porque não queríamos ser judeus – unidos acima ódio.

Foto: Wikimedia Commons, Licença: N/A2017-04-09

Judeus cruzam o Mar Vermelho perseguidos por Faraó. Fresco da Sinagoga Dura Europos Foto: Wikimedia Commons

A história da libertação dos hebreus da escravidão tem capturado a imaginação de milhões de pessoas através da história. O Êxodo chegou a encarnar a luta do homem pela liberdade da opressão e injustiça. Mas há algo estranho no Êxodo: A Torá ordena que todos nós vejamos cada dia como se tivéssemos acabado de sair do Egito. Porque essa história é tão importante? Pode ser que debaixo do conto épico exista um significado mais profundo, enigmático?

Se olharmos para os textos dos nossos sábios ao longo dos tempos, na verdade vamos descobrir que o Êxodo do Egito detalha um processo que nós, como judeus, passamos, estamos passando novamente hoje, e que afeta a vida dos judeus e não-judeus no mundo inteiro. Se entendermos este processo melhor, vamos encontrar respostas para muitas das perguntas urgentes de hoje para os judeus: tais como a essência do judaísmo e por que há antissemitismo.

O Segredo de Abraão

Quando os irmãos de José foram para o Egito, eles tinham a melhor vida que alguém poderia imaginar. Com a bênção de Faraó, José era o governante de fato do Egito. “Tu estarás sobre a minha casa, e de acordo com o seu comando todo o meu povo fará homenagem”, disse Faraó a José. “Vê, eu tenho te constituído sobre toda a terra do Egito. …Eu sou o Faraó, ainda sem a tua permissão, ninguém levantará a mão ou o pé em toda a terra do Egito “(Gn 41: 40-44).

Sob a liderança de José, o Egito não só se tornou uma superpotência, mas também fez suas nações vizinhas escravas do Faraó, tomando seu dinheiro, terras e rebanhos (Gn 47: 14-19). No entanto, os principais beneficiários do sucesso do Egito foram os hebreus. Sabendo a quem ele devia sua riqueza e poder, disse o Faraó a José: “A terra do Egito está à sua disposição; instala seu pai e seus irmãos no melhor da terra, deixa-os viver na terra de Goshen [A parte mais rica, mais exuberante do Egito], e se você conhece alguns homens capazes entre eles, coloca-os no comando do meu gado” (Gn 47:6).

O segredo do sucesso de José foi sua linhagem. Três gerações antes, seu bisavô, Abraão, viu seus habitantes da cidade de Ur dos Caldeus perder sua estabilidade social devido ao ódio crescente entre seu povo. Em toda a antiga Babilônia, as pessoas estavam se tornando cada vez mais egocêntricas e alienadas umas das outras. Isso se manifestou de forma mais evidente nos esforços para construir a ambiciosa torre de Babel. O livro Pirkei de Rabbi Eliezer descreve como os construtores da torre de Babel “empurram para cima os tijolos [para construir a torre] a partir do leste, depois, desciam pelo oeste. Se um homem caísse e morresse, eles não lhe prestariam qualquer atenção. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam e se lamentariam, ‘Ai de nós; quando outro virá em seu lugar?’” Finalmente, o livro continua, os Babilônios “queriam falar um com o outro, mas não sabiam a língua do outro. O que fizeram? Cada um pegou sua espada e eles lutaram entre si até a morte. Na verdade, metade do mundo foi morto lá, e de lá eles se dispersaram por todo o mundo”.

Atormentado, Abraão refletiu sobre a situação dos seus conterrâneos e percebeu que a intensificação do egoísmo não poderia ser interrompida. Para superá-lo, ele sugeriu a seus conterrâneos aumentar a coesão de sua sociedade em sincronia com o crescimento do ego. No Mishneh Torah (Capítulo 1), Maimônides descreve isso com Abraão começando “a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus”.

O sucesso de Abraão chamou a atenção do rei da Babilônia, Nimrod, quem, de acordo com o Midrash (Bereshit Rabá 38:13) confrontou Abraão e tentou provar que ele estava errado. Quando o rei Nimrod falhou, expulsou Abraão da Babilônia. Conforme o expatriado vagou rumo à futura Terra de Israel, continuou a dizer às pessoas sobre sua descoberta e a juntar seguidores e discípulos. De acordo com a Mishneh Torah de Maimônides (‘Regras de Idolatria’, Capítulo 1:3), “milhares e dezenas de milhares reuniram-se em torno de Abraão. Ele estabeleceu esse princípio [da unidade como um antídoto para o egoísmo] em seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho Isaque. Isaque sentou-se e ensinou e informou Jacó, e designou-lhe um professor, para sentar e ensinar … E Jacó nosso Pai ensinou a todos os seus filhos”. No momento em que José chegou, ele tinha um método bem estabelecido para fomentar a estabilidade social e prosperidade através da unidade em face do crescente egoísmo e alienação.

Como As Tábuas Se Voltaram Contra Nós

Como vimos acima, o Faraó apoiou a unidade dos hebreus. Ele deu-lhe o melhor da terra do Egito exclusivamente para eles cultivarem a sua forma única de viver –incrementando continuamente a união – não só ininterrupta, mas com o seu total apoio. No final, aquela união única tornou-se a essência do judaísmo. Como o livro Yaarot Devashi (Parte 2 Drush no. 2) nos diz, a palavra “Yehudi” (judeu) vem da palavra “yihudi“, ou seja, unido.

Os problemas começaram quando José morreu. O Faraó, diz o livro Noam Elimelech, “é chamado de ‘a inclinação ao mal’”. Faraó não é simplesmente o egoísmo; é o epítome dele. Ele vai ser bom para você só enquanto você o servir. Quando ele disse a José, “Eu sou o Faraó, ainda assim, sem a sua permissão, ninguém levantará a mão ou o pé em toda a terra do Egito”, ele quis dizer que José governaria o Egito porque o Faraó sabe que a união compensa. Sem união, ele não teria nenhuma razão para dar qualquer favor especial aos parentes de José.

No entanto, após a morte de José, os hebreus não mantiveram sua unidade. Eles quiseram ser como os egípcios: egoístas. Mas eles não tinham a consciência de que ao fazê-lo, perderiam o seu favor aos olhos do Faraó e se tornariam o que os judeus sempre foram: párias. O Midrash Rabá (Êxodo 1:8) escreve: “Quando José morreu eles disseram: ‘Vamos ser como os egípcios’. Porque eles fizeram isso, o Criador transformou o amor que os egípcios possuíam por eles em ódio, como foi dito (Salmos 105), ‘Ele virou o coração deles para odiar o Seu povo, para abusar dos Seus servos’”.

O Livro da Consciência (Capítulo 22), escreve ainda mais explicitamente que se os hebreus não tivessem abandonado o caminho da unidade, não teriam sofrido. Depois de citar o Midrash que acabei de mencionar, o livro acrescenta: “O Faraó olhou para os filhos de Israel depois de José e não reconheceu José nelas”, ou seja, a tendência de se unir. E porque “novos rostos foram feitos, o Faraó declarou novos decretos sobre eles. Você vê, meu filho” o livro conclui, “todos os perigos, milagres e tragédias são todos provenientes de você, por causa de você, e por sua conta”.

Em outras palavras, o Faraó se voltou contra nós porque tínhamos abandonado o nosso caminho, o caminho da unidade acima do ódio, e queríamos deixar de ser hebreus. Ao longo da nossa história, as piores tragédias se abateram sobre nós quando queríamos deixar de ser judeus e abandonar o caminho da unidade. Os Gregos conquistaram a terra de Israel porque queríamos ser como eles e adorar o ego. Nós até fizemos a guerra por eles como judeus helenizados lutamos contra os Macabeus. Menos de dois séculos depois, o Templo foi arruinado por causa do nosso ódio infundado para com o outro. Nós fomos deportados e assassinados na Espanha quando queríamos ser espanhóis e abandonamos nossa unidade, e fomos exterminados na Europa pelo país onde os judeus queriam esquecer nossa unidade e se assimilar. Em 1929, o Dr. Kurt Fleischer, líder dos Liberais na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, expressou com precisão nossos problemas de séculos: “O antissemitismo é o flagelo que Deus nos enviou, a fim de nos levar juntos e nos soldar juntos”. Que tragédia os judeus naquela época não terem se unido apesar da observação verdadeira de Fleischer.

Êxodo

Quando Moisés surgiu, ele sabia que a única maneira de salvar os hebreus era tirá-los do Egito, do egoísmo, que estava destruindo suas relações. O livro Keli Yakar (Êxodo 6: 2) escreve sobre Moisés: “O espírito do Senhor falou à filha do Faraó, para chamá-lo de Moshe (Moisés) da palavra ‘Moshech’ (‘puxar’), porque ele é quem puxaria Israel do exílio. “Isto é, como José antes dele, Moisés uniu as pessoas ao seu redor e, assim, os tirou do Egito.

Assim mesmo, após a sua saída, os hebreus estavam em perigo de cair de volta no egoísmo. Eles receberam seu “selo” como uma nação somente quando reencenaram o método de Abraão de se unir acima de ódio. Uma vez que se comprometeram a se unir “como um homem com um só coração”, eles foram declarados uma “nação”. No sopé do Monte Sinai, da palavra “sinaa” (ódio), os hebreus se uniram e cobriram desse modo seu ódio com amor.

Por sua unidade, Moisés restabeleceu o compromisso dos Hebreus com a unidade como um antídoto para o egoísmo. Essa tem sido a essência do judaísmo desde então, ou como o Velho Hillel coloca no Talmude: “O que você odeia, não faça a seu próximo; esta é toda a Torá” (Shabbat 31a). Ao cobrir seu egoísmo com amor e unidade, os judeus conseguiram superar as inúmeras provações e tribulações que suportaram desde o Êxodo e até a ruína do Segundo Templo. O Rei Salomão sucintamente formulou o princípio do judaísmo com um pequeno versículo em Provérbios (10:12): “O ódio suscita contendas, e o amor cobre todos os crimes”.

Faraó e Moisés dentro de Nós

Quando lemos a Hagadá, é uma boa ideia manter em mente que Faraó, José, Moisés, e todos os outros personagens não são mais do que partes da nossa história. Nós somos ordenados a lembrar o Êxodo do Egito todos os dias porque eles são, na verdade, partes de nós! Nós todos temos o Faraó, a inclinação ao mal, mas não temos suficiente Moisés e José dentro de nós, as forças da unidade. Nós somos arrogantes, individualistas e egoístas ao ponto do narcisismo. Nós perdemos nosso judaísmo, nossa tendência a se unir.

Em consequência, assim como os egípcios se voltaram contra os hebreus quando abandonaram o caminho de José, o mundo está se voltando contra nós hoje devido à nossa desunião. Não vamos encontrar soluções para o antissemitismo na supressão da falação antissemita. Isso não vai erradicar o ódio. Como O Livro da Consciência escreve na citação que acabamos de mencionar, “Você vê, meu filho, todos os perigos e todos os milagres e tragédias são todos de você, por causa de você, e por sua conta”. A nossa desunião cria, alimenta e sopra as chamas do antissemitismo.

Quando Abraão encontrou o seu caminho para superar o egoísmo, ele queria compartilhá-lo com todos. Da mesma forma, assim que os hebreus se tornaram uma nação, receberam a tarefa de ser “uma luz para as nações”. Dito de outro modo, lhes foi ordenado trazer unidade ao mundo e completar o que Abraão tinha começado. Mas para conseguir isso, é preciso primeiro sair do nosso Egito interior, a regra do Faraó dentro de nós, e escolher o caminho de José e Moisés, o caminho da unidade. Moisés sabia o que Abraão queria ter alcançado e tentou fazer o mesmo. Ramchal escreveu em seu comentário sobre a Torá que “Moisés desejou completar a correção do mundo naquela época. No entanto, ele não teve sucesso por causa das corrupções que ocorreram ao longo do caminho”. Assim, no final do dia, ser judeu significa seguir o caminho de Abraão e Moisés, o caminho da unidade, responsabilidade mútua e fraternidade. Quando buscamos a unidade, somos judeus. Quando buscamos outros objetivos, não somos.

A Festa da Liberdade

Pessach é a festa da liberdade. No entanto, não podemos ser livres, já que somos escravos de nossos egos. A libertação do Faraó significa liberdade da inclinação ao mal: do desejo de prejudicar, de ser arrogante, e de oprimir os outros. Nós estamos muito longe disso. Enquanto permanecermos desta maneira, não devemos esperar que o antissemitismo diminua. Pelo contrário, ele só vai crescer, porque, como eu disse acima, o nosso egoísmo cria, alimenta e admira-o.

Se quisermos celebrar um Seder adequado, devemos colocar nossas prioridades na ordem certa: a nossa unidade vem em primeiro lugar, e todo o resto segue. Que possamos discordar sobre política, questões LGBT, Israel ou assuntos de família. Mas se não nos juntarmos acima de nossas divergências, estamos errados, independentemente da nossa posição. Assim como uma mãe ama seus filhos, independentemente de seus traços, crenças e ações, temos que encontrar uma maneira de começar, pelo menos, a marchar em direção uns dos outros. Este será o início de nossa libertação do Faraó interior.

Este ano, enquanto discutimos a história de nossos antepassados, vamos também pensar nos antepassados dentro de nós, as forças do egoísmo ou conexão e fraternidade –  a qual delas estamos atendendo, e a qual delas devemos estar atendendo.

Eu desejo a todos feliz e kosher (livre de ódio) Pessach.

Publicado originalmente no Haaretz

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Conexão: Uma Coisa Nova no Menu do Séder

 

Este ano, enquanto nos sentamos à volta da mesa durante o Séder e falarmos sobre liberdade, vamos falar sobre liberdade do ódio.

Quando mais fundo entramos em 2017, mais caótico parece o mundo. Hoje, a única coisa com que a maioria das pessoas consegue concordar é que o trem da sociedade humana se está a descarrilar e o banco de maquinista está vazio. Donald Trump luta para colocar sua administração em movimento contra os fieis do governo anterior nos media e no sistema judicial. Até no seu próprio partido, Trump está a lutar contra o criticismo que soa ter saído directamente de um discurso de Bernie Sanders. Na Europa, o Reino Unido iniciou o processo do Brexit, ninguém está certo dos resultados da separação, nem alguém está certo da desejada direcção para a UE.

Foto: Desconhecido, Licença: N/A2017-04-05

Uma Mesa do Séder de Pêssach Foto: Desconhecido

Hoje, a maioria dos líderes da União Europeia e eurodeputados concordam que o bloco perdeu o caminho. Figuras líderes tais como Gianni Pittella afirmam, “Precisamos de uma nova direcção para a Europa que aponte para um forte pilar social.” Similarmente, Rosa D’Amato disse, “Há a UE dos bancos, grandes empresas e lobbies e a UE dos cidadãos, aqueles que perderam seus empregos que não têm direitos.”

Parece que a tendência principal na arena política é “cada país por si mesmo.” Com o Brexit a caminho, a política de Trump é “América primeiro,” Marine Le Pen na França e a AfD na Alemanha estão a ganhar apoio e a maioria dos Suecos apoiam um Swexit. Todavia, se a UE se desmoronar e cada país tiver de se defender a si mesmo, quem será o adulto responsável a acalmar as coisas quando os conflitos surgirem? Em tal estado, a distância entre uma disputa relativamente menor e toda uma guerra pode ser uma questão de dias.

Natureza Versus Natureza Humana

O laureado Prémio Nobel da física Dennis Gabor escreveu em 1964: “Até agora o homem tem estado contra a Natureza, daqui em diante ele estará contra sua própria natureza.” Certamente, durante várias décadas temos sido tecnologicamente capazes de abastecer todo o ser humano com toda a necessidade básica em prol de se sustentar. Se quiséssemos, podíamos fornecer a todos comida fresca e água, sanação adequada, electricidade, comunicações e educação.

O problema é que não temos desejo de fazer isso. Nosso ódio de uns pelos outros está a fazer com que a era mais avançada tecnologicamente produza a fome mais amplamente espalhada desde a Segunda Guerra Mundial, que em si foi a apresentação mais satânica de ódio humano.

Tudo ao nosso redor, incluindo nossos próprios corpos, são o resultado de diferentes forças, frequentemente conflituosas, órgãos e vectores que se complementam uns aos outros para criar o universo em que vivemos e do qual fazemos parte. Cada parte na teia que é o nosso mundo contribui sua quota para a estabilidade e prosperidade do sistema que é nosso mundo. Além do mais, quanto mais alto na cadeia evolucionária subirmos, mais complexo é o sistema de interligação e interdependência que encontramos, exigindo um nível mais alto de comunicação e conexão entre as partes.

Todavia, nós humanos somos completamente opostos à natureza. Nós procuramos nos separar de tudo como se não fossemos dependentes do mundo ao nosso redor. Em todos os níveis da existência humana, procuramos criar “Brexits.” Até nossa saúde é afectada pela nossa antipatia recíproca. Numa entrevista para o Canal 2 de Israel, Thomas Friedman do The New York Times disse que perguntou ao Cirurgião Geral Vivek Murthy, “Qual é a doença mais prevalecente na América, é câncer, diabetes, doença cardíaca? Ele disse, ‘Nenhuma dessas, é isolamento!'”

Sucede-se que nossa alienação de uns dos outros está a causar nossas crises pessoais, sociais e globais ao tentarmos ir contra a natureza conectada da realidade. De facto, essa tensão entre nosso isolacionismo e narcisismo versus a conectividade da realidade tornou-se tão intensa que em toda a semelhança, ela já deveria ter estalado. Nós vemos a onda global de terrorismo como uma tragédia, mas apesar de todas suas trágicas consequências, o terrorismo é um modo de permitir que o ódio étnico e religioso se exprima de maneiras menos injuriosas que numa guerra completa. Todavia, claramente, este tipo de “válvula para o alívio da pressão” é insuportável e a menos que nos apressemos a descomprimir esta bomba relógio, ela vai explodir numa guerra total.

Quanto mais nos desenvolvemos, mais conectados e interdependentes nos tornamos. Ironicamente, nosso narcisismo está a impulsionar a globalização ainda mais rápido pois ele nos faz querer explorar todos para nosso benefício pessoal e portanto nos obriga a conectar às outras pessoas ainda mais estreitamente que no passado em prol de as usarmos. Porém, dado que nosso narcisismo também cresce, nossa conexão forçada está a tornar-se tão dolorosa que estamos a perder a capacidade de nos conectarmos uns aos outros adequadamente. Ora evitamos a conexão por completo através do suicídio ou abuso de substâncias, ou atacamos-a por ser abusiva, agressiva e por vezes até homicida.

Os Brexits que cozinham por todo o mundo são ajustamentos necessários para acalmar a pressão de nossa conexão forçada. Romano Prodi, o ex-Primeiro Ministro italiano, concluiu correctamente que “A UE não tem estratégias e não há líder para seguir. A Europa com que sonhei está morta.” Ele também está correcto ao dizer, “quem quer que conduza uma coligação política e grupo de países deve considerar os interesses de todos os membros.” Uma vez que esta consideração claramente não é a situação na UE, ela deve ser desmontada antes que nos expluda em pedaços.

Mutuamente Responsáveis

Apesar da necessidade de separação temporária, no final teremos de nos juntar ao curso da natureza e nos conectar. Conexão adequada será o próximo grande desafio da humanidade. Nossa “fronteira final” não é o espaço, como pensávamos nos anos 60. Nossa fronteira final são nossas conexões com as pessoas com quem vivemos. Nossas conexões com as pessoas que nos rodeiam e as conexões entre as sociedades e países vão determinar o destino da humanidade.

O primeiro passo para construir uma sociedade sustentável é entender que quer queiramos quer não, há responsabilidade mútua entre nós. Nos anos 30, o maior comentador do Livro do Zohar, Rav Yehuda Ashlag, escreveu um ensaio intitulado “Paz no Mundo” onde ele observava que todos somos interdependentes. Nas suas palavras: “Não podemos mais falar ou lidar com justas condutas que garantem o bem-estar de um país ou de uma nação, mas somente com o bem-estar do mundo inteiro pois o benefício ou dano de toda e cada pessoa no mundo depende e é medido pelo benefício de todas as pessoas no mundo.” Aquilo que era verdade nos anos 30 é tanto quanto o mais hoje, mas ainda estamos para chegar a um acordo com o facto de que a dependência mútua implica responsabilidade mútua.

De facto, o judaísmo é edificado sobre educar as pessoas para a conexão. Agora que nos aproximamos de Pêssach, é um bom tempo para nos relembrarmos que fomos declarados uma nação somente após concordarmos em nos unir “como um homem com um coração.”

Durante nossos anos de formação enquanto nação, procuramos aumentar nossa conexão sobre o ódio que irrompia entre nós. Transformamos conexão acima do ódio numa ideologia que sobreviveu durante as gerações. Disse o Rei Salomão, “Ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Prov. 10:12). Similarmente, o livro Likutey Etzot (Conselhos Sortidos) diz, “A essência da paz não é conectar dois opostos. Assim, não fique alarmado se vir uma pessoa cuja visão é o completo oposto da sua e pensar que nunca será capaz de fazer a paz com ela. Também, quando vir duas pessoas que são completamente opostas uma da outra, não diga que é impossível fazer a paz entre elas. Pelo contrário, a essência da paz é tentar fazer a paz entre dois opostos.” Adicionalmente, o livro Cartas do Raiah declara que “A grande regra sobre a guerra das visões, quando cada visão vem para contradizer outra, é que não precisamos de contradizê-la, mas em vez disso construir sobre ela e portanto ascender.” Finalmente, recentemente no ano passado, Andrés Spokoiny, presidente e CEO da Jewish Funders Network disse, “Respeito e desacordo historicamente foram uma grande parte de quem nós somos. Nós somos um povo que acredita que o desacordo é um caminho para refinarmos nosso compasso moral. Nós somos um povo que ensinou ao mundo a abraçar a diversidade e celebrar a diferença.”

Na Linha da Frente da Conexão

Recentemente, tal como Sr. Spokoiny também salientou durante o seu discurso, nós vimos “uma polarização sem precedentes e feiura na comunidade judaica. Aqueles que pensam diferente são considerados inimigos e traidores e aqueles que discordam de nós são demonizados.”

Assim que entendermos que nosso problema é nossa separação e ódio recíproco, devemos procurar o oposto. Quando os judeus se uniram no pé do Monte Sinai, nos foi imediatamente dada a tarefa de dar um exemplo de união para que o mundo se pudesse unir, também. Por outras palavras, nos foi ordenado para sermos “uma luz para as nações.” Não sabíamos como, mas estavamos dispostos a tentar. Isto é tudo o que é hoje exigido de nós.

Similarmente, no ensaio que anteriormente mencionei, “Paz no mundo,” Rav Ashlag escreve que não sabemos como nos conectarmos até tentarmos. Nas suas palavras, “Tal é a conduta do desenvolvimento na natureza – a acção vem antes do entendimento e somente acções vão provar e empurrar a humanidade para a frente.”

Nós judeus estamos na linha da frente da ciência, tecnologia e finanças. Todavia, aquilo que o mundo precisa é que estejamos na linha da frente da conexão. Tal como disse Sr. Spokoiny, “O colapso da civilidade não é apenas um problema judeu. Nós como judeus somos como todos os outros, só um pouco mais assim.” Todavia, nós enquanto judeus somos os únicos de quem é esperado ser um modelo exemplar de união e civilidade e não um exemplo do oposto. A severidade com a qual a ONU julga Israel em comparação com todos os outros países no mundo combinados não é uma mera expressão de antissemitismo. Por baixo do ódio reside a expectativa de que os Judeus sejam “uma luz para as nações,” ou seja que conduzam o mundo na direcção oposta – do ódio para o amor. Quando essa expectativa encontra a dura realidade da nossa separação, ela resulta na raiva contra nós, que então se transforma em ódio. Nós chamamos a isto antissemitismo. O que o inflama não é se somos globalistas de esquerda ou isolacionistas conservadores de linha dura. Em vez disso, seu combustível é nosso tratamento de nossos correlegionários, independentemente das suas visões políticas ou económicas.

Nós devemos usar cada oportunidade à nossa disposição para tentar inverter a tendência para o isolamento. Na próxima semana, enquanto nos sentarmos à volta da mesa durante o Séder e falarmos de liberdade, vamos falar da liberdade do ódio. Vamos realmente pensar sobre o que significa sermos “uma luz para as nações” e por que há antissemitismo. Se o fizermos, esta pode muito bem ser a nossa mais significativa e memorável noite de Pêssach de sempre!

No mês passado o presidente da UE Antonio Tajani declarou ante o Parlamento Europeu: “Hoje mais que nunca precisamos de mostrar que estes desafios podem somente ser superados se estivermos unidos.” Todos entendem que a união é imperativa, mas somente nossa nação tem a chave oculta para fazer o amor cobrir todos os crimes, como Rei Salomão exprimiu. Se “a acção vem antes do entendimento,” como escreveu Ashlag, então vamos agir em união e veremos o que ela produz. O que quer que aconteça, se nos direccionarmos para a união, não nos podemos enganar.

Publicado originalmente no Haaretz 

 

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