Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Pêssach – Uma História de Hebreus Que Queriam Ser Egípcios

Faraó escravizou egoicamente os Hebreus, Moisés desinteressadamente os libertou. O “rei” do egoísmo ainda escraviza nossos corações. Para nos libertarmos da prisão nos devemos libertar de nos odiarmos uns aos outros.

‘Mão de Deus no Êxodo e a Travessia do Mar Vermelho,’

‘Mão de Deus no Êxodo e a Travessia do Mar Vermelho,’ mural pintado da sinagoga Dura-Europas na Síria. (foto:Wikimedia Commons)

Para a maioria de nós, a história do nosso êxodo do Egipto nada é senão um conto. É um conto fascinante, sem dúvida, mas é relevante para o nosso tempo? Quando colocados ante os pratos que nos são servidos à mesa, é um jogo injusto com a Hagadá. Porém, se soubéssemos o que significa realmente Pêssach para todos nós, “beberíamos” a narrativa em vez de esperar que ela abrisse o caminho para o evento principal: a comida.

Por baixo de um conto sobre a luta de uma nação que quer ser livre reside uma descrição de um processo que nós enquanto Judeus atravessamos e que atravessamos hoje de novo. É por boa razão que a Torá nos ordena para nos vermos todos os dias como se tivéssemos acabado de sair do Egipto. As provações de nossos antepassados deviam ser tanto sinais de alerta como sinais de trânsito, nos direccionado para onde irmos num mundo carregado de incerteza e trepidação.

O Auge de Israel no Egipto

Quando os irmãos de José foram para o Egipto, eles tinham tudo. José o Hebreu era o governante de facto do Egipto. Com a bênção de Faraó, ele determinava tudo aquilo que acontecia no Egipto, como disse o Faraó para José: “Estarás sobre minha casa e segundo tua ordem todo meu povo te prestará homenagem. …Vede, eu te coloquei sobre toda a terra do Egipto. …Eu sou Faraó, todavia sem tua permissão ninguém levantará sua mão ou pé em toda a terra do Egipto” (Gén. 41:40-44).

Graças à sabedoria de José, o Egipto não só se tornou uma super-potência, mas também escravizou as nações vizinhas e tomou o dinheiro do povo, terra e rebanhos (Gén. 47:14-19). E os principais beneficiários do sucesso do Egipto foram a família de José, os Hebreus. Disse Faraó para José: “A terra do Egipto está à tua disposição: acomoda teu pai e teus irmãos no melhor da terra, deixa-os viver na terra de Góshen [a parte mais rica e exuberante do Egipto] e se conheceres alguns homens capazes, encarrega-os do meu gado” (Gén. 47:6).

Há uma boa razão pela qual José foi tão bem sucedido. Três gerações mais cedo, seu bisavô, Abraão, achou um método para curar todos os problemas da vida. O Midrash Rába nos conta que quando Abraão viu seus conterrâneos em Ur dos Caldeus lutando uns com os outros, isso o perturbou profundamente. Após muita reflexão, ele percebeu que nos estávamos a tornar cada vez mais egoístas e não conseguíamos mais nos dar bem. O ódio entre eles lhes causava as discussões e lutas, por vezes até à morte. Abraão percebeu que o ego não podia ser exterminado, mas ele podia ser coberto de amor ao nos concentrarmos na conexão em vez da separação. É por isso que Abraão é considerado o símbolo da gentileza, hospitalidade e misericórdia.

Embora Nimrod, rei da Babilónia, tivesse expulsado Abraão da Babilónia, o Mishnê Torá de Maimónides (Capítulo 1) e muitos outros livros descrevem como ele deambulou para a terra de Israel e reuniu dezenas de milhares de seguidores que entendiam que a união acima do ódio é a chave para uma vida bem sucedida. Na altura em que ele chegou à terra de Israel, ele era um homem rico e próspero, ou como a Torá o descreve, “E Abraão era muito rico em gado, em prata e ouro” (Gén. 13:2).

Abraão transmitiu seu conhecimento a todos os seus discípulos e descendentes. Segundo Maimónides, “Abraão plantou seu princípio [da união acima do ódio] nos seus corações, compôs livros sobre isso e ensinou a seu filho, Isaac. Isaac se sentou e ensinou a Jacob e nomeou-o professor, para se sentar e ensinar… e Jacob nosso Pai ensinou a todos seus filhos” (Mishnê Torá, Capítulo 1). José da palavra hebraica Ôsef (assemblar/reunir), era o principal discípulo de Jacob e procurou implementar o ensinamento de seu pai. No Egipto, o sonho de José de unir todos os irmãos sob ele se concretizou e todos beneficiaram disto. Este foi o auge da estadia dos Hebreus no Egipto.

Como as Tábuas se Viraram Contra Nós

Tudo mudou quando José morreu. Tal como acontece com o tempo pela nossa história, quando os judeus são bem sucedidos, seus egos os superam e eles desejam abandonar o caminho da união e se tornarem como os nativos. Este abandono é sempre o princípio de uma mudança para o pior, até que finalmente uma tragédia ou uma provação nos força a nos reunirmos. O Egipto não foi excepção. Está escrito no Midrash Rába (Êxodo, 1:8) que “Quando José morreu eles disseram, ‘Sejamos nós como os Egípcios.’ Porque assim fizeram, o Criador transformou o amor que os Egípcios tinham por eles em ódio, tal como foi dito (Salmos 105) ‘E mudou o coração deles para que odiassem o seu povo, para que tramassem contra os seus servos ‘.”

No Livro da Consciência (Capítulo 22) está escrito ainda mais explicitamente que se os hebreus não tivessem abandonado o seu caminho da união, eles não teriam sofrido. O livro começa ao citar o Midrash que acabo de mencionar, mas então ele acrescenta, “Faraó olhou para os filhos de Israel após José e não reconheceu José neles,” ou seja a qualidade de assemblar, a tendência para a união.

E porque “Novas faces foram feitas, Faraó declarou novos decretos sobre eles. Vês, meu filho,” conclui o livro, “todos os perigos e todos os milagres e tragédias estão todos sobre ti, por causa de ti e na tua responsabilidade.” Por outras palavras, o bom Faraó se virou contra nós porque haviamos abandonado o caminho de José, o caminho da união acima do ódio.

Quando Moisés apareceu, ele sabia que o único modo que ele tinha de salvar seu povo era puxá-los para fora do Egipto, para fora do egoísmo que destruía suas relações. O nome Moshé (Moisés), diz o livro Torat Moshé (Êxodo, 2:10), vem da palavra hebraica Moshéch (puxar) pois ele puxou o povo para fora da inclinação do mal.

Todavia, até quando ele os puxou para fora, ainda estavam em perigo de retroceder para o egoísmo. Eles receberam seu “selo” de nação somente quando reencontraram o método de Abraão de se unirem acima do ódio. Assim que juraram se unir “como um homem com um coração,” foram declarados uma “nação.” No pé do Monte Sinai, da palavra Sina’á (ódio), os hebreus se uniram e deste modo cobriram seu ódio com amor. Foi por isso que se tornaram uma nação judia, como está escrito no livro Yaarot Devash (Parte 2, Drush nº 2), Yehudi (Judeu) vem da palavra Yechudi (unido).

O Faraó e Moisés dentro de Nós

Passaram já muitos séculos desde que esta épica história se realizou, todavia parece que aprendemos pouco. Olhemos para nossos presentes valores, somos tão corruptos como os hebreus eram após a morte de José. Dizendo “corruptos,” não digo que devemos evitar as amenidades da vida. Nem Abraão ou José eram abstinentes de maneira alguma. Dizendo corruptos pretendo dizer que somos vergonhosamente egoístas, narcisistas e promovemos estes valores para onde quer que vamos. Somos arrogantes, nos achamos no direito e perdemos completamente nosso judaísmo, ou seja nossa tendência para a união. Consequentemente, tal como os Egípcios se viraram contra os hebreus quando eles abandonaram o caminho de José, o mundo se está a virar contra nós hoje.

Faraó e Moisés não são figuras históricas, eles vivem dentro de nós e determinam nossos relacionamentos numa base de um momento para o próximo. Cada vez que deixamos que o ódio governe nossos relacionamentos, nós coroamos de novo o Faráo dentro de nós. E cada vez que fazemos um esforço para nos unirmos, nós reanimamos Moisés e o voto de procurarmos ser “como um homem com um coração.” Andrés Spokoiny, presidente e CEO da Jewish Funders Network, descreveu nossa situação lindamente num discurso que deu no ano passado: “Em anos recentes, vimos uma polarização sem precedentes e feiura na comunidade judaica. Aqueles que pensam diferente são considerados inimigos ou traidores e aqueles que discordam connosco são demonizados.” É precisamente este o governo de Faraó.

Ser Judeu não envolve necessariamente observar costumes específicos ou viver num país específico. Ser Judeu envolve colocar a união acima de tudo o resto. Por muito feroz que seja nosso ódio, devemos nos elevar acima dele e nos unir.

Até o Livro do Zohar escreve explicitamente sobre a importância soberana da união acima do ódio. Na porção Aharei Mot, está escrito no Zohar, “Vê, quão bom e quão agradável é que os irmãos também se sentem juntos. Estes são os amigos quando se sentam juntos e não estão separados uns dos outros. Inicialmente, eles parecem pessoas em guerra, desejando se matar uns aos outros. Então eles retornam a estar em amor fraterno. …E vós, os amigos que aqui estão, tal como estavam em afeição e amor antes, doravante também não partirão …E pelo vosso mérito haverá paz no mundo.”

Aprender do Passado

Versões da história do Egipto ocorreram durante nossa história. Os gregos conquistaram a terra de Israel porque quisemos ser como eles, adorar o ego. Até quando lutámos por eles quando os judeus helenizados lutaram contra os macabeus. Menos de dois séculos mais tarde, o Templo foi arruinado por causa de nosso ódio infundado de uns pelos outros. Fomos deportados e assassinados em Espanha quando quisemos ser espanhóis e abandonamos nossa união e fomos exterminados na Europa pelo país onde os judeus quiseram esquecer da nossa união e serem assimilados. Em 1929, Dr. Kurt Fleischer, líder dos Liberalistas na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, exprime nosso problema com séculos de idade: “O antissemitismo é o flagelo que D’us nos enviou em prol de nos aproximar e nos manter juntos.” E que tragédia que os Judeus nesse tempo não se uniram.

Como se fossemos incapazes de aprender, hoje nos colocamos exactamente na mesma posição como sempre fazemos. Nos tornámos escravos da nossa arrogância e direito pessoal e não queremos ser judeus, ou seja unidos. Estamos a deixar que Faraó governe de novo. Que bem podemos esperar que resulte disto? Não devemos ser novamente cegos, já deveríamos ter aprendido. Em cada um de nós há um Moisés, um ponto que Moshéch (puxa) para a união. Todavia, devemos coroá-lo voluntariamente. Devemos escolher nos libertar dos grilhões do ego e nos unirmos acima do ódio. Isto pode parecer uma montanha intransitável de trepar, mas não é esperado que tenhamos sucesso, somente concordar e fazer o esforço. Tal como os hebreus foram declarados uma nação e foram libertados do Egipto quando concordaram se unir, também nós precisamos somente concordar nos unirmos e o resto virá depois. Descobriremos dentro de nós o poder e capacidade para nos unirmos.

Nesta Pêssach, devemos verdadeiramente passar sobre nosso ego infundado, o mal do nosso povo e restaurar nossa fraternidade. Façamos desta Pêssach uma de reaproximação, reconciliação e acordo. Transformemos este feriado num novo começo para nossa nação. Vamos colocar alguma Séder (ordem) nas relações entre nós e sermos aquilo que é suposto sermos, “uma luz para as nações,” espalhando o brilho da união pelo mundo e para os nossos irmãos. Se ao menos tentarmos, sei que teremos uma Pêssach feliz, uma Pêssach de amor, união e fraternidade.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Êxodo – O Segredo da Nossa Nacionalidade

Cada Pêssach, concentramos nossa atenção no conflito histórico entre Moisés e Faraó e a escravidão dos Hebreus. todavia, a história de nosso povo no Egipto é mais que uma memória colectiva, ela é uma descrição exacta da nossa presente situação.

O Êxodo é a culminação de um processo que na realidade começou quando um pândita babilónio chamado Abraão descobriu a razão para os males da humanidade e tentou falar ao mundo sobre isso. O Mishnê Torá de Maimónides narra que Abraão era um jovem inquisidor cujo pai, Térach, era o dono de uma loja de ídolos na baixa de Ur, uma cidade explosiva na antiga Babilónia.

Vender ídolos e amuletos era um bom negócio, mas Abraão estava desagradado. Ele reparava que seus conterrâneos estavam a ficar cada vez mais infelizes. Noite após noite, Abraão ponderava o enigma dos males dos babilónios até que ele descobriu uma profunda verdade: Os humanos são desprovidos de bondade. Segundo o livro Pirkei de Rabi Eliézer (Capitulo 24), Abraão observava os construtores da Torre de Babel e viu-os discutindo. Ele os tentou persuadir a pararem de discutir e cooperarem, mas eles só o zombaram. Eventualmente, lutaram uns com os outros até à morte e a torre nunca foi completada.

O perturbado Abraão começou a dizer aos seus conterrâneos para abandonarem seus egos e se concentrarem na conexão e fraternidade. Ele sugeriu que se elevassem acima dos seus egos odiosos e se unissem.

Abraão começou a reunir seguidores até que Nimrod, rei da Babilónia, ficou descontente com a crescente popularidade de Abraão e o expulsou e a sua comitiva da Babilónia. Deambulando para aquilo que seria a terra de Israel, Abraão e sua esposa, Sara, falavam para qualquer um que os quisesse escutar. Passado algum tempo, a companhia de Abraão alcançou números de dezenas de milhares de discípulos e seguidores.

Maimónides escreve que Abraão doutrinou em seu filho Isaac a noção da conexão acima do ódio, Isaac ensinou Jacób exactamente o mesmo princípio e geração após geração, uma assembleia única de pessoas foi criada. Eles não eram ainda uma nação, mas tinham uma forma única de união. Sua “cola” era a ideia de que o ódio pode ser triunfado somente ao aprofundarem sua união e amor recíproco. O povo de Abraão não tinha afinidade biológica, todavia sua solidariedade ficou mais forte com o passar dos dias graças a seus esforços para se unirem.

O êxodo dos hebreus do Egipto foi a fase final da fundação da nação israelita. Quando saíram do Egipto, eles estiveram ante Monte Sinai, cujo nome deriva da palavra hebraica, sinaá (ódio). Moisés, que os uniu no Egipto, escalou a montanha para trazer a Torá de volta, o código da união, enquanto o povo de Israel se preparava para recebê-la prometendo se unir “como um homem com um coração.” Com este compromisso, eles passaram no seu teste. Eles foram declarados não só uma nação, mas aquela a quem foi dada a tarefa de ser um modelo exemplar de união, “uma luz para as nações.”

Nosso Mundo É O Egipto

A formação da nação israelita parece narrar a fundação improvável de uma nação de completos estranhos. Na verdade, porém, esta história descreve a batalha que todos enfrentamos entre nosso ódio inato pelos outros e a necessidade de conexão.

Faraó, a inclinação do mal, transformou nosso mundo do século 21 num Egipto contemporâneo, onde o egoísmo é rei e o narcisismo é a moda. Nosso mundo poluído e afligido pela guerra, sociedade polarizada, depressão omnipresente e modas doentes como transmissões de suicídios ao vivo no Facebook, indicam que Faraó é o rei do nosso planeta e que nosso mundo é o Egipto.

Tal como temos nosso Faraó interno, também temos nosso Moisés interno, mas não podemos ter sucesso sozinhos. Sem direccionarmos todas nossas forças e desejos para a conexão, vamos permanecer no Egipto, escravos de nossos egos e o mundo continuará de mal a pior.

No presente, estamos tão divididos que se nos comprometermos de novo em sermos “como um homem com um coração” e portanto nos tornarmos uma nação, unanimemente cairíamos. Nós somos escravos voluntários dos nossos egos. O livro Yaarot Devash diz que a palavra “Judeu” (Yehudi) vem da palavra “unido” (yihudi). Enquanto permanecermos separados, nós não somos judeus, tal como não éramos judeus antes de nos termos unido e concordarmos em procurar amar nossos próximos como a nós mesmos.

Nesta Pêssach vamos dar um golpe final à separação e egoísmo, vamos procurar nos conectar uns com os outros no coração! Em tempos de provação tais como os nossos, nossa união é vital. Ela vai restaurar nossa nacionalidade, nos tornar “uma luz para as nações,” um exemplo de solidariedade e coesão e nos libertará da praga do narcisismo e do resto dos nossos males sociais.

Feliz Pêssach kasher, querido povo de Israel.

Publicado originalmente no Jewish Business News

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Nossos Piores Inimigos

Judeus que se transformam em antisemitas rejeitam não só sua herança, mas principalmente sua tarefa de trazer o método da conexão ao mundo inteiro.

Após um prolongado silêncio a respeito das ameaças de bomba dos JCCs (Centros Comunitários Judaicos), o FBI apresentou a notícia surpreendente de que a maioria das ameaças tinham senão um único criminoso e que o prevaricador não era um fanático do alt-right ou extremista muçulmano, mas um menino de 19 anos de idade israelense-americano de Ashkelon, uma pequena cidade no sul de Israel. Certamente, o auto-ódio dos Judeus parece ser uma fonte subjacente de ingenuidade sinistra.

Foto: Dreamstime.com, Licença: N/A2017-03-28

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Outro exemplo de ódio de si próprios é o envolvimento judaico no movimento BDS. Hoje, a ONU finalmente reconhece a natureza antissemita do BDS e vai realizar uma conferência anti-BDS no Salão de Assembleia Geral da ONU. Mas enquanto o estado de Israel e várias organizações judaicas finalmente reuniram apoio internacional suficiente para combater o BDS, muitos judeus e ex-israelitas estão entre os líderes do movimento e vários organizações judaicas apoiam-o, tais como a J Street, a Jewish Voice for Peace e Jews for Justice for Palestine.

O auto-ódio judaico não começou com o BDS. Nem começou com George Soros ou Noam Chomsky. Durante nossa história, tivemos de enfrentar disputas internas que frequentemente irromperam em completos conflitos de guerra. A rebelião dos Macabeus, em cerca de 160 AEC, foi primeiro e principalmente contra os judeus helenizados em vez de contra o Império de Seleucida. Similarmente, o comandante dos exércitos romanos que conquistaram Jerusalém era Tibério Júlio Alexandre, um judeu alexandrino cujo próprio pai havia doado o ouro e prata para os portões do Templo que Alexandre quebrou. De facto, antes da ruína de Jerusalém, Júlio Alexandre havia obliterado sua própria comunidade judaica de Alexandria, fazendo com que o “inteiro distrito (fosse) inundado de sangue uma vez que 50.000 cadáveres se amontoavam,” segundo o historiador judaico-romano Flávio Josefo.

Em semelhança, durante a inquisição espanhola, o inquisidor chefe Tomás de Torquemada era de descendência judaica, mas isso não abateu seu fervor em expulsar e matar os judeus. E bem no passado século, a Associação Nacional de Judeus Alemães apoiou e votou a favor de Hitler e do Partido Nazi.

A história está repleta de exemplos de Judeus que odiaram seu povo tão veementemente que dedicaram suas vidas inteiras à sua destruição. Se há ódio mais enigmático que o antissemitismo, é antissemitismo de judeus.

Quem É Você Povo de Israel

Há uns poucos anos atrás, escrevi um artigo no The New York Times intitulado “Quem É Você Povo de Israel” que falava da origem única do povo judeu e a razão para o antissemitismo. As respostas que recebi dos leitores fizeram-me escrever um ensaio mais elaborado chamado “Por Que As Pessoas Odeiam Judeus,” que transformei num mini-site da Internet que também contém uma cópia gratuita do meu livro, Como Um Feixe de Juncos: Como a União e a Responsabilidade Mútua São a Necessidade do Momento. Sob as limitações de uma coluna de jornal, posso somente oferecer uma breve explicação, então é bem-vindo de seguir qualquer um dos citados links.

Se pesquisarmos uma origem especifica dos judeus, não encontraremos uma. Nossa nação é baseada numa ideia, não afinidade de parentesco ou étnica ou biológica. O “progenitor” da nação judaica foi Abraão, que é o porquê de nos referirmos a ele como “Abraão Nosso Pai.” O livro Pirkei De Rabbi Eliezer (Capítulo 24) fala que Abraão estava muito preocupado com os Babilónios entre os quais ele vivia. Ele viu que eles se tornavam cada vez mais hostis uns para os outros e questionava por que acontecia isto.

Enquanto ele reflectia sobre o dilema, escreve o Maimónides no Mishnê Torá (Capítulo 1), ele percebeu que em toda a natureza há um equilíbrio perfeito entre o bem e o mal, conexão e separação e força e fraqueza. Tudo na natureza é equilibrado pelo seu oposto. Ao mesmo tempo, ele reparou que a natureza humana, ao contrário do resto da natureza, está completamente desequilibrada. Entre os humanos, o mal reina alto. O ódio dos conterrâneos de Abraão de uns pelos outros revelaram para ele a verdade sobre a natureza humana: “A inclinação no coração do homem é má desde sua meninice” (Gén. 8:21).

Abraão percebera que se as pessoas não mimetizassem o equilíbrio da natureza de sua própria vontade, elas se destruiriam a si mesmas e sua sociedade se desmoronaria. Ele começou a falar da sua ideia para qualquer um que escutasse e começou a reunir seguidores substanciais. Lamentavelmente, como sabemos de Maimónides, o Midrash Rába e outras fontes, Nimrod, Rei da Babilónia, não estava contente com o sucesso de Abraão e o expulsou da Babilónia.

Enquanto o expatriado deambulava para aquilo que se tornaria a terra de Israel, ele continuava a falar da sua ideia de que a sociedade humana tem de cultivar união e fraternidade como antídoto para o egoísmo e ódio humano. Com o tempo, Abraão reunira milhares e até dezenas de milhares de seguidores, a quem ele e seus discípulos doutrinaram com um método de conexão que tinha um princípio simples: Quando o ódio irrompe, cubra-o com amor. Séculos mais tarde o Rei Salomão resumiu-o com o versículo: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados.” (Prov. 10:12).

Apesar de seus esforços para se unirem, os discípulos de Abraão não eram considerados uma nação até terem alcançado um profundo nível de união e solidariedade. No pé do Monte Sinai, eles juraram ser como “um homem com um coração.” Então e somente então, foram eles oficialmente declarados uma nação. Ao mesmo tempo lhes foi também dada a tarefa de espalhar seu método de conexão no mundo, ou como a Torá o refere, serem “uma luz para as nações.”

Com as gerações, o povo judeu desenvolveu seu método de conexão e o adaptou para as necessidades mutáveis de cada geração. Durante o tempo de Moisés, o princípio simples que Abraão havia ensinado não era suficiente para conduzir uma nação inteira num caminho de união acima do ódio, então Moisés deu-lhes a Torá. Mas o princípio de cobrir o ódio com amor permaneceu igual. Quando um homem foi até ao Ancião Hilel e lhe pediu para lhe ensinar a Torá, ele disse com simplicidade, “Aquilo que odeias não faças ao teu próximo; esta é toda a Torá” (Talmude Babilónio, Maséchet Shabat, 31a).

Judeus Antisemitas

Apesar de todos seus esforços, o ódio e egoísmo entre os judeus crescia (e ainda cresce) tal como cresce em todas as outras nações. Quando as facções do povo judeu se tornaram demasiado egocêntricas para manter o princípio de Hilel, elas se separaram do povo judeu e foram ora assimiladas ou desenvolveram formas menos exigentes de judaísmo, que atendessem à sua crescente auto-absorção.

Estas facções eventualmente desapareceram entre as nações.

Porém, às vezes, tal como com os Helenistas, estas facções desonestas se tornaram firmes inimigas do judaísmo. Ka’ab al-Ahbar, por exemplo, não só era judeu, mas um rabino proeminente do Iémene que se converteu ao Islão e se tornou uma figura importante para estabelecer a denominação sunita. Ka’ab acompanhou Khalif Umar na sua viagem para Jerusalém. Quando Umar lhe perguntou onde achava ele que devia o khalif construir um local de adoração, Ka’ab apontou para o Monte do Templo. É por isso que hoje a Cúpula da Rocha está localizada onde o Segundo Templo em tempos se encontrara.

Ressentidos com suas origens, os judeus que se transformam em antissemitas não só rejeitam sua herança, mas primeiro e principalmente seu papel enquanto portadores do método da conexão para o mundo inteiro.

Todavia, quer queiramos quer não, os Judeus são tratados como diferentes apesar dos seus esforços intermináveis de se mesclar, misturar e serem assimilados na cultura local. Bem recentemente, o Dr. Andreas Zick da Universidade de Bielefeld na Alemanha revelou que o antissemitismo ainda é um tema extremamente comum na Alemanha. Além do mais, Dr. Zick atribui isto aos Judeus “não serem vistos como uma parte integrante da sociedade, mas em vez disso como estrangeiros.”

Seremos considerados estrangeiros até reconhecermos que fomos formados através da união e que nossa vocação é compartilhar o método para alcançar a união acima do ódio com o mundo. Todas nossas fontes afirmam que o Templo que o convertido Ka‘ab al-Ahbar transformou em mesquita foi arruinado pelo nosso ódio de uns pelos outros e por isso fomos exilados e dispersos. Continuaremos a ser párias até restaurarmos nossa responsabilidade mútua, nossa sensação de união e amor pelos outros. Quando fizermos isto, seremos acolhidos em todos os lugares. O mais notável antissemita da história americana, Henry Ford, exprimiu essa mesma procura no seu livro O Judeu Internacional – O Principal Problema do Mundo: “Os reformistas modernos, que constroem os sistemas sociais exemplares, fariam bem em olhar para o sistema social sob o qual os primeiros judeus foram organizados.”

Varrer o Ódio

Durante este tempo do ano, em que famílias se reúnem para celebrar Pêssach, o festival da liberdade, devemos nos lembrar que a escravidão que devemos jogar fora é aquela para com nosso próprio ódio de nossos irmãos pela tribo. O chametz [fermento] é nosso ódio infundado e removê-lo, até se apenas durante o feriado semanal, será a maior operação de limpeza de nossas vidas. Esse será também o maior serviço que podemos fazer por nós mesmos, por nossa nação e pelo mundo.

Ser “uma luz para as nações” significa dar um exemplo de união e fraternidade. Com nosso presente ódio, estamos a dar o exemplo oposto. Biur chametz [limpar o fermento] simboliza a limpeza do ódio de nossos corações e prepará-los para a união e estabelecimento da nossa nação. É por isso que na Torá, Pêssach vem antes da recepção da Torá, que como dissemos é “ama teu próximo como a ti mesmo” e que originou nossa nação.

Num tempo de conflito e alienação, sejamos verdadeiros judeus – unidos em amor que cobre todos os crimes e conectados em fraternidade e responsabilidade mútua.

Uma Feliz Pêssach Kasher (livre de ódio).

Publicado originalmente no Haaretz

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A Felicidade Que Gostávamos de Ter

O ego causa todas nossas guerras, mas ele não é um inimigo. Se o usarmos bem, ao nos conectarmos uns aos outros acima dos nossos egos, vamos aprender como toda a natureza funciona.

Dia Internacional da Felicidade

A Felicidade Que Gostávamos de Ter. (foto:INGIMAGE)

Na Segunda-Feira, comemoramos o Dia Internacional da Felicidade. Desde 2013, ele tem sido comemorado em todo o 20 de Março.

A felicidade é uma sensação difícil de descrever. Independentemente, certas condições prévias devem ser alcançadas para nos sentirmos felizes, ou pelo menos contentes: paz, estabilidade, garantir as necessidades básicas e a capacidade de realizarmos nosso completo potencial. Lamentavelmente, hoje parece haver tudo menos paz e estabilidade. O oriente médio está sempre à beira da explosão, mas agora mais que nunca devido ao envolvimento da Rússia e dos EUA na Síria. Ao mesmo tempo, a Europa está dividida entre a extrema esquerda e a extrema direita, principalmente à volta do problema da imigração. Os Estados Unidos afundaram nas brigas internas desde as últimas eleições e o antissemitismo e violência atingiram máximos lá. A Rússia está à beira do colapso financeiro; a África sofre sua pior fome desde a Segunda Guerra Mundial e a China e o Japão ambos balançam economicamente e estão preocupados com as ameaças nucleares da Coreia do Norte.

Resumindo, o mundo está no limite e a instabilidade não é receita para a felicidade.

Sobre Inveja, Cobiça e Honra

O que torna as coisas ainda piores é nossa crescente auto-absorção. Estamos a tornarmos cada vez mais indiferentes às pessoas que nos rodeiam e hostis para qualquer um que ofereça uma visão diferente da nossa. Demasiado frequentemente, consideramos qualquer um ou qualquer coisa que contradiga nossa visão da realidade como um inimigo e sentimos que somente nossa visão é válida. Isto cria uma sensação de direito pessoal, que conduz à intolerância resultando na negação de todas as visões. Esta é uma receita para a violência induzida inteiramente pelo narcisismo, ou seja egoísmo.

No decorrer da história, quase não houve outra razão para a guerra senão o egoísmo. Vestido-se da procura de honra, riqueza ou dominação, o ego sempre foi a primordial causa das guerras.

Egoísmo é uma característica exclusiva dos humanos. Todas as outras criaturas lutam pela sobrevivência e procriação, mas não têm consideração pelo estatuto social ou desejam magoar os outros deliberadamente. Conquistadores tais como Alexandre o Grande ou Napoleão não existem no reino animal simplesmente porque os animais não têm sensação da história, orgulho ao qual atender e portanto não têm desejo de receberem mais do que precisam para o seu sustento. Seus desejos estão limitados a assegurar sua existência imediata.

Os humanos são diferentes. Nos diz o Mishná: “Inveja, cobiça e honra removem a pessoa deste mundo” (Avot 4:21). Inveja é a chave para entender porque não somos felizes. Ela faz-nos competir com os outros pelo poder e respeito, assim nos fazendo constantemente insatisfeitos. Como resultado, enquanto formos servos da nossa inveja dos outros, estamos condenados à insatisfação, frustração, competição e pior de tudo – ódio pelos outros. Em tal estado, não podemos ser felizes.

Todavia, o ego também nos empurra para o desenvolvimento. Graças ao ego, conduzimos para o super-mercado para comprar o que precisamos, ou melhor ainda, o encomendar online sem colocar o pé fora de casa, em vez de colocar nossa vida em perigo caçando mamutes. Também ligamos o aquecedor e o colocamos na temperatura adequada em vez de nos aquecermos por uma fogueira na caverna e nos cobrirmos com peles de animal. O ego nos deu muitas coisas óptimas, mas se nos conduzirmos correctamente para avançar, seremos capazes de alcançar de longe mais precisamente ao usarmos nossos egos.

Montar o Puzzle

Nos animais, os desejos estão limitados pela natureza. As interacções entre os interesses pessoais das espécies e as limitações impostas sobre elas pelo meio ambiente criam um equilíbrio que garante a prosperidade de todas as espécies dentro do ecossistema.

Talvez a melhor descrição que ouvi até à data do mecanismo pelo qual a natureza equilibra seus elementos tenha vindo da bióloga evolucionária Profª Elisabet Sahtouris. Em Novembro de 2005, fui convidado para falar numa conferência em Tóquio intitulada, “Criar uma Nova Civilização,” que foi organizada pela Fundação Goi para a Paz. Entre os oradores estava a Profª Sahtouris, que ofereceu uma descrição concisa das interacções entre as forças que tornam possível a vida. “No seu corpo,” disse ela, “toda a molécula, toda a célula, todo o órgão e o corpo inteiro, tem interesse pessoal.” Porém, “Quando cada nível mostra o seu interesse pessoa, isso obriga a negociações entre os níveis. Este é o segredo da natureza. Em cada momento, no seu corpo, estas negociações impulsionam o seu sistema para a harmonia.”

Mas o que funciona para os corpos humanos, não funciona para a psique humana. Dentro de nós, o mal na forma do egoísmo prevalece sempre, tal como nos diz a Torá, “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Gén. 8:21).

Contudo, a ausência do equilíbrio entre o interesse pessoal e o interesse do meio ambiente nos fornece a oportunidade de criarmos este equilíbrio nós mesmos. É como se a natureza nos desse um puzzle cujas peças estão todas separadas e nós temos de montar o puzzle novamente. Mas, a natureza também nos ajuda a alcançar isto pois a própria natureza é a imagem que devemos criar quando conectamos todas as peças correctamente. A recompensa no final do trabalho é que ao aprendermos como as peças se conectam, também aprendemos como a natureza funciona.

O ego não é nosso inimigo, ele é a substância que mantém as peças separadas até que as encaixemos umas nas outras correctamente, de acordo com a imagem da natureza. Deste modo, aprendemos como a natureza constrói seus mecanismos e mantém seu equilíbrio.

Tal como com qualquer puzzle, a protuberância de uma parte é a cavidade de outra parte. Isto é, em vez de usarmos nossas vantagens para sermos moralistas para os outros e nos sentirmos superiores a eles, devemos usá-las para “preencher as cavidades,” as desvantagens nos outros. Quando os outros fazem o mesmo para nós, nós criamos uma imagem sólida e completa da realidade.

As pessoas adoram montar puzzles e construir coisas a partir de conjuntos pois é assim que a natureza nos ensina e nós estamos apenas a repetir o modo como a natureza nos instrui a achar seus segredos. Se pudéssemos perceber esta noção e nos relacionarmos a nossos egos deste modo, não estaríamos a competir uns com os outros da maneira cruel como fazemos hoje. Em vez disso, tentaríamos trepar acima de nossos egos e nos conectarmos. Nesse processo, aprenderíamos como tudo na natureza se encaixa.

Fazer Acontecer o Impossível

Procuramos ser os mestres da natureza. Mas antes de dominarmos a natureza, devemos dominar nossa própria natureza. Aprender como a natureza junta tudo harmoniosamente é o primeiro passo para isto. Assim que tenhamos dominado a arte da conexão acima do ego, seremos capazes de desenvolver nossa espécie favoravelmente para nós e para a posteridade.

Os Cabalistas e sábios judeus conhecem os princípios para alcançar o equilíbrio e conexão há milénios. Eles os têm ensinado aos seus estudantes em retiro, mas o egoísmo desenfreado de hoje dita que o mundo inteiro aprenda como equilibrar nossos egos indisciplinados. É por isso que desde o princípio do século 20, esses indivíduos sábios têm feito todos os esforços para salientar a importância sem comparação da conexão acima do egoísmo por todo o mundo.

Neste respeito, o livro Likutey Etzot (Conselhos Vários) descreve a abordagem correcta para a tentativa da conexão: “A essência da paz é conectar dois opostos. Assim, não fique alarmado se vir uma pessoa cuja visão é o completo oposto da sua e pensar que nunca será capaz de fazer a paz com ela. Também, quando vir duas pessoas que são o completo oposto uma da outra, não diga que é impossível fazer a paz entre elas. Pelo contrário, a essência da paz é tentar fazer a paz entre dois opostos.”

No começo desta coluna, disse que a felicidade vem quando temos paz, garantir o sustento e as necessidades básicas e podermos realizar nosso completo potencial. Somente se adoptarmos uma abordagem positiva e criativa para o ego, tal como foi mencionado na citação acima, seremos capazes de estabelecer uma sociedade que vá ao encontro destes critérios para a felicidade. O puzzle não será completo até seguirmos o exemplo da imagem completa da natureza, onde todas as partes se complementam uma à outra. Tal como as crianças aprendem a montar as peças do puzzle, também nós devemos aprender. Mas quando o fizermos, estaremos a montar as peças das nossas vidas, portanto garantindo nossa felicidade para o presente e para o futuro.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Pessoas Esfomeadas Engordam a ONU

“Mais de 20 milhões de pessoas enfrentam a fome.” Onde esteve a ONU até hoje? A comer às suas custas.

Em 20 de Dezembro de 2016, o site de Internet, Big Think escreveu sobre o lançamento pelo bilionário László Szombatfalvy de uma “competição internacional em prol de achar um sistema melhor de governação mundial.” Para explicar as razões por trás da competição, uma carta publicada na página da fundação afirma que “As maiores ameaças que hoje enfrentamos transcendem fronteiras nacionais, elas deste modo precisam de ser atendidas conjuntamente por todos os países baseando-se numa realização crescente de dependência mútua.”

E se uma pessoa se questionar por que o Sr. Szombatfalvy não abordou a ONU para este tipo de responsabilidade, pois essa deveria ser a entidade por defeito para levar a cabo nossas transformações globais, a página da fundação reflecte a visão do bilionário da ONU. Segundo o site, “Nosso presente sistema internacional, incluindo mas não limitado às Nações Unidas, foi definido noutra era após a Segunda Guerra Mundial. Ele não é mais adequado à finalidade de lidar com riscos do século 21 que podem afectar pessoas que vivem em qualquer parte do mundo. Urgentemente precisamos de novo pensamento em prol de atender à escala e gravidade dos desafios globais de hoje, que superaram a capacidade do presente sistema de lidar com eles.”

Certamente superaram. Há menos de uma semana atrás, Stephen O’Brien, o Coordenador das Nações Unidas para os Negócios Humanitários e Ajuda de Emergência, declarou que “mais de 20 milhões de pessoas de quatro países enfrentam a fome. Sem esforços colectivos e coordenados globalmente, as pessoas vão simplesmente morrer de fome. Muitas mais vão sofrer e morrer da doença.” Sr. O’Brien também disse que “$4.4 biliões eram necessários até Julho para evitar o desastre.”

O’Brien foi eleito há praticamente dois anos. Onde esteve ele durante os passados dois anos? Onde esteve a ONU? Fome de vinte milhões de pessoas, quase 1.4 milhões das quais são crianças, não acontece do dia para a noite. Por que é que a ONU não alertou o mundo que isto se revelava? Subitamente, imagens angustiantes de pequenas crianças emaciadas tomam conta dos feeds de notícias. Não podia ter sido soado o alarme mais cedo?

Tal como Sr. Szombatfalvy salientou no seu site, a ONU é uma entidade defunta e irrelevante. Ela está podre até ao núcleo. Os únicos interesses dos políticos e diplomatas que a servem estão nas suas folhas de vencimento para promoverem suas carreiras. Os biliões de dólares que a organização já recebe podiam ter curado os problemas do mundo várias vezes repetidas. Eles podiam ter enviado alguns milhões das 1.3 toneladas de comida em excesso deitada no lixo cada ano e solucionado esta crise, mas não têm interesse em fazer isso. Crianças esfomeadas abrem o caminho de donativos. Alimentá-las secaria o fluxo de dinheiro e mataria esta fábrica de dinheiro.

Para entender quão distorcida está a percepção da ONU em relação à sua tarefa, considere esta peça de informação sobre a UNICEF, Fundo de Crianças das Nações Unidas. Na sua página de Perguntas Frequentes, a UNICEF USA refuta o rumor “perverso” e não comprovado de que Caryl M. Stern, Presidente e CEO do Fundo Americano para a UNICEF, “ganha mais de 1 milhão de dólares.” Na verdade, a organização proclama, Srª Stern “ganha 521,820.” Certamente, um CEO que é um modelo exemplar de austeridade.

Em Busca de Governo Viável

Para “achar um sistema melhor de governo mundial,” como Sr. Szombatfalvy o colocou, precisamos de começar na causa raiz de todos os problemas. Em 1964, o laureado Prémio Nobel da física Dennis Gabor escreveu, “Até agora o homem tem estado contra a Natureza, daqui em diante ele estará contra sua própria natureza.” Mais de cinquenta anos depois, estamos ainda relutantes para aceitar a verdade destas simples palavras.

De facto, nos foi dito deste os tempos bíblicos que “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21), mas até recentemente, quando começamos a falar da epidemia de narcisismo que engole o mundo ocidental, obstinadamente tentamos contornar o problema em vez de solucioná-lo.

Com as eras, a humanidade experimentou todos os meios concebíveis de governo, da escravatura ao feudalismo, capitalismo, liberalismo, fascismo, nazismo, comunismo e todo o outro ísmo no meio. Mas se olhar para os anais da história, vai descobrir que temos balançado de uma brutalidade para a próxima. Mais que tudo, nossa história é um longo banho de sangue. Nós não encontramos um único meio de governo que seja tanto sustentável e que garanta o bem-estar de todos os seres humanos. E a razão de não o termos achado é que somos narcisistas e egoístas até ao cerne.

Portanto, se queremos de verdade nos ajudarmos e aos outros, precisamos de atender a dois problemas. O primeiro é a provisão de sustento. Num mundo onde tanta comida é perdida ou desperdiçada, é inconcebível deixar que outros seres humanos morram de fome. A comida já existe, então tudo o que precisamos é colectá-la e enviá-la para onde é necessária. O segundo problema no processo de cura é um programa educativo a longo prazo que vai prevenir que as crises reapareçam. Este é o problema sobre o qual gostaria de me focar.

Você Não Pode Saber a Menos Que Experimente

Numa palestra TED dada em Maio de 2010, o aclamado sociólogo e médico americano, Nicholas Christakis afirmou que os seres humanos formam uma espécie de super-organismo. Aproximadamente oitenta anos antes, o aclamado comentador do Livro do Zohar, Rav Yehuda Ashlag, escreveu que “Nós já chegamos a tal grau em que o mundo inteiro é considerado um colectivo e uma sociedade.” Ele também acrescentou que “na nossa geração, em que cada pessoa é auxiliada para sua felicidade por todos os países no mundo … a possibilidade e levar uma vida boa, feliz e pacífica num país é inconcebível quando assim não é em todos os países no mundo.” Ashlag admitiu que as “pessoas ainda não perceberam isto,” mas salientou que isso é somente pois “a acção vem antes do entendimento e somente acções comprovarão e vão empurrar a humanidade em frente.”

Por outras palavras, nós não sentimos que somos um único super-organismo (como Christakis o exprimiu) até que comecemos a agir como um. Assim que começarmos a “experimentar” com isto, subitamente vamos perceber que assim foi desde sempre, todavia estamos inconscientes disso.

Considere este facto interessante: A única nação que sobreviveu desde a antiguidade foi a nação judaica. As nações babilónia, grega e romana todas desapareceram. Somente o judaísmo permanece. Numerosos académicos, filósofos, filo-semitas e antissemitas questionaram, “Qual é o segredo da sua imortalidade?” como questionou Mark Twain sobre o Judeu.

A resposta é que há uma diferença fundamental entre os Judeus e todas as outras nações. O segredo para a resistência dos judeus é o adesivo da união. Os judeus originais eram completamente não afiliados, vindo de diferentes tribos e culturas. A única coisa que os mantinha juntos era a ideia de Abraão de que misericórdia e amor são as pedras basilares sobre as quais construir a sociedade e onde quer que irrompa o ego, eles o devem cobrir com amor em vez de lutar ou seguir rumos separados. Esta abordagem manteve os judeus juntos durante crises e guerras aproximadamente 1500 anos, desde o tempo de Abraão até à ruína do Segundo Templo há cerca de dois milénios atrás. Além do mais, a história nos comprovou que este “cimento” de união que cobre o egoísmo é tão forte que não só sustentou o povo judeu mais tempo que qualquer outra nação, mas os manteve intactos durante incontáveis tentativas de os destruir, dispersar e exterminar. Embora os judeus de hoje tenham esquecido o que os havia sustentado durante séculos, a força persistente desse adesivo ainda é forte o suficiente para manter esta nação em existência.

Implementar a União acima da Antipatia

Esta prova histórica é nossa chave para solucionar os problemas do mundo. União sobre o egoísmo é o único modo de governo que o mundo ainda não experimentou. Mas em face das presentes crises, o risco de outra guerra mundial, fome em massa, acelerado aquecimento global e poluição dos recursos naturais, penso que não temos outra escolha senão dar a esta abordagem uma consideração séria. Entre todas as pessoas, foi o notável antissemita Henry Ford que escreveu, “Os reformistas modernos, que constroem os sistemas sociais exemplares, fariam bem em olharem para o sistema social sob o qual os primeiros judeus estavam organizados.” Sobre este ponto, ele não podia estar mais certo.

Como disse Ashlag, “a acção vem antes do entendimento.” Hoje, implementamos o princípio da união acima da antipatia de facto. Após numerosos eventos bem sucedidos de união por todo o mundo, incluindo em zonas de conflito tais como Israel, com os Árabes e Judeus (Exemplo 1, Exemplo 2, Exemplo 3 [o último está em Hebraico, active a opção de legendas]), estamos certos que podemos reinstalar o método de nosso antepassado em larga escala. Até pessoas que experimentaram esta noção independentemente, após lerem meu livro, Completando o Círculo: um método empiricamente comprovado para achar a paz e harmonia na vida, testemunharam o seu impacto positivo nas suas vidas.

Na minha visão, até que lidemos com a raiz do problema, que é o egoísmo na natureza humana e o fizermos especificamente do modo que Abraão legou aos seus discípulos, conectando acima da sua animosidade, não encontraremos remédio para nossos males. A noção de que não precisamos de suprimir nossos egos indisciplinados, mas simplesmente nos esforçamos por nos unirmos acima deles pode ser uma ideia nova para alguns, mas na minha visão, esgotamos as opções e este é o único modo de poupar a humanidade de tormento desnecessário.

Finalmente, aconselharia o Sr. Szombatfalvy, que se ele desejar experimentar o método de conexão de Abraão e ajudar o mundo a “achar um sistema melhor de governo mundial,” como ele o colocou, a levar nossos materiais gratuitos e os espalhar por todo o mundo. Nossa organização sem fins lucrativos voluntária dá o seu máximo para circular esta noção de união. Se ele ou qualquer outro indivíduo capaz e entendedor nos puder assistir nesta tarefa, ficaríamos mais que felizes em fornecer o que for necessário.

Publicado originalmente no Haaretz

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Shushan e Berlim — Diferenças e Similaridades

A América de hoje é uma repetição da perplexa Shushan e nós Judeus vamos decidir se a história acaba com um milagre, ou não…

“A cidade de Shushan [Susa] estava perplexa.” Se há algum versículo do Livro de Ester que reflecte o presente estado da judiaria americana, o presente estado do estado de Israel e o presente estado da humanidade, tem de ser esse. Quase dois meses passados após a eleição, há ainda mais perguntas que respostas. Está Trump a dar-se bem com Putin ou não? É real o amplo antissemitismo nos EUA ou é uma façanha que os democratas estão a fazer para difamar o Presidente Trump, ou talvez os democratas sejam os verdadeiros antissemitas e deixaram de se esconder a si mesmos? Podemos assistir às notícias para tentar clarificar o que se está a passar, mas não conseguimos ter a certeza se não nos estão a alimentar notícias fictícias. Como realizamos decisões racionais e calculadas na era da “pós-verdade”? O Livro de Ester fornece pelo menos algumas das respostas.

Foto: N/A, Licença: N/A2017-03-12

Pieter Lastman – O Triunfo de Mordechai

Os Judeus de Shushan e os Judeus de Berlim

Não é coincidência que quando quer que o antissemitismo levante sua feia cabeça, nos lembramos de Hamã. Não só Hamã quis destruir-nos tal como os contemporâneos antissemitas querem, mas a táctica que fez com que o perigo se “virasse ao contrário,” como a história nos conta (Ester 9:1), é a mesma táctica que hoje devemos empregar.

Muito recentemente, Rabi Abraham Cooper sugeriu no Jewish Journal: “Esquerda, direita devem se unir contra o ódio antissemita.” Danny Danon, o Representante Permanente de Israel nas Nações Unidas, usou um tom semelhante quando evocou o “Povo judeu a se unir contra o antissemitismo” pois “quando nos aproximamos como povo e comunidade, conseguimos fazer a verdadeira diferença.” “Amor e união,” lê-se no livro Maor VaShemesh, são nossa “principal defesa contra a calamidade.”

Há um elo estreito entre a união judaica, ou a falta dela e o aumento ou diminuição do antissemitismo. Em 1929, o Dr. Kurt Fleischer, líder dos Liberalistas na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, argumentou que o “Antissemitismo é o flagelo que D’us nos enviou em prol de nos conduzir juntos e nos fundir juntos.” Por outras palavras, Dr. Fleischer acreditava que tivessem os Judeus se unido, não teria havido antissemitismo na Alemanha. Quando Hamã primeiro se aproximou do Rei Ahashverosh e começou sua argumentação a favor de destruir os Judeus, ele salientou, “Há um certo povo espalhado no estrangeiro e disperso” (Ester 3:8). Tal como um antídoto para o decreto ameaçador de destruir os Judeus, a primeira coisa que Ester instruiu que Mordechai fizesse foi, “Vai, reune todos os Judeus” (Ester 4:16).

Os Judeus de Shushan atenderam a Mordechai e até este dia celebramos sua vitória. Os Judeus de Berlim não e até este dia marcamos o trágico destino das nossas famílias e entes queridos no holocausto. Não podemos dizer que na América de hoje, o escrito não esteja na parede.

Uma Casa Construída para Suportar Furacões

É por boa razão que a união é tão vital para nossa existência. Abraão, o antepassado patriarca da nossa nação, forjou nosso povo na Babilónia quando observou que os Babilónios se tornavam cada vez mais alienados uns dos outros e egocêntricos. O livro Pirkei de Rabi Eliezer (Capítulo de Rabi Eliezer) descreve como os construtores da Torre da Babilónia “empurrariam para cima os tijolos [para construir a torre] do oriente, então desciam do ocidente. Se um homem caísse e morresse, eles não lhe prestariam atenção. Mas se um tijolo caísse eles se sentariam e lamentariam, ‘ai de nós, quando virá outro para ocupar seu lugar?'” Finalmente, o livro continua, os Babilónios “quiseram falar uns com os outros mas não conheciam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um pegou na sua espada e lutaram uns com os outros até à morte. Certamente, metade do mundo ali morreu e de lá eles se espalharam por todo o mundo.”

Para tentar salvar os Babilónios, Abraão desenvolveu um método para conectar as pessoas. Ele percebera que o egoísmo dos seus irmãos se intensificava mais rápido que eles o conseguiam domar, então vez de o tentar limitar, ele sugeriu que eles usassem seus egos como alavanca para aumentarem sua conexão. Abraão ensinou aos Babilónios que enquanto entendêssemos que a união do nosso povo é o mais importante, o ego na realidade nos fortalece pois ele nos força a intensificar nossos esforços para nos unirmos acima dele. Tal como uma casa que é construída para suportar um furacão é muito mais forte que uma casa construída para suportar a brisa nocturna, a união que é construída para manter as pessoas juntas apesar dos egos ferozes é muito mais forte que a união que é construída para manter as pessoas juntas que não sentem hostilidade de umas para as outras.

O Midrash (Beresheet Rába) nos conta que as ideias de Abraão foram deparadas com intensa resistência e que Nimrod, rei da Babilónia, eventualmente o expulsou da sua pátria. Todavia, estar exilado não impediu Abraão de promover suas visões. Junto com sua esposa, Sara, ele ensinou a qualquer um que desejasse aprender sobre se unir acima dos egos crescentes. Gradualmente, escreve Maimónides em Mishnê Torá, os dois reuniram à sua volta dezenas de milhares de pessoas que todas eram versadas no método da união acima da inimizade.

Quando os descendentes do grupo de Abraão emergiram do Egipto sob a liderança de Moisés, quatro eventos seminais tomaram lugar:

  1. Eles juraram ser “como um homem como um coração”
  2. Como resultado do seu voto, eles foram declarados uma nação
  3. Lhes foi dada a Torá, cuja essência é “ama teu próximo como a ti mesmo”
  4.  Foi-lhes dada a tarefa de serem “uma luz para as nações.”

Por outras palavras, assim que os hebreus se tornaram uma nação, lhes foi dada a tarefa de serem um modelo exemplar de povo para todas as nações.

O modo único no qual nossa nação foi formada nos deu uma qualidade única, também. Os antigos hebreus não emergiram de um clã ou tribo específica, nem de uma localização específica. Eles eram indivíduos que sentiram, tal como Abraão, que algo estava a mudar para o pior nas suas sociedades e procuraram respostas quanto ao que estava a acontecer. Quando Abraão compartilhou com eles seu método de união acima do ego, eles ressoaram e permaneceram com ele. Deste modo, a nação judaica foi formada estritamente à volta de uma ideia compartilhada de que a união acima da inimizade é o princípio chave das suas vidas. Foi por isso que se tornaram uma nação somente assim que alcançar a união total, resumida no seu compromisso de serem “como um homem com um coração.”

O Ego é um Bem, se Você Souber Como Usá-lo

A explosão de egoísmo na Babilónia não foi um incidente isolado. Esse é de facto parte do processo de desenvolvimento dos desejos humanos. Nossos sábios o descreveram no seu famoso truísmo: “Um homem não deixa o mundo com metade do seu desejo na sua mão. Em vez disso, se ele tem cem, ele quer duzentos e se ele tem duzentos, ele quer quatrocentos” (Kohélet Rába 3:13).

Há uma razão muito boa para o desenvolvimento do egoísmo humano: Ele permite-nos aumentar nossa união e adoptar sociedades prósperas cujos membros percebam as forças rudimentares da natureza, a de dar e a de receber. Tal como Abraão descobriu isto quando observou o egoísmo dos seus conterrâneos, seus discípulos continuaram a experimentar explosões de egoísmo crescente e continuaram a desenvolver o método de conexão enquanto cobriam seu ódio com união e amor pelos outros. O Rei Salomão resumiu a essência deste método com as palavras do provérbio: “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12).

O exílio da Babilónia, onde a história de Ester toma lugar, marca um ponto seminal na história do nosso povo. Os Judeus estavam dispersos e desunidos, tal como disse Hamã e portanto aos seus olhos eles não tinham o direito de existir, uma vez que sua tarefa era serem um modelo exemplar de união, “uma luz para as nações.” Os Judeus foram salvos somente assim que se reuniram e assim inverteram o decreto de Hamã e eventualmente ganharam de volta a Terra de Israel.

Em 1950, o meu professor, Rav Baruch Ashlag (RABASH), anotou estas palavras adequadas de seu pai, o grande comentador do Zohar, Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam), resumindo a aplicação do método judaico em Shushan:

“Há um certo povo espalhado no estrangeiro e disperso entre os povos. Hamã disse que na sua visão, eles podiam destruir os Judeus pois eles estavam separados uns dos outros. Por esta razão, Mordechai foi para corrigir esse defeito, tal como é explicado no versículo, ‘os Judeus se reuniram, ’etc., ‘para se reunirem juntos e para defenderem suas vidas.’ Por outras palavras, eles se salvaram a si mesmos ao se unirem.”

Shushan Repete-se Novamente

Há cerca de dois milénios atrás, enfrentámos circunstâncias semelhantes, onda a desunião estava a desintegrar-nos por dentro. Não enfrentámos uma ameaça de extermínio, mas apenas de expulsão e então não nos unimos e não recriamos o milagre de Purim. Em vez disso, fomos exilados e dispersos pelo mundo.

Na Europa dos anos 30, até a ameaça do extermínio falhou nos aproximar e o inevitável se desenrolou. Agora que uma onda semelhante de ódio envolve o globo, O Livro de Ester e o Holocausto servem como dois exemplos que a história apresentou ante nós. O primeiro mostra aquilo que a união consegue alcançar e o último demonstra o que acontece quando estamos separados. As nações não nos deixaram estar até que nos tornemos um modelo exemplar de união acima da inimizade, “uma luz para as nações.” Quanto mais o ego assume o controle do mundo, mais a humanidade procurará um método de correcção. E eles o procurarão na nação cuja tarefa é lhes fornecer precisamente isto. Quanto mais nos atrasarmos em fornecê-lo, mais o mundo vai se ressentir por isso. Não faz diferença que tenhamos esquecido há muito o sentido e finalidade da união. Eles sentem que a chave do seu ódio de uns pelos outros de alguma forma reside em nós, embora possam não saber o que é essa chave.

Nós, por outro lado, realmente temos a semente da união dentro de nós. É por isso que, tal como antes mencionei, muitas pessoas judias agora acolhem a união como remédio para o antissemitismo. Nossa união não só vai diminuir o ódio pelos Judeus. Ela vai acabar com todos os ódios. A antipatia das pessoas de umas pelas outras deriva somente do ego. Quando o ego é coberto de amor, tal como o Rei Salomão o colocou, ele dissipa todo o ódio.

Nestes dias de Purim, nos devemos lembrar não só do milagre que tomou lugar há eras atrás e graças ao qual nos é permitido um dia por ano testar os limites da nossa ingestão de álcool. Mais importante, devemos reflectir sobre o que significa este milagre para nossa nação, o que ele significa para o mundo inteiro e como podemos usar suas lições na arena hostil de hoje. A América contemporânea é a Shushan perplexa de novo e nós Judeus vamos decidir se a história termina como terminou para Mordechai ou, D’us nos livre, termina ao contrário.

Publicado originalmente no Haaretz

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Como Purim Nos Pode Ajudar a Navegar Na Realidade Política de Hoje

Uma pintura do triunfo de Mordechai. Foto: Rembrandt House Museum via Wikimedia Commons.

Uma pintura do triunfo de Mordechai. Foto: Rembrandt House Museum via Wikimedia Commons.

A divisão social na América está a aumentar violentamente. O turbilhão de acusações entre a Esquerda e Direita política continua numa espiral descendente. Parecemos estar a atingir novas mínimas numa base diária.

Fazer sentido deste cenário político está a tornar-se cada vez mais difícil, porque cada lado recusa se envolver com o outro. Esta atmosfera geral de polarização social também conduziu a uma alarmante onda de actos de antissemitismo, que conduziu a ainda mais acusações e discussões.

O famoso versículo do Livro de Ester, “A cidade de Shushan está perplexa”, soa certo para a América de hoje.

O forro de prata, todavia, é que a confusão e incerteza apresentam sempre uma oportunidade para reavaliarmos nossos valores e prioridades. A divisão cega entre a direita e a esquerda mantém-nos confinados a nossos instintos primordiais, mas a confusão pode ser um passo em frente para nos ajudar a achar o consenso de novo.

Discernimentos da história de Purim

A história de Purim tomou lugar na antiga Pérsia, num tempo em que os Judeus se encontravam em perigo de existência.

Hamã sabia que os Judeus estavam divididos e que ele podia usar isto para se livrar deles. O Meguilá nos diz que “há uma nação dispersa entre as outras nações e Hamã disse que na sua opinião, eles terão sucesso em se livrar dos Judeus pois eles estão num estado de separação uns dos outros.”

Mas o herói da história, Mordechai, trabalhou para corrigir esta divisão e isto no final redimiu o povo Judeu: “Os Judeus se uniram e com isso foram salvos.”

A antiga história de Purim contém um grande significado para os Judeus de hoje e para a América no geral. Mas quem é o Hamã dos tempos modernos? Quem é o verdadeiro autor da divisão?

Alguns facilmente culparão o Presidente Trump, enquanto outros vão culpar os Democratas e liberalistas. Todavia além das acusações e personificações, podemos também dizer que o Hamã de hoje é a mentalidade da divisão, o desejo de procurar poder a qualquer custo, que nos escraviza, nos prejudica e nos cega de ver aquilo que estamos a fazer uns aos outros.

Mudar de caminho

Entre esta turbulência social, devemos achar a voz dentro de nós que evoca um propósito e conexão compartilhada, pois isto é precisamente a coisa que vai aproximar a América e o mundo da paz e harmonia.

Cada vez que os Judeus foram ameaçados com o extermínio, foi nosso compromisso para a união que nos permitiu prevalecer e sobreviver. Hoje, os Judeus devem se lembrar desta história e dar um exemplo positivo a todos.

E embora os Judeus tenham uma responsabilidade primária de serem um modelo de escolher a conexão sobre a divisão, os americanos de todos os géneros devem escolher este curso de acção antes que seja tarde demais. Nosso destino está nas nossas mãos.

Feliz Purim para todos.

Publicado originalmente no Algemeiner

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Humanidade – Inevitavelmente Egoísta e Inevitavelmente Antissemita

Quanto mais as nações se desenvolvem, mais as pessoas se tornam egoístas e alienadas e culpam tudo nos judeus. É a lei da natureza.

O discurso do Presidente Trump para o Congresso, onde ele procurou “entregar uma mensagem de união e força,” acalmou as tensões entre o presidente e os media. Mas as amenidades não duraram muito. No dia seguinte, os mesmos meios de comunicação que declararam guerra ao presidente estavam a atacá-lo novamente cuspindo fogo sobre tudo aquilo que ele e seus membros de gabinete fazem, desde as alegadas ligações sem escrúpulos do Advogado Geral Jeff Sessions à Rússia até à postura desadequada da Conselheira Kellyanne Conway no sofá da Sala Oval.

Foto: Facebook, Licença: N/A2017-03-05

O Templo Adath B’Nai Israel em Evansville, no Indiana, onde uma bala foi disparada para uma sala de aula Foto: Facebook

Se há alguma coisa de bom nesta “perseguição” infantil do presidente, é haver um relato do facto da América ter abundante Antissemitismo. Pior ainda, o aumento de 94 por cento de Antissemitismo na cidade de Nova Iorque de 2015 para 2016 indica um aumento exponencial em crimes de ódio contra judeus. Isto, juntamente com o facto das armas de fogo terem sido introduzidas nestes crimes de ódio faz deles muito mais perigosos, como no incidente na sinagoga do Indiana, onde uma bala foi disparada para uma sala de aula. Não podemos mais ficar complacentes.

Como mostrei na minha anterior coluna, quanto mais egoísta a sociedade se torna, mais ela é propensa ao antissemitismo. Os actuais níveis de egoísmo na sociedade americana estão a desintegrá-la. A menos que uma mudança drástica para a coesão tome lugar na América, a culpa pelos males do país vai cair sobre os Judeus, pois os Judeus sempre foram culpados por todo o mal que qualquer país alguma vez tenha sofrido.

Como o Egoísmo Cresce

O crescimento do egoísmo é inevitável. Ele não é bom nem mau, mas um processo natural de desenvolvimento. Nos níveis inanimado, vegetal e animal da natureza não há egoísmo, somente um desejo de auto-preservação, ou sobrevivência. Em todo o nível menos no humano, a natureza corre suavemente enquanto duas forças opostas se equilibram uma à outra e criam a evolução equilibrada. Uma força, a positiva, conecta e a outra força, a negativa, separa.

No nível sub-atómico, as duas forças mantêm os electrões numa distância relativamente estável do núcleo e ao assim fazerem mantêm a integridade dos átomos. No nível molecular, as mesmas duas forças mantêm os átomos conectados com moléculas enquanto se mantendo a si mesmos como átomos distintos. Nos níveis orgânicos, as duas forças conectam células e órgãos em organismos enquanto mantendo a identidade distinta de cada célula e órgão dentro do organismo.

Similarmente, dentro dos ecossistemas, todas as espécies estão interligadas e ainda assim mantêm suas identidades distintas. As espécies alimentam-se umas das outras, mas somente pois esta é a única maneira de sobreviverem e como a natureza as fez. Nenhuma má vontade está envolvida nos seus relacionamentos. Quando um leão come uma zebra, por exemplo, ele não faz isto em prol de prejudicar a zebra. Ele faz isto pois está esfomeado e não consegue se saciar a si mesmo inversamente. Assim que seu estômago está cheio ele pára de comer, deixa a carcaça para os necrófagos e não vai caçar de novo até que seu estômago vazio o obrigue a procurar uma presa uma vez mais.

Os humanos são a excepção à regra da natureza. quase todas as coisas que fazemos derivam da má vontade para os outros. Sustentar nossos corpos é praticamente sem esforço hoje em dia, então gastamos a maioria do nosso tempo, pensamentos e esforços a consumir excessivamente e a tentar nos afirmarmos como superiores aos outros. Não fazemos isto em prol de sobreviver, mas em prol de alimentarmos nosso orgulho e impulsionarmos nossa auto-confiança. Por outras palavras, fazemos isto para nossos egos.

O equilíbrio mantido através da natureza está ausente na humanidade pois nós somos praticamente desprovidos da força positiva. Tal como disse a Torá, “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude” (Gen. 8:21).

Pior ainda, quanto mais tentamos satisfazer nossos desejos egoístas, mais eles crescem. O Midrash diz sobre isto: “Um homem não abandona o mundo com metade do seu desejo na sua mão. Em vez disso, se ele tiver cem, ele quer duzentos e se ele tem duzentos, ele quer ter quatrocentos” (Kohélet Rába 3:13). É por isso que nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos e queremos tudo em excesso: comida, sexo, dinheiro, poder. E quanto mais temos, mais queremos. Mas até mais que querer ter mais, nós queremos ter mais que os outros. Num estudo intitulado, “É ter mais sempre melhor? Uma sondagem sobre preocupações posicionais,” os professores da Universidade de Harvard David Hemenway e Sara Solnick descobriram que as pessoas prefeririam receber um salário anual de 50.000 dólares quando as outras ao seu redor receberiam 25.000 dólares, que ganharem 100.000 dólares por ano enquanto as outras no seu círculo ganhassem 200.000 dólares.

Quando a Competição Nos Torna Doentes

Em si mesma, a competição não é má. Ela impulsiona-nos a melhorar e maximizar nosso potencial. Todavia, nosso desejo insaciável de superioridade faz com que a competição entre nós seja destrutiva. Como acabo de demonstrar, nós não queremos simplesmente ser melhores, mas ser melhores que os outros! E se pudermos alcançar isto pisando nas costas dos outros, isso fará do nosso sucesso ainda mais doce.

Enquanto o ego nos promove para desenvolver a tecnologia, medicina e ciência, nós não os queremos usar para o benefício da humanidade, mas para atender à nossa ganância.

Empresas farmacêuticas têm pouco interesse na saúde das pessoas, nosso dinheiro é sua principal preocupação. Como consequência, elas produzem drogas para nos manterem vivos mas doentes.

Similarmente, os produtores de comida não têm interesse em nos fornecer comida saudável, mas em vez disso comida que nos faça querer consumir mais dela. Sal excessivo, açúcar e vários aditivos misturados em alimentos processados visam atrair-nos para procurarmos mais. É de admirar que estejamos a sofrer de uma epidemia de obesidade?

O Ponto de Ruptura

Há uma boa razão pela qual o ego cresce e porque ele nos empurra para procurarmos o poder e controle. Nós nos tornámos senhores da Terra pois a natureza nos fez para procurar a dominação e poder. Além do mais, a natureza nos criou desprovidos da força positiva precisamente porque sua ausência nos faria procurar a dominação. Na nossa busca descobriríamos que o elemento em falta nas nossas vidas é a força positiva e aprenderíamos a trabalhar com ele consciente e com eficácia.

Quando quer que a humanidade alcança um pico no seu desenvolvimento egoísta, ela começa a sentir a ausência da força positiva como um meio para equilibrar seu egoísmo excessivo. É então que esta força se deve apresentar a si mesma, equilibrar o egoísmo e levar a humanidade para o próximo nível de desenvolvimento, onde as pessoas entendem verdadeiramente o funcionamento da natureza e como manter uma sociedade próspera para todos.

O problema é que para o ego, o remédio da força positiva, que induz conexão e colaboração entre as pessoas em vez de separação e competição, é uma pílula difícil de engolir. Na maioria, as pessoas escolhem manter uma atitude de “Deixem-nos comer e beber, pois amanhã podemos morrer” (Isaías 22:13). Na altura em que acordarem, é habitualmente tarde demais para mudar de caminho.

O Nascimento do Antissemitismo

Como salientei na coluna anterior e pormenorizei no meu ensaio do New York Times, “Quem É Você, Povo de Israel?,” a primeira pessoa a descobrir o processo do crescimento do ego e a necessidade de introduzir a força positiva para equilibrá-lo foi Abraão. Quando ele começou a dizer aos seus irmãos babilónios que se ao menos se unissem e elevassem acima do seu ódio, tudo ficaria bem, Nimrod, rei da Babilónia, o exilou e o forçou a começar uma jornada que eventualmente criaria o povo de Israel. Essa luta entre os dois foi o nascimento do Antissemitismo.

Sem a força positiva, a Babilónia continuou sua desintegração gradual interna e foi finalmente conquistada e dissolvida. No decorrer da história, nem um império escapou ao destino da ruína pelo ego. Ao mesmo tempo, a única nação que sobreviveu a numerosas tentativas de perseguições e extermínio foi a nação que Abraão, Isaac e Jacob estabeleceram, a nação Israelita, que plantou no seu coração a semente da união. Embora durante os passados 2000 anos não nos temos unido e sofremos de ódio interno provavelmente mais que qualquer outra nação, essa semente dormente de união que possuímos nos guardou e ainda nos guarda.

O ilustre escritor Mark Twain reflectiu sobre a sobrevivência dos Judeus e o desaparecimento das outras grandes nações no seu famoso ensaio, “Sobre os Judeus.” “O Egípcio, o Babilónio e o Persa se levantaram, encheram o planeta com som e esplendor, então esvaeceram para aquilo de que são feitos os sonhos e desapareceram,” escreveu Twain. “O Grego e o Romano se seguiram e fizeram um amplo ruído e desapareceram. O Judeu viu todos eles, os venceu a todos e agora é aquilo que sempre foi. Todas as coisas são mortais menos o Judeu, todas as outras forças passam, mas ele permanece. Qual é o segredo da sua imortalidade?”

Sob Moisés, nos tornámos uma nação assim que juramos ser os fiadores uns dos outros e nos unirmos “como um homem com um coração.” Apesar de nosso crescente egoísmo, procuramos amar nossos próximos como a nós mesmos. Essa luta nos forçou a melhorar e aperfeiçoar nosso método de conexão. Isso plantou o princípio da união acima de todo o ódio dentro de nós apesar do facto de estarmos exilados da nossa terra devido a nosso ódio infundado de uns pelos outros, os sábios judeus sempre adoptaram a união acima do ódio como um meio para a sobrevivência e prosperidade. Rav Kook escreveu a esse respeito: “A grande regra sobre a guerra de visões, quando cada visão contradiz a outra, é que não precisamos de a contradizer, mas em vez disso construir acima dela e deste modo ascender” (Cartas do Raiah).

Parias durante as Eras

Desde a primeira confrontação entre Abraão e Nimrod, nós fomos os primeiros parias do mundo, acolhidos inicialmente e banidos no final. As nações sentem que há algo de diferente nos Judeus, certo poder secreto, mas o ego não as deixa sentir que esse algo é a capacidade de conectar acima do ódio. Hoje, até nós não sentimos isso.

Ainda assim, quanto mais desenvolvida a nação se torna, através do seu impulso egoísta, mais ela precisa da força positiva para domar o egoísmo e prevenir seu inevitável colapso. E quando a força positiva não chega, porque também nós Judeus caímos no ódio mútuo, as nações instintivamente nos culpam pelo seu colapso e nos punem.

Chamamos a isto antissemitismo, mas na verdade, não há tal coisa. O antissemitismo é apenas o pressentimento das nações de que os Judeus têm a chave para a felicidade e que eles não a compartilham. Embora nós não façamos ideia de qual é a chave ou sequer se a temos, o mundo ainda precisa de sentir que é culpa nossa de estarem a lutar e a se matar uns aos outros. A retórica de Mel Gibson, “Os Judeus são responsáveis por todas as guerras no mundo,” na realidade é uma expressão autêntica daquilo que a maioria dos não-Judeus sentem, especialmente entre as nações mais desenvolvidas, nomeadamente mais egoístas. Isso assim é precisamente por elas serem egoístas e portanto necessitam urgentemente de uma cura para sua enfermidade. E elas esperam-o instintivamente de nós.

Não há simplesmente um modo de dizer isto suavemente: Se a judiaria americana não fornecer ao povo hiper-egoísta americano o método para a união acima do ódio, o povo americano fará com os Judeus aquilo que as nações sempre fizeram aos Judeus desde o tempo de Abraão. E tudo aquilo que os Judeus ajudaram o mundo a desenvolver, toda a ciência e tecnologia que facilitam a vida e a tornam eficaz, pode e será usada contra nós.

Aquilo que a judiaria americana hoje deve fazer é se conectar acima da sua antipatia mútua e deste modo servir como exemplo! A semente da conexão reside dentro de todo e cada um da nossa tribo. Tudo aquilo que precisamos é fazer um esforço para nos conectarmos e isso regressará à vida.

Conexão foi aquilo que nos tornou uma nação no pé do Monte Sinai e aquilo que nos fez encarregues de ser “uma luz para as nações,” um exemplo de união num tempo de escuridão narcisista. O método latente de conexão que os Judeus possuem é a única coisa que vai impedir o antissemitismo e inverter a desintegração da sociedade americana. Quanto mais esperarmos, mais difícil será de alcançar.

Publicado originalmente no Haaretz

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Pode Haver Nazismo na América?

No começo dos anos 50, Ashlag escreveu: “Não há esperança que o Nazismo pereça com a vitória dos aliados, pois amanhã os anglo-saxões vão adoptar o Nazismo.” Teria ele razão?

suástica

Um homem usa um fato com uma suástica na braçadeira. (foto:REUTERS)

Passados setenta incidentes de ameaças de bombas dirigidas aos JCCs [Centros de Comunidade Judaica] pelos EUA, dois cemitérios vandalizados (um em St. Louis e um na Filadélfia), um professor de uma escola no Texas que foi despedido por um tuite de “matar alguns judeus e após algumas suásticas e injúrias serem pintadas em automóveis, um edifício o recreio de uma escola perto de Buffalo e um administrador da CUNY se ter queixado de ter “demasiados judeus” na equipe, podemos dizer oficialmente que há antissemitismo na América. Finalmente, líderes judeus se sentem confiantes o suficiente para falarem sobre uma “pandemia mundial” e não excluem os EUA desse quadro.

A intensificação do antissemitismo não é coincidência. Ela é o resultado de um processo natural e mandatário, no qual quanto mais a sociedade se torna egoísta, mais ela é propensa ao antissemitismo. No livro, Como um Feixe de Juncos: Por Que a União e Garantia Mútua São A Necessidade do Momento e na página, “Por Que as Pessoas Odeiam Judeus,” eu demonstro que independentemente da educação, além de um certo nível de egoísmo, o antissemitismo tem de vir à superfície do mesmo jeito que somente certa quantidade de sal se consegue dissolver na água antes de ela o começar a mostrar.

Egoísmo versus a Lei da União

Maimónides, o Midrash Rába e muitas outras fontes nos falam que durante o tempo de Abraão o Patriarca, Abraão observaria seus conterrâneos a construir a Torre de Babel. Ele reparou que os construtores se tornavam cada vez mais egocêntricos e alienados uns dos outros, que o promoveu a procurar uma explicação. No livro Pirkei de Rabi Eliezer (Capítulo 24) ilustra como os Babilónios “queriam falar uns com os outros mas não conheciam a língua uns dos outros. O que fizeram eles? Cada um pegou na sua espada e lutaram uns com os outros até à morte. Certamente, metade do mundo ali morreu e de lá se dispersaram por todo o mundo.”

Este ódio perturbava Abraão e ele questionava quem ou o que causava esta mudança. Segundo Maimónides, Abraão “começou a ponderar dia e noite, como era possível que esta roda sempre girasse sem um condutor”(Mishnê Torá, Capítulo 1). Ao assim fazer, ele descobriu a força unificadora que é a raiz de toda a criação e chamou a essa força “D’us.”

Abraão percebera que em prol de assegurar uma boa vida, as pessoas não precisavam de se dobrar a este D’us ou lhe oferecer semolina, como seus conterrâneos faziam com seus deuses nesse tempo. Tudo o que era necessário fazer em prol de ser feliz e resolver o ódio era se elevarem acima dele e se unirem. Mas quando Abraão sugeriu que os Babilónios se unissem em vez de lutarem, seu Rei, Nimrod, o expulsou do seu país.

Enquanto o Abraão exilado deambulava para Canaã, pessoas “se reuniram ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras,” escreve o Maimónides. “Ele ensinava a qualquer um … até que milhares e dezenas de milhares se reuniram à sua volta e eles são o povo da casa de Abraão. Ele plantou este princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso e ensinou a seu filho, Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou e informou a Jacó e nomeou-o professor, para se sentar e ensinar… E Jacó nosso Pai ensinou a todos seus filhos.”

Finalmente, uma tribo que conhecia a lei da união fora formada, tal como o ódio por essa lei e por aqueles que a adoptaram.

Alguns séculos mais tarde, Moisés quis fazer o mesmo que Abraão. Ele aspirava unir seu povo e enfrentou a feroz resistência de Faraó. Tal como Abraão antes dele, Moisés fugira com seu povo, só que desta vez eles eram em número milhões e portanto precisavam de uma “atualização” do método de conexão de Abraão.

A atualização foi a Torá, um conjunto de leis que se resumem a um único princípio, que Hilel o Ancião descrevera muito simplesmente: “Aquilo que odeias, não faças ao teu próximo, isto é o todo da Torá. O resto é comentário, ide estudar” (Shabat, 31a). Sob Moisés, as tribos hebraicas se uniram e se tornaram uma nação, mas somente após elas terem se comprometido a ser “como um homem com um coração.” A nova nação recebeu seu nome, Israel, da sua vocação, de ir Yashar-El (direito a D’us), para alcançar a mesma união que a força que Abraão havia descoberto.

Imediatamente após se tornar uma nação, Israel foi encarregue de completar aquilo que Abraão pretendia alcançar quando começou inicialmente a falar de união acima do ódio, que o mundo inteiro beneficiasse do método. “Moisés desejou completar a correcção do mundo nesse tempo. … Contudo, ele não teve sucesso por causa das corrupções que ocorreram no caminho,” escreveu o Ramchal no seu comentário sobre a Torá. Mas assim que Israel alcançou a união, eles foram encarregues de a transmitir, ou como a Torá o coloca, em serem “uma luz para as nações.”

Quando o Egoísmo Espalha a Ruína, os Judeus São Culpabilizados por Isso

Após a formação da nação judaica, os judeus conheceram muitos altos e baixos. Quando a união prevalecia entre nós, tínhamos prosperidade. Mas quando o egoísmo de nossos antepassados alcançava tais níveis em que não se conseguiam tolerar uns aos outros, sina’at hinam (ódio infundado ou sem fundamento) irrompia entre eles e enfraquecia sua força. Finalmente, o líder da legião romana na Judeia, Tibério Júlio Alexandre, ele mesmo um judeu cujo próprio pai havia pintado os portões do Templo de ouro, destruiu o Templo e exilou os judeus da terra de Israel. Nas palavras do Maharal de Praga: “O Templo foi arruinado por causa do ódio infundado, pois seus corações se dividiram e eles eram indignos de um Templo, que é a unificação de Israel” (Netzách Israel).

O ódio que nos destruiu nesse tempo persiste até a este dia. E ainda assim, a semente da união reside dentro de nós e é ainda nossa única fonte de força. Durante as eras, nossos sábios salientaram que a união é a chave para nossa salvação. Está escrito no livro Maor VaShemesh, “A principal defesa contra a calamidade é o amor e união. Quando há amor, união e amizade entre uns e outros em Israel, nenhuma calamidade consegue vir sobre eles.” Similarmente, está escrito no Livro da Consciência, “Nós somos ordenados em cada geração a fortalecer a união entre nós para que nossos inimigos não governem sobre nós.”

Embora a semente da união exista dentro de nós, enquanto estivermos desunidos, não podemos ser “uma luz para as nações” e não estamos a espalhar união para o mundo, tal como Abraão e Moisés haviam pretendido. Ao mesmo tempo, a humanidade está a ficar cada vez mais egoísta. Nosso egoísmo hoje é tão intenso que embora saibamos que estamos a arruinar o futuro das nossas crianças poluindo nosso planeta, simplesmente não nos importamos o suficiente para pararmos. Entendemos que o pluralismo é importante e que o liberalismo são vitais para a sociedade, mas cada um está tão narcisista que simplesmente não conseguimos escutar-nos uns aos outros, muito menos nos unirmos acima das diferenças. Em tal estado, o ódio para os judeus se intensifica pois temos tanto a chave para superar o egoísmo, como o egoísmo dentro de nós que rejeita esse remédio, tal como Rei Nimrod antes e Faraó depois dele. É então que a situação se torna perigosa para os judeus.

No auge da monarquia espanhola, por exemplo, quando seu orgulho e confiança estavam no ponto mais alto, o machado desceu sobre os judeus. Apesar de sua profunda imersão na sociedade espanhola e afastamento da sua própria religião, os judeus foram culpados por todos os problemas de Espanha e foram expulsos, torturados e mortos pela Inquisição sob a liderança de Torquemada, que, tal como Tibério, era de descendência judia. No século passado, a Alemanha esteve no topo do mundo. Mas quando caiu, ela voltou sua ira para os judeus. Quando Adolf Hitler não conseguia expulsar os judeus, pois ninguém os queria receber, ele simplesmente os exterminou.

Hesitando entre o Nazismo e a União

Está escrito no Livro do Zohar, “Eis, quão bom e quão agradável é que os irmãos também se sentem juntos. Estes são os amigos quando se sentam juntos e não estão separados uns dos outros. Inicialmente, eles parecem pessoas em guerra, desejando se matar uns aos outros. Então eles regressam a estar em amor fraterno. …E vós, os amigos que aqui estão, tal como estavam em afeição e amor antes, doravante também não partirão … E pelo vosso mérito haverá paz no mundo” (Aharei Mot).

Semelhante ao Zohar, seu grande comentador, Rav Yehuda Ashlag, escreveu que “a nação israelita foi construída como um portal pelo qual o mundo possa entender a agradabilidade e tranquilidade do amor pelos outros.” Tal como Ashlag, o Rav Kook escreveu, “Em Israel está o segredo da união do mundo” (Orot Kodesh).

Por muito que odiemos pensar nisso, nós somos os portadores do método de correcção de Abraão para o egoísmo que separa e destrói nosso mundo. Se não implementarmos entre nós este método de união acima das diferenças, as nações nos culparão de seus males e nos punirão novamente. Mas se o implementarmos entre nós, o mundo inteiro virá para aprender como fazer. O antissemita mais notável da história americana, Henry Ford, reconheceu o papel dos judeus para a sociedade no seu livro, O Judeu Internacional – O Principal Problema do Mundo: “Os reformistas modernos, que constroem os sistemas sociais modelo, fariam bem em olhar para o sistema social sob o qual os primeiros judeus se organizavam.”

Durante décadas, a América tem estado num caminho de crescente egoísmo, alienação e isolamento social. A depressão tem sido a principal causa de doença no país já há vários anos e o desespero está a crescer rapidamente. Se um livro chamado A Epidemia Narcisista: Viver na Era do Direito Pessoal consegue chegar ao top da lista de bestsellers do The New York Times e os milenares definem seu meio social como a cultura do “Eu, eu, eu”, então você sabe que o país está à beira da implosão. E quando a sociedade americana se desmoronar, facilmente assumiria certa forma de nazismo ou fascismo extremista.

Penso que a alemanha nazi foi um acontecimento único. Mas dizer “nunca mais” não vai impedir que a história se volte a repetir. Estamos a esquecer que não foram os alemães que inventaram o crachá amarelo, mas os britânicos, bem cedo em 1218.

No princípio dos anos 50, Rav Yehuda Ashlag escreveu nos Escritos da Última Geração: “O mundo erroneamente considera o nazismo uma ramificação particular da Alemanha. Na verdade … todas as nações nisso sendo iguais, não há esperança que o nazismo pereça com a vitória dos aliados, pois amanhã os anglo-saxões adoptarão o nazismo.”

Se os judeus americanos não tomarem suas vidas nas suas próprias mãos e se forçarem a si mesmos a se unirem acima da sua antipatia mútua, os americanos os forçarão a fazer isso através do derramamento de sangue. Não há mais tempo. Os judeus devem colocar todas as diferenças de parte e se unirem pois a união é a única salvação do povo judeu e porque quando nos unimos, somos uma luz para as nações, dando ao mundo aquilo que Abraão pretendia dar à humanidade há praticamente quatro milénios atrás e que o mundo tanto necessita hoje.

Michael Laitman, um Professor de Ontologia, um PhD em Filosofia e Cabala e um MSc em Bio-Cibernética aplicada à Medicina, foi o principal discípulo do Cabalista, Rav Baruch Shalom Ashlag (o RABASH). Ele escreveu mais de 40 livros, traduzidos para dezenas de idiomas.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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O Caminho Do Liberalismo Para a Tirania

O Neoliberalismo não serve os interesses do todo da sociedade americana.

CPAC Trump

Pessoas acenam enquanto o Presidente americano Donald Trump se dirige à Conferência de Acção Política Conservadora (CAPC) em Oxon Hill, Maryland. (foto:REUTERS)

O fundo da questão é este: por trás de um disfarce de liberdade de discurso, a América se tornou um país fascista, onde somente uma visão é permitida.

Na última quinta-feira, Jonathan Martin escreveu no The New York Times que “o plano já foi escolhido para o [Partido Democrata] – por um exército perfumado de liberalistas que exigem não menos senão a guerra completa contra o Presidente [Donald] Trump.” Junte isto às histórias desviadas, deformadas e inventadas dos media pretendendo comprovar a incompetência do presidente e o exército de agitadores que a Organizing for Action de Obama expediu pelos estados unidos para sabotar encontros nos municípios, parece que o presidente combate em frentes múltiplas.

Por quê a guerra? Trump não faz parte da elite governadora que governou e explorou a América durante décadas e para quem Obama e Clinton foram executantes, cobrindo suas acções por trás de uma agenda fictícia humanista de preocupação pelos imigrantes.

Após a Segunda Guerra Mundial, numerosos países no Ocidente adoptaram o liberalismo como uma “vacina” contra o fascismo e nazismo. Mas uma sociedade não consegue permanecer viva a menos que visões diferentes colidam dentro dela e nesse processo ela se torne polida e refinada. Quando todos os partidos entendem que a diversidade de visões cria a vitalidade, eles fortalecem sua sociedade e aumentam sua capacidade de lidar com as mudanças.

Nossa própria tradição judia encoraja a diversidade e debate enquanto meios de aumentar a coesão social. Rabi Avraham Isaac Kook escreveu que “A grande regra sobre a guerra de visões, quando cada visão vem para contradizer a outra, é que não precisamos de a contradizer, mas em vez disso construir por cima dela e deste modo ascender” (Cartas do Raiah). Similarmente, Martin Buber escreveu em Nação e o Mundo: “Não é da neutralidade que precisamos, mas em vez disso da coesão, coesão de responsabilidade mútua. Não nos é exigido ofuscar as fronteiras entre as facções, círculos e partidos, mas em vez disso compartilhar um reconhecimento da realidade comum e compartilhar o teste da responsabilidade mútua.”

O problema é que a sociedade americana de hoje nega a legitimidade de “outros partidos,” tal como Buber o colocou. “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente,” disse o Ministro Liberalista Sir John Dalberg-Acton. Em vez de criar uma arena viva de visões que se revigoram umas às outras, os liberalistas sufocaram qualquer um que discorde deles. Se o CEO da Under Armour Kevin Plank é forçado a pedir desculpas por afirmar suas visões moderadamente conservadoras por medo de colocar seu negócio em risco, isto já não é mais um liberalismo e certamente não é pluralismo. Isto é tirania.

“A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21) não é meramente um versículo da Bíblia. Trata-se realmente daquilo que todos nós somos. É por isso que os governantes precisam de media vigilantes para os monitorizar e é por isso que os media devem ser mantidos genuinamente livres e pluralistas.

Todavia, esta não é a situação na América. O Neoliberalismo tem sido a agenda governadora nos EUA durante décadas. Ela não serve os interesses do todo da sociedade americana, mas em vez disso atende aos interesses do pequeno grupo de magnatas da elite que controlam a economia americana, os media e portanto o governo. Eles determinam o que é noticiado e o que não, quem é difamado e quem é glorificado. Ao controlarem os media, eles dominaram o discurso público e evitaram o criticismo. Isto é engenhoso, mas mortal para a sociedade.

Por esta razão, considero a vitória de Trump um sinal de que a sociedade americana ainda está viva e de boa saúde. Isso dá-me esperança que ela seja também capaz de passar pelo necessário retorno à sobriedade sem derramamento de sangue e sem arrastar o mundo para outra guerra. Tivesse Clinton sido eleita, não há muitas dúvidas que uma guerra mundial teria irrompido. Agora, pelo menos há uma chance para a paz e para a correcção da sociedade.

Mas para corrigir a sociedade, todos os partidos vão precisar de aprender da tradição judaica, que o “amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12). Rabi Yehuda Ashlag, autor do comentário Sulam (Escada) sobre o Zohar, escreveu no seu ensaio “A Liberdade“: “Contradições e contrariedade entre as pessoas devem permanecer para sempre, para que para sempre assegurem o progresso da sociedade livre.” Os liberalistas fariam bem em escutarem seu próprio “correlegionário” Nicholas Kristof do New York Times que escreveu, “Nós progressistas podíamos fazer uma pausa de atacar o outro lado e incorporar mais amplamente os valores que supostamente acarinhamos, como a diversidade, nos nossos próprios domínios.”

Pelo bem da América e pelo bem do mundo, rezo que esta grande nação desperte e entenda o valor da diversidade, o benefício de aguçar as visões através do debate aberto e a coesão poderosa alcançada quando os debates produzem soluções que contribuem para a vitalidade do todo da sociedade.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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