Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

A Verdadeira Razão Sobre Por Que Importa Aleppo

Dinheiro não salvará as crianças de Aleppo, mas o verdadeiro amor salvará. Todavia, elas não receberão nenhum até que o nutramos entre nós.

Nos últimos meses, a horrível crise humanitária em Aleppo ultrapassou as piores atrocidades que vimos saírem da Síria desde o começo da guerra civil lá em 2011. É verdade que “a queda de Aleppo é fracasso de Obama,” como Leon Wieseltier escreveu no Washington Post. É também verdade, como até a presidente do Meretz, Zehava Gal-On, admitiu na sua página de Facebook, que “Devemos dar crédito ao Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu pela sua insistência em não nos envolvermos nesta guerra.” Porém, há uma conexão inseparável entre Israel e a tragédia em Aleppo.

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Nos últimos meses, a horrível crise humanitária em Aleppo ultrapassou as piores atrocidades que vimos saírem da Síria desde o começo da guerra civil lá em 2011. Foto: Dreamstime

Hoje em Israel, milhares de pessoas se apressam para ajudar os civis abandonados de Aleppo. Em apenas dois dias, Israelitas doaram mais de 100.000 dólares para ajudar as crianças sírias cujas vidas foram devastadas enquanto foram usadas como peões no cabo-de-guerra entre Assad e os rebeldes, Rússia e os EUA. Incapazes de fugir, elas têm sido como alvos a abater esperando se tornarem outra imagem angustiante nas páginas dos jornais e redes sociais.

Yoav Yeivin, um dos principais organizadores da campanha de donativos, disse ao The Times of Israel, “Enquanto criança israelita cresci a questionar onde o mundo estava quando precisávamos mais dele [durante o Holocausto]. Como Judeu, sempre soube que era esperado que estivesse lá, para ajudar e dar uma mão. Não há nação que saiba melhor que nós quão letal pode ser a apatia.” Simpatizo com a compaixão de Yeivin e entendo como a memória do Holocausto nos torna mais sensíveis ao sofrimento das outras pessoas.

Todavia, não há soma de dinheiro que possa mudar o que está a acontecer na Síria. Ainda pior, não há soma de compaixão que possa aliviar o sofrimento ou preveni-lo de piorar até que sua causa, o mal na natureza humana, tenha sido desenraizado. Esta tarefa, transformar a natureza humana da crueldade para a gentileza, é a única tarefa do povo Judeu. Se alguma coisa de positivo devia ter surgido do terror dos campos extermínio, é o compromisso da nossa nação em transformar a natureza humana. Enquanto estivermos ociosos, estamos inadvertidamente a infligir sofrimento sobre o mundo. É por isso que ele nos odeia.

O proeminente astro do século 20 da Cabala, Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Autor de A Escada), pelo seu comentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar, entendia esta responsabilidade bem e tentou despertar os Judeus para sua tarefa. Nos Escritos da Última Geração e A Nação, ele afirmou, “Eu já transmiti os rudimentos de minha percepção em 1933. Eu também falei com os líderes da geração. Mas eis que isso não deixou impressão. Agora, porém, depois das bombas atómica e de hidrogénio, penso que o mundo acreditará em mim.” David Ben Gurion, o inicial Primeiro Ministro de Israel, exprimiu sua valorização pelo compromisso de Baal HaSulam para a meta de transformar a sociedade e a natureza humana numa carta para o seu filho, que foi também meu professor, Rav Baruch Shalom Ashlag, que continuou o trabalho do seu pai. Escreveu Ben Gurion, “Eu queria falar com ele sobre Cabala e ele comigo, sobre socialismo” (Diários, 11 de Agosto, 1958). Outra vez, escreveu Ben Gurion (6 de Janeiro, 1960), “Vejo com tremenda importância a conclusão das obras de Rav Ashlag (Baal HaSulam).”

Baal HaSulam não se ficou pelos encontros apenas com o Primeiro Ministro. Ele se encontrou com muitos líderes e activistas sociais no Estado Judeu. Entre eles estavam Zalman Shazar, Moshé Sharet, Chaim Arlozorov, Moshé Aram, Meir Yaari, Yacov Hazan, Dov Sadan e o aclamado poeta, Chaim Nachman Bialik. Sua intenção era convencer estes líderes de opinião a construírem o estado de Israel como uma sociedade que apoie e promova a transformação da natureza humana. Tivesse ele tido sucesso, o povo Judeu se teria tornado luz para as nações como estamos destinados a ser e o massacre de Aleppo, bem como todas as outras atrocidades que nosso mundo viu desde o fim da Segunda Guerra Mundial, não teriam acontecido.

Se tivéssemos mostrado a luz da união ao mundo, as pessoas teriam sabido como transcender seus egos e se unirem. Na ausência desta aptidão, elas inventaram o neo-liberalismo.

Foto: AP, Licença: N/A2016-12-20

David Ben Gurion escreveu sobre Baal HaSulam: “Eu queria falar com ele sobre Cabala e ele comigo, sobre socialismo.” Foto: AP

Por Quê Especificamente Nós?

Há duas razões sobre por que Israel e o povo Judeu são os mensageiros involuntários da necessidade de modificar a natureza humana. A primeira e mais óbvia, é o que Yoav Yeivin e Baal HaSulam mencionaram anteriormente, o Holocausto. Nos Escritos da Última Geração e A Nação, escreve Baal HaSulam, “Porque sofremos da tirania mais que todas as outras nações, estamos melhor preparados para procurar conselho que extermine a tirania da terra.”

Porém, há uma razão mais profunda, sobre a qual elaborei várias vezes anteriormente. Para onde quer que olhe na natureza, há harmonia perfeita. Toda a realidade é gerida segundo a interacção equilibrada entre duas forças, positiva e negativa. Estas forças criam átomos distintos cujas partículas independentemente estão conectadas e organismos distintos, tais como os seres humanos, cujas células estão independentemente conectadas. O equilíbrio harmonioso entre a conexão e distinção permite que a vida evolua para maior união e ao mesmo tempo maior distinção e permite que as pessoas se tornem mais singulares quanto mais estiverem conectadas.

No seu artigo, “A Paz,” Baal HaSulam define o processo evolucionário supracitado como a “Lei do Desenvolvimento,” que descreve a interacção entre as duas forças acabadas de descrever. Notavelmente, esta lei também determina que também a humanidade, seja composta de indivíduos distintos que estão independentemente conectados.

Mas ainda não chegámos lá. Em vez disso estamos a fazer um tremendo esforço para justificar as palavras da Torá “A inclinação do homem é má desde sua juventude” (Gén. 8:21) e “Toda a inclinação dos pensamentos do coração [do homem] era somente o mal” (Gén. 6:5). Por outras palavras, nossos corpos existem através do mesmo equilíbrio entre as forças positiva e negativa, mas nossas mentes parecem operar quase somente com a força negativa. A revelação das atrocidades na Síria deve alertar-nos que expandimos o sistema para a beira do colapso. Se não somarmos a força positiva de nossa própria vontade, a Lei do Desenvolvimento o fará em breve por nós.

De facto, o sistema já está tão esticado que está prestes a romper. Os resultados da eleição americana, do Brexit e do referendo italiano, todos apontam para o facto das pessoas já não tolerarem a fachada do politicamente correcto e do liberalismo. Elas precisam de verdadeira correcção.

É aqui que os Judeus entram em cena. Podemos não gostar disso, mas o mundo pensa que seus problemas são culpa nossa. É por isso que desde o seu começo em 2006, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas declarou mais resoluções condenando Israel que o resto do mundo junto. Até o Secretário Geral aposentado das Nações Unidas Ban Ki-Moon admitiu no seu discurso de saída que há um “volume desproporcional de resoluções, relatórios e conferências a criticarem Israel.”

Estamos numa Posição Única para Ter Sucesso, ou Falhar

Por um lado, é muito desconfortável sermos culpados por tudo o que há de errado com o mundo. Por outro lado, isto nos coloca numa posição única para ajudar o mundo a curar-se do ódio que o arruína. Uma vez que já estamos sob constante escrutínio, se prevalecermos sobre nossa divisão e ódio que temos uns pelos outros, o mundo vai reparar nisso instantaneamente. Além do mais, se não estivéssemos divididos, nada teríamos para superar e portanto não seríamos capazes de servir como exemplo de como prevalecer às divisões.

Desde os tempos da antiguidade, nossos antepassados sabiam que a Lei do Desenvolvimento conduz para a conexão derradeira. Para este propósito, eles desenvolveram métodos para superar o ódio e criar um corpo unificado. Abraão fez isso através da qualidade de misericórdia, que ele e sua esposa Sara, ensinaram, como nos diz o Midrash (Bereshit Rába). Moisés sabia isto, também e nos retirou do Egipto quando nos unimos “como um homem com um coração” e portanto nos tornamos uma nação. Rei Salomão sabia sobre isso quando disse, “Ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12) e Rabi Akiva disse que se amar seu próximo como a si mesmo, isto é toda a Torá.

Durante os séculos do exílio, nossos sábios e líderes escreveram sobre o poder da nossa nação de curar o mundo através da união. Na Revolução do Espírito, David Ben Gurion escreveu, VeAhavtá lere’achá kamocha (Ama teu próximo como a ti mesmo) é o mandamento absoluto do Judaísmo. Com estas três palavras, a lei humana e eterna do Judaísmo foi formada e toda a literatura sobre ética e moral no mundo não conseguiu acrescentar mais. O Estado de Israel merecerá seu nome somente se suas políticas sociais, económicas, domésticas e estrangeiras forem baseadas nestas três palavras eternas.”

No seu ensaio, “Um Discurso pela Conclusão do Zohar,” Baal HaSulam escreve que nos foi dada a terra de Israel, “mas nós não recebemos a terra na nossa própria autoridade.” O único modo do mundo reconhecer o valor do Estado de Israel e do povo Judeu é se abraçarmos a união acima de todas as diferenças.

Se assim escolhermos fazer, o mundo verá que há um modo de triunfar sobre o ódio. Esta será verdadeiramente nossa contribuição para as pessoas que sofrem em Aleppo, Iemen, Sudão e os deprimidos e oprimidos pelo mundo fora. Como nos diz O Livro do Zohar (Aharei Mot): “E vós, os amigos que aqui estão, tal como estavam em afeição e amor anteriormente, doravante também não se separarão e pelo vosso mérito haverá a paz no mundo.”

E falando de paz, esta manhã fiquei deleitado por ver que Donald Trump facilmente superou os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral e foi declarado oficialmente como o próximo Presidente dos Estados Unidos. Desejo-lhe o melhor sucesso em levar a cabo todos os seus planos. Falando da perspectiva da sabedoria da Cabala, com seus milhares de anos de antiguidade e do recorde de previsões livres de erros durante a história Judia, recomendo muito que o Presidente eleito ajude o povo de Israel a se unir. Ao assim fazer, ele induzirá uma transformação positiva monumental pelo mundo inteiro. Ajudar Israel a se unir é o maior presente que os Estados Unidos podem dar ao povo de Israel.

Publicado originalmente no Haaretz

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Dinheiro de Graça – Pode Salvar o Mundo ou Pode Arruiná-lo

Rendimento Básico Universal é uma ideia bela, todavia extremamente perigosa. Mas se bem executada, podem bem salvar a humanidade

Em anos recentes, houve um aumento no debate ao redor da ideia do Rendimento Básico Universal (RBU). RBU basicamente significa que se você está vivo você merece receber dinheiro suficiente para o manter acima da linha da pobreza e prover todas as suas necessidades básicas. O dinheiro pode vir ora de um governo ou de outra instituição pública, mas a recepção do dinheiro não está dependente de qualquer outra coisa senão estar vivo.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-12-13

Elon Musk: “Há uma grande chance que acabemos com um rendimento básico universal.” Foto: Dreamstime

Através de um programa chamado o Projecto de Segurança Económica (PSE), financiado por figuras de tão alto perfil como Chris Hughes, co-fundador do Facebook e Robert Reich, antigo Secretário do Trabalho na primeira administração Clinton, a ideia está a ser promovida como uma solução possível para o desafio do desemprego na era burguesa de excesso de mão-de-obra. Eles não estão sozinhos. Já, mais de uma centena de pensadores, cientistas, professores universitários e artistas assinaram a Declaração de Acreditação do projecto. Outros, tais como o magnata da alta tecnologia, Elon Musk, que disse, “Há uma grande chance que acabemos com um rendimento básico universal devido à automação” e o aclamado astrofísico, Stephen Hawking, que declarou, “A automação e Inteligência Artificial vão dizimar os empregos da classe média,” também estão a fazer conhecido seu reconhecimento de que a era do trabalho como a conhecemos em breve vai terminar, definitivamente.

O um por cento do topo e as celebridades naturalmente ficariam incomodadas com a perspectiva de um futuro no qual sua segurança é colocada em perigo por uma multidão frustrada, desesperada e esfomeada que venha para tomar aquilo que lhes pertence. Mas também os governos, estão interessados em experimentar com o RBU, possivelmente como meio de evitar a agitação social. O Canadá, por exemplo, está prestes a lançar um piloto na província de Prince Edward Island e o Conselho de Fife na Escócia está no presente a considerar uma esquema de experimentação para o RBU. No ano seguinte, a Holanda vai lançar aquilo que o The Atlantic chamou como a “experiência do dinheiro-de-graça,” que garante aos residentes de Utrecht e cidades circundantes “uma soma fixa de  €960 por mês.”

Eu sou todo a favor de permitir às pessoas viverem em dignidade. Penso que a sociedade tem de fornecer a todo o cidadão e residente comida, roupa, segurança, cuidados de saúde e educação. Porém e este é um grande porém, como antes escrevi há quase quatro anos atrás no meu livro, Como um Feixe de Juncos: Como a União e a Responsabilidade Mútua São a Necessidade do Momento, dar dinheiro incondicionalmente às pessoas seria um desastre. Se queremos ver o fim da humanidade, vamos dar a todos dinheiro de graça. A natureza humana cuidará do resto e não vai ser bonito.

Não Há Vida sem uma Razão para Viver

Se os governos chegarem a um estado onde têm de dar às pessoas quantias substanciais de dinheiro só por estarem vivas, então seu próximo plano necessariamente vai envolver meios para reduzir o número de pessoas que estão vivas em prol de reduzir as despesas.

Mas dinheiro gratuito não é apenas um fardo sobre o governo. Uma pessoa sem compromissos torna-se uma ameaça. Sem aspirações, esperanças e sonhos, as pessoas não conseguem desfrutar de coisa alguma. Quando trabalhamos pelo nosso vencimento, ganhamos não só o dinheiro, mas também o desejo pelo dinheiro. Sonhamos com o que faríamos com ele, quanto mais queremos e o que devemos fazer para ganhar mais dinheiro. Mas se é dada a mesma quantia de dinheiro a uma pessoa hoje, amanhã e para sempre e se cada folha de ordenado não requer concretizar qualquer obrigação, então teremos feito do futuro o mesmo que é hoje. Sem desejos, esperanças e sonhos, as pessoas enlouquecem. Não há pior punição que satisfazer o desejo de uma pessoa antes que ela o deseje.

Sem saberem por que se devem elas levantar da cama de manhã, ou ao meio dia, ou à noite, as pessoas ficarão insanas. Elas vão se tornar violentas apenas para que se sintam livres. Isto é o abc da psicologia, você não precisa realmente de ser psicanalista para ver isto. Se alguém rouba a dignidade das pessoas, isso é a negação da sua capacidade de contribuir. Qualquer país ou comunidade que implemente o RBU e não o condicione quanto à concretização de compromissos sela o seu destino. Com o tempo, as pessoas se tornarão violentas e desprovidas de emoções humanas.

Como Usar o RBU para Nosso Benefício

Se o RBU quer ter sucesso, ele tem de fazer parte de um plano maior. O facto da Inteligência Artificial estar a dizimar empregos, como  Hawking disse, não é negativo em si mesmo. Pelo contrário, isso nos liberta para perseguir nossas metas enquanto seres humanos em vez de sermos subjugados à escravidão moderna e exploração. A sociedade tem muito a ganhar da liberdade das pessoas, desde que elas a usem de uma maneira pró-social.

Por outras palavras, se o RBU for dado em troca do envolvimento das pessoas em actividades que contribuam para a sociedade, então há todas as razões para lhes continuarmos a pagar. Se elas se envolverem em actividades negativas, seus pagamentos devem ser retidos. Sendo isto dito, a sociedade deve ajudá-las a aprender como contribuir positivamente e não esperar automaticamente que as pessoas entendam o que isto significa ou como o levar a cabo.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-12-13

Justin Trudeau, Primeiro Ministro do Canadá. A província de Prince Edward Island está prestes a lançar um piloto de RBU Foto: Dreamstime

O único ingrediente que todas as sociedades necessitam desesperadamente, especialmente em áreas menos afluentes, é a coesão social e solidariedade. Portanto, o primeiro “emprego” que os benfeitores do programa do RBU terão será se conectarem entre eles. O emprego vai consistir de encontros que incluem ensino claro sobre a ciência por trás e importância da conexão e solidariedade na comunidade, bem como workshops onde os estudantes praticarão aquilo que aprenderam e melhorem suas aptidões de comunicação e solidariedade emocional.

Nem todos os fundos devem ir directamente para as pessoas. Alguns dos recursos devem apoiar criar um ambiente caloroso na comunidade. Crianças e adultos em semelhança devem desfrutar de aulas gratuitas em cursos complementares tais como música, arte e desporto. A atmosfera amigável na vizinhança vai complementar a escolaridade dos residentes, lhes permitindo criar um meio ambiente que muda suas mentalidades da desconfiança para a abertura e preocupação mútua.

Como  tempo, os estudantes seniores nos cursos de conexão se tornarão eles mesmos professores, os permitindo ganhar vencimento adicional e expandir o impacto de sua transformação além das fronteiras dos seus bairros. À medida que o efeito positivo da transformação ondula pelas cidades e comunidades, os benefícios económicos da atmosfera positiva se começarão a manifestar. Com muito menos hostilidade e com uma atmosfera geral de apoio, municipalidades e estados gastarão muito menos em policiamento e serviços sociais. Devido aos ânimos elevados e sentido de propósito das pessoas, sua saúde vai melhorar e doenças relacionadas à depressão se tornarão praticamente obsoletas, poupando biliões de dólares para o sobrecarregado sistema de saúde nacional. Adicionalmente, o abuso de substâncias vai cair dramaticamente, uma vez que as pessoas não terão necessidade de escapar de um meio ambiente hostil em casa, na escola ou no trabalho. Desesperança se transformará em esperança à medida que as pessoas aprendem novas maneiras significativas de se conectar e comunicarem.

Embora o RBU seja o incentivo inicial para a mudança, seu impacto será profundo e de longo alcance. Em resposta à coluna da última semana, um leitor perguntou-me que medidas seriam tomadas para garantir que as pessoas não manipulam o destinado sistema para seu próprio ganho e interesse pessoal. Temos tendência a negligenciar o impacto da sociedade sobre nossas visões e acções. Mas se pensarmos da horrível cobrança que as pessoas pagam às vezes quando sofrem de serem envergonhadas online, vamos perceber o poder da sociedade sobre nós. Na mesma medida, uma pessoa que explorar um sistema que a inteira sociedade estima vai sofrer tamanha repreensão que ela ou ele vai pensar duas vezes antes de tentar o jogo sujo de novo. Naturalmente, haverão excepções e incidentes, nenhum sistema é à prova de falhas. Independentemente, com um ambiente prevalecente de responsabilidade mútua e preocupação de uns pelos outros, tais eventos serão a excepção, em contraste com o presente estado em que eles são a norma.

Acredito realmente que chegou a hora de uma revisão social. O 8 de Novembro foi uma data marcante. Estamos no limiar de uma nova era, mas a escolha é nossa de que tipo de era será esta. Se puxarmos para o mesmo lado e pensarmos com audácia, temos todas as razões para ter sucesso. A humanidade produz tudo aquilo que precisamos para uma vida confortável para todos. Se aprendermos os benefícios do cuidado recíproco, entraremos numa nova e excitante fase na história da humanidade.

Publicado originalmente no Haaretz

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A História da Exploração – e Por Que Ela Tem de Acabar

A exploração do neoliberalismo tem de acabar. Conhecemos os danos do egoísmo; sabemos como o remendar, mas isso requer nossa decisão.

Quando o Reino Unido votou a favor de romper da União Europeia, o mundo ficou em choque. Quando Donald J. Trump espantou os media com a sua vitória, os queixos das pessoas caíram, mas começaram a entender que os tempos estão a mudar. Quando o primeiro ministro italiano, Matteo Renzi, foi derrotado na semana passada no referendo do seu país e anunciou sua demissão, a UE sofreu outro golpe, uma vez que Renzi é um afinco apoiante da Itália permanecer na união que se desmorona.

No próximo ano, a França, a Holanda e vários outros países Europeus terão eleições gerais. Em muitos deles, na França e Holanda em particular, as vozes em favor de abandonar a UE crescem todos os dias. Como Marcus Walker e Anton Troianovski do The Wall Street Journal o colocou: “Para a união da Europa, 2017 será o ano da decisão.”

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-12-08

A exploração do neo-liberalismo tem de acabar Foto: Dreamstime

O Professor do Governo de Harvard, Yascha Mounk, está certo em declarar, “Quão estáveis são as democracias? Sinais de alerta estão a acender a vermelho.” Fascismo e Nazismo estão a aumentar pelo mundo ocidental e a menos que tomemos rápida e resolvida acção, o mundo vai mergulhar noutra guerra e segundo todas as probabilidades, com completo uso de armas nucleares.

O Neo-Liberalismo é um Sintoma Doloroso, Mas Ele Não é a Doença

Quando se vê como os países dominantes na UE exploram e empobrecem as economias mais pequenas e mais fracas dos seus membros conterrâneos, ou o poder que Wall Street tem em Washington, é fácil culpar o neo-liberalismo dos nossos males. Isso é também justificado, até certa medida. Há uma boa razão para os membros do Departamento de Pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Jonathan D. Ostry, Prakash Loungani e Davide Furceri terem escrito sobre os males do neo-liberalismo: “O aumento da desigualdade engendrado pela abertura financeira pode em si ser crescimento subcotado, a precisa coisa que a agenda neo-liberal é destinada a aumentar.” Mais abaixo, eles acrescentam, “políticas devem ser desenhadas para mitigar alguns dos impactos [do neo-liberalismo] — por exemplo, através de maiores gastos em educação e treinamento.”

Porém, dizer que o neo-liberalismo é “a ideologia que está na raiz de todos os nossos problemas,” como disse o colunista George Monbiot, é enganador pois o neo-liberalismo é um sintoma, não a enfermidade em si mesma. Para nos curarmos do fascismo, neo-liberalismo, nazismo e todos os outros “ismos” que ameaçam desmoronar a civilização, devemos alcançar sua raiz comum, a patogenia que nos faz explorar e possivelmente destruir uns aos outros e curá-la.

A Estranheza da Natureza Humana

Sem os humanos, a vida no planeta Terra correria muito mais suavemente. Até em áreas que os humanos poluíram com radiação nuclear, os animais prosperam simplesmente devido à ausência de pessoas. Na zona de exclusão à volta do reactor nuclear de Chernobyl, “a natureza floresce quando os humanos são removidos da equação, até após o pior acidente nuclear do mundo,” diz Jim Smith, um cientista ambiental e autor de um novo estudo sobre a vida perto de Chernobyl.

A harmonia da natureza é perturbada quando os humanos estão por perto pois somos impulsionados por um único desejo, de receber tanto prazer quanto pudermos e pelo mínimo esforço possível. Além do mais, durante gerações, esta aspiração evoluiu em nós a tamanha medida que estamos a arruinar o nosso planeta e a arruinar-nos uns aos outros.

Em tempos pré-históricos, nosso desejo por prazer era muito natural e primitivo. Estávamos satisfeitos quando tínhamos comida, abrigo e podíamos criar nossos descendentes. Até então, alguns queriam mais que os outros, tal como uma caverna maior ou mais fêmeas (humanas), mas esse era um desejo natural que os animais também têm e não perturbava o equilíbrio da natureza.

O problema é que ao contrário dos animais, em nós o desejo de receber consistentemente se intensifica e desenvolve. Nossos sábios disseram (Midrash Rába, Kohelet), “Uma pessoa não deixa o mundo com metade do seu desejo na sua mão.” Por outras palavras, quanto mais temos, mais queremos.

Assim que seus desejos cresceram, as pessoas começaram a congregar em aldeias e cidades. Pouco depois, as classes sociais apareceram e as pessoas se começaram a escravizar umas às outras. Submeter-se à escravidão era um bom modo das pessoas assegurarem o seu pão do dia-a-dia, mas em retorno abdicaram da sua liberdade e arriscaram subjugação à crueldade e exploração. Neste ponto da nossa história, quando começamos a subjugar nossos seres humanos semelhantes, nosso desejo natural de uma vida boa e segura se tornou egoísmo, o desejo não só de desfrutar com aquilo que temos, mas também termos prazer da superioridade sobre os outros e a capacidade de os prejudicar.

Nossos egos nos impulsionaram a melhorar a tecnologia e produção, não só pelo nosso próprio bem, mas em prol de dominar os outros. À medida que nos tornámos menos sociais e mais exploradores, os mestres de escravos começaram a perceber que era menos lucrativo manter os escravos que os taxar fiscalmente. Isto marcou o começo do feudalismo.

Todavia, enquanto a tecnologia continuou a avançar, tornou-se mais claro que as pessoas precisavam de treinamento em prol de serem eficientes a produzir riqueza para os senhores feudais. Para acomodar a necessidade da peritagem dos trabalhadores, os governantes construíram escolas, que eram essencialmente fábricas para criar operários. Os trabalhadores educados produziram tanta riqueza para seus mestres que o feudalismo foi completamente abandonado e com a ajuda da Revolução Industrial, emergiu o capitalismo.

Durante um tempo, parecia a estrutura ideal socio-económica. Maioria das pessoas trabalhava, se tornava melhor com o tempo e embora a elite ainda governasse e se tornasse mais rica e poderosa que todos os outros, a crescente classe média desfrutava de liberdade e podia-se dar ao luxo de prazeres que até os mais poderosos reis não podiam desfrutar há mero século mais cedo.

E todavia, essa estranheza da natureza humana, nosso egoísmo, continuava a crescer. Quanto mais os capitalistas ganhavam riqueza, mais eles a transformavam em poder e controle político. Hoje, um político não consegue ser eleito sem a ajuda dos super-ricos.

Para assegurarem seu poder, a elite financeira instou uma política de laissez-faire, que se livra da regulamentação e lhes permite fazer o que lhes apetecem, quando quiserem. Até acharam um nome para isso que soa positivo: neo-liberalismo.

Porém, não há nada de liberal no neo-liberalismo, muito menos humano. Como Manuela Cadelli, Presidente da União dos Magistrados da Bélgica escreveu numa peça que publicou numa revista online, a Defend Democracy Press: “O neo-liberalismo é uma espécie de fascismo. O estado está agora à disposição da economia e das finanças, que o tratam como subordinado e senhor com isso a tal medida que coloca o bem-comum em perigo.”

Como os recentes desenvolvimentos políticos demonstraram, a Srª Cadelli está absolutamente certa. Se não agirmos rápido, o inchado egoísmo da elite vai impulsioná-los para o nacionalismo e fascismo e finalmente seu desejo incessante de dominação impulsionará o mundo para a guerra.

Foto: Dreamstime, Litença: N/A2016-12-08

A Estranheza da Natureza Humana Foto: Dreamstime

Acabar Pacificamente com a Exploração

Já dissemos que não podemos impedir a evolução do ego. Também, já podemos ver o que se vai revelar se continuarmos a deixá-lo crescer sem verificação. Portanto, para curar os males que poluem a superfície da sociedade do modo que o nosso plástico polui nossas praias, precisamos de aprender como canalizar nossos egos em direcções positivas. Até agora, só lidamos com os sintomas da evolução dos nossos egos. Agora devemos trabalhar com nossos egos e redireccionar sua evolução do presente modo anti-social para um que seja benéfico para a sociedade, todavia que apoie o preenchimento dos nossos desejos. Qualquer outro caminho vai somente resultar na supressão do ego, que mais tarde explodirá com resultados horríveis.

Mencionei anteriormente que os pesquisadores do FMI recomendavam “aumentar os gastos em educação e treinamento.” O problema é que quando pensamos em educação, pensamos em aprender novas profissões e acumular informação. Isto pode ser útil e necessário, mas não mitiga o desejo do ego de controlar ou o redirecciona para finalidades pró-sociais. Portanto, não resolve o problema na sua raiz. A solução para nossos problemas sociais virá quando alcançarmos duas metas: 1) nos educarmos sobre a necessidade e benefícios do comportamento pró-social, 2) nos treinarmos para desenvolvermos comunidades que produzam relações positivas entre seus membros.

Uma vez que a natureza não nos dotou um ego que esteja naturalmente equilibrado, devemos nós “produzir” este equilíbrio sozinhos. Ao assim fazermos, vamos aprender como a natureza opera e seremos capazes de operar harmoniosa e pacificamente como a natureza. Numa recente coluna intitulada, “A Nova Economia Morreu; Longa Vida à Nova Economia,” bem como em vários livros, em especial, Garanta Sua da Crise e Interesse Próprio Versus Altruísmo na Era Global, detalhei como podemos alcançar este equilíbrio. Aqui gostaria de salientar alguns dos benefícios que vamos colher assim que o alcancemos.

Usar o treinamento descrito na coluna que acabo de mencionar, em vez de suprimir nossos egos, vamos descobrir modos novos e significativos de nos exprimirmos, dos quais o todo da sociedade vai beneficiar. Nosso desejo de realizar nosso potencial vai continuar a se desenvolver, mas não vai ameaçar mais a sociedade ou induzir a competição pelos lugares limitados no topo.

Na nova sociedade, a exploração será obsoleta pois ela não servirá nossos interesses. Nosso interesse pessoal e o interesse da sociedade vão convergir pois a sociedade nos apoiará tanto quanto apoiarmos a sociedade.

Em tal sociedade, em que a responsabilidade mútua é o lema predominante, nossas várias necessidades serão preenchidas na totalidade pois elas não virão às custas dos outros. O inteiro modo e espírito das nossas acções será na direcção da conexão em vez do isolamento, então naturalmente nos envolveremos em actividades que contribuem para a sociedade, bem como para nós.

Estamos num ponto no tempo em que a história da exploração tem de acabar e ela tem de acabar aqui. Agora conhecemos os males do egoísmo humano, todavia também temos um modo de o remendar. Tudo o que precisamos é de uma decisão resoluta e acção pronta.

Publicado originalmente no Haaretz

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Trump, Brexit, Terrorismo e o Elo Oculto que Os Liga

Os eventos e processos que agitam nosso planeta estão ligados tão profundamente que suas causas raiz convergem numa única razão.

Desde 2008, o mundo foi atingido por uma crise após a outra. Se você olhar para cada uma delas separadamente, pode pensar que nada conectada a crise financeira de 2008 com a Primavera Árabe de 2011, por exemplo, ou o aumento do terrorismo islâmico com o fluxo de migrantes que inunda a Europa e agora os EUA. Pode também pensar que a vitória de Donald J. Trump e o Brexit da Inglaterra estão desconexos ou que nenhum deles tem coisa alguma a ver com todos os processos que acabamos de descrever.

Foto: REUTERS/Darren Ornitz, Licença: N/A2016-12-06

Oficiais da Polícia da Cidade de Nova Iorque patrulham dentro do edifício da Torre Trump fortemente armados em Nova Iorque. Foto: REUTERS/Darren Ornitz

Certamente, ficar sóbrio nunca é fácil. Mas com sorte, maioria das pessoas já vêem, ou pelo menos sentem que as mudanças que hoje tomam lugar estão todas ligadas. A verdade, contudo, é ainda mais surpreendente que aquilo que a superfície revela. Os eventos e processo que agitam nosso planeta estão tão profundamente ligados que suas causas raiz convergem para uma única razão.

A Busca da Liberdade

Desde o começo dos tempos que a humanidade evoluiu através de várias fases. Com algumas flutuações e irregularidades, evoluímos da escravatura para o feudalismo (tendo nomes diferentes em lugares diferentes) e do feudalismo para o capitalismo.

Agora, com todas as indicações, estamos à beira de uma nova era. Como podemos já deduzir com o surgimento das forças reaccionárias e nacionalistas na Europa e nos EUA, o regime que herdará o capitalismo será uma forma fascista semelhante ao nazismo de governo totalitário.

Incidentalmente, o comunismo russo, na minha visão, não fez parte do fluxo geral da evolução humana sócio-económica uma vez que ele não surgiu da evolução natural da humanidade, mas foi imposto sobre a nação russa. Num sentido, eles saltaram o capitalismo e avançaram directamente para o regime totalitário, que chamaram de, quão irónico, “comunismo.”

O motor por trás de cada fase do desenvolvimento foi o desejo das pessoas pela liberdade e pela justiça. Quanto mais as pessoas sentiam que mereciam ser tratadas como seres humanos com dignidade, em vez de objectos, mais liberal era o sistema económico que elas estabeleciam. As pessoas sempre foram egocêntricas, mas em certo ponto da nossa evolução social, o ego se intensificou a nível tal que nossa noção de liberdade pessoal se transformou num sentimento de direito-pessoal. Começámos a sentir que merecíamos tudo, até explorar os outros, se pudéssemos fazê-lo sem nos impedirem. Assim começou o tempo em que vivemos – a era do egoísmo.

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson, Licença: N/A2016-12-06

Pessoas navegam pelos seus celulares enquanto esperam em fila para comprar o novo iPhone 7 fora de uma loja Apple iStore em Los Angeles, Califórnia. Foto: REUTERS/Lucy Nicholson

Geração Eu, Eu, Eu

Na nossa era, a maioria da população mostra pelo menos vários sintomas de narcisismo patológico. Pelo mundo fora, as pessoas consagraram a riqueza como a única balança pela qual medir o valor das pessoas. As pessoas fixam seu olhar nos seus smartphones esperando evitar o contacto visual com os estranhos. Pelo mundo fora, as pessoas estão solitárias e deprimidas.

A alienação está a separar as pessoas e comunidades até ao ponto do ódio e sectarismo. Nos EUA pós-eleição, por exemplo, as brechas dentro da sociedade americana se aprofundaram até ao ponto que, de acordo com o The New York Times, os eleitores de Clinton se recusaram a celebrar o Dia de Graças com familiares, até de primeiro grau, que votaram Trump.

Certamente, quando o liberalismo se torna sinónimo de divergência e separação e o neo-liberalismo se torna um eufemismo de capitalismo explorador, você sabe que uma mudança é iminente. Fomos tão longe quanto o ego nos pode levar. Daqui em diante, devemos ora achar um novo modo de nos desenvolvermos, ou corremos pelo monte a baixo sem travões.

O Sistema de Duas Forças da Natureza

Apesar da imagem apocalíptica acabada de descrever, não demos de descer monte a baixo; não há lei que o ordene. Há um caminho que tem esperado o tempo todo para olharmos na sua direcção. Enquanto acreditámos que o caminho do ego nos podia levar para onde queríamos, não tínhamos razão para olhar para outro lugar. Agora as coisas mudaram, outro caminho está a emergir da neblina.

Se olharmos cuidadosamente para a natureza, vamos descobrir que nos podemos satisfazer usando um paradigma completamente diferente – um que não induz sua própria morte, mas garante nossa perpetuação e prosperidade. Com a excepção dos humanos, toda a realidade é impulsionada pela interacção equilibrada entre duas forças – positiva e negativa. Estas forças se manifestam como dar e receber, conectar e desconectar, inalar e exalar, dia e noite e todos os outros opostos que se complementam um ao outro. Sem este equilíbrio, nosso universo não existiria e nem nós. Ao explorarmos os outros e procurarmos somente a auto-gratificação, usamos somente a força negativa, perdendo o enorme poder que conecta os átomos em moléculas, células em órgãos e seres humanos em sociedades. Se pudéssemos sintonizar-nos nas capacidades da força positiva, revelaríamos um novo mundo de interacções e possibilidades que não conseguimos sequer imaginar até que as descubramos na realidade.

Ainda melhor, quando entendermos a natureza da força positiva veremos que não precisamos de mudar uma única coisa nas nossas vidas em prol de descobri-la e trabalhar com ela. Tudo o que precisamos é expandir nossos limites. Em vez de nos percepcionarmos como seres humanos separados, lutando para ganhar nosso caminho pela vida totalmente sozinhos, podemos pensar-nos como parte de um sistema humano que é composto de pessoas que cuidam umas das outras como células cuidam do organismo que elas formam juntas. Tal como as células atendem umas às outras, fornecem umas às outras o oxigénio para respirar e os nutrientes para se alimentarem, uma sociedade de ser humanos conectados deste modo faria da vida de cada indivíduo dentro dela sem preocupações e alegre. Se um país inteiro funcionasse deste jeito, ele se tornaria um céu na Terra.

10.000 Pessoas Cuidando de Si

Numa coluna anterior, descrevi o imenso impacto de introduzir a força positiva na sociedade, até por uma breve sessão, provando que ela consegue criar amigos até nos mais amargos inimigos. Nesta secção, gostaria de elaborar sobre os benefícios desta força nas nossas vidas.

Na minha última coluna, dei o exemplo do modo como um rádio funciona em prol de sintonizar as frequências das estações que queremos escutar. Numa palavra, para sintonizar uma estação, temos de criar dentro do rádio a mesma frequência na qual a estação está a ser transmitida e então o rádio consegue apanhar essa frequência do meio ambiente e reproduzir o que quer que a estação esteja a tocar.

A força positiva é uma de conexão. É por isso que ela conecta todas as coisas, tal como partículas dentro de átomos, átomos dentro de moléculas, moléculas dentro de células e assim por diante. Quando só pensamos no modo “eu”, nos negamos dos benefícios do modo de pensamento “nós”. Os Círculos de Conexão apresentados nas ligações acima criam uma conexão especial entre as pessoas, que “ressoa” com a força positiva de conexão tal como uma frequência dentro de um rádio ressoa com uma frequência do exterior. Como resultado, a força positiva começa a influenciar os participantes. É por isso que eles se sentem subitamente conectados, até fazendo Judeus e Árabes se sentirem como parte de uma grande família.

Para sintonizarmos a força positiva, não precisamos de deixar de nos preocuparmos com nós próprios. Pelo contrário, precisamos de nos prolongar a nós mesmos e “incluir” os outros no nosso campo de visão, passo a expressão. Quando vemos a sociedade como uma extensão de nós mesmos e nós mesmos como partes da sociedade, nossa percepção da realidade se expande e engloba o inteiro meio ambiente. Quando esta mudança toma lugar numa comunidade, digamos de, 10.000 pessoas, subitamente você tem 10.000 pessoas a cuidarem do seu bem-estar. Cuidar da comunidade não exigiria esforço para si pois seria sua preocupação pelos outros em comparação a 10.000 outros a cuidarem de si.

A proporção entre os seus esforços pela sociedade em comparação com os esforços da sociedade por nós seriam tão esmagadores em favor da sociedade que ela literalmente nos libertaria de nos preocuparmos com nós próprios. Além do mais, libertaríamos tremendas quantidades de energia que no presente gastamos em nos protegermos dos danos físicos ou emocionais no trabalho, com conhecidos e até com nossa família e seríamos capazes de a usar como desejássemos. Finalmente seríamos capazes de realizar nosso completo potencial sem medo do fracasso ou sermos ridicularizados.

Numa sociedade que utiliza a força positiva, não há necessidade de trabalhar no sentido que o conhecemos. Até hoje, a automação e robótica conseguem fazer quase tudo por nós. Num futuro próximo, o trabalho humano se tornará um fardo para a produção eficiente. Isto nos libertará para nos envolvermos numa nova ocupação: gerar a força positiva.

Como com qualquer nova tecnologia, podemos esperar que as tecnologias desenhadas para “colher” a força da conexão melhorem quanto mais as usamos, minimizando nossos esforços para nos conectarmos e maximizando nossos benefícios disso. O tempo que vamos libertar com a “morte” do trabalho e o melhoramento das nossas técnicas de conexão serão usados para espalhar as tecnologias pelo mundo e para melhorar as aptidões pessoais e hobbies.

Com um sentido renovado de propósito na vida e uma visão expansiva da nossa existência a depressão vai desaparecer e todos os males relacionados a ela vão desaparecer. Naturalmente, o mesmo serve para a guerra e hostilidades; as pessoas não terão desejo de lutar quando se querem conectar.

No presente, o futuro da humanidade parece algo negro. Todavia, isso assim é para que descubramos que há outro caminho – um que conduz para novos horizontes que antes não conseguíamos imaginar, porém que são muito, muito reais.

Publicado originalmente no Haaretz

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A Nova Economia Morreu; Longa Vida à Nova Economia

Durante décadas, a economia tem explorado a classe média, mas uma economia justa primeiro exige uma sociedade conectada.

Há alguns dias atrás, um artigo no prestigiado Harvard Business Review revelou que metade dos adultos na América pensam que há cinquenta anos atrás a vida era melhor que é hoje. O autor do artigo, o economista Dr. Marc Levinson, argumenta que as pessoas se sentem deste modo não por suas vidas serem materialmente mais difíceis hoje que elas eram há cinquenta anos atrás, mas porque nesse tempo, as pessoas tinham esperança. “As pessoas de um estrato amplo da sociedade viam que seus níveis de vida melhoravam de ano para ano,” escreve Levinson, “e esperavam o mesmo para seus filhos. Hoje … somente um americano em quatro antecipa que a próxima geração seja melhor que como os americanos agora se encontram.” Se uma sociedade não oferece esperança para o seu povo, essa sociedade não tem remédio.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-12-01

A Nova Economia Morreu; Longa Vida à Nova Economia Foto: Dreamstime

Há cinquenta anos atrás, a Nova Economia era o paradigma que reinava na América. Os economistas acreditavam que os impostos, gastos públicos e política monetária podiam manter a economia num percurso de baixo desemprego, inflação mínima e crescimento constante. Ela resultou durante um tempo. Mas desde há algumas décadas para cá que a Nova Economia é disfuncional. Gradualmente, os impostos foram cortados do porcento do topo e a política monetária foi substituída com feitiçaria financeira que finge ajudar a classe média e os pobres, mas na realidade está apoiada nas muletas da expansão ao imprimir dinheiro através de várias ferramentas financeiras. Se a inflação não está alta, isso é somente porque as pessoas não têm dinheiro para gastar, nem o desejo de irem às compras.

Pior ainda, se anteriormente as pessoas esperavam que seriam capazes de achar um emprego ao procurarem o suficiente, hoje elas desistem do mercado de trabalho por completo. Com as máquinas que se apoderam da mão de obra, as pessoas perdem a esperança de alguma vez manterem um emprego estável

Onde Está a Procura Genuína

Apesar destas negras previsões, há uma área onde a procura está a crescer, a procura de conexão humana positiva. Satisfazer as necessidades materiais garante nossa sobrevivência física. Porém, nossa felicidade depende inteiramente de termos conexões positivas com os outros. O professor de psicologia, Art Markman, concluiu num ensaio que publicou no Psychology Today, que “as interacções que temos com as outras pessoas afectam o modo como nos sentimos acerca da vida.”

Todavia, a humanidade avança na direcção oposta. Estamos a tornar-nos cada vez mais egocêntricos e exploradores, ou como a colunista Zoe Williams questionou, “De celebridades sedentas de atenção ao excesso de partilhas digitais à explosão na cirurgia cosmética, o comportamento narcisista está em todo o lado à nossa volta. Quão preocupados devíamos estar com nossa auto-obsessão crescente?”

Devíamos estar muito preocupados realmente. A auto-obsessão tem de longe sintomas piores que o “excesso de partilhas digitais.” Sob a censura rígida do politicamente correcto, a América se permitiu a se aproximar de um país de terceiro mundo, cuja classe alta contraída se torna mais rica a cada dia que passa e cuja classe média desliza pelas décimas de vencimento. Por que devem quarenta milhões de americanos viver de Cupões Refeição que se resumem a 120 dólares por mês, enquanto uma mão cheia se pode dar ao luxo de gastar o dobro numa única refeição num restaurante da moda? De facto, por que se deve alguém preocupar com se alimentar ou aos seus filhos quando metade de toda a produção alimentar dos EUA é jogada fora? Até se estiver entre os poucos que ainda acreditam que os pobres são preguiçosos e incompetentes, provavelmente não ficará surpreso quando se revoltarem contra o sistema que lhes negou a sua dignidade humana.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-12-01

Sociedade Conectada Foto: Dreamstime

Equilíbrio – Um Pré-Requisito Para a Boa Vida

Há uma boa razão pela qual as conexões humanas positivas são essenciais para nossa sobrevivência enquanto sociedade e até para nossa sobrevivência física. Toda a realidade é impulsionada pela interacção equilibrada entre duas forças – positiva e negativa. Estas forças se manifestam como dar e receber, conexão e desconexão. Elas se manifestam em todos os fenómenos naturais, tais como dia e noite, verão e inverno e todas as outras formas de mais e menos que compõem nosso mundo. Sem o equilíbrio adequado entre elas, nosso universo não seria como é e nossa existência não seria possível.

Talvez a melhor descrição que ouvi até à data do mecanismo pelo qual a natureza equilibra as forças positiva e negativa veio da bióloga evolucionaria, Profª Elisabeth Sahtouris. Em Novembro de 2005, fui convidado para falar numa conferência em Tóquio intitulada, “Criar uma Nova Civilização,” que foi organizada pela Fundação para a Paz Goi. Entre os oradores estava a Profª Sahtouris, que ofereceu uma descrição concisa, todavia exacta das interacções entre as forças que tornam a vida possível. “No seu corpo,” disse ela, “cada molécula, cada célula e o corpo inteiro, tem interesse pessoal.” Esta é a força negativa. Porém, “quando cada nível … demonstra seu interesse pessoal, ele força negociações entre os níveis. Este é o segredo da natureza. Cada momento, no seu corpo, estas negociações impulsionam o seu sistema para a harmonia.”

A descrição de Sahtouris é valida para todos os níveis da natureza – inanimado, vegetal e animal – com a excepção da humanidade. No que diz respeito às pessoas, a força negativa, que se manifesta no egoísmo, é o único governante. Escravidão, coação de todos os tipos, ganância e injustiça social são todas resultados do governo da força negativa, ou “auto-obsessão,” como Zoe Williams mencionou acima.

A menos que aprendamos como instalar a força positiva nas relações humanas e deste modo as transformarmos em conexões positivas, nossas melhores tentativas de justiça social estão destinadas a fracassar. Foi isto que transformou a bela ideia do liberalismo na maldição do neo-liberalismo. O Prof. sénior de Psicanálise, Paul Verhaeghe, colocou-o eloquentemente no seu ensaio, “O neo-liberalismo fez sair o pior que há em nós”: “A liberdade que percepcionamos que temos no Ocidente é a maior inverdade até este dia e era.”

Para restaurar o equilíbrio na sociedade humana e introduzir alguma sanidade no nosso mundo, devemos achar um modo de introduzir a força positiva, a qualidade de dar, nas relações humanas.

Viva a Nova “Nova Economia”

Uma vez que a natureza não nos dotou com a força positiva, devemos “produzi-la” nós mesmos. Ao assim fazermos, aprendemos como a natureza opera e seremos capazes de criar tanta força positiva quanto precisarmos.

O “método de produção” da força positiva é muito semelhante ao modo como os rádios nos permitem escutar estações específicas. À nossa volta, há milhares de ondas em várias frequências, mas o rádio “miraculosamente” só toca aquela que escolhermos. Todavia, não há milagres aqui; isto é ciência exacta. Os rádios reproduzem estações cujos comprimentos de onda eles criam dentro deles. Para achar uma estação, você precisa de criar o seu comprimento de onda específico dentro do rádio. Quando você procura estações, o rádio cria um raio de frequências procurando aquela que corresponda a uma frequência fora dele. Quando ele acha uma correspondência, o rádio reproduz o que quer que esteja a ser transmitido na frequência externa específica. É isso que definimos como “sintonizar” uma estação.

Similarmente, a força positiva existe bem à nossa volta. Mas para desfrutarmos dela, precisamos de desenvolver um “dispositivo” que a possa sintonizar e revelar para nós. Tal como o rádio, primeiro precisamos de criar a força positiva e então descobri-la. Quando “sintonizamos” esta força positiva, ela vai instar em nós o mesmo equilíbrio e harmonia que ela insta em toda a natureza. Tal como as ondas sonoras criadas a partir das ondas de rádio se propagam pela sala e influenciam qualquer um que as escute, equilíbrio e harmonia se vão espalhar pela sociedade assim que criemos a força positiva. Embora não percepcionemos as ondas de rádio, nós sentimos o seu impacto nos nossos ouvidos. Similarmente, embora não percepcionemos a força positiva, sentiremos o seu impacto nas nossas vidas assim que a sintonizemos através dos nossos “rádios.”

Construir “Sintonizadores” da Força Positiva

Para gerar a força positiva, você precisa de pessoas que estejam dispostas a se elevarem acima de sua alienação e aversão de umas pelas outras e que se unam. O Rei Salomão chamou a esta técnica, “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Prov. 10:12).

Quando os membros do Movimento Arvut (responsabilidade mútua) – cujas ideias derivam do conceito de conexão humana descrito na sabedoria da Cabala – decidiram testar o princípio da “união acima da aversão” na prática, eles descobriram um método simples de deliberação chamado Círculos de Conexão, que resultou na perfeição. Um Circulo de Conexão é um modo de discussão no qual cada participante é igual e fala somente na sua vez, não interrompe outros oradores, acrescenta à conversa, mas não refuta as ideias dos outros participantes. Estas regras de deliberação criam tal conexão entre os participantes que eles se tornam sintonizadores da força positiva que existe à nossa volta.

Quando o movimento Arvut conduziu estes Círculos de Conexão com duas populações naturalmente hostis colocadas no mesmo circulo, os resultados excederam as expectativas de todos. Uma e outra vez, as pessoas provaram que quando se sentam num circulo como iguais e estão dispostas a se unir acima das suas diferenças, hostilidades, barreiras culturais e até barreiras linguísticas todas desaparecem. Como demonstram estes testemunhos (Em hebraico, certifique-se que tem a opção de Legendas activada), em vez da suspeita e desconfiança, calor e uma sensação de pertença engoliram os participantes passada apenas uma única sessão.

A força positiva criada no circulo demonstrada no vídeo, transformou os sentimentos dos participantes. Ela literalmente os inverteu da alienação para a conexão. Se tal instrumento fosse utilizado nos EUA, ele produziria força positiva suficiente para curar todo o problema social na América e serviria como modelo exemplar de equilíbrio social e harmonia para o resto do mundo.

Desbloquear Recursos Não Usados

Na presente sociedade americana, milhões de pessoas beneficiariam imediatamente dos Circulos de Conexão. Desempregados e pessoas que desistiram de achar um emprego são todas perfeitos candidatos para estes circulos. Em vez de permanecerem inativos, eles podem ser empregados como “produtores da força positiva” pelos mesmos benefícios que recebem de qualquer jeito. A transformação que experimentariam não só viraria suas vidas do avesso, mas aliviaria a pressão dos serviços sociais já sobrecarregados do país. Taxas de criminalidade cairiam significativamente e os conflitos domésticos se tornariam menos e menos frequentes. No final, tal plano custaria de longe menos que custa a atender na actualidade para os sem emprego, mas produziria de longe resultados melhores.

Mas isto é somente o começo. No seu site de transição, escreve o Presidente eleito Donald J. Trump: “Para fazer a América Grande de Novo para aproximadamente 70 milhões de estudantes, 20 milhões de estudantes do liceu e 150 milhões de estudantes-trabalhadores, a Administração Trump vai avançar com políticas que apoiem oportunidades de ensino remunerado nos níveis estatais e locais.” Se a nova Administração incluir um Circulo de Conexão diário de 45 minutos nestas políticas, ela vai produzir não só trabalhadores habilitados, mas também seres humanos felizes.

Quando as pessoas entenderem sua própria natureza e como trabalharem com ela para se beneficiarem e a suas comunidades, os resultados serão o surgimento de uma nova sociedade baseada na Nova Economia – a economia da conexão. Isto vai dispersar o fantasma do desemprego permanente, estabilizar a sociedade e vai pacificar tendências de instabilidade dentro dela. Abreviadamente, isso vai fazer a América grande de novo.

Publicado originalmente no Haaretz

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Pode a Coexistência Surgir das Brasas do Ódio?

Judeus e Árabes compartilham um pai comum cuja misericórdia e generosidade uniu pessoas diferentes e frequentemente hostis sob sua alçada.

Enquanto as brasas se apagam após a furiosa onda de “Piro-Terrorismo,” como se referiu a ela o Ministro da Educação Naftali Bennett, medimos os danos e contamos nossas bênçãos de que ninguém se magoou a sério. E assim devemos fazer pois fomos poupados de novo.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-11-29

Sem Política, as Pessoas se Dão Bem Foto: Dreamstime

Mas à parte das bênçãos, agora que as chamas se extinguem, devemos pensar seriamente sobre as causas originais da fúria ardente. E dizendo “causas originais,” não me refiro à estagnação do “processo de paz” (Alguma vez houve uma descrição mais cínica de um estado de guerra contínuo que “processo de paz”?). Com “causas originais,” me refiro à raiz do ódio entre Israelitas e Palestinianos, pois na verdade, nem sempre houve ódio e a ascendência comum que compartilhamos costumava desempenhar um papel maior nas nossas relações.

Se observarmos o conflito árabe-israelita de um ângulo diferente, podemos bem achar uma lacuna no abismo de perpétuas hostilidades.

Um Tempo de Mudança

Durante a curta história da Israel moderna, temos procurado a paz. E durante este tempo, o único paradigma que temos tido tem sido a fórmula da “terra pela paz.” Diferentes variações disso têm sido tentadas durante os anos, desde tratados de paz tais como com o Egipto, para as zonas A, B e C na Cisjordânia seguidos do 2º Acordo de Oslo, até a uma retirada unilateral, tal como em Gaza. Todas produziram pobres resultados, no máximo. O sonho de Shimon Peres de um “novo Médio Oriente” se realizou, mas não é nada como o falecido primeiro ministro havia imaginado. Em vez de paz, temos terrorismo por todo o país, praticado por Palestinianos não-treinados e por vezes juvenis motivados por nada senão ódio.

Claramente, a fórmula da “terra pela paz” falhou e devemos procurar um novo paradigma. Em prol de alcançar a paz e não falar meramente sobre ela, devemos pensar além da questão da terra e começar a olhar para as pessoas que são na realidade aquelas que têm de fazer a paz, os Israelitas e Palestinianos.

Sem Política, As Pessoas Dão-se Bem

Inicialmente, Maomé não percepcionava os judeus e muçulmanos como inimigos. “Quando Maomé chegou a Medina,” escreve o historiador Zachary Karabell, ele assinou um acordo, “que ficou mais tarde conhecido como a ‘Constituição de Medina.’ Ele era um modelo do ecumenismo.” O acordo criou uma comunidade e Maomé declarou que “quanto aos judeus, eles pertencem à comunidade e devem reter sua própria religião; eles e os muçulmanos devem dar ajuda uns aos outros quando isso for necessário” (Karabell, Paz Esteja Convosco: Catorze Séculos de Cooperação e Conflito Muçulmanos, Cristãos e Judaicos).

A genial coexistência não durou muito na Arábia e Maomé eventualmente subjugou ou destruiu as tribos judias que lá viviam e resistiram aos seus ensinamentos. Porém, ao contrário do antissemitismo cristão, os muçulmanos não percepcionavam os judeus como a origem de todo o mal. O famoso autor turco, Harun Yahya, escreve que até ao “regime Vichy [que governava em Marrocos] inspirado pelos nazis ter iniciado suas práticas antissemitas … os 250.000 judeus marroquinos eram uma parte inseparável de Marrocos, sua cultura, história e civilização e ajudaram a construir e formá-la fazendo-a aquilo que ela é hoje.” Além do mais, continua Yahya, “Durante séculos, estas duas comunidades existiram lado-a-lado em harmonia e amizade.” Até em Jerusalém, judeus e árabes viviam pacificamente lado-a-lado durante séculos, até que a política se tenha intrometido aí, também.

Aparentemente, quando você se concentra nas pessoas em vez dos territórios, pode colocar a política (e os políticos) de fora e instar uma atmosfera completamente diferente.

Foto: Screenshot, Licença: N/A2016-11-29

O Lugar Onde a Paz Começa: Um Circulo de Conexão de Árabes e Israelitas em Eilat Foto: Screenshot

Colocar a Ênfase de Volta nas Pessoas

Antes do estabelecimento do Estado de Israel, os líderes das colónias judias procuravam a paz e acreditavam que ela era alcançável. Além do mais, eles enfatizavam o aspecto humano em vez do político. Rav Kook, o líder espiritual do Sionismo religioso, escreveu, “Eu sei de certeza que a nação árabe como um todo, incluindo a maioria dos árabes em Israel, estão cheios de tristeza e vergonha das más acções que uma pequena minoria deles levam a acabo devido aos seus instigadores” (Tesouros do Raiá).

Similarmente, o celebrado pensador, Martin Buber escreveu, “Nosso retorno à terra de Israel não nega os direitos dos outros. Desejamos estabelecer nossa residência comum com a nação árabe como uma justa aliança e comunidade próspera, económica e culturalmente, cujo desenvolvimento permita a cada uma das nações se desenvolver individualmente sem interrupção” (“Esperanças da Solidariedade Judaica-Árabe”).

E finalmente, David Ben Gurion, que mais tarde se tornaria Primeiro Ministro de Israel, disse na convenção da Histadrut em Março de 1944: “Só mais um comentário sobre o sentido do estado Judaico: Esse não é um estado governado somente por Judeus. Na terra de Israel, há árabes e outros que não são judeus. É inconcebível que não haja completa igualdade política, civil e nacional no estado Judaico. Não só a igualdade pessoal, mas igualdade sectária, também: completa autonomia em todas as questões de idioma, religião e cultura. Num estado Judaico, é possível que um árabe seja eleito como Primeiro Ministro ou como Presidente, se ele assim merecer.”

Lamentavelmente, assim que abandonámos a ideia de nos educarmos para a coexistência, perdemos a capacidade de alcançar a paz. Enquanto os corações das pessoas se encheram de ódio e incitamento, a vida de harmonia em Israel se tornou de um sonho numa miragem.

Unir-nos de Baixo para Cima

Agora que os políticos desistiram de aquecerem os relacionamentos entre Israelitas e Palestinianos e desistiram de confiar no governo (qualquer governo) para alcançar a paz, é hora de começar a construí-la de baixo para cima.

Quando os membros do Movimento Arvut (responsabilidade mútua), que deriva suas ideias do conceito de conexão humana descrito na sabedoria da Cabala, decidiram testar o princípio da união acima das diferenças na prática, eles descobriram um simples método de deliberação chamado Círculos de Conexão. Basicamente, um circulo de conexão é um circulo de discussão no qual todo o participante é igual e fala somente na sua vez, não interrompe os outros oradores e acrescenta à conversa mas não rejeita as ideias dos outros participantes.

Os resultados dos Círculos de Conexão de longe excederam as expectativas de qualquer um. Como demonstram estas ligações, uma e outra vez, as pessoas provaram que quando se sentam num circulo como iguais, as diferenças, hostilidades, barreiras culturais e até barreiras linguísticas desaparecem.

Adicionalmente, nesse vídeo (em Hebraico; então certifique-se que a opção de Legendas está activada) que foi filmado na cidade turística de Eilat, na fronteira entre Israel e o Egipto, é possivelmente a melhor prova do poder humano da conexão feito através do Circulo de Conexão. O vídeo, intitulado, “O Lugar Onde Começa a Paz,” trás alguns destes muitos testemunhos de Árabes que experimentaram Círculos de Conexão com Judeus.[*] Uma mulher disse sobre os árabes e israelitas depois da sessão: “Nós somos como uma família, não judeus ou árabes, sem racismo.” Outro homem disse, “Podemos ser um exemplo para o mundo inteiro de que nós [árabes e judeus] verdadeiramente queremos a união, que queremos viver uns com os outros.” Todavia outro homem se referiu a nossa história comum: “É nosso dever vivermos juntos pois viemos do mesmo pai [Abraão].

“Não há como fugir disto,” disse ele, olhando para o entrevistador. Finalmente, um jovem foi questionado sobre como ele achava que podia haver paz entre os árabes e Judeus. Ele respondeu, “Ela começa com um círculo, onde eu escuto e educo minhas crianças desde a infância com amor, entendendo o outro e teremos gerações de pessoas muito felizes e optimistas.”

“O circulo de hoje conteve sete cadeiras, mas ficaria muito feliz se ele contivesse 80 milhões, onde todos nos sentamos juntos, concretizando nossos desejos.” Finalmente, um homem de meia idade concluiu, “Se este circulo se espalhar adequadamente, não só em Eilat, é isto que nos trará a paz, não os políticos, não os nossos [políticos árabes] nem os deles [políticos judeus]. Somente se este circulo se espalhar, trará ele a paz e aproximará ele os corações das pessoas. Inversamente, esqueça; não haverá paz.” Novamente, todas estas citações vieram dos árabes que experimentaram apenas um Circulo de Conexão.

A teoria por trás desta simples técnica é ainda mais simples que a própria técnica e ela reside no princípio que nos fez um povo para começar: “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12). Isto significa que não suprimimos as diferenças entre nós. Não usamos qualquer eufemismo ou politicamente correcto mas em vez disso trazemos nossos ódios para o circulo, alegoricamente os empilhamos no meio e nos unimos acima deles.

Moisés escalou o Monte Sinai, da palavra, sina’a [ódio] e nos trouxe a Torá, a lei de amar aos outros como a nós mesmos, somente quando concordámos nos unir “como um homem com um coração,” assim nos diz RASHI. Similarmente, quando nos juntamos num circulo, isso torna-se uma profunda experiência de união, como é evidente através dos olhos acesos dos entrevistados enquanto falavam sobre seus sentimentos e conclusões.

Regar Nossas Raízes Comuns

Quando Baal HaSulam escreve nos Escritos da Última Geração, “O judaísmo deve apresentar algo de novo às nações; é isto que elas esperam do retorno de Israel à terra,” ele se refere à união. Nós somos o povo que introduziu a união como base para fundar uma nação, ou como o colocou Baal HaSulam no livro supracitado, “a sabedoria da doação.” Nós seremos “uma luz para as nações” somente quando doamos união sobre o mundo inteiro. Em uma das suas cartas, escreveu o Rav Kook, “O amor fraterno de Esau e Jacob e Isaac e Ismael, se levantará acima de todos os tumultos que a perversidade induziu e regressará a eles com luz e misericórdia intermináveis” (Cartas do Raiá). Esta luz da união foi o que acendeu os olhos dos árabes que participaram no círculo e é aquilo que acende os olhos dos judeus, cristãos, muçulmanos e de toda a pessoa, religiosa, secular e de tudo o que se encontra no meio quando elas experimentam os Círculos de Conexão pelo mundo inteiro.

União é o único ingrediente que o mundo precisa, mas que não faz ideia de como produzir. Em Israel, nós, israelitas e árabes, podemos produzi-lo e portanto nos tornarmos imediatamente um modelo exemplar que o mundo alegremente vai abraçar. Compartilhamos um pai comum, cuja natureza era misericórdia e generosidade. Foi assim que ele uniu tantas pessoas diferentes segundo sua alçada. Hoje, nós devemos sintonizar-nos no legado de Abraão e estabelecer a união entre nós. Se queremos a paz e coexistência, este é o caminho a seguir.
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[*] Todos os participantes foram escolhidos aleatoriamente de entre visitantes que passeavam pelo calçadão de Eilat numa tarde de verão.

Publicado originalmente no Haaretz

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O Que Os Judeus Liberalistas Podem Aprender de Henry Ford

Se continuarmos a procurar sermos assimilados em vez de sermos um modelo exemplar de união, o mundo novamente nos mostrará nosso papel.

Durante a história, têm havido judeus que odiaram sua própria herança. Durante a história, uma proliferação notável deles pressagiou a calamidade para os judeus. Será o presente excesso de judeus que se odeiam a si mesmos entre a judiaria americana uma excepção?

Foto: Joe Mabel, Licença: N/A2016-11-24

Contingente da Jewish Voice for Peace numa marcha anti-guerra, Judkins Park, Seattle, Washington, 27 de Outubro 2007. Foto: Joe Mabel

Em anos recentes, temos visto uma explosão no número de judeus americanos que, dizendo-o candidamente, preferiam que o Estado de Israel não existisse. Notáveis exemplos de tais judeus são George Soros, que gasta centenas de milhões do seu dinheiro pessoal cada ano para apoiar organizações anti-Israel e Bernie Sanders, que em 1985 convidou seu companheiro (Judeu) atacante de Israel, Noam Chomsky, para dar um discurso na de prefeitura e não protestou quando Chomsky despreocupadamente afirmava que Israel “não quer um acordo político” no Médio Oriente, serviu como assassino “substituto” dos EUA e levou a cabo massacres “em África, Ásia e principalmente na América Latina.” Mais recentemente, Sanders afirmou que Israel matou “mais de 10.000 pessoas inocentes” no mais recente conflito em Gaza. Até os mais altos levantamentos de baixas do Hamás são um quarto desse número.

Porém, enquanto os dois que acabamos de mencionar são os mais obstinados activistas anti-Israel, eles não são mais a excepção. De facto, eles se tornaram a norma. Verdade, nem todos os judeus americanos activamente apoiam o movimento BDS do modo que organizações tais como a Jews for Justice in Palestine (Judeus pela justiça na Palestina) e Jewish Voice for Peace (Voz Judaica pela Paz) fazem, nem se envolvem em assinar petições que evoquem o boicote a Israel ou ajudam a organizar acampamentos de verão do BDS. Todavia, evitar Israel já se tornou a norma, principalmente entre os judeus liberalistas e progressivos. Uma pesquisa lançada pelo Instituto de Políticas do Povo Judeu, intitulada “Deslegitimação: Atitudes para Israel e para o Povo Judeu,” concluiu que os Democratas Judeus mostram “o declínio e erosão do apoio” por Israel.

Já Passámos Por Isso

A auto-aversão judaica não é um fenómeno novo. Tibério Júlio Alexandre, comandante dos exércitos romanos que conquistaram Jerusalém e exilaram seu povo era um judeu alexandrino que denunciou a sua religião. Seu próprio pai havia doado o ouro e prata para os portões do Templo, que Alexandre quebrou. De facto, na altura em que Tibério Alexandre atacou Jerusalém, ele já se havia tornado notável, tendo obliterado sua própria comunidade nativa de Alexandria, fazendo com que “o inteiro distrito [fosse] inundado de sangue enquanto se acumulavam 50.000 cadáveres,” de acordo com o historiador judaico-romano Tito Flávio Joséfo.

Foto: N/A, Licença: N/A2016-11-24

Expulsão dos Judeus de Espanha (1492). Pintor: Emilio Sala Francés

Passados séculos de opressão, os judeus exilados embora finalmente tivessem achado um lar na Espanha do século 15. Escreve o historiador Norman Roth que os judeus “nutriam um laço único com seus anfitriões espanhóis.” Nos judeus, visigodos e muçulmanos da Espanha medieval, escreve Roth, “Tão invulgar era a natureza desse relacionamento [entre judeus e cristãos] que foi usado um termo especial em espanhol para ele … convivencia [coexistência amigável].” A especialista em história sefardita, Jane S. Gerber, acrescenta que de facto, os judeus consideravam Espanha “uma segunda Jerusalém.”

Todavia, quanto mais os judeus espanhóis eram assimilados, mais ódio para eles crescia. De acordo com Roth, “O papel dos conversos [judeus que se convertiam ao cristianismo] na sociedade levou a uma feroz hostilidade contra eles, finalmente resultando em em estado de guerra” que evoluiu para a Inquisição, causando a derradeira expulsão dos judeus de Espanha. Além do mais, o chefe inquisidor Tomás de Torquemada era ele mesmo de descendência judia, pois sua avó era convertida.

Podíamos ter aprendido da experiência de nossos antepassados sefarditas, mas não aprendemos. Durante os séculos 19 e 20, os judeus alemães passaram por um processo muito semelhante a aquele de Espanha. O livro, Assimilação e Comunidade: Os Judeus na Europa do Século Dezanove, descreve como em 1799, alguns anos mais tarde do começo da emancipação judia, David Friedlander, um dos líderes mais proeminentes da comunidade judia, sugeriu que os judeus de Berlim se converteriam ao cristianismo em massa. No meio do século 19, o Judaísmo Reformista, o progenitor ideológico do movimento Reformista Americano de hoje, foi tão longe em procurar a integração na sociedade cristã alemã que sugeriu a aniquilação da circuncisão e tornar o domingo um dia sagrado para os judeus.

Todos sabemos como a assimilação judaica e negação da herança dos judeus alemães terminou. Hoje a judiaria americana está no mesmo caminho que seus correligionários pisaram em Jerusalém, Espanha e Alemanha. Até agora, não vi uma razão por que não vai acabar do mesmo jeito.

Por Que Tantos Judeus Odeiam o Judaísmo

Bem desde o começo, nós judeus éramos diferentes. Nossos antepassados eram uma reunião de indivíduos de tribos e culturas diferentes que subscreveram a ideia da união acima do ódio, ou como o Rei Salomão o colocou: “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12). Por outras palavras, nossos antepassados não compartilhavam um idioma comum, lugar de nascimento, cultura, mas em vez disso uma ideologia de que a união acima do ego é o modo de construir a sociedade.

Todavia, o ego procura reivindicar seu trono. Os judeus cultivaram sua ideologia de união apesar dos seus egos explosivos e procuraram alcançar a meta derradeira de amar os outros como a si mesmos. Quando quer que prevalecessem, o povo judeu prosperava. Mas quando o ego triunfava, os judeus deixavam de ser judeus e se tornavam o que eles eram antes: indivíduos de diferentes tribos e culturas. Em tais alturas, seu ódio forçava a sua união e denunciava sua herança. Por outras palavras, quando os judeus não se conseguem unir, eles se tornam antissemitas.

Não para Nós Mesmos

O problema é que o ódio de nós próprios é precisamente o que causa o ressurgimento do antissemitismo. Se não aprendemos mais nada, esta é a lição que precisamos de retirar da história: As nações tornam-se antissemitas precisamente quando e por que, nós tentamos ser assimilados. Em 1929, Dr. Kurt Fleischer, líder dos Liberalistas na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, argumentou que o “Antissemitismo é o flagelo que D’us nos enviou em prol de nos conduzir e manter juntos.” Similarmente a Fleischer, o Prof. Donald L. Niewyk escreveu sobre o aumento do Nazismo: “Não há poucos judeus que tenham visto que o antissemitismo é um benefício que sozinho pode impedir os judeus da amalgamação gradual com a sociedade maior e seu derradeiro desaparecimento.” Que benefício foi esse.

Todavia, a união não é meramente um traço que devemos conservar; ela é exactamente aquilo que devemos cultivar entre nós e legar às nações. Não é coincidência que as nações tenham adoptado o mais fundamental princípio da lei Judaica: “Aquilo que odeias, não faças aos outros.” Mas as nações não sabem como o exercitar até que mostremos o caminho. Quanto mais o impedirmos, mais o mundo cairá para o ódio furioso e nos punirá por isso.

Quando Abraão Nosso Pai uniu os dissidentes que fugiram para sua tenda do ódio que haviam sentido entre seus conterrâneos, ele generosamente compartilhou sua sabedoria com eles. Abraão pretendia que o mundo inteiro se unisse. No seu tempo, um povo como os judeus ainda não existia.

Similar a Abraão, quando Moisés uniu os hebreus no pé do Monte Sinai, ele “desejou completar a correcção do mundo” (Ramchal, O Comentário de Ramchal sobre a Torá). Nossa missão, portanto, em sermos, “uma luz para as nações,” é de longe mais exigente que ser-se “liberalista,” permitindo que todos pensem como lhes apetece. Nossa missão é unir os corações de toda a humanidade até que todos sejamos “como um homem com um coração.” É de admirar que o mundo precise de ver um exemplo antes que consiga concretizar isto?

O mais notável antisemita na história americana, Henry Ford, reconheceu o papel dos judeus no seu livro, O Judeu Internacional — O Principal Problema do Mundo: “Os reformistas modernos, que constroem os sistemas sociais exemplares, fariam bem em olharem para o sistema social sob o qual os primeiros judeus se organizavam.”

Não tenho dúvidas que uma administração Trump seja muito mais complacente para os judeus e Israel que a presente. Porém, se perdermos a oportunidade e continuarmos a procurar sermos assimilados em vez de nos elevarmos acima de nossos egos e sermos um modelo exemplar de união, então as nações nos lembrarão uma vez mais do nosso verdadeiro papel neste planeta.

Em Respeito a Israel

Em acréscimo ao citado, penso que a judiaria americana não só deve compreender e exercitar seu dever de unir, mas também pressionar os judeus em Israel a fazerem o mesmo. Porque a judiaria americana é tão influente aqui em Israel, pode ser muito útil alcançar isto. Na minha visão, ela deve começar primeiro e antes de mais com os judeus israelitas seculares, uma vez que eles têm uma mente mais aberta e são receptivos a noções que vêm do outro lado do Atlântico. No minuto em que nos começarmos a conectar, nós, nossos filhos e o mundo inteiro também começarão a se conectar positivamente ao nosso redor. Nisto, seremos verdadeiramente “uma luz para as nações.”

Publicado originalmente no Haaretz

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A América de Trump pode ser boa para os judeus

Uma Judiaria Americana em Declínio

Judeus que protestam contra Trump podem reivindicar que sua resistência a esta mudança é na realidade uma defesa dos seus valores judaicos; porém, aquilo que devemos ver é que a judiaria americana estava prestes a desaparecer graças ao período de afluência, aceitação e igualdade que ela trouxe consigo a assimilação, casamentos mistos e baixas taxas de natalidade. As sondagens mostram um quadro muito negro da saúde da população judaica americana, como Jack Wertheim, Professor da História da Judiaria Americana, o coloca, com a rápida assimilação que varre todo o ramo do judaísmo com a excepção do ortodoxo. Seus laços a Israel também fraquejavam. Nas recentes eleições que trouxeram o inteiro sistema liberal a uma paragem, com a meta de virarem suas costas ao percurso destrutivo em termos de economia e absoluta instabilidade à qual o mundo chegou, mas também chocou a base da comunidade judaica que alegremente perdia sua identidade em troca do seu sucesso. Para os judeus, a eleição levantou o antigo conflito entre serem indivíduos bem sucedidos e um povo que permanece fiel às suas raízes.

A História se Repete

Durante a história os judeus têm passado pelo mesmo padrão, serem assimilados em parte para uma cultura estranha, seja a cultura grega dos dias dos Macabeus, aquela de Espanha antes da expulsão de Espanha, ou a Alemanha do século 20 antes da ascensão de Hitler. Nestes e muitos outros casos, nosso povo percebeu de maneiras terríveis que se tornar parte da manada recebeu sempre recompensa de grande surto de antissemitismo que os forçaria a regressar às suas identidades judaicas e à sua própria cultura.

Durante séculos os cabalistas sabem a razão desta terrível repercussão. Eles entenderam que os judeus, por muito divididos que possam parecer, na realidade guardam dentro deles uma antiga promessa para pavimentar o caminho para a união e paz de toda a humanidade.

Os judeus americanos que lutam com os resultados da eleição enfrentam agora este mesmo conflito histórico entre lutarem pelo seu lugar numa cultura estranha e procurarem novas respostas dentro de sua própria herança que possa verdadeiramente transformar a realidade. Eu os insto a não esperarem que os antissemitas os rotulem como judeus, mas em vez disso a saberem que são eles que seguram seu futuro nas suas próprias mãos, bem como o futuro da América e do mundo no geral. Não se trata de Trump ou Bannon, ou qualquer das repercussões que vemos como resultado desta eleição. A chave para a calma, paz e para os valores que eles desejam defender está dentro das nossas identidades judias e da conexão com o estado de Israel. Pois dentro do nosso povo está uma antiga sabedoria e capacidade de se tornar o exemplo dos relacionamentos que todos queremos ver nas sociedades modernas.

 O Clamor dos Nossos Sábios

No começo do século 20, Rabi Kook e Rabi Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) tentaram em vão alertar os líderes das grandes comunidades judaicas da Europa do Leste dos terríveis resultados do seu exílio, tanto físico como espiritual. Meu professor, filho de Rabi Yehuda Ashlag, Rabi Baruch Ashlag, me falou dos tempos em que havia visitado o Primeiro Ministro Israelita David Ben Gurion junto com seu pai. Ele testemunhou as tentativas falhadas do seu pai de convencer o primeiro ministro da necessidade de unir as diferentes facções da sociedade israelita, que estava dividida até então e da importância de alcançar as relações correctas com nossos vizinhos árabes. Ele explicou que o método que permitiria que isto acontecesse existe bem fundo dentro da nação judaica, na autêntica sabedoria da Cabala; que essa é nossa única esperança para alcançar a paz entre nós e com o resto do mundo e com isso, nos tornarmos uma luz para as nações.

Infelizmente, Ben Gurion nunca aceitou estas recomendações como linhas orientadoras para seu caminho e sofremos os resultados até este dia.

Enquanto saímos da crise neo-liberalista, nos encontramos num mundo que procura uma cura para as suas profundas divisões e conflitos. Esta terrível necessidade a que chegou a humanidade não é coincidência; nem é coincidência que Israel e os judeus tenham estado sempre no centro de todos os infortúnios do mundo. A razão é que os judeus têm o poder para curar e prevenir todas estas crises ao modelar e transmitir a inclinação de ser “como um homem com um coração” e de “amar o seu próximo como a si mesmo” para o resto da humanidade pelo seu exemplo pessoal. Mas eles primeiro têm de descobrir esta verdade sobre eles mesmos. Os cabalistas tentaram explicar variadas vezes que é a falta deste entendimento que faz com que as nações do mundo continuem a exigir que os judeus mudem suas condutas, como está escrito, “Nenhuma calamidade vem ao mundo senão por Israel (Yevamot 63).  É esta a razão pelo aparente ódio infundado, que ironicamente, para sempre impede os judeus de fugirem do seu papel desconhecido.

Encontrados na Encruzilhada

O povo judeu nunca foi capaz de escapar à sua missão histórica. Paradoxalmente, foram os inimigos dos judeus que mantiveram o judaísmo vivo. Mas isso não tem de ser desse modo para sempre. Esta eleição trouxe a possibilidade da mudança de um caminho que podia parecer ser confortável por agora, mas eficientemente trazia os judeus americanos à extinção e o mundo ao caos absoluto. Nesta encruzilhada crítica, devemos quebrar o antigo padrão que faz sentido para a razão ocidental e liberal, mas é na realidade ilusório e prejudicial para a alma judaica. Ao se oporem a Trump, os judeus não se opõem ao racismo ou ódio, eles meramente tentam regressar a um sistema que lhes permitia as liberdades de fugirem do seu destino. Eles devem escolher se reconectar com Israel e ao seu verdadeiro destino de que lhes reserva a luz para as nações. Este é o único caminho que vai garantir que a presidência de Trump se afasta da extrema direita para o caminho do meio, se tornando uma oportunidade histórica para reformar as relações fracassadas e atitudes do passado, trazendo com ele a segurança, bem-estar e prosperidade para todos.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Meu Artigo no Ynet: “Antissemitismo Nos EUA? A História Se Repete”

Ao longo da história, os judeus tentaram esconder a sua identidade e assimilar, mas nunca conseguiram. O helenismo levou à destruição do Templo, a conversão ao cristianismo levou à Inquisição espanhola e à perseguição na Europa. O que pode ser aprendido com o crescente antissemitismo entre os judeus americanos? O quanto Trump é responsável por isso? Como vamos parar essa onda crescente? Dr. Laitman oferece uma maneira de lidar com um mundo em mudança.

Steve Bannon, presidente do site de notícias Breitbart News, afiliado do movimento “Alt-Right”, foi presidente da campanha de Trump e recentemente nomeado estrategista-chefe e assessor sênior na administração Trump, chateando a América em geral e a comunidade judaica em especial.

Por um lado, os republicanos judeus que trabalharam com Bannon em toda a campanha eleitoral de Trump dizem que ele realmente será “bom para os judeus” e, especialmente, para Israel, e estamos prestes a ver diante de nossos olhos como Donald Trump vai se tornar o primeiro presidente “judeu” na história dos Estados Unidos. Por outro lado, a maioria dos judeus liberais dos Estados Unidos, cerca de setenta por cento dos quais se opuseram a Trump, atribuem opiniões antissemitas e racistas a Bannon.

Bannon é apenas um exemplo de uma tempestade que está sendo travada entre os judeus americanos. Seja um apoiador dedicado da nação de Israel ou um inimigo destacado dos judeus, um bom futuro na América ainda não está garantido aos judeus. Os judeus são um fenômeno único no mundo. Eles são um conjunto de pessoas que possuem um ego particularmente bem desenvolvido, com o objetivo de se beneficiar ao máximo de cada oportunidade em todos os campos, o tempo todo.

A maioria liberal dos judeus americanos, cerca de setenta por cento dos oponentes de Trump, ligam Bannon a opiniões racistas e anti-semitas. Steve Bannon (Foto: Reuters)

A primeira vez que os judeus conseguiram subir um pouco acima dessa característica profundamente inata e se consolidaram em um único povo, foi cerca de 3.800 anos atrás, na Babilônia: uma antiga sociedade tribal com uma abundância de nações e culturas. Um pouco como a América dos nossos dias.

Singularidade Judaica

A sabedoria da Cabalá conta que uma bela manhã a natureza egoísta eclodiu entre os babilônios, minando a tranquilidade que habitava entre eles até então, e reforçando o sentimento de “eu” em cada um deles. O surto egocêntrico criou muitos conflitos e disputas que pioraram as relações entre os babilônios e ameaçou separar a sociedade, semelhante à crise que a sociedade americana está experimentando. Os babilônios frustrados procuraram uma saída para a crise social na qual foram jogados, e essa chegou à pessoa de Abraão, um grande sacerdote babilônico da sua geração e líder da opinião pública que os reuniu a sua volta, ensinando-lhes a sabedoria da Cabalá, e educando-os sobre a conexão e o amor ao próximo. A comunidade dos babilônios que antes tinha era alienada, se conectou “como um homem com um coração”, e eles foram chamados de Ysrael, por seu desejo de se parecer diretamente (Yashar) com o Criador (El), a característica do poder singular, pleno e eterno da natureza. Em outro lugar eles seriam chamados de judeus (Yehudim) porque estavam trabalhando para se tornar unidos (yichud) e em harmonia com a natureza. A partir do momento em que o povo de Israel foi fundado, eles só tinham um propósito: servir como exemplo de unidade ao resto das partes separadas da humanidade, para serem uma “luz para as nações” (Isaías 49:6).

O povo judeu passou por muitas vicissitudes. Após a destruição do Segundo Templo, a partir do momento em que o amor fraterno e o valor supremo da unidade deixaram de iluminar a visão espiritual, o povo se espalhou por dois mil anos de exílio e vagou de um lugar para outro. No entanto, logo após os judeus se estabelecerem como uma pequena comunidade e começarem a se organizar e ganhar tudo o que fosse necessário para uma boa vida, como convinha à natureza egoísta que os dominava, a consolidação social enfraquecia e a solidariedade se dissipava. Nenhum deles mantinha sua natureza, sua religião ou sua cultura, na melhor das circunstâncias, e eles rapidamente assimilavam e voltavam a ser os mesmos babilônios de antes. Na pior das hipóteses, eles perdiam completamente a sua direção e até começavam a atirar flechas contra o seu próprio povo. Foi o que aconteceu uma e outra vez ao longo da história.

Novos Convertidos

Quando os judeus encontraram pela primeira vez a cultura helenística na Grécia antiga, muitas famílias judias correram para se tornar helenizadas e mudar de religião. Primeiro os nomes e a língua foram trocados, costumes gregos foram adotados, a Torá foi traduzida para o grego, e uma assimilação cultural geral dos judeus na cultura grega começou. Assim, os valores de unidade e responsabilidade mútua que marcaram e protegeram o povo de Israel ao longo dos anos foram abandonados, e o egoísmo, o culto do “eu”, a ambição e a agressividade foram entusiasticamente adotados. Tiberius Julius Alexander, o filho do chefe da comunidade judaica em Alexandria, cujo pai doou o revestimento de ouro para as portas do Templo, tornou-se o símbolo do antissemitismo judaico desse período. Tiberius foi nomeado conselheiro para assuntos judaicos no governo do imperador romano Tito, o senhor da guerra que subjugou a grande revolta e destruiu o Segundo Templo.

Um processo semelhante começou na Espanha alguns anos antes do estabelecimento da Inquisição. O pesquisador de história judaica na Universidade de Wisconsin, Professor Norman Roth, detalhou em seu livro que “nos séculos XIV e XV, milhares de judeus se converteram ao cristianismo, especialmente por sua livre vontade e não como resultado de pressão.  Assim, os ‘novos cristãos’ despertaram hostilidade acentuada contra si, a qual finalmente adicionou-se uma guerra. O racismo antissemita inchou, e pela primeira vez na história, as posições de ‘pureza de sangue’ foram estabelecidas (distinguindo aqueles que tinham sangue cristão puro e aqueles que tinham sangue judeu convertido ou muçulmano). Em última análise, a Inquisição foi reavivada, muitos dos ‘novos cristãos’ foram falsamente acusados e queimados na fogueira. Especificamente com os judeus que continuaram suas vidas como judeus e mantiveram suas relações normais com os cristãos como no passado, nada aconteceu. Isso significa que, enquanto os judeus se mantiveram fiéis à sua herança e não tentaram se integrar ou assimilar culturas estrangeiras, foram bem recebidos, ou pelo menos, foram abandonados a si mesmos”.

Precisamente como nos últimos dias do Segundo Templo, os judeus que haviam mudado sua religião estavam na liderança da Inquisição. Sabe-se que o avô de Tomás de Torquemada, o “Grande Inquisidor de Espanha” e os principais apoiadores e ativistas na expulsão dos judeus da Espanha também eram judeus.

Judeus Americanos

Um exemplo adicional da assimilação dos judeus e sua rejeição aconteceu na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial e durante a mesma. A partir do século XVI, juntamente com a Renascença, os judeus alemães desfrutavam relativa tranquilidade. Eles não recebiam igual status ou cidadania, mas as autoridades os deixavam gerenciar suas vidas relativamente sem interferência e separados do resto da sociedade alemã. Mesmo que a vida fosse confortável, no momento em que tinham oportunidade, começavam a se misturar e assimilar a cultura alemã, de um modo semelhante ao que ocorreu na Espanha que infligiu desastre sobre eles.

Judeus foram integrados em todos os cantos da vida pública nos EUA (Foto: AP)

Perto do final do século XVIII, os judeus estavam ansiosos para se tornar parte integrante da sociedade cristã e estavam prontos para fazer tudo para serem aceitos por ela. Os judeus alemães estavam prontos para remover do livro de oração todas as referências aos muitos anos de anseio pela antiga terra natal, a Terra de Israel. Então, o Judaísmo Reformista se tornou um símbolo da prontidão para o comércio em uma antiga tradição em troca da igualdade civil e aceitação social.

Após a consolidação da Reforma do Judaísmo como uma força central da Alemanha, ela se espalhou para uma série de países da Europa Ocidental e para os Estados Unidos. Enquanto na Alemanha, ela foi forçada a se defender constantemente do “establishment” ortodoxo e da interferência do governo, nos Estados Unidos, não houve supervisão do governo sobre a religião e os judeus podiam operar nela como queriam. A Reforma do Judaísmo adotou a terra de oportunidades ilimitadas para se tornar uma força influente e de liderança nas áreas da economia, entretenimento, educação e política no país.

Os judeus se tornaram integrados em todos os cantos da vida pública nos Estados Unidos. Eles controlam os meios de comunicação, determinam a agenda pública e influenciam a opinião da comunidade mundial. Considerando-se o predomínio da cultura americana em todo o mundo, pela primeira vez na história os judeus tomaram posições de partida perfeitas para o papel ao qual foram eleitos, e se quisessem, poderiam liderar o caminho para mudanças significativas que teriam a capacidade de influenciar o mundo inteiro.

Hollywood: Para Cima ou Para Baixo?

A América (EUA) ainda é a maior potência do mundo, e, como tal, dita ao mundo os filmes que são assistidos, a música que ouvimos, a notícia que consumimos, e até mesmo quais sites e redes sociais nós surfamos. O sucesso no mercado americano é considerado sucesso no mundo, e os judeus especificamente americanos, devido ao seu alto status, têm muita responsabilidade em fornecer ao mundo o que ele deve ter, de acordo com o seu papel na humanidade. Caso contrário, o lembrete virá de maneiras desagradáveis ….

Só essa semana, nós fomos informados sobre uma série de incidentes preocupantes: uma suástica foi pulverizada em uma porta no dormitório em uma das universidades, outra suástica foi pintada na entrada de um edifício residencial em Manhattan, onde um judeu senador vive, e nas redes sociais transmitem reações racistas e ofensivas aos jornalistas e ativistas judeus. Os antissemitas na América sempre pairam como uma nuvem negra, mesmo antes da eleição do Trump para a presidência, como atestam dados importantes e preocupantes. Um aumento dramático no número de casos de ataques a campi e faculdades nos Estados Unidos foi registrado desde o início do ano.

Suástica, Nova York, com a eleição de Trump

Além disso, o antissemitismo pode levar a comunidade americana em duas direções possíveis: se aproximar e unir como geralmente acontece em momentos de adversidade, ou pode fazer com que os judeus se distanciem de sua identidade, para assimilar e começar a desenvolver a hostilidade e tornar-se crítico em relação a nação de Israel, em outras palavras, para se tornar-se antissemitas.

Ao longo da história, temos visto que não faz diferença o quanto os judeus tentam se esconder; eles nunca conseguiram se separar da sua identidade. Assim que eles assimilam entre outros povos e cortam os fios que conectam entre eles e seu papel na humanidade, eles merecem uma resposta severa que os dirige para realizar seu destino espiritual.

Não há nenhuma razão para esperar até o próximo evento trágico; estamos na última parada. Mesmo que uma pequena parte dos oito milhões de judeus que vivem nos Estados Unidos se una “como um homem” e comece a irradiar os valores de responsabilidade e mútua conexão sobre os quais o povo judeu se reuniu, a sociedade americana, que está buscando hoje uma nova visão, vai se comportar como ela. O espírito de unidade poderia se espalhar; os judeus seriam uma “luz para as nações” e levariam a uma nova versão do sonho americano.

Publicado originalmente no Ynet

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Caro Zé (Ninguém): Resposta a um Americano Anónimo

Podemos avançar na direcção da coesão gentilmente, ou continuarmos a tropeçar pelo trilho rochoso que temos percorrido durante tanto tempo

Há cerca de uma semana atrás, recebi um email de Zé Ninguém. O nome não me surpreendeu considerando que veio do endereço de email: certosujeito…@gmail.com. No email, Sr. Ninguém se queixava que eu estava demasiado preocupado com o que acontecia nos EUA e o descreveu como “vergonhoso.”

Tal como fiz quando Sr. Dan Mogulof, o representante da UC Berkeley, se queixou sobre minha desaprovação de um curso antissemita em Berkeley, achei que também devia responder abertamente ao email do Sr. Ninguém.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-11-22

Foto: Dreamstime

Caro Zé (Sei que isto soa a uma carta de despedida, mas não é):

Primeiro, gostaria de lhe dizer que tenho a mais alta estima pelos cidadãos americanos. Enquanto cientista especializado na análise de sistemas, mudei há muitos anos de estudar os sistemas fisiológicos através da bio-cibernética aplicada à medicina para explorar os sistemas humanos usando a sabedoria da Cabala e mais tarde para o meu doutoramento em Ontologia. Da minha perspectiva profissional, vejo os EUA como tendo um papel chave no esquema global das coisas não só no presente, mas também no futuro. Aquilo que ocorre nos EUA afecta directamente todos os países no mundo, não sendo o único dos quais Israel, meu país de residência.

(Incidentalmente, os americanos parecem não ter inibições no que diz respeito a exprimirem suas visões a respeito dos negócios israelitas, ou sequer em tentar os influenciar, mas quando os papeis se invertem eles são muito menos “liberais” nisso.)

Há outra razão para o meu interesse nos EUA. Com os anos, publiquei dezenas de livros em Inglês (pesquise Michael Laitman na amazon.com) e tenho dezenas de milhares de estudantes nos EUA, senão mais. Muitos destes estudantes frequentam nossos congressos anuais nos EUA e os considero como muito chegados.

O Líder Económico Indisputável do Mundo

Aproximadamente desde a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos têm representado um papel cada vez mais proeminente no desenvolvimento global, social e político. Podemos sequer imaginar os resultados da Primeira e Segunda Guerras Mundiais se os EUA não se tivessem juntado aos Aliados? Desde o fim da Segunda Grande Guerra, os EUA têm sido o líder económico indisputável mundial, especialmente depois de terem enviado ondas de choque globais durante o colapso do mercado accionista que originou a Grande Depressão e então os ajudou a reconstruir o mundo Ocidental antes da Segunda Grande Guerra.

Desde o estabelecimento do estado de Israel e especialmente após a Guerra dos Seis Dias em 1967, os EUA têm sido o aliado acérrimo de Israel. Mas o apoio indisputável à face da ameaça existencial têm sido corroído desde 2008 quando Obama foi eleito e declarou que precisa de haver mais “claridade” entre dois países.

A incerteza acerca das intenções da América a respeito de Israel, seu envolvimento na desintegração dos regimes no Egipto, Síria, Líbia, Iémene e outros países do Médio Oriente, a assinatura de um acordo nuclear que pavimentou o caminho para um Irão nuclear e sua canalização de milhões de Muçulmanos jovens, saudáveis e maioritariamente homens para a Europa e além do Atlântico para os EUA, todas tornaram muitos Israelitas, eu próprio incluído, muito preocupados com o que está a acontecer na América.

Adicionalmente, Hillary Clinton muito claramente tinha todas as intenções de continuar a política dos negócios estrangeiros de Barack Obama. Tivesse ela vencido a eleição, o estatuto internacional de Israel teria caído exponencialmente, além do seu estado já miserável.

Ainda pior, Obama estava numa rota de colisão com Putin. Tivesse Clinton vencido, estaríamos em risco de uma terceira guerra mundial nuclear. Com Trump como presidente, pelo menos há uma lasca de esperança de mudar.

À luz de tudo o citado, penso que toda a pessoa sã no mundo devia estar muito atenta ao que está a acontecer nos EUA.

Uma Nova Ordem Mundial Começa com a Economia

Todos entendem que uma mudança é iminente. A desconfiança entre os super-poderes, o colapso da UE que se aproxima, as crescentes contendas económicas entre a Rússia, EUA, Europa e China, todas tornaram o mundo um lugar instável e precário.

Nos EUA, a ausência de uma verdadeira indústria e forte dependência da feitiçaria financeira para manter um crescimento fictício ignorando a espiral de dívida, ampliaram a fenda entre os “ganhos” e as “perdas” ao ponto que a classe média está à beira do extermínio. Demasiados indicadores nos EUA se assemelham a aqueles dos países do Terceiro Mundo para que sua economia seja considerada robusta ou até sólida. Se oito anos depois da Grande Recessão, um em cada sete americanos ainda vive com cupões de alimentação, uma mudança não deve estar longe.

Donald Trump viu isto e transformou a economia a sua carta. Sucede-se que era um ás.

Porém, a mudança que Trump prometeu em prol de entrar na Casa Branca não é concretizável. É demasiado tarde para apertar o cinto. Os trabalhadores de linha de montagem americanos não conseguem competir com os chineses, vietnamitas, ou mexicanos pois o preço dos produtos não seria competitivo e sua qualidade não superaria aquela dos presentes fabricantes (compare os automóveis japoneses aos americanos, por exemplo).

Ainda mais importante, hoje, tudo se está a transformar em nano. Não há simplesmente necessidade de tantas mãos trabalhadoras e em muitos casos não há necessidade de mãos de todo. Nos anos seguintes, a automação acelerada e a robótica vão transformar dezenas e potencialmente centenas de milhões de pessoas desempregadas. Elas simplesmente não ficarão desempregadas à espera do próximo emprego, elas ficarão indefinidamente desempregadas. Suas profissões serão tomadas por máquinas que fazem o seu trabalho muito mais rápido, melhor e mais barato que elas alguma vez o poderiam fazer.

Portanto, a transformação na indústria global que está a tomar lugar hoje vai impactar todos os países no mundo. A América, que tem estado na linha da frente de todas as grandes mudanças dos passados cem anos, está a enfrentar ora uma descoberta ou um colapso. As decisões económicas da administração americana durante os próximos quatro anos vão determinar o destino não só da América, mas do mundo inteiro.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2016-11-22

Foto: Dreamstime

A Economia do Direito-Pessoal

Há vários anos até agora, os economistas sabem que os índices tradicionais que medem o padrão de vida não reflectem autenticamente a felicidade das pessoas. Os níveis de depressão nos EUA têm subido durante décadas e a aclamada psicóloga Jean M. Twenge explicou no seu livro, Generation Me, que o culpado é nosso crescente egoísmo e sensação de direito-pessoal.

E todavia, não conseguimos parar ou sequer abrandar o crescimento do nosso egoísmo. Sua intensificação é inerente dentro de nós e a menos que achemos um modo de trabalhar com o ego em vez de contra ele, tal como ao nos sedarmos até ao esquecimento, nossa sociedade vai-se desmoronar.

No meu livro, Interesse-Próprio versus Altruísmo na Era Global, elaboro sobre a singularidade da psique humana.

Todas as coisas na realidade existem ao manter um equilíbrio entre os dois polos criados pelas duas forças, uma positiva e uma negativa. Nosso planeta não existiria como o conhecemos se só houvesse o dia sem a noite, ou a luz do sol sem a chuva. Células não poderiam existir sem extraírem do meio ambiente aquilo que elas precisam e ao lhe darem aquilo que ele precisa em retorno. E aquilo que se aplica às células, também se aplica aos nossos corpos. Sem que os órgãos no nosso corpo mantivessem o equilíbrio ao qual chamamos homeoestase, não existiríamos.

Porém, quando os humanos governam no lugar da natureza, o equilíbrio é quebrado e a força negativa é o único governante. No geral, ignoramos a necessidade de equilíbrio e operamos somente segundo um sentido de direito-pessoal, assim criando uma vida sombria para nós.

Imagine-se, Sr. Ninguém, que visita uma cidade chamada Miséria. Seu povo compete por poder, dinheiro e respeito e não têm consideração de uns pelos outros. Imagine que eles abandonam seus lares para um mundo onde não conseguem confiar em ninguém pois cada um é um adversário, um rival. Não há honestidade, nem conexões no coração, somente alianças temporárias que desaparecem assim que uma coligação mais lucrativa se apresenta. Como é que você acha que o povo de Miséria se sente? Será que os culparia se estivessem deprimidos? Será que você a guardaria para si mesmo se eles procurassem desesperadamente uma alternativa?

Uma Nova Fonte de Poder

Se as pessoas de Miséria soubessem da força positiva e como a usar para seu benefício, elas seriam de longe, mais felizes. Como supracitado, tal força existe em todo o lado, com a excepção da sociedade humana. Mas e se pudéssemos “extrair” esta força da natureza, tal como Nikola Tesla extraiu a electricidade do ar? Você consegue imaginar os benefícios de tal fonte de energia?

Embora o egoísmo excessivo torne as pessoas infelizes, elas não escolhem conscientemente ser deste jeito. Elas nascem com ele. Tal como a Bíblia nos diz, “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21). Porém, não sentimos que somos egoístas pois não sabemos o que é o verdadeiro altruísmo. Tal como não saberíamos que a luz existe se não houvesse escuridão, saberemos quão egoístas somos somente quando começamos a reunir a força positiva.

Uma Indústria de Coesão Social

Para entender a força positiva, pense numa central energética que gera electricidade. Qualquer central energética requer combustível que possa ser usado em prol de produzir electricidade. Similarmente, os esforços das pessoas se unirem acima dos seus egos são o combustível e a energia que o combustível produz é a força positiva. Quando esta força é aplicada à sociedade humana como remédio para o egoísmo, ela cria coesão social.

As equipes desportivas são um óptimo exemplo do impacto da força positiva. Qualquer equipe sabe que uma das chaves para o seu sucesso é o nível de coesão entre os companheiros de equipe. Não é fácil para indivíduos competitivos que desejam o sucesso pessoal colocarem de parte seus egos em favor do sucesso do grupo. Mas quando eles fazem um esforço para se unirem, instalam a força positiva entre eles, que por sua vez cria coesão.

Num país rasgado por diferenças raciais, religiosas e socio-económicas, a coesão social é mandatária para o seu sucesso, não menos que a cola é mandatária para ligar as camadas do contraplacado. A única força que consegue criar coesão social duradoura e genuína é a força positiva, que geramos através de nossos esforços de nos conectarmos, tal como com as equipes. Quanto mais força positiva gerarmos através dos nossos esforços de nos elevarmos acima de nossos egos e nos unirmos, mais vamos aumentar nossa coesão social.

Nos anos vindouros veremos uma mudança em como medimos nosso contentamento. Preocupações materiais se tornarão obsoletas pois o mundo já produz mais do que ele consome, todavia o distribuímos desigualmente devido a nosso egoísmo. Numa sociedade baseada em coesão social, não haverá tal coisa como negligência ou privação. O desejo de aumentar a coesão social nos fará usar toda a oportunidade para nos ajudarmos uns aos outros e nos elevarmos acima de nossos egos.

Recorda-se de Miséria? Como se sentiriam as pessoas da cidade se em vez de nossa anterior descrição melancólica, elas saíssem dos seus lares para se encontrar com pessoas que sorriem para elas, se tentam conectar com elas em prol de aumentar a coesão?

Em Israel, uma organização chamada Arvut (garantia mútua) desenvolveu um método de deliberação que cria a força positiva ao nos elevarmos acima dos mais sensíveis problemas políticos e sociais. Como o vídeo na ligação demonstra, os resultados são extraordinários: Judeus, Muçulmanos, Cristãos, pessoas religiosas e seculares deliberam livre e calorosamente, trocando números de telefone e endereços de email passada apenas uma sessão. A experiência da coesão social ofusca qualquer preconceito e desconfiança. Se esta força fosse gerada numa escala massiva, a América seria transformada e com ela o mundo inteiro.

Nosso tempo é um de mudança, caro Zé. Quando sairmos dele, seremos sábios e fortes e pacíficos. Mas a escolha está nas nossas mãos. Podemos avançar para a coesão consciente, agradável e suavemente, ou podemos continuar a tropeçar pela estrada sinuosa que percorremos há tanto tempo. A América foi em tempos a terra dos livres e o lar dos corajosos. Agora ela deve escolher ser assim de novo, para seu próprio bem e para o nosso.

Publicado originalmente no Haaretz

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