Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

União Trás as Pessoas ao Nível “Humano”

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– A representação constante realmente absorve realmente um actor. Isto lhe trás grande prazer, mas ao mesmo tempo, uma sensação agonizante surge onde você perde o seu eu. Como a pessoa se pode livrar dela?

– Você não precisa de se procurar a si mesmo. Vá em frente, perca o seu eu. Sinta-se a si mesmo somente quando entrar em contacto com as outras pessoas e as entender.

– Isso não importa para quem? Afinal, as pessoas têm as personalidades mais diversas.

– Nós falamos de uma sociedade onde as pessoas já aspiram a incluírem as qualidades das outras nelas. Sua aspiração para isto é o princípio do companheirismo humano.

Se cada um quiser ser incluído em todos os outros, então algo comum é formado. Este é o resultado da nossa combinação, nossas tentativas de sairmos de nós mesmos e nos unirmos. Este estado é chamado “garantia mútua” e ele significa que todos estão “em um coração,” um desejo, uma intenção.

Quando uma pessoa começa a discernir esta qualidade comum, então o seu próprio “Eu” fica escondido e praticamente desaparece. Depois, uma nova qualidade emerge.

Não há eu ou você ou ele. Algo singular e inteiro é formado acima de nós, composto de nós três. Mas não é a soma de nossas três qualidades. É uma qualidade.

Se começarmos a sentir nossa união a essa medida, sentiremos uma nova dimensão superior. Somente este nível de desenvolvimento é chamado “o nível humano.” Hoje ainda estamos no estado egoísta, animal. Mas a união trás as pessoas para o estado chamado “humano.”

Neste nível começamos a sentir a natureza integral, global, holistica. Adquirimos a sensação da vida eterna e perfeita, nos separando de todos nossos problemas, nossos impulsos agonizantes e irreflexos. Uma pessoa é incluída em algo diferente e novo.

Publicado em Artigos

Por Que As Peças de Teatro Foram Ridicularizadas

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– Se a representação é tão importante para o desenvolvimento do homem, por que é que foi tão ridicularizado e até perseguido durante tantos séculos? Algumas pessoas foram até queimadas na fogueira por causa dele.

– Os actores sempre foram ridicularizados. Eles só se tornaram respeitados na nossa era “progressista”. A humanidade não tem a abordagem certa para criar uma conexão entre nós. Nós nos conectamos através do nosso egoísmo. Nós não o fazemos através de interferência, mas como quer que cada um de nós acha mais conveniente para si mesmo. Nós nos conectamos através de uma espécie de amortecedor: “Eu dou a você e você me dá.” É assim que compramos, vendemos e trocamos gracejos. Dependendo da nossa era e de outros factores, nós mudamos nossos níveis de estatuto, poder e força.

De toda a direcção estabelecemos o máximo contacto egoísta possível, enquanto mantendo certa distância como uma rede de segurança contra quaisquer curvas inesperadas nos nossos relacionamentos, até reparando nas mudanças da nossa entoação. Ele controla-nos por dentro. E a humanidade seguiu automaticamente o seu princípio, que permitiu a toda a pessoa definir o seu lugar imediatamente. Ele funciona se formos uma manada de animais onde cada e espécimen conhece o seu lugar e função. Ele sabe quando consegue ou quando não consegue fazer algo. E exactamente a mesma coisa acontece na sociedade humana. Por sermos egoístas, nós agimos segundo o mesmo princípio.

Mas quando aparece a representação, torna-se pouco claro. Quem são estas pessoas? São elas plebeus ou senhorios? São elas fracas ou fortes? São elas boas ou más? Ou talvez sejam bandidos? A individualidade da pessoa se perde, nos privando da capacidade de formar comunicação normal egoísta.

No passado tudo estava claramente delineado. As pessoas aspiravam colocar cada um no seu lugar fixo, você é psicólogo então terá de usar uma camisa preta e não pode ser o inverso.

As pessoas até definiram diferentes lugares dependendo das suas profissões, do seu grémio. Você tinha de viver na rua que lhe havia sido atribuída e escolher uma esposa de um circulo especifico. A sua família tinha de se reger segundo um padrão definido de vida e o seu chapéu e veste tinham de ter um corte especifico, sem outras opções. Tudo era predeterminado, até à comida que as pessoas comiam, absolutamente tudo. Até lhe era dito, “Isto será o seu cemitério.”

Tudo estava claro, quem vive onde, sua origem, quem é permitido que ele entre em contacto e de quem ele se deve manter afastado.

Mas os actores misturaram tudo isso. Eles fizeram troça e riram de todos. Certo actor minorca representava como se fosse príncipe! Isto era admissível somente se as pessoas interiorizassem a ideia de que o trabalho de um actor é a mais baixa de todas as profissões possíveis, imoral e plebeu.

Durante a necessitada divisão da sociedade, especialmente durante a Idade Média, ninguém podia sequer pensar sobre desenvolver seus contactos ou fazer com que as outras pessoas os entendessem. Todos tinham de ser perfeitamente obedientes. O máximo que era permitido era que forasteiros dançassem um minueto juntos.

Mas hoje tudo é o oposto. Nós temos de comunicar uns com os outros da maneira certa. E para isso, nós temos de aprender a “entrar” nos personagens das outras pessoas.

Nós temos de entender que a humanidade teve de atravessar todas as suas fases em prol de alcançar a presente fase. Hoje, nós temos de quebrar todos os limites do passado e formar a comunicação social certa. E para isso, a pessoa tem de aprender a representar os personagens das outras pessoas.

Publicado em Artigos

De Um “Eu” Amorfo Para Um “Eu” Concreto

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– E qual é nosso “Eu” verdadeiro?

– Nosso “Eu” verdadeiro é completamente amorfo. Ele não tem qualquer imagem.

– Ele é integral?

– Não. A integralidade nos força a estar em algum tipo de papeis ou imagens todas ao mesmo tempo. Mas nosso desejo original não tem qualquer forma.

– Na pedagogia há uma técnica chamada “a máscara da agressão” onde um adulto finge estar zangado, mas na realidade ele está a tratar a criança gentilmente. Como é que a criança deve realmente experimentar um certo sentimento, por exemplo, raiva, ou deve ela aprender a representar estes sentimentos?

– Isto depende da idade da criança. É claro, antes dos 11 ou 12, ou talvez antes dos 13 anos de idade, elas não podem estar em diferentes imagens internas e externas em simultâneo. Nesta idade uma pessoa não é multifacetada ainda. Mas novamente, imenso depende da prática. Se as crianças tentarem constantemente expressar-se em novas formas, elas serão capazes de fazer isso numa idade mais jovem também. E não há dúvida que na adolescência elas já podem estar em vários papeis com múltiplas camadas e mudarem estas mascaras muito rapidamente.

– Elas não se devem identificar com estes estados?

– Esta representação não é auto-engano. Eles não mentem às outras pessoas fazendo-o. Uma pessoa se conforma ao trabalho do mecanismo comum, da sociedade, em prol de trazê-la à harmonia.

Qual é o sentido de pensar, “Eu fui criado deste jeito e isso é tudo.  Eu não mudo, que os outros se conformem a mim, que os outros se quebrem a si mesmos”? No final, a pessoa não ganhará nada com isso. Então que tipo de comunicação deve resultar disso? Como seria a pessoa ser capaz de sentir e experimentar o seu verdadeiro e superior eu? Ela não sentiria.

– Então isso significa que ensinamos ainda assim a criança a estar em vários estados simultaneamente?

– Nós estamos a ensinar as crianças a se “vestirem” de formas diferentes, como se estivessem a transfigurar. Toda a criança vai acumular estes papeis dentro dela, será capaz de trabalhar com eles, entender o que ela experimenta e verá que nada é positivo ou negativo, mas tudo é relativo. O “Eu” existe somente em prol de se conectar com os outros.

Portanto, por dentro, toda a pessoa acumula papeis, habilidades, entendimento e mais importante, um novo nível de comunicação.

– Em cada transfiguração, em qualquer papel, um actor permanece em controle de si mesmo. Durante a representação ele mantém sempre uma certa sensação de que ele olha para si mesmo do alto, passo a expressão. Isto está correcto? Ou deve ele se entregar ao papel completamente e perder o seu auto-controle, tentando sair de si mesmo ao máximo?

– Não penso que possamos exigir tudo das crianças de imediato? Inicialmente damos-lhes somente uma tarefa. Gradualmente, enquanto elas se habituam a representar vários papeis, colocamos tarefas secundárias e terciárias ante elas. Por exemplo, primeiro você tem de entrar no personagem de alguém e continuar a estar em controle de você mesmo, representando um papel dualista.

Dentro do mecanismo que estamos a discutir, uma pessoa tem de comunicar com todas as outras pessoas no mundo. Para isso ela tem de senti-las com tanta força que através delas ela sentirá um terceiro e quarto plano.

Eu represento você, me “vestindo” em você. E para fazer isso eu estudo a sua personalidade e as suas qualidades. Deste jeito, internamente experimentando a sua personagem, eu imagino como você se relaciona aos seus filhos, por exemplo. E esse é já um terceiro plano. E etc.

– Diferentes crianças têm diferentes talentos e suas habilidades de representar não são as mesmas. Este tipo de transfiguração é fácil para uma pessoa mas difícil para a outra. Devemos igualar as crianças ou separá-las? Por exemplo, devem as crianças especialmente dotadas estudar num grupo e aquelas que acham a representação mais difícil ser colocadas noutro?

– Um grupo tem de ser um grupo e seu progresso tem de ser coeso. Uma criança deve ser acostumada a isso. Gradualmente, as crianças mudarão, se acostumarão uma à outra e aprenderão a se entender umas às outras. É assim que elas vão crescer, juntas.

Este tipo de desenvolvimento está programado em toda a humanidade. Não devemos mudar isto ou criar uma espécie de grupos universais ou artificiais. Tudo isto assusta a criança imenso, a privando da confiança e chance para se desenvolver.

– O que devemos fazer se uma criança achar que é agradável e fácil entrar noutro personagem, enquanto outra fica embaraçada e tem dificuldade em superar essa sensação?

– Uma criança aprenderá estando perto dos amigos capazes. O inteiro processo tem de estar direccionado para os seus amigos a atraírem para a representação e ajudando-a. Isto depende do educador. E não importa se a criança começa representando papeis secundários. Enquanto ela aprende, ela vai avançar.

Não acho que o grupo deve ser dividido naqueles que são melhores e naqueles que são piores. Quando as crianças se juntam em grupos maiores (grupos de 20, 30, ou mais, em vez de 10), elas se tornarão uma espécie de mini-sociedade que inclua pessoas diversas de diferentes personalidades.

Publicado em Artigos

Tornar-se Objectivo Através da Representação

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Eu não estudei a base da representação, mas tudo no trabalho de um actor está direccionado para criar a comunicação certa. Isto é natural. Quando representamos papeis dos nossos amigos, nós nos entendemos uns aos outros melhor e como resultado, a quantidade de conflitos diminui imediatamente. As estatísticas também demonstram isto. Uma pessoa começa a julgar a todos, incluindo a si mesma e ao seu amigo. Além de estar no seu próprio papel, ela pode aprender mais um papel e viver ambos. Ela pode tornar-se o seu próprio juiz, ou o advogado do seu amigo. Estas personalidades tornam-se totalmente iguais! Representando, a pessoa torna-se objectiva.

– Durante os workshops, devemos monitorizar a medida à qual as crianças aprenderam a se entender e justificar umas às outras?

– É claro. Se eu começar a viver o papel de outra pessoa, isso significa que eu justifico essa pessoa até ao final. Eu me culpo a mim mesmo inteiramente. Isto é natural. Eu “entro” nela, então eu sou ela e ela é eu.

Suponhamos que surgiu um conflito num dos nossos grupos. O egoísmo das crianças súbita e drasticamente aumentou e elas não conseguiram fazer nada acerca disso. Durante os estudos elas escutam artigos sobre amizade e unificação em prol de alcançar uma meta comum e elas cantam e comunicam. Tudo é normal. E então subitamente, um minuto mais tarde, há uma explosão de egoísmo e um conflito irrompe como se as crianças tivessem sido substituídas por outras pessoas. E meia hora mais tarde, noutra lição, as relações amistosas são restauradas entre elas.

O que podemos fazer para que estas explosões de egoísmo não ocorram? Como podemos impedir que o egoísmo irrompa para a superfície, para que a separação não surja? As crianças admitem que não conseguem controlar estas explosões.

Então o que planeamos fazer? Primeiro de tudo, gravar o processo inteiro com uma camera, incluindo o criticismo mútuo e acusações. Isto nos permitirá ver orgulho, inveja, o desejo de poder sobre os outros e no geral, todos os sentimentos e impulsos que são inerentes em cada pessoa. Depois vamos mostrá-lo às crianças. Deixar que cada uma delas represente o papel do seu amigo.

Suponhamos que eu e você brigamos, isso era gravado e agora estamos a assistir ao processo inteiro do lado de fora. Inicialmente, eu estou 100% seguro que estou certo e vivo o meu papel novamente. Nos recordamos do que experimentamos.

Mas o professor diz, “Que cada um de vocês aprenda sobre o comportamento da outra pessoa e tente entender por que ela agiu dessa maneira.” Então agora eu tenho de olhar para o processo inteiro através dos olhos do meu amigo, eu tenho de sair de mim mesmo e entrar no seu estado. Eu tenho de me ver a mim mesmo “dentro de você” como você me vê, como e por que você me culpa e por que você me está a criticar. Depois disso eu tenho de representar o papel do meu amigo e o amigo representa-me a mim.

Sabemos que isto não é fácil para as crianças. Posteriormente discutimos a que medida tivemos sucesso em representar o primeiro papel e o segundo. Portanto, o seu primeiro personagem, que participou no conflito na realidade, se torna apenas um de dois papeis. Você olha para o seu primeiro estado com mais objectividade, a sua posição muda e você já está algures entre estas duas imagens.

E não importa se tudo não resultar perfeito de imediato. A coisa mais importante é que como resultado, as qualidades da criança comecem a ganhar um carácter “multifacetado.” Ela começa a entender que é possível ser diferente e que é possível aprender a se elevar acima de si mesma.

Numa criança, explosões egoístas são expressas poderosamente e ocorrem imediatamente. Mas podemos ajudar a criança a transcendê-las.

– No palco, o egoísmo concorda com este tipo de trabalho.

– Com a representação de um papel diferente?

– Sim. E ele faz-o! É um prazer tremendo.

– E nós não precisamos de coisa alguma além disso.

– Mas durante momentos de verdadeiras explosões, é muito difícil negociar com o egoísmo.

– Não é assim tão difícil, realmente. É exactamente assim que as crianças começam a participar no processo de trabalhar sobre o egoísmo. Vamos deixá-las se sentarem num semi-circulo em frente dos seus amigos e representarem. E quanto mais a criança consegue se elevar acima de ser escrava do seu egoísmo e vestir um papel diferente do fundo do seu coração, trocando de “lugar” com o seu amigo, maior a aprovação que ela vai ganhar da sua sociedade.

Vivendo imagens estranhas e puxando qualquer uma delas como se de um baralho de cartas, a criança começa a tratar estes papeis “objectivamente” para que ela nãos e identifique pessoalmente com qualquer um deles.

A atitude da criança para o seu “Eu” muda. Ela faz a pergunta, “O que restou dela, do seu ‘Eu’?” Uma pessoa começa a perceber que ela é pura e não preenchida de coisa alguma. Ela começa a ver tudo como puramente uma representação. Deste modo, a pessoa até começa a tratar os seus próprios impulsos como fenómenos que são instalados nela por certo programa.

Publicado em Artigos

Não Representar Contos de Fadas, Mas a Vida Real

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– Que limitações podemos delinear aqui? Podem as crianças representar animais ou plantas? Ou devem representar somente pessoas?

– É melhor representar pessoas. Por que devem elas representar animais? Isto só trás vestígios de antigas noções à superfície, como árvores falantes, ou o sol que fala para a lua, ou um lobo para uma raposa.

Dentro da estrutura do nosso ensinamento, estes tipos de contos de fadas e na realidade qualquer coisa que faça a pessoa descer para um nível inferior é prejudicial. Não só isso nos dá uma ideia incorrecta do mundo animal, mas do mundo no geral.

Nós devemos entender a nossa posição única. Os animais estão num nível diferente de desenvolvimento. Eles não são pessoas. Não devemos idolatrar ou personificar árvores, animais ou brinquedos mecânicos, tais como um brinquedo mecânico com uma face humana que subitamente se começa a mover por aí  e a falar.

Nós temos de tratar a criança como um adulto. Por dentro a criança é um adulto. Ela olha para nós com os olhos de um adulto em vez de uma criança. Por vezes memórias maduras e sérias da infância despertam em nós. Estas lembranças permanecem em nós para o resto das nossas vidas e ainda hoje determinam nossa atitude para a vida.

Infelizmente, as árvores falantes, sol, ou comboios “pouca-terra” que víamos na infância ainda permanecem no nosso subconsciente. É exactamente por isso que não conseguimos olhar para a vida com seriedade. Isso nos atrasa de alguma maneira. Continuamos a representar uma espécie de conto de fadas dentro de nós e não vivemos a sério.

– Pode um menino de 10 anos representar um avô?

– Sim. Para ser capaz de ter o contacto certo com as pessoas, ele tem de representar homens e mulheres de todas as idades.

– A primeira coisa que reparei quando comecei a trabalhar com um grupo de adolescentes foi seu desejo de estar no palco tão rápido quanto o possível, de serem aplaudidos e de ganharem algo tão rápido quanto o possível. Deve esta aspiração ser suprimida, isto é, devemos tentá-los fazer se focarem no trabalho prático?

– Uma pessoa não consegue se desenvolver sem emoções positivas como recompensas, presentes e honras. Nós somos egoístas. Se uma criança trabalhou duro e representou lindamente, o colectivo deve valorizá-la e recompensá-la com aplausos, para lhe mostrar a sua aprovação.

Mas nós temos de ajudar a criança a escolher a aspiração certa, uma que a permita receber essa recompensa. Talvez o seu trabalho deva ser gravado e então analisado, que papel foi melhor representado e por quê? Por exemplo, você pode gravar dez meninos quando cada um deles representa o seu próximo e o próximo representa a pessoa seguinte.

Publicado em Artigos

A Idade Certa Para Estudar Representação

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– Quando uma pessoa cria uma certa nova faceta dentro de si mesma, ela descobre quão multifacetada ela é. Quantas facetas podem haver dentro de uma pessoa? E em que idade isto pode ser ensinado a uma criança?

– Isto não pode ser ensinado a crianças muito jovens pois a “sensação de rebanho” não é exprimida nelas antes dos 3 anos de idade. Até aos 3 anos de idade a sua pequena individualidade não imagina que existe outra pessoa à parte delas, com outras necessidades. Nessa idade a criança não comunica e está direccionada somente para a recepção.

Mas entre os 3-6 anos de idade, as crianças desenvolvem entendimento rudimentar da doação e interacção. Entre as idades dos 6-9, este entendimento é fortalecido e permanece desse jeito para o resto das suas vidas. Durante esta idade delicada, a Natureza nos oferece uma oportunidade única para instalar numa criança a atitude certa para o meio circundante.

– É possível ensinar isto a uma criança através da representação?

– É isto que estamos a tentar fazer. Nós entendemos que esta representação tem de ser dualista. E eu quero que seja ensinado às crianças a habilidade de representar dentro da estrutura da nossa associação educativa.

Nós temos de mostrar à criança que é possível sair de si mesma e ascender acima das suas próprias qualidades. Inicialmente, as crianças podem se dessintonizar dos seus problemas e preocupações deste modo. E mais tarde lhes ensinamos um papel diferente. Uma criança é como um actor com o seu próprio mundo interior: Inicialmente ela aprende o papel que ela tem de representar e então ela começa a representá-lo. Por quê? A pessoa cria a sua própria imagem interior da outra pessoa e estuda como interagir com ela correctamente, aprendendo a entrar na realidade da outra pessoa.

Para esta finalidade é bom ensinar às crianças a arte da representação profissionalmente. Nos nossos estudos as crianças já representam estes papeis, tentando entrar nas personalidades dos seus amigos. Desse modo elas começam a se a se entender umas às outras melhor e se tornam parte de algo comum. O personagem compartilhado do grupo inteiro começa a viver dentro de cada uma delas.

– É melhor para uma criança representar o personagem de um dos seus amigos especificamente, ou é também possível trabalhar com as outras imagens que são mais remotas delas?

– É necessário trabalhar com todos os fenómenos do campo de visão das crianças.

Publicado em Artigos

Jogos Colectivos com o Egoísmo

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Tudo no trabalho de um actor está direccionado a dar à pessoa a habilidade de ser incluída nas outras, de transcender o seu egoísmo.

Eu represento com o meu egoísmo de um jeito que eu saio dele e entro num papel altruísta, me tornando ele. Neste papel eu sinto as outras pessoas, como elas são de verdade. Eu aprendo a me conectar com elas. E tudo isto é possibilitado graças a eu me elevar acima de mim mesmo.

A pessoa precisa de aprender a representar os papeis de todos e então, como está escrito, “O hábito se torna uma segunda natureza.” Gradualmente, veremos quão benéfico isto é e vou desejar estar neste estado, na comunicação certa.

– Esta saída de si mesmo está muito clara para mim. Quando ela acontece, a sensação é surpreendente. Mas o que você quer dizer com “a comunicação certa”?

– Nós temos de descobrir nossa comunicação absoluta. As leis da comutação num sistema integral são muito simples. Cada um de nós tem a sua própria natureza. E ele tem de criar tal campo de entendimento ao seu redor que através dele será capaz de se conectar com os outros. Todos temos de fazer isso. Na medida que toda a pessoa criar esta casca à sua volta, achando o contacto mais amplo com as pessoas à sua volta, ela será corrigida e vai operar correctamente.

A eficácia de cada elemento na sociedade é alcançada quando uma pessoa preserva apenas a sua qualidade básica, fundamental, o seu “Eu.” Esta qualidade inicial que temos é muito pequena. Todas as outras qualidades na pessoa devem estar direccionadas somente a permitir este “Eu” se conectar com todos os outros e trabalhar pelo bem dos desejos e qualidades dos outros, com a finalidade de construir uma conexão com eles.

É como uma mãe ganso que está rodeada de 15 filhotes de ganso. Ela pensa e cuida de cada um deles. Os pequenos gansos caminham na frente da sua mãe e ela caminha atrás deles. Cada um deles está no seu campo de visão e ela entra em contacto com todos eles.

É assim que a pessoa se deve posicionar a si mesma em relação ao meio ambiente, entendendo os desejos, aspirações, pensamentos e preocupações de cada pessoa. Ela deve ajudar todas estas pessoas a concretizarem os seus sonhos. Tal como qualquer mecanismo que funcione bem, podemos somente operar quando todas as partes estão em completa concordância.

Publicado em Artigos

Habilidades de Representação

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Mais uma qualidade especial de representação é que quando uma pessoa se aproxima de estar em contacto com o meio ambiente, ela “sai” dos seus problemas e qualidades do presente.

Suponhamos que estou a passar por certo drama pessoal. Para me posicionar correctamente em relação ao meio ambiente, eu tenho de estar num estado diferente. Isto significa que eu tenho de “sair de mim mesmo,” esquecer minhas próprias preocupações e “vestir” um papel diferente. E nessa nova forma, eu avanço para trabalhar com o colectivo.

Trabalhando deste jeito, gradualmente serei capaz de resolver meus conflitos a certa medida e entender a sua causa e absorver ou adicionar-me aos desejos e aspirações das outras pessoas, que causaram o conflito entre nós. Os conflitos podem permanecer durante algum tempo, nesse caso em certo ponto do futuro me lembrarei deste conflito e serei capaz de entendê-lo, ser incluído nele e experimentar o estado dos seus participantes.

Uma pessoa consegue “sair” da sua natureza e entrar noutro papel. Ela consegue literalmente se dissolver nele, completamente se desconectar dos problemas durante um tempo, por muito trágicos que sejam. Estas são oportunidades que aprendemos dos actores.

Publicado em Artigos

Nós Estamos Sempre no Palco

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– É claro, nós estamos todos a representar. Afinal, não sabemos como nos comportar. Os animais se comportam naturalmente. Eles não têm sensações de vergonha ou inveja. É verdade que eles realmente experimentam inveja biológica, se puder chamar às emoções de um animal isso. Esta sensação que eles têm é determinada por factores biológicos. Os animais se comportam como quer que a Natureza os tenha programado para se comportar.

Mas o desejo do homem está num nível superior. Ele trabalha duro para tentar ganhar a aprovação social e honra. É como se ele trabalhasse para os outros em prol de receber conhecimento e vários privilégios deles. O homem deseja sentir o seu poder sobre os outros que lhe são semelhantes e ele é obrigado a representar na sua frente. Ele não se pode permitir a liberdade de exprimir suas qualidades naturais. Nossas qualidades inatas nos transformariam num mero rebanho de animais. Mas quando a pessoa representa (que é aquilo que todos fazemos), então já não é mais um rebanho. É uma sociedade humana.

Realizando diferentes papeis, nós transformamos o rebanho numa sociedade humana. É assim como diferimos dos animais. Nós estamos sempre a representar a partir de certa personalidade e nunca nos comportamos como somos de verdade, até quando estamos sozinhos.

Quanto mais a humanidade se desenvolve, mais ela se engaja em comunicação mais estreita e as pessoas seguem constantemente exemplos que elas vêem nos outros. Desse modo, todos somos como actores, vasculhando pelos papeis que observamos nos outros e “vestindo-os” quando a circunstância certa surge. É assim que nos comportamos. Isto é natural para cada um de nós. Por vezes reparamos nisto nos outros, tal como nos adolescentes que tomam os actores de Hollywood famosos como modelos exemplares e tentam emular os personagens populares que eles representaram.

Mas a habilidade de representar é algo diferente. Um actor representa um papel conscientemente em vez de inconscientemente, ao contrário da pessoa comum que reuniu vários exemplos desde a infância e simplesmente imita o comportamento dos outros.

Numa fase especifica começamos a entender que a tarefa do homem é chegar à integração total, se tornar como um homem, a sentir cada um de nós como uma parte de certo mecanismo natural inteiramente coordenado.

Para isso, o homem tem de sentir a natureza dos outros e “representar” junto com eles. Obviamente, não é um acidente que o homem tenha sido dotado com a habilidade de representar. Toda a pessoa tem de sentir e entender todas as outras. E para isso, eu tenho de concordar inteiramente com a existência de algo que é o oposto das minhas qualidades naturais.

Eu sou um pequeno e primitivo egoísta que constantemente quer “chafurdar” tudo para si mesmo. Mas para me conformar à sociedade para que possa adequadamente me conectar a ela, eu tenho de me tornar um actor.

Então é maravilhoso que eu represente outras pessoas. Minha própria natureza me empurra para forçar cada um a fazer aquilo que eu quero, até se eu não souber o que é que eu quero.

Mas para um artista, é importante fazer o oposto e aprender das outras pessoas. É importante para ele ser capaz de adaptar suas qualidades aos outros e representar junto com eles e isto não diminui a pessoa minimamente. Pelo contrário, é assim que ela se conecta ao meio ambiente e se eleva a um nível superior. Portanto, a pessoa estuda as pessoas e se aproxima delas, desenvolvendo a capacidade de estar na comunicação certa com elas.

Publicado em Artigos

Teatro Como Meio Para Combater o Egoísmo

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Falemos sobre o papel da representação no método de educação integral. Habitualmente você diz que uma criança, tal como qualquer pessoa, deve aprender a se mudar a si mesma, a desenvolver a capacidade de trabalhar acima dos seus estados.

– Uma pessoa tem de aprender a representar vários papeis e deste jeito, se apresentar a si mesma às outras num disfarce diferente daquele que ela tem realmente.

– Reparei que todos têm a capacidade de representar, não só os actores. Qual é a essência desta qualidade humana?

Publicado em Artigos