Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Pais não deveriam ser educadores

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-Digamos que existam pais que fizeram o curso, estudaram o método e têm filhos que vão a essa escola. Você pode descrever como essa família irá interagir entre si? A criança vem para casa depois de passar a maior parte de seu tempo num ambiente com os companheiros. Como deve ser o relacionamento entre os pais e avós? Onde é o lugar dessa criança? Onde estão os irmãos e irmãs? Como você visualiza isso?
-Filhos não são moldados pelos pais ou avós. Eles são moldados por seus companheiros ou por suas atividades. Eles precisam dos avós para capacitá-los em seu ambiente e para ajudá-los e servi-los, nada mais do que isso.
Eu penso, contudo, que não haverá nenhum problema nessa área e os pais nem precisam passar por certo tipo de educação. O que os pais precisam entender é que eles não devem interferir. Eles não deveriam educar seus filhos.
Eles apenas têm de providenciar a reação certa, assim a criança entenderá que não importa onde ela esteja, mas que estará sempre num ambiente que a ajuda e exige conscientemente um tipo especifico de desenvolvimento para ela, o tipo certo de entendimento e interação com o ambiente ao seu redor. Nada mais será requerido dela. Pais não deveriam ser educadores.
A razão é para que o aprendizado aconteça num ambiente de pessoas que são como você, que são iguais a você, com as quais você sempre interage.
Pais são percebidos como alguém superior e grande, como alguém que lhe serve e cuida de você. Eles, no entanto, não são considerados educadores.
O desenvolvimento ocorre em um ambiente social amplo, não em uma pequena esquina onde as únicas pessoas ao redor são minha mãe, meu pai e eu. Isso é bom somente até a idade de dois anos.
– Suponha, porém, que a criança volte para casa chateada, porque algo ruim aconteceu. Como os pais devem reagir a isso?
-Eu não acho que os pais possam realmente entender a situação da criança e oferecer uma análise correta do que está acontecendo. Isso é algo que ela tem de fazer no grupo, a partir de debates e discussões.
Nós temos de abordar o mundo realisticamente, não estamos vivendo ainda num mundo corrigido, onde a criança é admitida imediatamente dentro do processo de desenvolvimento correto em casa e em todos os lugares aonde ela vai. Nós ainda não estamos vivendo uma situação ideal.
Idealmente, todos os problemas devem ser recebidos no lugar onde eles aparecem, no mesmo círculo de crianças em que ela foi educada. Ela não deveria ter nenhum outro ambiente.
– O que os pais devem fazer? Eu também tenho filhos e sei que, quando meus filhos chegam em casa chateados, quero abraçá-los e confortá-los. Eu posso fazê-lo ou isso está errado?
-Por que confortá-los? Você não deve fazer isso, mas pode abraçá-los. Quando você encontra uma pessoa que lhe é próxima, você a abraça, isso é natural.
Eu penso, no entanto, que nós alcançaremos um nível de comunicação em que não teremos a necessidade de sentir as pessoas pelo toque. Nossas sensações interiores e a habilidade de sentirmos uns aos outros se intensificará até o ponto em que o corpo não será um órgão necessário ou um meio de contato.
– É difícil imaginar, porque, por enquanto, o contato físico é uma fonte de imenso prazer.
-Por enquanto tudo passa pelo corpo, porque não temos outras sensações a não ser essa. Quando, porém, nos desenvolvemos gradativamente para fora de nós mesmos e nos conectamos com os outros para percebermos o mundo a partir dos outros, o corpo recua e começo a sentir minha inclusão e conexão direta com os outros. Minha imagem torna-se incluída na imagem dos outros e simultaneamente torna-se a imagem que eu compartilho com eles.
Consequentemente, uma sensação de conjunto emerge, mas ela não é mais uma sensação corporal como a que tenho ao abraçar os outros, ou ao deixá-los experimentar o que estou comendo, ou quando participamos de uma refeição em conjunto, ou trocamos algum tipo de contato físico. Em vez disso, surge um novo tipo de contato, mesmo no sentido sexual. É que tudo cresce numa esfera diferente de sensações, combinações e conexões entre as pessoas, até o ponto no qual o mundo no nível animal perde a importância. Isso é o que irá acontecer gradualmente. É claro que isso está muito à frente de nos, e é irreal falar sobre isso agora, mas eu quero mostrar para onde estamos nos dirigindo.
– Nós, definitivamente, temos de saber sobre isso. Você sabe por que estou tão interessado nos pais? Porque a maioria das perguntas sobre o método parte deles. Uma das funções dos pais é fornecer segurança aos filhos.
– É o mais importante, e ocorre o mesmo com os animais. A única coisa que os guia é a segurança de suas crias.
– Influenciados por essa necessidade tão importante, os pais estão querendo descobrir mais sobre o que está acontecendo com seus filhos nesses cursos, como eles interagem nesse ambiente etc.
-Seus filhos serão filmados constantemente, assim os pais podem assistir a tudo de casa. E não apenas eles. Estamos praticando isso atualmente em nosso centro de educação. Temos muitos grupos por todo o mundo em nosso sistema de aprendizado. Alguns desses grupos são primários, isto é, conduzem um trabalho constante de pesquisas e discussões a respeito deles. Eles filmam e mostram o material para todas as outras pessoas. Você pode ver pela internet, tecle URL e assista a um determinado grupo e o que ele está fazendo em qualquer momento.
Há horários específicos, quando nossos grupos primários realizam o trabalho principal, em que simplesmente transmitimos tudo o que acontece no local. Os outros grupos sentam e assistem, escutam e estudam essa experiência ao vivo em suas localidades.
– Eu gostaria de perguntar sobre os pais novamente. Suponha que um pai e uma mãe assistiram a um desses vídeos…
-Eles podem assistir a seus filhos amados 24 horas por dia.
– Eles podem participar de alguma maneira?
– Não praticamos isso ainda. Isso requer um sistema adicional de interação entre pais e filhos, mas penso que será possível no futuro. Eu, no entanto, gostaria de falar sobre o que é possível atualmente e o que será possível num futuro próximo.
Eu acredito que o sistema de interação entre pais e filhos não será criado num futuro próximo. Não tivemos a oportunidade de criar isso ainda.
Como, então, eles podem participar? Para tal eles deveriam estar no nível dos educadores. Mas o que “participação” significa? Se eles não podem se desligar de seu “Eu” pessoal e se controlarem, como eles podem fazer parte do aprendizado?
– Ainda assim, podemos dar aos pais alguns conselhos práticos. Por exemplo, quando a criança chega em casa, os pais devem expor seus pontos de vista de alguma maneira?
-O aprendizado não deve ser continuado em casa. O que é pedido aos pais é que sejam gentis, carinhosos, amorosos. Eles não devem educar as crianças. Eles simplesmente devem lhes dar suporte corporal e animado, proporcionar-lhes uma boa dose de confiança, que é o de que elas precisam, e isso é tudo. Não penso que seja dever dos pais transformar os filhos em seres humanos. Somente o ambiente ao redor pode fazer isso. Só a sociedade pode fazer a pessoa, porque a pessoa é parte da sociedade.
Pais não podem criar um ambiente em volta das crianças ou uma imagem que permita que elas se tornem uma pessoa. Tentando isso, eles simplesmente farão com que elas permaneçam crianças para sempre. Isso é o que vemos hoje na maioria das vezes, como um homem adulto, de 40 anos de idade, que não consegue se separar de sua mãe.

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As crianças serão os professores da próxima geração

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-O educador deve interagir com os pais das crianças?
– É preferível que esse mesmo cenário e atitude continuem em casa. Infelizmente, isso só será possível se os pais também passarem por esse sistema de aprendizado. De outra maneira eles simplesmente não saberão o que é requerido deles.
Eles irão, mecanicamente, colocar algumas barreiras, as crianças sentirão o quanto eles são artificiais e pensarão que seus pais não entendem nada. Elas serão internamente mais flexíveis do que eles. Elas serão mais espertas e terão um entendimento melhor da sociedade, das relações humanas, motivação, mentalidade e metas. A sabedoria continuará se desenvolvendo nelas, mesmo que paremos de lhe fornecer métodos e nuances psicológicos.
Se os pais não se desenvolvem lado a lado com a criança, ela irá vê-los meramente como “animais” (pertencentes ao nível animal de desenvolvimento). A atitude da pessoa em relação à sociedade e a habilidade de criar o ambiente certo é o que diferencia as pessoas dos animais.
Suponha que, de alguma maneira, os pais estudem o método de aprendizado integrado em seu próprio nível.
– Eles devem fazer nossos cursos antes mesmo de planejarem ter filhos. E isso não se aplica apenas aos pais. Em princípio, todas as pessoas devem passar por isso: jovens, velhos e crianças. Isso, porém, é importante especialmente para aqueles que planejam serem pais. Eles estão planejando dar vida a um ser humano do futuro ou apenas a um filhote?
– Devemos, então, desenvolver cursos para aqueles que não passaram por todas essas fases na infância? É possível prepará-los agora?
-Somente pela mídia, especialmente internet e televisão. Não existem outros meios. O material impresso está, praticamente, desaparecendo, o que torna a televisão e a internet os meios de comunicação mais importante.
Temos de entender que toda a humanidade está no limiar de um mundo novo e precisa passar por um período de transição no aprendizado, na educação, e todos podem aprender enquanto se adaptam a isso.
Logo não haverá mais nada a fazer. Não teremos mais a matéria prima para produzir tudo o que produzimos hoje somente para jogar fora seis meses depois da aquisição. Pessoas começarão, gradativamente, a organizar os estabelecimentos educacionais, portanto estou certo de que a profissão mais importante na próxima geração será a de educador, de instrutor ou de professor. Primeiramente, porém, as pessoas devem ser treinadas apropriadamente para isso.
Eu espero que as crianças que estão estudando hoje em nossos grupos se tornem os primeiros professores das futuras gerações.

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A idade anterior a 9-10 anos é crucial

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Digamos que precisamos reunir crianças de idades diferentes em um lugar onde elas tenham de aprender a encontrar um “denominador comum” em situações diferentes. Nós reunimos uma sala inteira de crianças, digamos 500 ou 1000 crianças de idades diferentes. Como devemos interagir com elas?
-Você está começando diretamente com uma massa, mas isso é incorreto.
Nós vemos como a criança desenvolve-se naturalmente. Primeiro ela está no útero da mãe, depois está ao seu lado, então ela engatinha para longe da mãe, então caminha muitos passos para mais longe dela dentro de casa. Depois ela sai para o mundo ao redor, mas ela ainda está perto da mãe, num carrinho ou no colo (dependendo da cultura).
Nós vemos que a criança ganha acesso gradual ao ambiente somente na medida de sua habilidade de interagir com ele corretamente. É assim que ela expande seu círculo.
A mesma coisa deveria acontecer aqui. Não podemos apenas colocar 1000 crianças juntas e esperar que sejamos capazes de cuidar delas corretamente. Isso é impossível.
A única coisa que você será capaz de fazer é sufocá-las. Você pode fazê-las se sentar, ligar as luzes e colocar uma tela na frente delas, então elas assistirão a algum tipo de filme interessante. Isso, porém, não é aprendizado, e você não alcança nada fazendo isso. Você meramente as desliga delas mesmas. O aprendizado, porém, tem de ser construído na expansão.
Se vocês já possuem grupos de crianças que entendem umas às outras, que são capazes de se unir em uma só, então você pode tentar conectar muitos grupos. Assim, três ou quatro grupos serão como três ou quatro crianças juntas.
Você pode fazer isso uma vez que elas já tenham entendimento comum com o outro, depois de ter concluído o trabalho preliminar com cada criança em cada grupo, para que elas sintam essa união dentro delas.
– O que podemos dizer sobre limite de idade?
-Na idade de 9 ou 10 anos, a estrutura da pessoa já esta formada completamente. Completamente! Depois da idade de 9 ou 10 anos, somente se desenvolve o que foi incutido nela inconsciente e conscientemente, incluindo-se instintos e informação genética. Tudo o que já está nela se desenvolve daqui para frente, mas praticamente nada é adicionado.
Os educadores devem elaborar um plano preciso sobre como se comportar com as crianças durante o período em que elas estão acumulando suas impressões iniciais do mundo ao redor, o que acontece antes da idade de 9-10 anos no mais tardar. Depois disso é muito difícil fazer qualquer coisa com uma criança.
É claro, ela irá imitar nossas normas, comportamentos e regras. Essas, no entanto, são apenas instruções e não vieram da personalidade da criança. Não seria o mesmo se ela tivesse absorvido de você gradualmente uma atitude para com o mundo, fazendo disso sua própria atitude, logo após ter nascido e no processo de crescimento. Se ela aprende algo pela primeira vez depois de 9 ou 10 anos, isso não seria mais dela.
-Deixe-me entender. Se prepararmos a criança desde a infância, ela atravessa situações especificas, então, quando ela tiver 9 anos mais ou menos, já deveria ter experimentado a união dentro de grupos grandes?
-Ela tem de entender por que isso é feito. Deve adquirir habilidades especificas nessa área. Ela tem de sentir sensações positivas e negativas, contatos, ações e resultados no seu nível de entendimento, percepção e instintos.
Temos de coletar tudo isso e acumular todas essas imagens dentro dela. Elas devem estar presentes dentro da criança como informações: eu estou junto com todo mundo; eu estou contra todos; isto é bom; isto é mal. Devem se acumular dentro dela como frames em sequência cronológica.
A criança, então, utilizará esses frames em sua vida. Esses modelos estarão sempre presentes nela como pontos de referência tanto conscientes como inconscientes. Eles estarão operando na criança constantemente, e ela se orientará com a ajuda deles, muitas vezes nem percebendo que está fazendo isso.
É necessário, desde a mais tenra idade e tanto quanto possível, preenchê-la com impressões positivas e negativas sobre a unidade, a globalização e a integração. Esse é seu passaporte para o novo mundo.

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O Educador como um Diretor de Teatro

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-Se um educador se envolve profundamente no ambiente das crianças, consequentemente funde-se com ele. Não é um problema ele se tornar a mesma coisa que as crianças, não é degradação para o educador?
– Eu não acho que seja degradante. Uma pessoa que educa crianças tem de estar no nível das crianças. Se ela controla a si mesma constantemente, se leva essas crianças a um estado específico, então ela está no nível de educador e no nível das crianças, simultaneamente.
O educador deve reter esses dois níveis dentro dele e entender claramente: este sou eu e esse são elas. Como eu as manipulo? Como eu as faço se controlarem? Como eu faço com que elas se tornem cientes de seu comportamento, sua natureza e suas inclinações? Onde elas devem se levantar e acima de quê? Como elas podem se superar e para que, com que objetivo?
Ele está sempre com elas, analisando o que está acontecendo e experimentando todos os estados junto com elas. Ele, no entanto, está presente como um diretor ou produtor de teatro. Ele molda os grupos, usando estados conflitantes, mesmo aqueles que são artificiais. Fabricando todos os tipos de problemas para as crianças, ele provoca grandes convergências entre elas.
Afinal de contas, o grupo trabalha de maneira compatível, apesar de as crianças serem muito diferentes. Por exemplo, crianças novas podem entrar no grupo, ou haverá mudanças entre os instrutores, as coisas podem ficar tensas, ou podem ocorrer algumas interrupções e problemas podem aparecer.
Colocamos as crianças nessas situações constantemente, vemos como elas resolvem isso, como elas encontram um “denominador comum” em cada situação.
O educador tem de ser como o diretor de teatro ou o produtor desse processo, e tem de fazer isso com dinamismo, mantendo o controle constantemente.
-As crianças deveriam perceber que o educador está nesses dois níveis?
-Sim, claro, elas devem entender isso. Ele está com elas, mas ele sabe e entende mais do que elas.
Na realidade, eu não vejo nenhuma diferença entre a função de um instrutor, educador, professor e a função do profissional que regula o comportamento de massas e multidões, que controla uma sociedade, uma nação ou mesmo a humanidade. Em princípio, é a mesma profissão. Só que, no primeiro caso, existe um pequeno grupo de crianças que estamos educando e, nos outros casos, existe um grande número de pessoas envolvidas, e eu também tenho de educá-las.
Como alcançar os adultos, as massas e multidões? Eu não acho que exista grande diferença entre o instrutor de um pequeno grupo e uma pessoa que precisa controlar um grande número de pessoas, isto é, não controlar, mas educar.

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O Educador deve ser monitorado?

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-Nós falamos que o educador deve afinar-se com a interação geral. E é inaceitável mostrar preferência por certa criança. E se esse sentimento continuar a aparecer?
-O educador deve manter-se acima de si mesmo. De outra maneira ele não será um educador. O educador deve trabalhar somente com o coletivo. Ele não tem nenhuma opinião ou sentimento pessoal.
Ele apenas se apresenta como mediador ou estabilizador do ambiente. Ele tem uma direção clara e objetiva a partir da qual ele atua. Ele é como uma máquina que trabalha apenas para desenvolver seus participantes dentro do time ou do grupo, sem efetuar nenhuma mudança em seus próprios desejos.
– Quando a pessoa sente um desejo desagradável, ela tenta ignorá-lo, suprimi-lo. Tomando isso em consideração, é necessário monitorar o educador?
– Naturalmente. Nos grupos em que conduzimos as pesquisas e desenvolvemos as técnicas, tudo é gravado. Isso nos obriga a observar a dinâmica que lá existe. Os instrutores falam sobre os problemas que encontraram dentro dele ou no grupo, mas ainda existem certas coisas que enxergamos de fora, e outras não. É um processo.
O instrutor, contudo, rapidamente encontra sentido nessa prática. É simples e não requer nenhuma teoria complicada, origina-se de integridade, unidade, conexão, globalidade e flexibilidade.
O que se opera aqui é uma aspiração natural da pessoa. E isso é algo que não requer muitas teorias e métodos. O educador compreende os métodos necessários bem rapidamente. Ele vive dentro deles, encontra seu caminho em volta deles e se torna sensível a eles. Ele começa a adquirir suas próprias técnicas e sente como se afinar às crianças segundo o modo certo de interação. Há muito espaço para variações, buscas e estados. Dentro desse processo e fazendo isso, a pessoa sente que, estudando nossa natureza, nós nos manipulamos e manipulamos a Natureza, com o intuito de nos trazer para a unidade, que é a nossa meta.
-Os educadores se reúnem para assistir aos vídeos com suas participações e debatem isso com os outros? Existe lugar para críticas construtivas?
-Os educadores também deveriam ter seus próprios grupos, nos quais eles podem debater tudo. Eles devem estudar a experiência de cada pessoa e também suas experiências conjuntas, materiais e impressões. Afinal de contas, por que outra pessoa deveria cometer o mesmo erro? Se alguma coisa aconteceu no grupo, eles deveriam tentar comparar isso com outro grupo e ver o que aconteceu. Eles deveriam tratar esse processo como vivo e atual e entender que as crianças são como massinha de modelar, assim como nós.
Vamos tentar isso. Nenhum mal pode ser feito, tudo está sob nosso controle e, se tentamos isso em nós mesmos, alcançamos impressões do que está certo e do que está errado, e essa é uma experiência valiosa da qual precisamos.
O progresso na coletividade deve incluir a sensação de se estar imerso em imagens negativas, fenômenos, conexões e conflitos. Devemos sempre aprender com eles.
Coisas positivas crescem somente sobre coisas negativas depois de as termos experimentado e discernido. Temos de sentir nossa natureza em sua mais profunda negatividade. Somente então seremos capazes de construir algo positivo em cima disso.

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Transforme todo o mundo circundante em uma “Mãe”

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-A criança tem necessidade de sempre retornar ao mesmo lugar. Às vezes ela brinca num território neutro e então ela quer voltar, para mergulhar naquela sensação novamente. Adultos também fazem isso.
-Nós queremos retornar para nossas mães. Isso é natural. Está infiltrado em nossa natureza. Mas como podemos fazer o ambiente, que se expande constantemente à nossa volta, tornar-se nossa “mãe”? Mesmo que se expanda e absorva mais e mais imagens estranhas, como podemos fazer com que o ambiente permaneça tão amigável, amoroso e confortável para nós como o útero, onde nos desenvolvemos e pelo que continuamos a ansiar, semelhante a uma criança que corre para se esconder embaixo das saias de sua mãe?
-Temos de aprender como transformar o ambiente circundante em um “útero”. Se nós criarmos um ambiente que tenha as qualidades de doação e amor, ele será mesmo como uma “mãe”.
Em princípio, é isso o que o grande mandamento fala: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Você foi feito para sentir instintivamente o que é uma mãe ─ o lugar mais seguro, mais gentil do mundo. Você pode já ser um adulto, mas ainda aspira instintivamente por esse sentimento como uma criança.
Façamos, então, com que o mundo seja dessa maneira!
– As pessoas realmente anseiam por isso. O que você está descrevendo parece maravilhoso, mas soa irreal.
– Temos de pensar a respeito e fazer com que aconteça. Por outro lado, nossa natureza nos obriga a alcançar isso de qualquer maneira. O mundo está começando a ser revelado como um sistema global integrado. O que isso significa? Significa que o mundo está nos forçando a tratar uns aos outros da mesma maneira que nossas mães nos tratam. Juntos, então, adquiriremos precisamente esse estado de ser “dentro do útero materno”.
-Você está dizendo que a globalização que tanto assusta as pessoas é na verdade uma “mãezona carinhosa” em nosso caminho?
-Isso é uma revolução, e como nós a atravessaremos depende somente de nós. Nós podemos atravessá-la de um jeito prazeroso, juntando nossos esforços, entendendo para onde estamos indo, ou atravessaremos isso completamente desorientados, como uma criança que perdeu sua mãe. A Natureza nos forçará a criar uma sociedade que corresponda exatamente à imagem de nossa mãe, a Natureza, “Mãe Natureza”.
– Geralmente, é muito difícil para a mãe, quando um filho adquire independência, porque a necessidade de ficar perto dela diminui.
-Numa educação ideal, quando o filho começa a querer se separar da mãe, na proporção em que ele deseja isso, ele deveria construir um ambiente ao seu redor (com nossa ajuda), o qual a substitui, e, gradativamente, transferir essa função para a sociedade a volta dele.
A Natureza tem organizado as coisas de maneira que os filhos se separem de suas mães. Isso é inevitável. Temos somente de fazer com que o mundo circundante substitua a mãe de cada filho, mas precisamente no nível em que o filho tenha a atitude correta em relação ao mundo à sua volta.
Uma mãe aceita seu filho, não importando o que ele seja. Ele é dela. E para o mundo, ele “é do mundo” ou “não é do mundo”, dependendo do quão corretamente ele trate o mundo. Temos de criar um ambiente que ensine à criança a atitude certa em relação ao mundo. O mundo, então, substituirá sua mãe para ele.
A mãe é uma mãe para o corpo da criança, enquanto o mundo é uma mãe para o ser humano numa pessoa, quando ela forma a imagem certa fora de si mesmo. No nível em que ela “ainda é uma pessoa”, isto é, na medida em que ela ainda não vive em doação e amor ao próximo, o mundo se relacionará com ela diferentemente, não como uma mãe.
– Uma das definições de distúrbios psicológicos é hipersensibilidade em relação a si mesmo e falta de sensibilidade em relação ao mundo externo.
Se criarmos essa estrutura, nós criaremos crianças mais saudáveis de alguma maneira?
O mais importante, eles serão saudáveis no sentido espiritual. E, naturalmente, isso será expresso em seu bem-estar físico.

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Rotatividade, dinâmicas e criatividade

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Anteriormente dissemos que o ideal seria que o grupo fosse composto por 8 a 10 crianças e tivesse não um, mas dois ou três instrutores trabalhando com elas.
Eu penso que um grupo de 10 crianças com dois instrutores é a medida ideal.
– Um dos instrutores deveria estar sempre com as crianças ou eles deveriam se alternar?
– Penso que deveriam se alternar. É claro que as crianças sentem-se mais confortáveis com um instrutor, mas se acostumar com as coisas as limita, cria padrões que são perpetuados dia após dia. Em vez disso, nós deveríamos provocá-las constantemente, assim elas se veriam obrigadas a resolver os problemas de suas vidas como um quebra-cabeça. Isso tornaria seu senso de direção mais acurado. A criança teria de descobrir em qual posição ela se encontra frente a seus amigos, e também perante seus instrutores, e como ela deveria agir sob novas circunstâncias.
Isto é, nós temos de torná-la o mais flexível possível, e instrutores permanentes não se enquadram nessa questão.
Penso que parece mais desafiador ter muitos instrutores num grupo grande, simultaneamente. O espaço, no entanto, ainda é limitado. A melhor abordagem é mudar tudo o tempo todo, inclusive o cenário, a diversidade de crianças e o instrutor que está próximo a elas.
– De quantos instrutores estamos falando nessa rotatividade? Umas dez pessoas ou apenas uma pessoa nova a cada vez em que as crianças se reúnem?
– O mais importante é que eles se alternem. É melhor ter quatro pares de educadores que se alternam constantemente num grupo de dez crianças. Eles mudam de um grupo para outro e esses pares também mudam.
E assim haverá mudanças suficientes de cenário e as dinâmicas serão observadas. Adicionalmente, o grupo de crianças também se mistura.
Elas devem sentir que todos nós, todas as pessoas da Terra, estamos participando de uma única comunidade global integrada. Eu não me importo exatamente com quem está perto de mim, eu tenho de ser capaz de entender todo mundo e estabelecer um relacionamento com todos.
Deve haver menos barreiras quanto possível, qualitativas ou quantitativas. Temporárias ou humanas. O assunto também deve mudar constantemente. Absolutamente tudo deve mudar!
Dessa maneira a pessoa irá sentir as mudanças ocorrendo dentro dela. Ela será constantemente forçada a se avaliar, avaliar os outros e o cenário, para revisar o critério que anteriormente pareceu claro e correto, com o qual ela já cresceu acostumada. Hábito não é bom. Deve haver constante criatividade.
– Em essência, você acabou de sugerir que retiremos todos os recursos nos quais a pedagogia se baseia.
-Isso porque é mais fácil para os pedagogos. Eles criam um sistema ou cenário estagnado, porque se sentem confortável nele. Onde, porém, se encontra o espaço para a criatividade?
-Nesse caso, onde as crianças conseguirão recursos? Nesse sistema geral?
-Sim. De que outra maneira isso poderia funcionar? Existem sete milhões de pessoas a minha volta e eu tenho de me sentir confortável quando junto com todas elas. Eu tenho de estar disposto a absorver todas as imagens delas dentro de mim.
Se eu estou disposto a fazer isso apenas com um pequeno grupo, então nunca sairei de dentro da minha casa, do parque ou do jardim de infância. Em princípio, isso é o que está acontecendo com as pessoas atualmente. Elas experimentam coisas agradáveis na infância e, às vezes, na juventude (apesar de que, até lá, seu círculo de amigos estreitou-se consideravelmente), e assim não querem ir para lugar nenhum.
Por que a rede social “Classmate.com” é tão popular? Em que as pessoas são atiradas? Elas não possuem nada! É por isso que elas só querem retornar para seus parques e escolas. Por quê? Porque lá elas tiveram barreiras e se sentiram bem. “Então vamos voltar a ser crianças novamente”, elas pensam. Em outras palavras, elas continuam crianças. Elas nunca amadureceram, não receberam nenhuma ferramenta para entrar no mundo e achar orientação nele.
Quais são os atributos pelos quais eu escolho meus amigos no “Classmates.com”? Quando eu era jovem, eu era amigo deles. Mas agora sou adulto e não tenho ninguém. Então, eu voltarei para eles.
Aonde nós chegamos? Essencialmente, a pessoa nunca deixou a infância, sente falta. Mas que tipo de infância foi aquela? Ela também foi limitada pelas barreiras de um sistema rígido! O sistema não lhe ensinou ser flexível, portanto ela quer voltar à infância com o intuito de se sentir pelo menos mais confortável. Ela é um pequeno cubo dentro de uma pequena caixa e lá se sente bem.
– Nos primeiros três anos da vida de uma criança, ela fica perto da mãe, tem um contato próximo com ela. Repentinamente, uma mudança drástica ocorre, quando a criança começa a interagir com os outros. Como podemos tornar essa transição confortável?
Isso tem sido pré-planejado pela Natureza. Vemos como, de repente, na idade de 3 anos, a criança começa a brincar com outras. Anteriormente ela nem percebia a existência dos outros. Tudo o que ela conhecia era a si mesma, sua mãe e seus brinquedos. Isso era tudo; ela não tinha nenhuma vontade de ser sociável.
Ela, porém, começa a sentir “Eu quero brincar com alguém”, “Eu quero enxergar uma pessoa e aprender a fazer coisas junto com ela”. Ela começa a observar outras crianças. Isso acontece automaticamente e começamos a desenvolver essa atividade assim que aparece.

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A aparência mutável do educador

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

-Se um educador favorece determinada criança mais do que outras, ele deveria ser um educador?
-Nesse caso ele deveria trabalhar em si mesmo, imediatamente (com o melhor de suas habilidades), ou ser tirado do grupo de crianças.
Trabalhando com crianças, o educador muda e se desenvolve constantemente. Somos todos humanos, por isso nos desenvolvemos constantemente. Quando trabalhamos com os outros, mesmo que no papel de “educadores”, graças ao grupo também estamos sendo educados.
Se o educador agisse de maneira a tornar todos os seus estados de desequilíbrio e distorção em relação às crianças um objeto de trabalho em si mesmo, e se ele desenvolvesse uma atitude balanceada em direção às outras pessoas, seria muito bom! Na verdade, porém, isso é muito diferente. A melhor maneira de agir é criar um ambiente no qual suas atitudes não ocasionem nenhuma mudança drástica em nenhuma direção.
Quando você descreve esse tipo de educador, estabeleço um paralelo com a minha profissão. Como psicoterapeuta, eu não tenho direito de expressar minha afeição pelas pessoas com quem trabalho. De outro modo, meu trabalho terminaria. Eu, no entanto, tenho um grupo de apoio, que reúne pessoas como eu, outros psicoterapeutas. Nós nos ajudamos e resolvemos as dificuldades que não podemos resolver com os pacientes. Para um educador do sistema integrado, haverá um grupo de educadores como ele, junto ao qual ele possa solucionar suas dificuldades?
-Educadores se unem em encontros. Eles estudam constantemente com o propósito de se elevarem, para discutir suas dúvidas e resolvê-las entre eles. Adicionalmente, eles estudam constantemente todos os tipos de fontes textuais e assim avançam. Paralelamente ao trabalho com crianças, eles devem se afinar na direção certa. Uma vez feito isso, podem vir para o grupo de crianças.
Antes de o educador vir ao grupo, ele deve ler e pesquisar materiais novos. Em outras palavras, ele deve se afinar. Ele não pode apenas levantar e entrar no grupo de crianças. Ele tem de assumir um disfarce específico, criá-lo internamente e somente assim vir ao grupo. Isso requer uma preparação e uma boa afinação toda vez que ele vier ao grupo. E essa afinação geralmente acontece dentro do grupo de educadores, professores e instrutores.
– Qual é a máscara que ele deve vestir?
– A imagem de uma pessoa que é um guia do sistema. É como se ele não fosse uma pessoa, mas um sistema que faz de uma criança um “produto semiacabado”.
Um educador deve pensar frequentemente em como “dar um puxão” nas crianças e guiá-las na direção necessária, a partir de perguntas opostas, influências positivas ou negativas, a partir dos outros e com a ajuda da influência coletiva sobre cada pessoa.
Ele não deve apenas manipular a criança automaticamente. Em vez disso, sempre deve procurar o melhor jeito de a criança agir de acordo com a escolha de uma meta específica. É assim que eu devo me conectar com os outros; é assim que eu devo me posicionar.
O mais importante é que as crianças devem acumular tantos modelos comportamentais quanto possível ─ os modelos mais contraditórios e multifacetados, positivos e negativos, os mais diversos.
Depois disso, a partir de debates, jogos e socialização, elas devem saber qual modelo é mais adequado, qual devem usar e nele permanecer. A pessoa deve trazer a si mesma a um estado em que todos são iguais e então escolher a imagem necessária de acordo com essa visão.

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O educador como um diretor de teatro

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Quem é o “educador”? Como ele deve ser preparado e como deve interagir com as crianças e com os pais?
-No verdadeiro sentido da palavra, educador é aquele que ensina. Isto é, existem várias instruções e ele está no comando para certificar-se de que elas estão sendo observadas.
Em nosso caso, porém, estamos dando uma educação às crianças. Isso significa que fazemos o oposto: damos à pessoa a chance de descobrir por si mesma, tocar, cheirar, experimentar, atingir tudo e então tirar suas próprias conclusões de forma independe. É isso que os educadores fazem.
-Mesmo que ele seja apenas três anos mais velho do que a criança com quem esteja trabalhando?
-Isso não importa, ele a eleva e ajuda a assumir uma imagem diferente, em vez de meramente ensinar. Podemos dizer que um instrutor é uma rígida noção militar, enquanto que um educador é uma noção mais flexível.

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O PREFERIDO DO PROFESSOR

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– No processo de interação com crianças, uma geralmente se torna a preferida do professor. Isto é, os instrutores tendem a gostar mais de umas crianças do que de outras. Qual é a maneira certa de lidar com isso?
– Os instrutores não podem fazer isso! Se eles o fizerem, então não são instrutores. Além disso, nós devemos incutir uma percepção absolutamente integrada do grupo e
do mundo nas crianças. Ninguém pode ser melhor do que ninguém! Todos nós fomos criados iguais pela Natureza, nós temos apenas de aprender a usar nossas inclinações e qualidades corretamente. Essa é uma condição necessária para a interação integral. É isso o que a Natureza demanda de nós.
Precisamente pelo fato de sermos tão diferentes, a conexão entre nós produz este belo mundo multifacetado. Nós, portanto, nunca deveríamos cortar algo de uma pessoa apenas porque achamos inapropriado. Sob quaisquer circunstâncias, nós não devemos amarrar ninguém ao “leito de Procusto”.
O único padrão que existe é dar a cada pessoa o direito à formação. Assim ela irá encontrar seu lugar correto na sociedade, e nós teremos o mosaico apropriado: uma sociedade harmoniosa.
– Então eu gostar ou não gostar de uma pessoa é apenas a expressão dos meus próprios problemas?
– Não, eles não deveriam estar lá de qualquer forma! Se os problemas pessoais estão presentes, aquela pessoa não pode ser um instrutor. Ela tem de constantemente controlar a si mesma e trabalhar nisso.
– Como ela deveria trabalhar nisso?
– Ela deve trabalhar em si mesma individualmente, bem como com outros instrutores, para aprender a tratar o mundo integralmente. Integralmente quer dizer que, na minha atitude em relação ao mundo, eu não divido as pessoas com base em nenhum atributo externo. Eu vejo inicialmente que elas e eu fomos criados corretamente, e nós temos apenas de nos conectar da maneira correta. Então tudo se tornará correto.
Você verá que não há nada de prejudicial em qualquer pessoa, ela pode revelar qualquer inclinação, desde que a utilize corretamente. Esses são os princípios da sociedade integrada, e eu penso que a humanidade irá entendê-los.
– Há algum problema em aplicar trabalhos de campo desenvolvidos pela psicologia materialista a um grupo de crianças?
A psicologia materialista está na base de nossa abordagem do mundo. Nós apenas não aceitamos seus cânones como invioláveis e sagrados. Quando nós começamos a trabalhar na formação integral em nossos grupos, nós vemos que novas leis, novas conexões e novas regras emergem. E elas também mudam. Estudando essas leis e conexões, nós gradualmente desenvolvemos um novo arcabouço de regras para o comportamento de uma pessoa na sociedade integrada, porque nós descobrimos a nós mesmos nisso, involuntariamente, e não conhecemos suas regras. Nós temos de aprender a viver a vida a partir da própria vida.
Eu espero que a humanidade gradualmente se adapte às novas leis naturais nas quais nos encontramos, e nós tentaremos ajudar a qualquer um que queira isso.

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