Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 4: Uma Nação em Missão

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

O Papel do Povo Judeu

“Abraão foi recompensado com a bênção de ser como as estrelas dos céus, Isaac, a bênção da areia e Jacó, como a poeira da terra, pois os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação”.

Yehuda Leib Arie Altar (ADMOR de Gur), Sefat Emet [Lábio Veraz], Bamidbar [Números].

No fim do capítulo anterior  perguntamos,  “Se  tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo”?  E  “Se  a  lei  fundamental  da  vida pode ser conhecida por todos, como tão poucos a conhecem, especialmente agora que estamos em uma perda no que tange lidar com as múltiplas crises que engolem  a  sociedade humana?” Dissemos que para responder a essas questões, precisamos compreender como o conhecimento da lei se espalha e como os Judeus estão relacionados com sua divulgação.

Você pode recordar-se que na Introdução, estabelecemos que uma vez que Abraão  descobriu  que  uma  única  força  conduzia  o  mundo,  ele  se  apressou  a contar a seus conterrâneos sobre sua descoberta. Ele não apresentou condições prévias; ele desejava partilhar seu conhecimento recentemente achado com todos. Acontece que, nem seu rei, Nimrod, nem o povo estavam prontos para aceitar a noção de que a força governante da vida era uma força de doação e que sua meta na vida, como  dissemos no Capítulo 1, é de a revelar ao ser semelhante,   ou até igual a ela. Os Babilônios do tempo de Abraão estavam demasiado preocupados em construir sua torre e tentar deificar as leis da  Natureza.

Enquanto Abraão vagava pelo que agora é o Próximo    e Médio Oriente no seu caminho a Canaã, ele  reuniu  na  sua tenda, a princípio,  todos  aqueles  que  eram  capazes  de compreender suas noções, se comprometer à autotransformação do egoísmo à doação. Essas  pessoas mais tarde se tornaram a nação de Israel, nomenclada segundo o desejo de alcançar diretamente o Criador.

E todavia, os quatro níveis da vida – inanimado, vegetativo, animal e falante – são uma constante. Eles  devem ser atualizados na totalidade, e todos aqueles que fisicamente pertencem ao nível falante devem eventualmente alcançá -lo  espiritualmente,  também.  O fato de que nem todos os Babilônios estavam prontos para se comprometer, a mudar a si mesmos no tempo  de  Abraão, não muda nada em termos do propósito final para o qual a raça humana existe. Assim, aqueles que estavam prontos e dispostos a se comprometer, se tornaram os “guardiões” do conhecimento, confiados em manter e nutri-lo para a  posteridade.

No seu ensaio, “A Arvut (garantia mútua),” Baal HaSulam escreveu, “[O Criador disse] ‘Vós serei Meu Segulá [remédio/virtude] dentre todos os povos.’ Isto significa   que   vós   sereis   Meu   remédio,   e   centelhas  de purificação e limpeza do corpo passarão através de vós para todos os povos e nações do mundo. As nações do mundo ainda não estão prontas para isso, e preciso de pelo menos uma nação com que começar agora, pois ela será já como um remédio para todas as nações”. 94

Esta citação,  acompanhada  pelas  palavras  de Rabi  Altar, citadas no princípio deste  capítulo,  “Os  filhos  de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação,”  e  juntas com as citações abaixo neste capítulo, deixam poucas dúvidas sobre a visão dos líderes espirituais Judeus durante   as eras a respeito do papel pelo qual os Judeus existem no mundo.

Quando Moisés conduziu o povo de Israel para fora do Egito, ele pretendia primeiro e antes e acima de tudo lhes passar a lei que ele mesmo havia aprendido, a  lei  que  Abraão havia aprendido antes  dele.  Sua meta  era terminar, ou pelo menos avançar a missão que  Abraão  havia  começado gerações antes. Rav Moshe Chaim Luzzatto, o grande Ramchal, escreveu sobre isso, “Moisés desejou completar a correção do mundo nessa altura.  Foi por  isso que  ele  juntou  a  multidão  misturada  [pessoas  egocêntricas, sem desejos corrigidos], pois ele pensou que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções   que  ocorreram   no caminho.”95

Apesar das dificuldades, escreve Rabi Isaac Wildman, “Essa foi a oração e bênção de Moisés para a geração do deserto, que eles fossem o princípio da correção  do  mundo.”96

Todavia, o mundo não teve desejo de correção. As  nações  não estavam  prontas  para  abdicar  do amor-próprio e abraçar o altruísmo – dar – como sua principal qualidade. Então  no  entretanto,  a  nação  Israelita  continuou  a “polir” sua própria correção esperando que o resto das nações estivessem prontas e dispostas. Nas palavras de Ramchal, “Vós deveis saber … que a Criação como um todo não será completada até que o todo da nação escolhida seja ordenada na ordem certa, completada em todas as suas decorações, com a Shechiná [Divindade] aderida a ela. Consequentemente, o mundo  alcançará  o  estado completo. …Devemos chegar a um estado em onde a nação  é totalmente complementada em todas as necessárias condições, e o todo da Criação recebe sua completude, e então o mundo será estabelecido permanentemente no estado corrigido.”97

Segue-se que a nação Israelita serve como um  canal pelo qual a correção, nomeadamente a qualidade de doação, deve alcançar seus recipientes pretendidos: as nações do mundo. Em estilo eloquente, florido, o Rav Kook detalha como ele vê o papel dos Judeus a respeito do resto das nações. “Assim que a vocação de Israel, sendo a nação do Senhor, esteja presente, completa, aparente, duradoura e ativa no mundo, é um testemunho válido para o mundo para toda a posteridade complementar a forma da raça humana, a manter suas características, e a elevá-la pelos degraus da santidade adequados a ela … que o Senhor determinou. E uma vez que nossa própria vocação é permanecer sempre, acompanhando a vocação do todo da Natureza – cuja lei é completar todas as criações e as trazer ao ápice da perfeição – devemos guardá-la devotadamente pela vida de todos nós, que é mantida dentro dela, e pelo todo  da  humanidade  e  seu  desenvolvimento  moral,  cujo destino depende do destino da nossa existência.”98

Como demonstrado na Introdução a este livro, o Rav Kook vai até tão longe ao dizer, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente  pela sua força sagrada e eterna, que flui dentro de seu espírito. É aquilo que a fez, e a faz, e a fará permanecer  ainda uma nação que permanece como uma luz para as nações.”99

No seu livro, Ein Ayá [O Olho de Um Falcão], o Rav Kook acrescenta mais: “Dentro de Israel está uma santidade escondida de elevar o valor da própria vida através da Divindade que está presente em Israel. A alma nacional da Assembleia de Israel aspira pelo mais sublime e exaltado, agir na vida pelo valor mais exaltado e Divino, por esse mesmo valor que fará que nenhuma pessoa seja capaz de questionar, ‘Qual é o propósito desta tal vida’? Tendo visto  a glória e a sublimidade da sua agradabilidade e magnificência. Em absoluta completude será ela  completada dentro da casa de Israel, e a partir dela, ela brilhará para a terra e para o mundo inteiro, ‘para um convénio do povo, para uma luz das nações.’”100

Similarmente, Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (conhecido como “O TATZIV de  Volojin”)  escreveu, “Isaías o profeta disse, ‘Eu vos tomarei pela mão e vos manterei; Eu vos darei um convénio para o povo, uma luz para as nações,’ ou seja, para corrigir o convênio, que é a fé, para cada nação. Eles jogarão fora a fé em ídolos e acreditarão em um Deus. Certamente, o convênio com Abraão nosso Pai foi assinado sobre essa questão.”101

 

MISTURAR E MESCLAR

E ainda assim, como é que a correção fluirá  para  as  nações? Se a nação de Israel se corrige a si mesma, como  isso afetará a qualquer das outras nações?

Quando Abraão primeiro descobriu o Criador, ele descreveu-o a quem quer que escutasse, e aqueles   que se juntavam a ele se tornavam as  primeiras  pessoas  corrigidas. Essas pessoas então foram para o Egito e finalmente emergiram dele em números muito maiores, uma nação inteira, essa nação recebeu a Lei da Correção, nomeadamente a Torá, e se corrigiu a si mesma. No Primeiro Templo, a nação Judaica alcançou seu mais alto nível de conexão com o Criador, como demonstrado no capítulo anterior. A partir daqui, a nação começou a declinar até que seu povo foi exilado para Babel. Quando regressaram à Terra de Israel, a maioria da nação Judaica escolheu   per manecer   na Diáspora  e se assimilar.

Certamente, é assim que a passagem da mensagem começou. Quando as pessoas que foram inicialmente corrigidas – que transcenderam o interesse pessoal e descobriram o Criador – se misturaram com aquelas que nunca tiveram tais pensamentos, aquelas ideias nobres começaram a se espalhar dentro da sociedade anfitriã e ajudaram a instigar pensamentos mais humanos  nas  mentes das pessoas. Enquanto esses pensamentos não corrigidos  derivados  das  mentes  que  haviam  transcendido o egoísmo, as noções de universalismo e humanismo independentemente se começaram  a  segurar às  mentes  das pessoas.

Certamente, durante o Renascimento, vários acadêmicos reconhecidos mantinham que os Gregos  haviam adoptado pelo menos alguns  dos  seus  conceitos  do Judeus, neste  caso  especificamente  da  Cabalá.  Johannes Reuchlin (1455-1522), por exemplo,  o  conselheiro político do Chanceler, escreveu em De Arte Cabalística (Sobre a Arte  da  Cabalá):  “Independentemente, sua proeminência  [de  Pitágoras]  não      derivou      dos      Gregos,      mas      novamente   dos Judeus. …Ele mesmo foi o primeiro a converter o nome Cabalá, desconhecido aos Gregos, no nome Grego filosofia.”102

Em 1918, um pastor Francês, Charles Wagner, foi citado como tendo escrito, “Nenhum dos nomes resplandecentes na história – Egito, Atenas, Roma – se consegue comparar à grandiosidade eterna de Jerusalém. Pois Israel deu à humanidade a categoria da santidade. Somente Israel conheceu a sede pela justiça social e essa santidade interior que é a fonte da justiça.”103

Mais recentemente, o historiador Cristão, Paul  Johnson, escreveu em Uma História dos Judeus: “O impacto Judaico na humanidade foi proteico. Na antiguidade eles foram os grandes inovadores na religião e moral. Na Idade das Trevas e a inicial Europa medieval eles foram ainda um povo avançado transmitindo escasso conhecimento e tecnologia. Gradualmente eles foram empurrados da vanguarda e caíram para trás; no fim do século dezoito eles foram  vistos  como  sujos   e   obscurantistas,   retaguarda na marcha da humanidade civilizada. Mas então veio uma segunda explosão surpreendente de  criatividade. Rompendo fora de seus guetos, eles uma vez mais transformaram o pensamento  humano,  desta  vez  na esfera secular.  Muita  mobília  mental  do  mundo  moderno é também de fabricação Judaica.”104

Similarmente, Em Os Presentes dos Judeus: Como uma Tribo de Nómadas do Deserto Mudou a Maneira Como Todos Pensam e Sentem, do autor Thomas Cahill, antigo diretor de  publicações  religiosas  na  Doubleday,  descreve  a contribuição dos Judeus para o  mundo,  que,  na  sua visão, começou durante o exílio na Babilônia. “Os Judeus originaram o tudo”, escreve ele, “e com ‘o’ pretendo dizer tantas  muitas  das  coisas  com  que  nos  preocupamos,   os valores subjacentes que perfazem todos nós, Judeu  e Gentio, crente e ateu, funcionam. Sem os Judeus, veríamos o mundo através de olhos diferentes, escutaríamos com ouvidos diferentes, até sentiríamos  sentimentos  diferentes… Pensaríamos com uma mente diferente, interpretaríamos todas as nossas experiências diferentemente, tiraríamos diferentes conclusões das coisas que caem sobre nós. E definiríamos um percurso diferente para nossas vidas.”105

Curiosamente, alguns líderes Judeus reconhecidos também escreveram sobre o espalhar (e estragar) da sabedoria Judaica depois da ruína do Primeiro Templo. Rabi Shmuel Bernstein de Sochatchov, por exemplo, escreveu, “Os Gregos tiveram a sabedoria da filosofia, que se originou dos escritos de Rei Salomão que vieram à sua posse depois da ruína do Primeiro Templo. Contudo, eles foram estragados por eles com subtrações, adições, e substituições até que visões falsas se misturaram com eles. E ainda assim, a própria sabedoria é boa, mas as partes do mau se misturaram com ela.”106

Baal HaSulam escreveu similarmente em “A Sabedoria da Cabalá e a Filosofia”: “Sábios da Cabalá observam a teologia filosófica e queixam-se de que roubaram a casca superior de sua sabedoria, que Platão e seus predecessores haviam adquirido enquanto estudando com os discípulos dos profetas em Israel. Eles roubaram elementos básicos da sabedoria de Israel e usaram uma capa que não lhes pertence.”107

O  LEGADO  DOS JUDEUS

Os Judeus que permaneceram na Babilônia  depois  da  ruína  do  Primeiro  Templo  desapareceram,  não  deixando rasto senão as noções que haviam transmitido aos seus anfitriões. Mais tarde, quando o Segundo Templo foi arruinado, o povo Judeu inteiro foi exilado e apresentou     ao mundo os dois princípios que se tornariam a base de todas as três predominantes,  apropriadamente denominadas religiões “Abrahamicas”: “Ama ao próximo como a ti mesmo”, e o “monoteísmo,” ou seja que há somente um Deus, uma força governadora no mundo. Estas noções são comparáveis ao sucesso da correção da humanidade porque quando entendidas corretamente, a anterior define o modo pelo qual alcançaremos a correção – através de amar os outros, e não parentescos, mas nossos próximos, ou seja estranhos. A última define a essência de nossa realização assim que estejamos corrigidos – a força singular da realidade.

Correspondentemente, o Professor T.R. Glover da Universidade de Cambridge escreveu em O Mundo Antigo, “É estranho que as religiões vivas do mundo sejam edificadas sobre ideias religiosas derivadas dos Judeus”.108 Similarmente, Herman Rauschning, Um Revolucionário Alemão Conservador  que  brevemente  se  juntou  aos  Nazis ant es de romper com eles, escreveu em A Besta do Abismo: “Judaísmo, independentemente … é um componente inalienável da nossa civilização Cristã Ocidental, o eterno ‘chamado a Sinai’ contra o qual a humanidade novamente se revolta”.109

O exílio do povo Judeu da Terra de Israel foi um longo processo pelo qual os Judeus, e desta forma os valores Judaicos, foram gradualmente  absorvidos  pelas  suas nações anfitriãs. Yosef Ben Matityahu, melhor conhecido como Flavio Josefo, o historiador Judaico – Romano, descreve a expulsão dos Judeus pelos Romanos no princípio do  exílio.  Em  As  Guerras  dos  Judeus,  Flavio  escreve,  “E como ele se recordou que a décima legião havia aberto caminho aos Judeus, sob Cestius seu general, ele  os expulsou de toda a Síria, pois eles se haviam rendido anteriormente em Rafania, e os mandou embora para um lugar chamado Meletina, perto de Eufrates, que é nos  limites da Arménia e Capadócia.”110

No Capítulo 3,  Flavio  elabora,  “Pois  enquanto  a nação Judaica está amplamente dispersa por toda a terra habitada entre seus habitantes, também está ela muito misturada com a Síria, pela razão de sua vizinhança e tiveram as grandes  multidões  em  Antioquia  p  ela  razão da maior cidade, onde os reis, depois de Antíoco, os acolheram numa habitação com a  maior  tranquilidade  sem  incómodos.”111

Hoje, narra o autor Yaakov (Jacó) Leschzinsky em A Dispersão Judaica, que os Judeus espalharam pelo mundo todo e num ritmo  surpreendente,  “Quando esquadrinhamos a Diáspora da Judiaria pelo globo inteiro   e pelo inteiro mundo civilizado,” escreve ele, “ficamos surpresos ao ver que esta nação, que é a mais antiga no mundo, é na verdade a mais  jovem  em  termos  da  terra sob seus pés e o céu sobre sua cabeça. Devido às intermináveis perseguições e expulsões forçadas, maioria dos Judeus são nada mais que recentes novatos às suas respectivas terras de residência. Noventa por cento das pessoas Judias não viveram nos seus lares mais que cinquenta a sessenta anos! (Os Judeus) estão dispersos em mais de 100 terras de todos os cinco continentes.”112

Curiosamente, sua mistura com outras nações é precisamente o que foi necessário para completar as correções  de  Moisés.  Embora   seja   verdade   que,   embora     Israel     sejam  separados  das  outras  nações,   os princípios mencionados anteriormente no coração do Judaísmo não puderam ser tingidos, é  também  verdade  que os Judeus tinham muito a ganhar do seu exílio entre as nações. É por isso que no Livro dos Salmos (106:35) nos conta que os Judeus foram exilados para “Se misturarem a  si mesmos com as nações e aprenderem de suas ações”.

 

ADAM – O PRIMEIRO HOMEM, A ALMA COLETIVA

O ARI explica que na verdade, somos todos partes de uma única alma, conhecida aos Cabalistas como Adam HaRishon (o primeiro homem), e à maioria de todos os outros como Adam.  O  exílio,  diz  o  ARI,  ocorreu  como  uma continuação do processo de correção. Em Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], ele escreveu, “Adam HaRishon [Adam] incluiu todas as almas e incluiu todos os mundos. Quando ele pecou, todas essas almas caíram dele para as  Klipót [cascas, formas de egoísmo], que se dividem  em  setenta nações. Israel deve se exilar lá, em toda e cada nação,    e reunir os lírios das almas sagradas que haviam se espalhado entre esses espinhos, como nossos sábios escreveram no Midrash Rabá, ‘Porque foram  Israel  exilados  entre  as  nações? Para acrescentar estranhos a si mesmos.’”113

Nesse respeito, O NATZIV de Volojin escreveu, “Seu princípio foi no Monte Ebal … mas eles completaram esta questão exaltada somente através do exílio e dispersão.”114

É por uma boa razão que o exílio é necessário para completar a correção dos Judeus, e daí em diante o mundo inteiro. Anteriormente dissemos que quando Abraão ofereceu o método de correção aos seus conterrâneos Babilônios,  eles  o  rejeitaram  porque  estavam  demasiado ocupados sendo egocêntricos e egoístas. E todavia, se todos somos partes de uma alma coletiva, como o ARI sublinhou, eventualmente todos nós teremos de alcançar  correção,  pela qual descobriremos o  Criador  e  nos  tornaremos como  Ele.  Este   é o benefício, como descrito no Capítulo  2, que Ele pretendeu dar à humanidade.

Assim, a correção de Abraão foi somente o princípio  do processo, certamente não o seu fim. Num ensaio longo    e elaborado intitulado, “E Eles Construíram Cidades- Armazém”, Baal HaSulam escreve, “Devemos também compreender o que Abraão o Patriarca perguntou, ‘Onde saberei eu que o herdarei’’ (Génesis 15:8)? O  que  respondeu o Criador? Está escrito, ‘E  Ele  disse  para Abraão: Sabei com uma certeza que tua semente será estranha numa terra que não lhe pertence’”.115 Baal HaSulam explica que com esta  resposta,  o  Criador  promete a Abraão que todas as pessoas alcançaram  correção através da mistura da nação corrigida – Israel –  com as nações não corrigidas – neste caso  representadas pelo Egito.

Surpreendentemente, em resposta a esta questão, o Criador promete a Abraão exílio. E não somente isso, escreve Baal HaSulam, que Abraão “…o aceitou como uma garantia da herança da terra”.116  Certamente,  Abraão  sabia que a mistura dos desejos – representada pelas diferentes nações do mundo – era necessária em prol de completar a correção da humanidade. Considerando que cada uma das nações representa uma parte da alma a ser apresentada ao método da correção e que essa parte  da  alma eventualmente o adote. Foi por isso que Israel teve de ser exilada e se espalhar pelo mundo.

Como parte da expansão do processo de correção na humanidade, Abraão foi para o exílio no Egito, onde sua tribo havia se tornado uma nação. E quando a nação se exilou depois da ruína do  Primeiro  e  Segundo  Templos, ela apresentou o método de correção ao mundo inteiro.

Embora o método claramente não  tivesse  sido  adotado pelo resto da  humanidade,  ele  independentemente                                                      plantou       os     princípios      já mencionados, princípios que formam uma base comum sobre a qual iniciar o processo de correção assim que as pessoas o comecem a  procurar.

Em “A Arvut [Garantia Mútua], “Baal HaSulam  detalha o processo pelo qual a nação Israelita corrige a si mesma primeiro, de modo a transmitirem a correção ao resto das nações. Por outras palavras, “Rabi Elazar, filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai), clarifica  este  conceito da Arvut ainda mais. Não é suficiente para ele que todos     de Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas que o mundo inteiro está incluído nessa Arvut.

…Cada um admite que para começar, é suficiente começar  com  uma  n ação  com  a observação   da   Torá [lei  da  doação}  para  o  princípio  da   correção   do mundo. Foi impossível começar com todas as nações de uma vez, como eles dizem que o Criador foi com a Torá a cada nação e língua, e eles não a quiseram receber. Por outras palavras,  eles  estavam  imersos  em  …  amor  próprio … até que foi impossível conceber nesses dias  sequer questionar se eles concordavam se retirar do amor próprio.

“…Mas o fim da correção do mundo será somente ao trazer todas as pessoas do mundo sob Sua obra, como está escrito, ‘E o Senhor será Rei sobre toda a terra; nesse dia  será o Senhor Um, e Seu nome um’ (Zacarias, 14:9) … ‘E todas as nações fluirão para ele’ (Isaías,  2:2).

“Mas o papel de Israel para o resto do mundo se assemelha ao papel de nossos Sagrados Pais para a nação Israelita. Tal como a retidão de nossos pais nos ajudou a desenvolver e purificar para nos tornarmos  dignos  de receber a Torá [lei da doação] … cabe à nação Israelita se qualificar a si mesma e a todas as pessoas do mundo através de Torá e Mitzvot [correções do egoísmo], para se desenvolverem até que eles tomem sobre si mesmos esse trabalho sublime do amor aos outros, que é a escada para o propósito da Criação, sendo Dvekút [similaridade/ equivalência  de forma] com Ele”.117

Similarmente, no seu ensaio, “Uma Criada que É Herdeira a Sua Senhora”,  Baal  HaSulam  escreve,  “O  povo de Israel, que foi escolhido como  um  operador   do  propósito geral e correção  …  contém  a  preparação necessária para crescer e se desenvolver até que  ele movimente as nações dos  mundos,  também,  para alcançarem a meta  comum.”118

Baal HaSulam e seu filho, o Rabash podem ter sido os últimos Cabalistas a afirmar que o papel  de  Israel  no  mundo  é  trazer  o  método  de  correção  ao  resto  das nações, mas certamente  não  foram  os  primeiros. Incontáveis rabinos, Cabalistas e acadêmicos, desde praticamente a ruína do Segundo Templo, o afirmaram em semelhança.

Assim, o Midrash Rabá afirma que “Israel trazem a luz  ao mundo”, 119 e o Talmude Babilônico acrescentou, “O Criador agiu em retidão para Israel, os tendo dispersado  entre as nações”.120 Rabi Yehuda Altar, o ADMOR de Gur escreveu,  “Qualquer   exílio  no qual  os filhos  de Israel  entre é somente para suscitar centelhas  sagradas  dentro  das  nações    [semelhante    às   palavras    acima    citadas de   Baal HaSulam]. Os filhos de Israel são os garantidores de que receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também.”121

Similarmente, Rabi Hillel Tzaitlin escreve, “Se Israel é   a verdadeira redentora do mundo inteiro, ela deve  ser  digna dessa redenção. Israel deve primeiro redimir sua própria alma, a santidade da sua alma, a santidade da sua Shechiná [Divindade].

…Para esse propósito, desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ … Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito de ascensão interior e uma invocação para correções de todos os males da nação e do mundo.”122 Gostaria de concluir este capítulo com mais algumas palavras de Baal HaSulam, que em alguns parágrafos detalha o propósito da Criação, o direito da humanidade a ele, e o papel de Israel para alcança-lo. Nas suas palavras: “Porque foi a Torá dada à nação Israelita sem a participação de todas as nações do mundo? Na verdade, o propósito da Criação aplica-se à raça humana inteira, nenhu m excluído. Contudo, devido À baixeza da natureza da Criação [sendo egoísta] e  seu  poder  sobre as pessoas, foi      impossível          que        as           pessoas           compreendessem, determinassem e concordassem se elevar acima dela. Eles não demonstraram o desejo de abdicar do amor próprio e chegar a equivalência de forma, que é adesão com Seus atributos,   como   nossos   sábios   disseram,   ‘Como   Ele  é misericordioso, tu sê misericordioso  também’.

“Assim, devido a seu mérito ancestral [os exemplos dados por Abraão, Isaac e Jacó], Israel tiveram sucesso … e se tornaram qualificados e se sentenciaram a si mesmos a uma escala de mérito [se corrigiram a si mesmos a se tornarem como o Criador]. Todo e  cada  membro  da  nação   concordou   amar   seu   semelhante   [que   é   como eles  alcançaram  a  correção].

“…Contudo, a nação Israelita era para ser  uma  ‘transição’ ou seja que à extensão que Israel purificam a si mesmos ao manter a Torá [leis da doação], eles passam seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também se sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se corrigirem a si mesmas ao abdicar do egoísmo], o  Messias [correção final] será revelado. É por  isso  que  o  papel do Messias não é de qualificar somente Israel à meta derradeira de adesão com Ele, mas ensinar os caminhos de Deus [doação] a todas as nações, como está escrito, ‘E todas  as nações  fluirão  para Ele.’”123

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CAPÍTULO 3: Correções através das Eras

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

A Evolução do Método de Correção

No capítulo anterior, dissemos que os desejos crescem de inanimado, a vegetativo, a animal, a falante.   Dissemos   que   esta   progressão   ocorre tanto externamente, na natureza geral, e internamente, dentro de nós. Também dissemos que somente no nível falante dentro de nós temos nós uma  escolha  livre,  mas que para tomar escolhas que nos são benéficas, temos primeiro de aprender como a Natureza opera na sua raiz.

Finalmente, dissemos  que Israel representa  o desejo  de conhecer  a raiz, o Criador,   o Fazedor de tudo o que   há, e que Abraão foi o primeiro a descobrir esta raiz. Ele tentou ensinar seus contemporâneos,  e os Judeus de hoje,  os descendentes desse desejo, devem levar  a  cabo  a  vocação de Abraão e completar a sua tarefa.

O que Abraão descobriu foi que o único  problema  com os seus conterrâneos foi seus egos crescentes. Eles estavam tornando-se demasiado egocêntricos para manter uma sociedade sustentável. Eles costumavam ser de “Uma língua e uma fala,” mas devido a seus egos crescentes se tornaram alienados e incomunicáveis. Eles tornaram-se tão indiferentes uns para os outros, tão descuidados e preocupados em se auto explorar que, como mencionado  no capítulo anterior, “Se uma pessoa caia e morresse [enquanto construindo a torre de Babel] eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse no eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro que se encontre no seu lugar.’”62

Pior ainda, Abraão descobriu que o crescente ego não estava prestes a parar de crescer. Ele era um traço inerente na natureza humana, uma característica distinta do nível falante que o ego deve crescer constantemente   porque ele   é alimentado pela inveja dos outros. Na sua “Introdução     ao Livro, Panim Meirot uMasbirot (Face Iluminada e Acolhedora) “, Baal HaSulam escreve, “O Criador instigou três inclinações nas massas [pessoas], chamadas, ‘inveja,’ ‘cobiça,’ e ‘honra.’ Devido a elas, as massas desenvolvem-   se grau após grau para induzir uma face de um homem inteiro”. 63 Por outras palavras, inveja não é má em si mesma, e contudo temos de lidar com ela, corrigi -la, e apontá-la para uma direção  construtiva.

 

A INCLINAÇÃO (NÃO NECESSARIAMENTE) AO MAL

Quando nossos sábios escrevem sobre Yetzer HaRá (inclinação ao mal), referem-se à maneira como usamos a inveja para prejudicar os outros ou beneficiar às  suas  custas. Mas se usarmos as já mencionadas inveja, cobiça e honra  adequadamente,  tornam-se  o  nosso  próprio  meio de correção. Foi isto que o Sagrado Shlah escreveu, “As piores qualidades são inveja, ódio, avareza, cobiça e assim por diante, que são as qualidades da inclinação ao mal – as próprias com as quais ele servirá o Criador”64

E todavia, inerentemente, usamos essas inclinações negativamente, como está escrito (Génesis, 8:21), “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude”. Similarmente, “Não há mal senão a inclinação ao mal,” escreveu Shimon Ashkenazi,65 e séculos antes, o Midrash Rabá estabeleceu que “As  pessoas  estão  inundadas em inclinação do mal, como se diz, ‘Pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude’”.66

Abraão descobriu que de todas as criações, somente as pessoas possuem uma inclinação ao mal. Foi por isso que o grande Ramchal escreveu, “Não há outra criação que possa fazer mal como o homem. Ele pode pecar e se revoltar e a inclinação do coração do homem é má  desde  sua juventude, que não é assim com qualquer outra criatura.”67

Baal HaSulam escreve que a inclinação do mal é a vontade de receber.68 Todavia, em anteriores capítulos dissemos que a vontade de receber é o todo da Criação, e o homem constitui o quarto e mais desenvolvido nível da vontade de receber. Por que então é a nossa vontade de receber a origem de todo o mal?

O problema é que a vontade de receber no nível falante não é estática. Ela está constantemente crescendo e constantemente buscando mais. Nas palavras de nossos sábios, “Não se abandona o mundo com metade dos seus desejos na sua mão, pois aquele que tem cem deseja duzentos; aquele que tem duzentos deseja quatrocentos”.69 Porque procuramos constantemente mais, estamos sempre carentes. Similarmente, o Sagrado Shlah diz, “Aquele que não está contente sempre carece,”70 e está desta forma constantemente infeliz e insatisfeito.  Olhando  para  a  nossa sociedade consumista, podemos ver que se sucumbirmos a esse elemento na nossa natureza, seremos jogados para uma “caça ao prazer” interminável que não pode terminar e que não nos faz felizes, também.

Assim, Abraão percebeu que a inclinação do mal,  o ódio e alienação que aparecia m entre os Babilônios, causavam todos os problemas entre eles, e que não havia esperança que este fermentar abrandasse por si mesmo. Contudo, ele também percebeu que ter uma vontade de receber intensa era necessário para  o  propósito  da  Criação, para o homem alcançar Dvekút [adesão, equivalência de forma] com o Criador. Nas palavras de Ramchal, completando a citação acima, “Mas por outro lado, quando ele [homem] é corrigido e complementado,  ele se eleva acima de todos, e ele merece aderir [apegar] a Ele, e todas as outras criações são dependentes dele”.71

Desta forma, em vez de tentar aniquilar a inclinação ao mal. Abraão desenvolveu um método pelo qual as pessoas  se corrigiriam, ou “domariam” suas inclinações, ou seja seus egos, e assim beneficiariam do seu crescimento. Assim que ele concebeu o método, ele começou a partilhá-lo com todos, não abrindo exceções, como Maimônides testemunha, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro”.72

Como mencionamos na Introdução, Maimônides escreveu que Abraão “plantou seu princípio [que há um Deus, uma força no mundo] nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac”.

Contudo, o método de Abraão era adequado somente aos  seus  contemporâneos.  Ele  não  podia  ser,  nem  era suposto ser adequado a gerações posteriores. Porque a inclinação ao mal no nível falante – a vontade de  recebermos para nós mesmos, também conhecida como “egoísmo” – está sempre crescendo e se desenvolvendo, na altura em que o povo de Israel havia se tornado uma nação  e saiu do Egito, um novo método de correção era necessário.

Os três milhões ou assim que saíram do Egito eram diferentes das setenta almas que haviam entrado nele dois séculos mais cedo. No Egito, a vontade de receber de Israel aumentou tremendamente, e precisava de um conjunto muito explicito de instruções com o objetivo de a corrigir.

 

MOISÉS DIZ, “UNAM-SE!”

A solução veio na forma da Torá de Moisés, mas também uma nova condição prévia para a execução de qualquer correção desse tempo em diante. Para receber a Torá, escreve o grande comentador, RASHI, o povo de Israel se encontrou no sopé do Monte Sinai “como  um  homem  com um coração”.73 Essa absoluta e  completa  unidade  mais tarde evoluía numa das características mais proeminentes de Israel – garantia mútua- o  nobre  traço  que distinguia Israel de todas as nações desse tempo.

Sob sua aceitação da condição de serem como um homem com um coração, Israel receberam a Torá, a instrução, o código de leis que os ajudaria a dominar o ego. Com ela, eles tornaram-se uma sociedade onde cada membro – homem, mulher e criança – alcançou o Criador e vivia pela lei de garantia mútua, em equivalência de forma com o Deus (ou força) una que Abraão havia descoberto. O Talmude Babilónio escreve, “Eles verificaram de Dan a Beer Sheva e nenhum ignorante [pessoa não corrigida] foi encontrado de Gevat a Antipris, e nenhum menino ou menina, homem ou mulher foi encontrado que  não versasse cuidadosamente nas leis da pureza e impureza [correções de acordo com a lei de Moisés].”74

Com sua recentemente adquirida unidade, Israel conquistou Canaã – da palavra Kenia’a (render)75 – e tornou-a a “Terra de Israel” – um lugar onde o desejo pelo Criador governa. O Templo que Israel estabeleceu na terra representava seu alto nível de realização, onde eles continuaram a desenvolver e a implementar o método de Moisés.

E ainda assim, como nossos sábios escrevem, “A inclinação ao mal nasce com o homem, e cresce com ele   sua vida inteira,”76 e “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude, e sempre cresce em todas as cobiças”.77  Ainda assim, o método de Moisés de correção,  as leis a que chamamos “a Torá,” permaneceu intact o durante o primeiro e segundo Templos, e até durante o exílio  em Babel.

Mas à medida que o declínio espiritual de Israel continuou, o povo achou cada vez mais difícil se segurar à sua unidade e conexão com o Criador. Como resultado, o Segundo Templo era num grau espiritual inferior (nível de conexão, ou equivalência de forma com o Criador) que o primeiro.

O Cabalista Rabi Behayei Ben Asher Even Halua explica, “Desde o  dia  em  que  a  Divindade  estava  presente em Israel, sob a doação da Torá, ela não se moveu de Israel até à ruína do Primeiro Templo. Uma vez que desde a ruína do Primeiro Templo … ela não  estava  presente   permanentemente,   como   durante   o   Primeiro Templo.”78

Eventualmente, o nível de egoísmo aumentou no povo de Israel a tamanha extensão que ele os separou por completo uns dos outros e do Criador. Certamente, foi a separação uns dos outros que causou sua separação do Criador, da percepção da força fundamental da vida. Isto, por sua vez, resultou na ruína do Segundo Templo, e o último e mais longo exílio.

No seu livro, Netzá Yisrael [O Poder de Israel], Rabi Yisrael Segal descreve a queda da graciosidade de  Israel: “No Segundo Templo havia uma virtude especial, que Israel não estavam divididos em dois; havia somente união entre eles. Desta forma, o Primeiro Templo foi arruinado por transgressões que são Tum’á [impureza], e o Senhor não mora entre eles no meio de sua Tum’á. Mas o Segundo Templo foi arruinado por ódio gratuito, que revoga sua união, que era sua virtude no Segundo Templo”.79

Similarmente, o grande acadêmico e poeta, Rabi Avraham Ben Meir Ibn Ezra, escreveu, “‘E vós pisareis nos seus altos lugares,’ ‘E eu vos deixarei montar nos altos lugares da terra,’ e a razão é que o ódio gratuito que estava presente no Segundo Templo até que ele gerasse o exílio sobre Israel”.80

A GRANDE QUEDA, E AS SEMENTES DA REDENÇÃO

O exílio após a  ruína  do  Segundo  Templo  derivou  de ódio gratuito, mas ela também  serviu  um  propósito  duplo. O primeiro foi que o exílio foi um incentivo para desenvolver mais o método de correção. Uma vez que a Torá de Moisés não era mais suficiente para  manter  o  nível espiritual da nação, era hora de adaptar o método à presente  condição  do  povo  –  estando  em  exílio,  e  mais egoísta que durante o tempo de Moisés. O segundo propósito do exílio foi que Israel se misturasse com outras nações, para espalhar o “gene espiritual” pelo mundo, e assim permitir a correção da humanidade inteira, como Abraão  pretendia inicialmente.

Na altura da ruína do Segundo Templo, dois corpos seminais foram compostos. Um foi o Mishná, e o outro foi  O Livro do Zohar. O anterior, juntamente com a Bíblia, tornou-se a fundação de virtualmente toda a sabedoria Judaica desse dia em diante. O último, por outro lado, foi escondido pouco depois de ser escrito, e permaneceu escondido durante mais de mil anos, até ter aparecido nas mãos de Rabi Moshé de  Leon.

Os autores do Mishná, a Gemará, e o  resto  dos  escritos de nossos sábios forneceram ao povo exilado de Israel a orientação tanto nos  níveis  espirituais  como  físicos. Enquanto os escritos narram estados  espirituais,  eles podem também ser prontamente  percepcionamos como  mandamentos físicos.

Porque as leis que nossos sábios instruíram se originaram de leis espirituais, elas foram aplicáveis à vida física, tal como Israel as havia aplicado antes da ruína do Templo. Desta maneira, os Judeus mantiveram certo nível de conexão com o nível espiritual do passado sem  o  próprio alcance da fonte e origem das leis.

Rabi Menahem Nahum de Chernobyl escreveu em respeito da desconexão de Israel do nível espiritual e perda de alcance do Criador. “A razão do exílio é a ruína do Templo em geral e em particular. Israel se [tornaram] tão corrompidos que causaram a expulsão da Shechiná [Divindade] do Templo geral. Este Templo particular [pessoal]  está  dentro  de  seus  corações    …    e  através  da partida do Templo [Divindade] particular … [eles] abandonaram o Templo geral e o exílio chegou”.81

No mesmo espírito, Jonathan Ben Natan Netah Eibshitz escreveu, “No Primeiro  Templo,  Divindade  não se moveu do Templo porque o exílio foi durante um curto tempo. Mas na segunda ruína, que é durante um período prolongado de tempo, a Shechiná [Divindade] partiu por completo”.82

E enquanto a maioria dos Judeus se concentrou em manter uma ligação com a espiritualidade no nível  instruído a eles pelos sábios do Mishná e Gemará,  houveram sempre alguns poucos excepcionais que simplesmente não conseguiam permanecer com a observação cega de mandamentos. As questões que conduziram Abraão a descobrir o Criador ardiam dentro deles; seus pontos no coração não haviam sido saciados, e eles foram conduzidos ao mais profundo de todos os estudos, a sabedoria da  Cabalá.

UMA NOVA ERA, UMA NOVA ABORDAGEM

Os Cabalistas  mantiveram  seus  estudos  secretos.  Nos seus quartos secretos desenvolveram um método de correção que seria adequado a todos, quem quer que precisasse. Em pequenos grupos, por vezes sozinhos, eles estudavam e alcançavam, mas mantinham o que haviam aprendido e escreviam na maioria das vezes para  si mesmos.

Mas um dia no século XVI, um jovem homem com o nome de Isaac Luria veio à cidade Cabalista de Tzfat no Norte de Israel. Sua chegada marcou o começo de  uma nova era na evolução do método de correção. Através do  seu  principal  estudante,  Chaim  Vital,  Isaac  Luria  –   hoje conhecido como o Sagrado ARI – detalhou uma abordagem completamente nova à sabedoria da Cabalá. Suas explicações aparentemente técnicas da estrutura do sistema espiritual e suas descrições sistemáticas precisas gradualmente se tornaram o método de estudo prevalecente entre os Cabalistas.

O principal discípulo do ARI, Rabi Chaim Vital, diligentemente escreveu o que seu professor havia ditado. Depois do falecimento de Rabi Vital, seu filho começou a publicar esses escritos, os mais notáveis dos quais são rvore da Vida e Oito Porões. Nesse tempo, essas composições tornaram-se a base do método predominante de estudo de Cabalá, a Cabalá Luriânica, nomeada segundo Isaac Luria, o ARI.

 

PERMISSÃO PARA SE ENVOLVER

Juntamente com a crescente predominância da Cabalá Luriânica, uma gradual emergência do sigilo começou  assim que mais e mais Cabalistas  sentiram  que  o  tempo era certo para divulgar o método pelo qual o mundo alcançaria  sua  correção final.

No  seu  livro,  Luz  do  Sol,  o  Cabalista  Rabi Avraham Azulai escreveu, “A proibição do Alto a se refrear  do  estudo aberto da sabedoria da verdade [Cabalá] foi durante um período limitado de tempo, até ao fim de 1490. Desta forma, é considerada a última geração, na qual a proibição foi levantada   e a permissão foi dada para se envolver em    O Livro do Zohar. E desde o ano 1540, tem sido um grande Mitzvá (mandamento, boa ação, correção) para as massas estudarem, velhos e novos. E uma vez que o Messias está destinado a vir como resultado, e por nenhuma  outra  razão, é desapropriado ser  negligente”.83

Embora o ARI não permitisse a ninguém senão Chaim  Vital a estudar seus ensinamentos, o último escreveu profusamente sobre a importância de estudar a Cabalá. “Ai das pessoas que afrontam a Torá. Elas não se envolvem na sabedor ia da Cabalá, que honra a Torá, pois elas  prolongam o exílio e todas as aflições  que estão prestes  a  vir ao mundo,” escreveu ele na sua introdução à Árvore da Vida.84

Nos séculos que se seguiram, numerosos rabinos, Cabalistas, e acadêmicos afirmaram que  o  estudo  da Cabalá era vital para nossa redenção, até para a sobrevivência da nação. No meio do século XVIII, o Gaon de Vilna (GRA), escreveu explicitamente, “Redenção depende do estudo da Cabalá”.85

No início do século XIX, os Cabalistas começaram a proclamar que até crianças deviam estudar a Cabalá, explicitamente revogando o estudo antes  dos  quarenta  anos de idade. O Rabi de Kormano escreveu, “Tivesse meu povo me escutado nesta geração, em que a heresia  prevalece, eles se mergulhariam no estudo de O Livro do Zohar e os Tikunim [Correções], contemplando-as com crianças de nove anos de idade”.86

No início de 1900, o Rav Isaac HaCohen Kook, que mais tarde se tornou o primeiro Rabino Chefe de Israel, abertamente chamou o estudo da Cabalá, bem como o regresso dos Judeus à terra de Israel. Em Orot (Luzes), ele escreveu, “Os segredos da Torá trazem a redenção, eles trazem Israel de volta a sua  terra”.87

Em numerosas ocasiões, Rav Kook escreveu muito flagrantemente que cada Judeu tem que estudar a Cabalá, embora ele raramente usasse o termo explicito e frequentemente   se   refere   a   ela   pelos   seus  conhecidos epítetos, “a sabedoria da verdade,” “a sabedoria do oculto,” “a interioridade da Torá,” ou “os segredos da Torá”. Nas suas palavras, “Perante nós está uma obrigação a expandir    e estabelecer o envolvimento no lado interno da Torá, em todos os seus assuntos espirituais, que, no seu sentido mais amplo, incluem a ampla sabedoria de Israel, cujo ápice é o conhecido de Deus em verdade, de acordo com a profundidade dos segredos da Torá. Nestes dias, ela requer elucidação, escrutínio e explicação e torná-la mais  clara  que nunca e mais expansiva entre a nossa nação inteira.”88

AGORA,  TODOS  JUNTOS

A maior fase na evolução do método de correção começou no princípio de 1900 e está somente agora  a  apanhar  ritmo. Porque somos parte dessa fase, é aquela que têm o maior significado para  nós.

Como discutido na Introdução, quando Abraão primeiro descobriu que uma força governa e conduz o mundo, ele começou a espalhar seu conheci mento. Sua meta era circulá-la a todas as pessoas, nenhuma excluída. Contudo, Nimrod, rei da Babilônia, o preveniu de alcançar seu objetivo e Abraão teve de partir, finalmente chegando à terra de Canaã, que ele tornou Israel (segundo o desejo de alcançar Yashar El, diretamente pelo Criador).

Esse objetivo não mudou durante os séculos. “Noach foi criado para corrigir o mundo no estado em que ele estava nessa altura …e eles [seus contemporâneos] também receberam correção dele,” escreve o Ramchal.89 Também, no seu comentário sobre a Torá, o Ramchal escreve,  “Moisés desejava completar a correção do mundo nessa altura. Foi por isso que ele tomou a multidão misturada, pois ele pensava que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções que ocorreram no caminho”.90

Depois da ruína do Segundo Templo, os Cabalistas escolheram esconder a sabedoria de todos, Judeus e não- Judeus em semelhança, até o tempo do ARI, quando começaram a sentir que o tempo era maduro para a revelar  a todos. Nesse ponto, eles começaram a ensinar e a circular  a sabedoria numa maneira que se tornou mais direta e explicita a cada geração.

No início do século XX, todas as inibições haviam saído, e os Cabalistas abertament e clamavam pela disseminação da sabedoria e a ensiná-la a todas as nações. Rav Kook exprimiu esta mentalidade muito claramente numa das suas cartas: “Eu concordei divulgar todos os segredos do mundo, uma vez que é hora de fazer pelo Criador, como é necessário nesta altura. Maiores e  melhores que eu, sofreram pela nação escárnio por tais questões, pois seus espíritos puros os pressionaram pelo bem de corrigir a geração para falar novas palavras e revelar o oculto, ao qual o intelecto das massas não estava acostumado.”91

Durante a Primeira Guerra Mundial, Rav Kook sentiu – se impelido a sublinhar a ligação que ele viu entre os problemas do mundo e o reacender da força espiritual de Israel através da união. No seu livro, Orot (Luzes), ele escreveu, “A construção do mundo, que é presentemente amassada pelas terríveis tempestades de uma espada sangrenta, que amassa em antecipação de uma força de unidade e sublimidade, e tudo o que está na alma da Assembleia de Israel.”92

Seu      contemporâneo,      Baal      HaSulam,    escreveu profusamente e com frequência flagrantemente, sobre a necessidade de divulgar a sabedoria da Cabalá a todos, especialmente hoje. No seu ensaio, “O Shofar do Messias,” ele escreveu, “Saiba que é isto o que significa que os filhos de Israel são redimidos somente após a sabedoria do oculto ser revelada a grande extensão, como está escrito em O  Zohar, ‘Com esta composição, os filhos de Israel são redimidos  do exílio.’

“…Na minha avaliação, estamos em uma geração que se encontra precisamente no limiar da redenção, se soubermos como espalhar a sabedoria do oculto às massas.

“…Há outra razão para isso: Aceitamos que há uma condição prévia para a redenção – que todas as nações do mundo reconheçam a lei de Israel [de doação], como está escrito, ‘E a terra estará cheia do conhecimento.’ É como no exemplo do êxodo do Egito, onde houve uma condição prévia que Faraó, também, reconheceria o verdadeiro Deus  e Suas leis, e os permitiria partir.

“…Você deve compreender de onde as nações do mundo chegam a tamanha noção e desejo. Saiba que é através da verdadeira sabedoria, para que eles vejam evidentemente o verdadeiro Deus e a verdadeira lei [da doação]. E a disseminação da sabedoria nas massas é chamada ‘um Shofar [um clarim, ou um chifre de carneiro festivo].’ Como o Shofar, cuja voz viaja uma grande distância, o eco da sabedoria se espalhará pelo mundo”.93

Certamente, o legado desses titãs espirituais foi concretizado, e hoje qualquer pessoa que deseje pode estudar “a sabedoria do oculto” independentemente da religião, idade, ou género, pois ela não está mais escondida. Como Abraão visionou, nossa Babilônia global pode agora estudar a lei fundamental da vida que a cria e sustenta, e  não há limitações que se pareçam.

Mas se tudo está certo, porque há tanto de errado com  o mundo? Porque há tantas pessoas sofrendo, e porque o número  de  pessoas  na  miséria  parece  crescer?  Se  a  lei é o Criador, e podemos deste modo concertar tudo, porque não estão todos correndo para aprender?

Para responder a estas perguntas precisamos de compreender as rotas pelas quais a sabedoria se espalha, e especificamente o papel do povo Judeu em espalhar a Cabalá, e o que significa ser uma luz para as nações. Correspondentemente no próximo capítulo discutiremos o papel do povo Judeu através dos olhos da Cabalá.

 

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CAPÍTULO 2: Quero, Logo Sou

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

A Vida como uma Evolução de Desejos

No capítulo anterior, dissemos que o nome, Ysrael (Israel), combina as palavras Yashar (direito) e   El  (Deus).  Estabelecemos  que  o  nome  surgiu quando Abraão reuniu pessoas que desejavam alcançar o Criador,  descobrir  Deus,  e  que  foram   chamadas   “Israel” segundo esse desejo. Neste capítulo discutiremos a formação dos desejos em geral, e a formação  do  desejo  pelo Criador, nomeadamente Israel, em particular. Para fazer isso, precisamos de examinar a realidade como uma evolução  de desejos.

Em 1937, Baal HaSulam publicou Talmude Êsser HaSefirot (O Estudo das Dez Sefirot), um comentário monumental sobre os escritos do ARI, autor de A Árvore   da Vida. No comentário, o autor entra em grande detalhe para explicar que na base da realidade reside o desejo de  dar, a que ele  chama “a  vontade de doar,” que então  criou a vontade de receber. Esta é a razão porque, explica Baal HaSulam, nossos sábios testemunham que “Ele é bom e faz o bem”41 e falam de “Seu desejo de fazer o bem às Suas criações”.42

Na Parte 1 de O Estudo das Dez Sefirot, Baal HaSulam explica porque a vontade de doar necessariamente criou a vontade de receber, e porque os dois desejos estão na base do todo da Criação. Nas suas palavras, “Assim que Ele contemplou a criação em prol de deleitar  Suas criaturas, esta Luz [prazer] imediatamente se prolongou e expandiu d’Ele na completa medida e forma dos prazeres que Ele havia contemplado. Tudo está incluído nesse pensamento, a que chamamos ‘O Pensamento da Criação’. …O Ari disse que no princípio, uma Luz superior e simples havia preenchido o todo da realidade. Isto significa que uma vez que o Criador contemplou deleitar as criações, e a Luz se expandiu e partiu d’Ele, o desejo de receber Seus Prazeres  foi imediatamente impresso nesta Luz”.43

Para sublinhar a suposição de que a vontade de doar, o Criador, criou a vontade de receber em prol de lhe dar prazer, Baal HaSulam categoriza essa seção, “A vontade de doar no Emanador necessariamente gera a vontade de receber no emanado, e ela [a vontade de receber] é o vaso  na qual o emanado recebe Sua Abundância”.44

Ashlag não foi o primeiro a se referir à criação da vontade de receber pela vontade de doar, por isso ele o fez mais implicitamente. Rabi Isaiah HaLevi Horowitz (O Sagrado Shlah) também escreveu que “Uma vez que Ele favoreceu fazer o bem às Suas criações, Ele as desejou beneficiar com o verdadeiro benefício, como com a matéria da criação da inclinação do mal [desejo de receber, egoísmo], que é a favor das criações”.45

Semelhante aos dois mencionados acima os sábios,  Rabi Nathan Sternhertz escreve em Likutey Halachot  [Regras Sortidas], “O Senhor aumenta Suas misericórdias e gentileza, pois Ele desejou beneficiar Suas criações no melhor possível de todo o melhor”.46

Assim, a vontade de doar, o Criador, deseja doar sobre nós, Suas criações, e é suposto recebermos esse benefício, a doação. Todavia, o que é esse benefício, o bem que é  suposto recebermos?

Na sua “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”, Baal HaSulam escreve que o benefício que é suposto recebermos é alcançar o Criador, tal como Abraão fez há praticamente 4000 anos atrás. Nas palavras de Ashlag, “[quando alcançamos] sente -se o maravilhoso benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua mão completamente bondosa e generosa. Devido à abundância do benefício que se alcança, amor maravilhoso aparece entre uma pessoa e o Criador, incessantemente derramando sobre ela pelos próprios trilhos e  canais  através dos quais o amor natural aparece. Contudo, tudo isto chega a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí em diante.”47

Para alcançar o Criador, temos de ter qualidades semelhantes às Suas, ou nos termos de Baal HaSulam,  temos de obter “equivalência de forma” com Ele. Na “Introdução ao Livro, Panim Meirot uMasbirot [Face Brilhante e Acolhedora] “, Ashlag escreve, “Assim, como pode-se alcançar a Luz … quando se está separado e em completa oposição de forma … e há grande ódio entre eles [Criador e pessoa]? …Desta forma, a pessoa … lentamente purifica e inverte a forma de recepção para ser em prol de doar. Você descobrirá que a pessoa equaliza  sua  forma  com  o  sistema  de santidade, e a equivalência e amor entre eles regressa … Assim, se é recompensado com  a  Luz  … uma vez que se entrou na presença do Criador.”48

 

QUATRO NÍVEIS DE DESEJO MOLDAM A REALIDADE

Quando examinando a realidade da perspectiva  da  evolução de desejos, os Cabalistas descobriram que a vontade de receber que acabamos de descrever contém quatro níveis distintos, imóvel (inanimado), vegetativo (flora), animado (fauna), e falante (humano). Desde que o ARI mencionou a divisão da realidade nesses quatro níveis no século XVI,49 numerosos acadêmicos e Cabalistas discutiram esses quatro níveis. O MALBIM (Meir Leibush ben Iehiel Michel Weiser),50 Rabi Pinhas  HaLevi  Horovitz,51 e o RABaD (Rabi Avraham Ben David), que escreveram, “Todas as criaturas do mundo são imóveis, vegetativas, animadas e falantes”,52 são senão três de numerosos sábios que se referem à realidade como consistindo desses quatro  níveis.

Todavia, nenhum sábio ou acadêmico é tão descritivo como Baal HaSulam. Seus escritos, que explicitamente pretendeu que todos lessem e compreendessem, sistemática  e elaboradamente detalham a estrutura da realidade da maneira que os Cabalistas e acadêmicos Judeus a percebiam durante  as eras.   Em seu ensaio, “A Liberdade”,   ele explica a estrutura dos desejos imóvel, vegetativo, animado e falante sob a seção, “Lei da Causalidade”. Ele explica que todos os elementos da realidade estão ligados e emergem uns dos outros. Nas suas palavras, “É verdade que há uma ligação geral entre todos os elementos da realidade perante nós, que se regem pela lei da causalidade, por meio de causa e efeito, avançando em frente. E como o todo, assim cada item em   si mesmo, ou seja que toda e cada criatura no mundo dos quatro tipos, imóvel, vegetativo, animado e falante, se rege pela lei da causalidade por meio de causa e efeito.

“Além do mais, cada forma particular de um comportamento particular, que uma criatura segue enquanto neste mundo, é empurrada por causas antigas, a obrigando a aceitar mudança nesse comportamento e não outro que se pareça. Isto é aparente a todos aqueles que examinam os caminhos da Natureza de um ponto de vista puramente cientifico e sem uma migalha de influência. Certamente, devemos analisar esta matéria para nos permitirmos a nós mesmos examiná -la de todos os lados.”53

OS QUATRO NÍVEIS DENTRO DE NÓS

Mas há mais, nossos sábios afirmam, os níveis de imóvel, vegetativo e falante não são exclusivos à natureza externa. Eles existem dentro de todo e cada um de nós, formando a base dos nossos desejos e até da estrutura interior de cada desejo. Rabi Nathan Neta Shapiro escreve, “Há quatro  forças no homem, inanimado, vegetativo, animado e  falante, e Israel têm ainda outra, quinta parte, pois eles são  o Divino falante.”54

Baal HaSulam fornece uma explicação mais elaborada da maneira como e stes níveis de  desejos  funcionam  dentro de nós: “Nós distinguimos quatro divisões  na espécie falante [humanos], ordenadas em gradações uma sobre a outra. Essas são as Massas, os Fortes, os Ricos, e os Sagazes. Elas são iguais aos quatro graus no todo da realidade, chamados ‘Inanimado’, ‘Vegetativo’, ‘Animado’,   e ‘Falante’.

“O inanimado … suscita as três propriedades, vegetativo, animado, e falante. … A mais pequena força entre elas é a vegetativa. A flora opera ao atrair o que é benéfico para ela e rejeitando o prejudicial muito  da  mesma maneira que os humanos e a nimais. Contudo, não há sensação individual nela, mas uma força  coletiva, comum a todas as plantas no mundo…

“Sobre elas está o animado. Cada criatura sente a si mesma, atraindo o que é benéfico a ela e rejeitando o prejudicial. …Esta força sensível no Animado é muito limitada em tempo e espaço, uma vez que a sensação não opera sequer a mais curta distância fora de seu corpo. Também, ele não sente nada fora de sua própria estrutura temporal, ou seja no passado ou no futuro, mas somente   no  presente momento.

“Acima delas está o falante, consistindo de uma força emocional e uma força intelectual juntas. Por  esta razão,  seu  poder  em atrair  o que  é bom  para  ele e rejeitar   o que é prejudicial e ilimitado no tempo e lugar, como é no animado. Devido à ciência, que é  uma  faculdade intelectual, ilimitada pelo tempo e lugar, se consegue  ensinar a outros onde quer que eles estejam no todo da realidade, no passado ou no futuro, e no decorrer das gerações.”55

ONDE  NÓS  SOMOS  LIVRES  PARA ESCOLHER

Tal como aprendemos de Baal HaSulam, a diferença entre   o nível falante da realidade e os outros  três níveis,   tanto   na sua natureza geral e dentro de nós, é que nós somos ilimitados em tempo e lugar enquanto escolhendo o que aproximar a nós e o que repelir. Colocando-o diferentemente,  no  todo  da  Natureza,  a  raça  humana  é a única espécie que tem liberdade de  escolha.  Enquanto todas  as  outras  criaturas  seguem  as   ordens   da   Natureza involuntariamente, nós podemos escolher se as seguimos ou não. Lamentavelmente, como é evidenciado pelas crises globais de hoje, quando escolhemos ir contra    as ordens da Natureza sem completo conhecimento das implicações de nossas ações,  sofremos  duras  consequências pelos nossos  erros.

E uma vez que interiormente consistimos dos mesmos quatro níveis, a mesma regra se aplica dentro de nós, e somente aqueles desejos e qualidades dentro de nós que pertencem ao nível falante são aquelas nas quais temos liberdade  de escolha.

Dentro de nós, os desejos básicos naturais, para reprodução e continuação da espécie, por abrigo e por alimentação, correspondem aos primeiros três níveis de desejos na Natureza, inanimado, vegetativo, e animado. O quarto nível, “falante,” manifesta dentro  de  nós  desejos  por prosperidade além das nossas necessidades, poder,  fama, respeito e conhecimento. A diferença fundamental entre os três níveis inferiores e o do topo é que os três inferiores existem em cada criatura na terra. Cada criatura procura assegurar a existência da sua própria espécie e manter  sua  descendência  a  salvo  num  abrigo   adequado.

Inversamente,  o  quarto  nível  de  desejos,  que definiremos rudemente como “desejos por riqueza, honra e conhecimento,” são exclusivamente humanos.

Tal como na sua natureza geral, os três níveis inferiores funcionam automaticamente, de acordo com as ordens da Natureza. A única faculdade na qual há liberdade de escolha é o nível falante de desejos. Desta forma, devemos primeiro aprender os funcionamentos da nossa natureza interior antes que tentemos satisfazer os desejos do nível superior.

Para sermos capazes de trabalhar com o quarto nível de desejos, precisamos de saber o que afeta esses desejos e o propósito de sua existência dentro de nós. Com efeito, há outro nível de desejos dentro de nós que “suplanta” todos   os quatro níveis, e que existe somente nos humanos.

 

O PONTO NO CORAÇÃO

Este é o nível a que Rabi Nathan Shapiro chamou, “o  Divino falante”. Ele é este desejo que nos propulsiona a explorar como este mundo funciona, o que o faz funcionar  e como ele o faz, e porquê. Ele é o desejo a que chamamos “Israel”, Yashar El (direito ao Criador). Em Abraão, esse desejo apareceu como o anseio de saber “Como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma?”56

Baal HaSulam chamou a esse desejo de conhecer o Criador, “o ponto no coração”. Na sua “Introdução de O Livro do Zohar”, ele explica que o coração pode ser visto como o todo dos nossos desejos, e que “o ponto  no  coração” é o desejo dentro de nós que aponta para o Criador.57    Meu  professor,  o  Rav  Baruch  Shalom  HaLevi Ashlag (o Rabash), o filho primogênito de Baal HaSulam e seu sucessor, explicou que o “ponto no coração” é o desejo chamado  “Israel”.  Nas  suas  palavras,  “Há  também  Israel numa pessoa … mas ela é chamada ‘um ponto no  coração’.”58

Agora podemos ver porque Abraão estava tão determinado    a  partilhar  o  que  ele  havia  descoberto. Ele sabia que os desejos humanos estavam evoluindo, e ele  sabia que quanto mais eles evoluem, mais eles se voltarão para adquirir prosperidade, poder, dominação sobre os outros e conhecimento. Era claro para ele que sem adquirir o conhecimento da natureza dos desejos humanos, as pessoas não seriam capazes de se gerir a si mesmas e suas sociedades adequadamente.

Assim que Nimrod teve sucesso em impedir os  esforços de Abraão de circular seu conhecimento aos Babilônios, esse homem sábio juntou aqueles que o seguiam e saiu da Babilônia para espalhar sua  mensagem  no exterior. Certamente, o legado de Abraão para nós é que aqueles que compreenderam o que ele havia ensinado deviam partilhar o conhecimento com quem quer que estivesse disposto a escutar. Nas palavras de O Livro do Zohar, “Abraão cavou esse poço [Beer Sheba]. Ele descobriu-o porque ele havia ensinado a todas as pessoas  no mundo a servir o Criador. E assim que ele o cavou, ele emite águas vivas que nunca cessam.”59

O povo de Israel de hoje são os descendentes dos estudantes de Abraão, pessoas com pontos nos seus corações, o ponto de Israel dentro delas. E embora esse ponto agora esteja enterrado por baixo de séculos de esquecimento, ele existe e aguarda ser reacendido. Nas palavras do Sagrado Shlah, “Israel são chamados a ‘Assembleia  de  Israel’,  pois  embora  abaixo  eles  estejam separados uns dos outros, todavia, acima, na raiz de suas almas, eles são uma unidade, e estão congregados, pois são   a parte do Senhor. Os ramos [o povo de Israel] que desejam regressar a suas raízes devem seguir o exemplo de suas raízes,   ou   seja   se   unirem   abaixo   também.   Quando  a separação está entre eles, aparentemente causam separação  e divisão acima, vejam quão longe a questão se prolonga. Desta forma, o todo da casa de Israel deve perseguir a paz e ser um, em paz e completude, sem um defeito, para se assemelhar a seu Fazedor [estarem em equivalência de forma com Ele], pois assim é o nome do Senhor, ‘Paz’.”60

Assim que Israel se una e assim se corrigirá, a si mesmos, eles podem concretizar sua vocação e  serem  “Uma luz para as nações” (Isaías 42:6). Nas  palavras  de Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (O NATZIV de Volojin),  “A principal razão pela qual maioria de nós vive em exílio    é que o Senhor divulgou a Abraão Nosso Pai  que  seus  filhos foram feitos para serem uma luz para as nações, que   é impossível a menos que estejam dispersos no  exílio.  Assim foi Jacó, Nosso Pai, quando ele chegou ao  Egito, onde a maioria do povo estava. Com isso, Seu nome se tornou grande, quando eles viram Sua providência sobre Jacó e seus  descendentes.”61

Falando da evolução dos desejos, a raça humana constitui o quarto e mais alto nível de desejo, o único que permite o livre arbítrio. Mas para tomar as escolhas certas, as pessoas precisam saber como tudo funciona a partir da sua raiz. O povo Israelita re presenta  o desejo de conhecer   a raiz, e desta forma é sua responsabilidade estudar a raiz,    e transmitir seus discernimentos e percepções ao resto da humanidade. Assim, todos saberão como fazer com  que suas escolhas funcionem para seu benefício.

Para obter esse conhecimento, Abraão formou um método de estudo que os sábios durante as eras   nutriram    e desenvolveram. O próximo capítulo descreverá  a  evolução desse método, que desde que foi escrito O Livro  do Zohar, tem sido referido como “Cabalá”.

 

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CAPÍTULO 1: Uma Nação Nasce

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

O Nascimento do Povo de Israel

Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamos olhar para  a  razão  pela  qual  a  nação  Israelita  se formou, e como essa formação se revelou. Vamos, por um momento, viajar praticamente seis mil milhas para o leste, e praticamente quatro mil anos no passado, para a antiga Mesopotâmia, o coração do Crescente Fértil, o berço da civilização. Situada dentro de um  vasto  e  exuberante trecho de terra entre os rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque, a  cidade-estado  Babilônia  representava-se anfitriã para uma civilização florescente. Explodindo com vida e ação, ela era o centro de comércio do mundo antigo.

Babilônia, o coração dessa civilização dinâmica, era uma panela de pressão, um substrato ideal sobre o qual uma miríade de sistemas de crença e ensinamentos cresceram e floresceram. Os Babilônios praticavam muitos tipos de idolatria. O Sefer HaYashar [O Livro do Justo] descreve a vida dos Babilônios nessa altura, e como eles adoravam: “Todas as pessoas da terra fizeram, cada uma, seu próprio deus nesses dias, deuses de madeira e pedra. Eles os adoravam, e se tornaram deuses para eles. Nesses dias, o rei e todos seus servos, e T erah [pai de Abraão] e seu inteiro agregado, foram os primeiros entre os adoradores de madeira e pedra. … [Terah] os adoraria e se dobraria a eles, e assim fez o todo dessa geração. Todavia, eles haviam abandonado o Senhor, que os havia criado, e não havia um único homem em toda a terra que conhecesse o Senhor…”16

Ainda assim, o filho de T erah, Abraão, que  então  ainda era chamado pelo nome de Abrão,  possuía  uma  certa qualidade que fazia dele único: ele era invulgarmente perceptivo, com um zelo cientifico pela  verdade.  Abraão era também uma pessoa preocupada, que reparou que o povo da sua cidade estava tornando-se crescentemente infeliz. Quando ele refletiu sobre isso, descobriu que  a  causa da sua infelicidade era o crescente egoísmo e  alienação que se apoderavam deles. Dentro de um período de tempo relativamente curto, eles declinaram a união e preocupação mútua, tendo sido “De uma língua  e  uma  fala” (Génesis 11:1), para a vaidade e alienação, dizendo “Vinde, construamos uma cidade, e uma torre, com seu topo  nos  céus,  e   façamos   para   nós   mesmos   um nome”  (Génesis, 11:4).

Na realidade, eles estavam tão preocupados em construir sua torre de orgulho que se esqueceram completamente   das   pessoas   que   lhes   eram    em tempos parentes. A composição, Pirkey de Rabi Eliezer (Capítulos  de  Rabi  Eliezer),  um  dos  Midrashim  sobre  a Torá (Pentateuco), oferece uma descrição vivida não só da vaidade dos Babilônios mas também da alienação com a qual eles se consideravam uns aos outros. O livro escreve, “Nimrod disse a seu povo, ‘Construamos uma grande  cidade e moremos nela, caso contrário ficaremos dispersos pela terra como os primeiros, e construamos uma grande torre dentro dela, subindo em direção aos céus  …  e  façamos para nós um grande nome na terra…’

“Eles a construíram alta … aqueles que trariam os  tijolos a subiam pelo seu lado oriental, e aqueles que desciam dela, desciam pelo seu lado ocidental. Se uma pessoa caísse e morresse, eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro em seu lugar’”.17

A atitude dos conterrâneos de Abraão uns para com os outros o incomodava, e ele iria até lá e observaria a conduta dos construtores. Pirkey de Rabi Eliezer continua  a descrever suas observações da sua animosidade  de  uns  para os outros: “Abraão, filho de Terah, passou e os viu construir a cidade e a torre”. Ele tentou falar com eles e lhes contar sobre o Criador, a força governante da união que ele havia descoberto, para atestar que as coisas seriam ótimas somente se eles seguissem a lei da união, também. “Mas eles abominaram suas palavras”, o livro descreve. Em vez disso, “Eles desejaram falar a língua uns dos outros”, como antes, quando ainda eram de uma língua, “Mas eles não sabiam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um deles pegou sua espada e lutou com o outro até à morte. Certamente, metade do mundo morreu ali pela espada.”18

À luz da grave situação do seu povo, Abraão decidiu espalhar o princípio que ele havia encontrado, independentemente dos riscos. Na sua composição,  HaYad HaChazaká (A Mão Poderosa), também conhecida como Mishnê Torá (Repetição da Torá), o reconhecido acadêmico do século XII, Maimonides (o RAMBAM), descreve a determinação de Abraão e esforços para descobrir as verdades da vida: “Desde que este firme foi desmamado, ele começou a questionar. …Ele come çou a ponderar dia e noite, e ele questionava -se como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma? Ele não tinha nem professor nem tutor. Em vez disso, ele foi cunhado em Ur dos  Caldeus entr e os idolatras iletrados, com sua mãe e pai, e todas as pessoas que adoravam as estrelas, e ele, adorava com eles.”19

Na sua busca, Abraão descobriu a união, a unicidade   da realidade, essa força singular criativa que cria, sustenta    e conduz toda a realidade para a sua meta. Nas palavras de Maimonides, “[Abraão] alcançou o caminho da verdade … com sua sabedoria correta, e sabia que havia um Deus que conduz… que Ele criou tudo, e que em tudo o que há, não há outro Deus senão  Ele.”20

Para compreender precisamente o que é que Abraão alcançou, mantenha em mente que quando os Cabalistas falam de Deus, eles não se referem a um ser todo-poderoso ou a uma força que você deve adorar, agradar e apaziguar, que em retorno recompensa os devotos adoradores com saúde, riqueza, longa vida e outros benefícios terrenos. Em vez disso os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, o todo  da Natureza.

Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada), fez várias afirmações inequívocas sobre  o sentido do termo, “Deus”. Sucintamente, ele explica que Deus é sinônimo de Natureza. No ensaio, “A Paz”, Baal HaSulam   escreve   (num   excerto   ligeiramente    editado),

“Para evitar de ter que usar ambas as línguas daqui em diante, ‘Natureza’  e  um  ‘Supervisor’,  entre  os  quais,  como demonstrei, não há qualquer diferença…é melhor para nós … aceitarmos as palavras dos Cabalistas que HaTeva [A Natureza] é o mesmo…que Elokim [Deus]. Então, serei capaz de chamar às leis de Deus ‘mandamentos da Natureza’, e vice-versa, pois eles são um e o mesmo, e não precisamos discutir mais.”21

“Aos  quarenta  anos  de   idade”,   escreve  Maimonides,  “Abraão  veio  a   conhecer   seu Fazedor”, a  lei singular da Natureza, que cria todas as coisas. Mas Abraão não manteve sua descoberta para si mesmo: “Ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus,    a conversar com eles e  a  lhes  contar  que  o  caminho  sobre o qual eles caminhavam não era o caminho da verdade.”22 Assim, Abraão foi confrontado pelo estabelecimento, que neste caso era Nimrod, rei de Babel.

O Midrash Rabá, escrito no século V da  E.C.,  apresenta uma descrição vivida  da  confrontação  de  Abraão com Nimrod, um vislumbre das dificuldades que Abraão sofreu por sua descoberta e sua  dedicação  à verdade. Ele também fornece uma  divertida  visão  no fervor de Abraão. “Terah [Pai de Abraão]  era  um  adorador de ídolos [que ganhava sua vida fazendo e vendendo estátuas na loja da família]. Uma vez, ele foi a certo lugar e disse a Abraão que ficasse em seu lugar para ele. Um homem entrou e quis comprar uma estátua. [Abraão] perguntou -lhe, ‘Quão velho sois vós? ‘E  o  homem respondeu, ‘Cinquenta ou Sessenta’, Abraão disse- lhe: ‘Ai daquele que tem sessenta e tem de adorar uma estátua de um dia.’ O homem ficou envergonhado e partiu.

“Outra vez, uma mulher entrou com uma taça de semolina. Ela disse-lhe, ‘Aqui,  sacrifica  perante  as  estátuas’, Abraão levantou-se, pegou no martelo, quebrou todas as estátuas, então colocou o martelo nas mãos da maior. Quando seu pai regressou, ele perguntou- lhe,  ‘Quem fez isto’? [Abraão] respondeu,  ‘Uma  mulher  entrou. Ela trouxe-lhes uma taça de semolina e pediu-me que sacrificasse  perante elas. Eu sacrifiquei  e uma disse,  ‘Eu comerei primeiro’, e a outra disse, ‘Eu comerei primeiro’. A maior levantou-se, pegou o martelo, e as quebrou’. Seu pai disse, ‘Estás tu a enganar-me? O que sabem elas’? E Abraão respondeu-lhe, ‘Tuas orelhas  escutam o que tua boca  diz’?”23

Nesse ponto, Terah sentiu que não conseguia mais disciplinar  seu   filho   descarado. “[Terah] levou [Abraão]  e entregou-o a Nimrod [o rei, mas também a autoridade espiritual mais alta da Babilônia]. [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora o fogo’. Abraão respondeu, ‘Talvez deva adorar a água, que extingue o fogo’? Nimrod respondeu, ‘Adora a água’! [Abraão] disse-lhe: ‘Então talvez deva adorar a nuvem, que transporta a água’?  [Nimrod]  disse-lhe,  ‘Adora  a nuvem’!

“[Abraão] disse-lhe: ‘Nesse caso, devo eu adorar o  vento que dispersa as nuvens’? Ele disse-lhe, ‘Adora o vento’! [Abraão] disse-lhe, ‘E devemos nós adorar o  homem, que sofre do vento’? [Nimrod] disse-lhe: ‘Tu falas demasiado, eu adoro somente o fogo. Eu jogar-te-ei nele, e deixarei que o Deus que adoras te venha salvar dele!

“Harã [irmão de Abraão] lá se encontrava. Ele disse,   ‘Se Abraão vencer, eu direi que concordo com Abraão, e se Nimrod vencer, eu direi que concordo com Nimrod’. Quando   Abraão   desceu   à   fornalha   e   foi   salvo,   eles perguntaram [Harã], ‘Com quem estais’? Ele  disse-  lhes: ‘Eu estou com Abraão’. Eles o levaram e o jogaram no fogo, e ele morreu na presença de seu pai. Assim foi dito,    ‘E Harã morreu na presença de seu pai Terah’.”24

Assim Abraão resistiu Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Harã (pronunciada Charan, para distingui-la de Harã, filho de Terah). Mas Abraão não deixou de circular sua descoberta só porque ele estava exilado da Babilônia. As descrições elaboradas de Maimônides contam-nos, “Ele começou a clamar  ao  mundo inteiro, para os alertar que há um Deus para o mundo todo… Ele clamou,  vagueando de cidade em cidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã…

“E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinava a todos…até que ele os trouxe   de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo da casa de Abraão. Ele colocou seu princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho  Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou,  e informou Jacó, e o nomeou professor, para se sentar e ensinar… E  Jacó o Patriarca ensinou todos os seus filhos. Ele separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus…”25

Para garantir que a verdade se transportaria pelas gerações, Jacó “ordenou a seus filhos que não parassem de nomear nomeado após nomeado de entre os filhos de Levi, para que o conhecimento não fosse esquecido. Isto continuou e se expandiu nos filhos de Jacó e naqueles que  os acompanharam.”26

I S R A E L — O  M A I S  P R O F U N D O  A N S E I O

O resultado surpreendente dos esforços de Abraão foi o nascimento de uma nação que conhecia as leis mais profundas da vida, a derradeira Teoria de Tudo, ou nas palavras de Maimônides: “Uma nação que conhece o  Senhor foi feita no mundo.”27

Certamente, Israel não é meramente o nome de um povo. Em Hebraico, a palavra, Ysrael (Israel), consiste de duas palavras: Yashar (direto), e El (Deus). Assim, Israel designa uma mentalidade de querer descobrir a lei da vida, um desejo de alcançar ou perce ber  o  Criador.  Nas palavras de Rabi Meir Ben Gabai,  “No  significado  do  nome ‘Israel’  há também Yashar El [direito a Deus]” .28  Em semelhança, no seu Drush [sermão escrito] a respeito  da Oração do Viajante, o grande Ramchal escreveu simplesmente,   “Israel — Yashar El”.

Colocando-o diferentemente, Israel não é uma atribuição genética, mas em vez disso o nome, ou direção  do desejo que conduziu Abraão à s suas descobertas. Geneticamente, os primeiros Israelitas  foram  Babilônios  ou membros de outras nações que se juntaram ao grupo     de Abraão. O significado de seu nome era claro para os antigos Israelitas. Como Maimônides  escreveu,  eles tiveram seus professores, os  Levitas,  e  eles  foram ensinados a seguir as leis essenciais da vida.

Hoje, contudo, estamos inconscientes do fato de que “Israel” na realidade se refere ao desejo de conhecer a lei básica  da  vida,  o  Criador,  e  ele  não  faz  alusão  a  uma linhagem genética. Quase 2000 anos de ocultação  da verdade desde a ruína do Segundo Templo praticamente obliteraram a verdade de que a descoberta de Abraão era dirigida para todas as pessoas no mundo, tal como o  próprio Abraão o pretendia para todas as pessoas na Babilônia, e mais tarde “começou a clamar ao mundo inteiro”, para citar  Maimônides.

Com o passar dos anos, somente os Cabalistas mantiveram esta verdade viva. Cabalistas tais como Elimelech de Lizhensk,29 Shlomo Ephraim Luntschitz,30 Chaim Iben Attar,31 Baruch Ashlag32 e muitos outros escreveram em palavras simples: Ysrael significa Yashar El (diretamente a Deus).

Além do mais, a necessidade de descobrir esta força é mais pertinente hoje que nunca. Nada mudou na Natureza desde o tempo de Abraão, e o Criador ainda é a força una que cria, governa e sustenta a  vida.

O que mudou é que hoje precisamos de verdadeiro conhecimento do Criador mais que nunca. No tempo de Abraão, a humanidade  teve numerosos   outros caminhos   a seguir além do caminho da verdade de Abraão. Os caminhos sociais de hoje, contudo, estão gradualmente a    se provar a si mesmos ineficazes em solucionar a nossa moral e coesão social em  declínio.

Certamente, a seu tempo, a cultura Babilônia se dissipou e as pessoas se dispersaram pelo mundo. Sua alienação e discórdia social, que causaram sua queda, representadas pela queda da torre, se tornaram discretas e comedidas. As pessoas realojaram -se em novos lugares, trazendo com elas a cultura e atitude Babilônia, inconscientes      de    que  transportavam  seus  costumes de

Agora que temos uma comunidade global, cada crise é numa escala global. Os erros que fizermos fazem sua cobrança no mundo inteiro, tornando  a  descoberta  de  uma única força de Abraão informação soberana e salva- vidas que deve ser somada aos nossos cálculos e planos se desejamos sobreviver.

U N I Ã O — E  D E S S E  M O D O ,  I G U A L D A D E

Hoje, nossa única esperança é nos unirmos, porque  a  união, como veremos abaixo, é a direção da força que conduz toda a vida. Nosso  desafio,  desta  forma,  é  aprender como nos unirmos. É possível e é plausível, mas num tempo de crises, isso exigirá reconhecer a  força  da vida e gerar um esforço mútuo para cooperar e colaborar para que possamos viver pelas prescrições desta lei.

Deve ser notado, contudo, que união não exige paridade ou semelhança. Em vez disso, ela exige  disparidade, sobre a qual nos unirmos. Hoje, por exemplo, há muitas denominações dentro da religião Judaica, bem como Judeus não afiliados. União Judaica significaria que sem mudar nossos costumes, sem convergir para  uma  única denominação, nos uniríamos e aprenderíamos a valorizar, e eventualmente nos preocuparmos verdadeiramente  uns  pelos outros.

Isso pode parecer impossível, considere uma família com várias crianças.  Numa  família  normativa,  cada criança tem sua  personalidade  única.  Mais  frequentemente que o contrário, essas personalidades colidem, como nossas memórias das nossas brigas de infância        com        nossos        parentes        testemunham.

Frequentemente pensamos de nossos irmãos e  irmãs  em tais termos como, “Se ele/ela não fosse meu irmão/irmã, nunca estaria perto dele/dela”.  Mas,  precisamente  esse  fato de que estamos juntos com nosso parente muito diferente prova que quando há amor, podemos unir-nos acima  das diferenças.

É precisamente o que precisamos fazer,  nos  unir  acima de nossas diferenças. Desse modo intensamente sentiremos tanto nossa diversidade, frequentemente qualidades opostas, e a união que cavalga acima delas. Quando isso acontecer, seremos capazes de usar nos sas diferenças para o melhor, pois cada um de nós contribui perspectivas, ideias e modos de ação que mais ninguém consegue, assim formando um todo mais forte. Tal como nossos corpos precisam de diferentes órgãos para nos manter  saudáveis,  precisamos  permanecer  diferentes  e nos unir acima das diferenças por uma meta comum de realizar o papel do povo Judeu, trazer a luz da união às nações.

Seguindo a partida de Abraão da Babilônia,  regressando ao nosso tópico anterior, a cidade continuou     a cultivar a despreocupação egocêntrica.  E  embora  não haja nada de errado com prazer e diversão, quando é absolutamente egocêntrico, no fim é autodestrutivo. O verdadeiro   propósito   da   vida,   Abraão   descobriu,    é nos tornarmos semelhantes à força singular da vida, experimentar a unicidade com tudo. Nossos  sábios  chamam a essa união e unicidade,  Dvekút  [adesão],  e  o que pretendem eles dizer com essa palavra e que eventualmente devemos  adquirir  as  qualidades  do  Criador e nos tornarmos similares, ou até iguais a Ele.

Para citar as palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “Sobre    a parte da Dvekút [adesão] com as forças do Grande Nome  e Suas qualidades, você apega -se ao Senhor seu Deus, pois Ele é Seu nome, e Seu nome é Ele, pois você  está relacionado e é semelhante a Ele, e Dvekút com Ele é a verdadeira vida”. 33 Em semelhança, o Sagrado Shlah escreveu em Toldot Adam [As Gerações do Homem], “Nossos sábios disseram (Sotá 14a), ‘E vós que vos apegais ao Senhor’, apegai-vos a Suas qualidades, e então ele é chamado Adam [homem], como em, adamé la Elyon [Eu serei como o mais  alto]”.34

No século XX, Baal HaSulam elaborou extensamente sobre o termo, Dvekút, o definindo como “equivalência de forma”, ou seja adquirir a “forma”  (qualidades)  do  Criador. Na sua “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabalá”, ele escreveu, “Assim, [a alma] será digna de  receber toda a abundância e prazer incluídos no Pensamento da Criação, e também estará em completa Dvekút (adesão) com Ele, em equivalência de forma.35

Em “Introdução ao O Livro do Zohar”, Baal HaSulam acrescenta, “Assim, uma pessoa compra a completa adesão com Ele, pois adesão espiritual é senão equivalência de forma, como nossos sábios disseram, ‘Como é possível se apegar a Ele? Em vez disso, apegai – vos a Suas qualidades’”.36

Com o tempo, como mencionado acima, o grupo de Abraão tornou-se uma  nação,  e  a  necessidade  de  um novo método de união surgiu.  Os  ensinamentos  de  Abraão mantiveram-se enquanto todos em Israel podiam  ser ensinados. Mas no tempo em que o povo de Israel saiu do Egito, eles atingiram o número de 600.000 homens e algumas  três  milhões  de  pessoas  ao  todo.  Era impossível ensinar todos eles da mesma maneira que se aprende de um professor.

A solução encontrava -se no sopé do Monte Sinai. Lá, nesse ponto essencial da história de nosso povo, o princípio mais fundamental da nossa Torá foi dado, e é dado ainda hoje, cada dia e em cada momento. Esse princípio, como Rabi Akiva o colocou, é “Ama teu próximo como a ti mesmo”.

No sopé do Monte Sinai, explica o grande acadêmico e intérprete RASHI, recebemos a Torá, as leis pelas quais nos uniremos, porque lá concordamos com todo o coração assim fazer. Nas suas palavras, “‘E Israel acampou lá’, como um homem com um coração”.37 Desse momento em diante, união tem sido o principal bem do p ovo Judeu, o meio pelo qual alcançamos o Criador, adquirimos Suas qualidades, e obtemos Dvekút, equivalência de forma (qualidades) com Ele.

O Midrash Tanah De Bei Eliyahu escreve, “O Senhor disse para eles, para Israel: ‘Meus filhos, careci Eu de algo que vos deva pedir? E que vos posso pedir? Somente que  vos amais uns aos outros, vos respeitais uns aos outros, e  vos temais uns aos outros, e não haverá transgressão, roubo, e feiura entre vós”.”38

Com o tempo, união tornou-se tão crucial que substituiu qualquer outro mandamento em termos de sua importância. Ela tornou -se a una e única chave para a redenção espiritual de Israel e salvação de seus inimigos. O Midrash Tanhumá escreve, “Se uma pessoa pegar num feixe de juncos, ela não os consegue quebrar a todos. Mas se ela pegar um de cada vez, até uma criança os quebra. Similarmente, Israel não serão redimidos até que eles sejam todos um feixe.”39

No mesmo espírito, Masechet Derech Eretz Zutá escreve, “Assim Rabi  Eleazar  ha- Kappar diria, ‘Amai a  paz, e desprezai a divisão. Grande é a paz, pois até quando Israel pratica idolatria, e há paz entre eles, o Criador diz,   ‘Eu não lhes desejo tocar [magoar] ‘, como está escrito (Oséias, 4:17), ‘Efraim está junto aos ídolos, deixai-o sozinho’. Se há divisão entre eles, o que se diz sobre eles (Oséias, 10:2)? ‘Seu coração está dividido, agora eles carregarão  sua culpa’”.40

E todavia, por tudo o que acaba de ser dito sobre a importância da união, quando olhamos ao nosso redor é evidente que a maioria das pessoas nem se  deseja  unir,  nem encontra qualquer benefício na  união,  certamente  não com seus próximos, como o princípio dita. Para compreender como tal princípio se tornou tão  supremo para a existência de nosso povo, e agora para o mundo inteiro, precisamos de examinar a evolução da realidade de um ponto de vista diferente do que aquele que a ciência frequentemente toma. Precisamos olhar para a realidade como uma evolução de desejos. Quando vemos a realidade como tal, a razão por trás da proeminência do desejo de unir, e a consequente  aquisição  da qualidade  do Criador, se tornarão claras como o cristal. Desta forma, a evolução dos desejos será o tópico do próximo capítulo.

 

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Introdução

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

Se uma pessoa pegasse num feixe de juncos, ela não os conseguiria quebrar todos de uma vez. Mas se pegasse um de cada vez, até uma criança os quebraria. Assim também, Israel não será redimida até que todos sejam um  feixe.”

(Midrash Tanhumá, Nitzavim, Capítulo 1)

 

Durante a história do povo Judeu,  união  e  garantia mútua (conhecida  como responsabilidade  mútua)  têm  sido  os emblemas de nossa nação. Inumeráveis sábios e líderes espirituais escreveram sobre o significado destas duas marcas registradas, as hasteando como o coração e alma da nossa nação, e declarando que salvação  e  redenção  podem chegar somente quando houver união em Israel.

Na realidade, o conceito de união tem sido tão proeminente que excedeu o da devoção ao Criador e a observação dos mandamentos. Um  número  considerável de  líderes  espirituais  Judeus  e  escrituras  sagradas  durante as gerações sublinham a importância da união acima de tudo. Masechet Dérech Eretz Zuta, escrito aproximadamente  na  mesma  época  do  Talmude,  é  uma das numerosas declarações escritas nesse espírito: “Mesmo quando Israel adora ídolos e há paz entre o povo, o Senhor diz, ‘Eu não tenho desejo de lhes fazer mal.’ … Mas se eles são contestados, o que se diz sobre eles? ‘Seu coração está dividido, agora eles carregarão sua culpa’”.2

Depois da ruína do Segundo Templo, a proeminência da união e amor fraterno alcançaram um pico. O Talmude Babilônico, entre muitas outras fontes, ensina-nos que a razão pela qual o Segundo Templo foi arruinado foi ódio sem fundamento e a divisão dentro de Israel. As fontes até declaram que ódio sem fundamento é tão prejudicial, que  ele equivale ao impacto dos três grandes males que  causaram a ruína do Primeiro Templo, todos juntos: idolatria, incesto e derramamento de sangue. Masechet Yomá ensina-nos essa lição muito claramente: “O Segundo Templo… porque foi ele arruinado? Foi porque havia ódio sem fundamento nele, ensinando-vos que ódio sem fundamento é igual a todas as três transgressões, idolatria, incesto e derramamento de sangue, combinadas.”3

Evidentemente, união, fraternidade, e responsabilidade mútua não estão somente no ADN da nossa nação, elas são  a substância da linha da vida que nos poupou de aflições quando as tivemos, e permitiu que aflições se revelassem quando não as tínhamos. Nestes tempos difíceis de benefício próprio e narcisismo, precisamos de união mais que nunca, todavia ela parece mais inacessível que em qualquer outro tempo na história.

Há cerca de quatrocentos séculos atrás, no sopé do Monte Sinai, nos encontramos como um homem com um coração, e ao fazer isso nos tornamos uma nação. Deste então, a união nos sustentou através da chuva e sol, como o reconhecido  orador  e  escritor,  Rabi  Kalonymus  Kalman Halevi Epstein, descreve em sua aclamada composição, Maor va Shemesh (Luz e Sol): “Embora a geração de Ahab fossem idolatras, eles se envolveram em guerra e venceram porque havia união entre eles. É ainda mais quando há  união em Israel e eles se envolvem na Torá pelo Seu bem … Com isso, eles subjugam todos aqueles que estão  contra eles, e a tudo o que eles dizem com suas bocas, o Senhor concede seus desejos”4

Seguindo Moisés, chegamos a Canaã, a conquistamos,   e a tornamos A Terra de Israel, então fomos exilados uma vez mais, desta vez para Babel. E assim que M ordecai nos uniu em Babel, regressamos, embora com praticamente duas das doze tribos originais, e estabelecemos o Segundo Templo. Enquanto mantivemos nossa união, também mantivemos nossa soberania e o Templo. Mas assim que renunciamos ao amor fraterno, fomos esmagados pelo inimigo e fomos exilados nos séculos que se seguiram.

Todavia, divisão e ódio sem  fundamento,  que causaram a ruína do Segundo Templo e o exílio da nação   da sua terra, não aprisionaram nosso desenvolvimento enquanto em exílio. Através de muito dos últimos dois milénios e pouco, mantivemo-nos para nós mesmos, mantendo relativa separação da vida cultural  das  nações nas  quais residíamos.

Mas desde o Iluminismo,  gradualmente  adotamos  uma cultura que hasteia distinção pessoal e realização individual, e tolera  a  exploração  dos  fracos  e  necessitados. Nas últimas várias décadas, sobressaímos tanto na cultura do interesse pessoal e do benefício pessoal que nos tornamos o oposto completo da comunidade preocupada e humana que nutríamos no começo de nossa nação.

No mundo de hoje, o tom e atmosfera predominantes são os do benefício pessoal e egoísmo até ao ponto do narcisismo. No seu livro perspicaz, A Epidemia do Narcisismo: Viver na Era do Benefício Pessoal, os  psicólogos Jean M. Twenge e Keith Campbell descrevem ao que se referem como “O crescimento incansável do narcisismo na nossa cultura”,5 e os problemas que causa. Eles explicam que “Os Estados Unidos presentemente sofrem de uma epidemia de narcisismo. …traços de personalidade  narcisista   aumentaram   tão  rápido   como  a obesidade”.

Pior ainda, eles continuam, “O aumento no narcisismo está acelerando, com resultados crescendo mais rápido nos anos 2000 que nas décadas anteriores. Em 2006, um de quatro estudantes de liceu concordavam com a maioria dos itens numa med ida padronizada de traços narcisistas”.6

E a maioria de nós Judeus, progenitores do princípio, “Ama teu próximo como a ti mesmo,” não  só  nos  sentamos e vemos enquanto o egoísmo celebra, mas  também nos juntamos à festa, muitos de nós até liderando o grupo, tomando os espólios onde quer que possamos. Abraçamos a máxima, “Quando em Roma, faça como os Romanos,” com entusiasmo espetacular, e ao fazer assim, muitos nomes Judeus se tornaram sinônimos de riqueza e poder. Não há dúvida que não perseguimos  riqueza  e poder para  apresentar  nossa  herança  como  superior  a  dos outros. Contudo, quando os Judeus ganham notoriedade pelas mencionadas duas distinções, eles são notados não só pelos seus ganhos, mas também por sua herança.

Por muito injusto que possa parecer, Judeus e o estado Judeu não são vistos da mesma maneira que são os outros países e nações. Eles são tratados como especiais, tanto positiva como negativamente.

Mas há uma boa razão porque isto assim é. Quando Abraão descobriu a força singular que conduz o mundo, aquele a que nos referimos como “o Criador,” “Deus,” “HaShem, HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey, o “Senhor”), ele desejou contar ao mundo inteiro sobre isso. Enquanto babilônio e de elevado estatuto social e espiritual, filho de um fazedor de ídolos e estátuas, ele estava numa posição para ser escutado. Foi somente quando o Rei Nimrod o tentou matar e mais tarde o expulsou da Babilônia que ele foi para outro lugar, eventualmente chegando a Canaã.

Todavia, Rav Moshé Ben Maimon (Maimônides) descreve a toda a hora a maneira como ele continuava à procura de almas gémeas com quem partilhar sua descoberta: “Ele começou a clamar ao mundo inteiro, para alertar que há um Deus para o mundo inteiro… Ele  clamava, vagando de cidade em cidade e de reino em reino, até que ele chegou à terra de Canaã… E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinou todos…até que ele os trouxe de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo de ‘a casa de Abraão.’ Ele plantou seu princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac. E Isaac se sentou, e ensinou, alertou, e informou Jacó, e o nomeou professor, para sentar e ensinar… E Jacó  o  Patriarca  ensinou todos seus filhos, e separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus”…7

De Jacó em diante, narra a reconhecida composição,     O Kozari, “Divindade é  revelada  numa  assembleia,  e  desde então é a contagem  pela  qual  contamos  os  anos  dos antepassados, de acordo com o que foi dado na lei de Moisés [Torá], e sabemos o que se  desdobrou  desde  Moisés até este dia”.8

Assim, a união se tornou uma condição para alcançar    a percepção de Deus, ou o Criador, como os Cabalistas frequentemente se referem a Ele (por razões que não descreveremos aqui, pois isso está além da amplitude deste livro). Sem união, a realização era  simplesmente  impossível. Aqueles que foram capazes de se unir, se tornaram o povo de Israel e alcançaram o Criador, a força singular que cria, governa, e conduz o todo da realidade. Aqueles que não foram capazes de fazê-lo permaneceram sem essa percepção, todavia com uma sensação de que os Israelitas sabiam algo que eles não, e tinham algo que lhes pertencia, também, mas que eles não podiam ter.

Esta é a raiz do ódio a Israel, que mais tarde se tornou antissemitismo. É uma sensação de que os Judeus têm algo que não estão compartilham com o mundo, mas que têm que compartilhar.

Certamente, os Judeus devem partilhá-lo com o  mundo. Tal como Abraão tentou partilhar sua descoberta com todos os seus semelhantes babilônios, os Judeus, seus descendentes, devem fazer o mesmo. Este é o significado    de ser “Uma luz para as  nações”.

Esta é a obrigação para a qual o grande Rav Kook, o primeiro Rabino Chefe de Israel se referiu no seu estilo eloquente e poético quando escreveu, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente pela sua força sagrada e eterna, que flui de dentro de seu espírito. Foi isso que a fez, a faz, e a fará ainda uma nação que se encontra como uma luz para as nações, como redenção e salvação para o mundo inteiro para seu próprio propósito especifico, e pelos propósitos globais, que estão interligados.

Este compromisso também é ao que Rav Yehuda Leib Arie Altar se referiu com suas palavras, “Os filhos de Israel são fiadores no sentido que eles receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também”.10

E o que é que estamos obrigados a transmitir as nações exatamente? É a união, que um descobre a força única, singular e criadora da vida, o Senhor, ou Deus. Nas palavras de Rabi Shmuel Bornstein, autor de Shem MiShmuel [Um Nome A Partir de Samuel], “A meta da Criação foi para que todos fossem uma associação … Mas devido ao pecado, a matéria tornou-se tão estragada que até os melhores nessas gerações foram incapazes de se unirem juntos para servir o Senhor, mas foram somente u ns poucos.”11

Por esta razão, continua Rabi Bornstein, somente aqueles que se podiam unir o fizeram, enquanto o resto os abandonou até que fossem capazes de se juntar à união. Nas suas palavras, “A correção começou ao fazer uma reunião e associação de pessoas para servir o Criador, começando  com Abraão o Patriarca e seus descendentes, para que eles fossem uma comunidade consolidada pela obra de Deus. Sua ideia [do Criador] em separar os povos foi que primeiro Ele causou separação na raça humana, no tempo da Babilônia, e todos os malfeitores foram dispersados… Subsequentemente começou a reunião em prol de servir do Criador, à medida que Abraão o Patriarca foi e clamou pelo nome do Senhor até que uma grande comunidade se reuniu na sua direção, que havia sido chamada ‘o povo da casa de Abraão.’ A matéria continuou a crescer até que se tornou a assembleia da congregação de Israel … e o fim da correção será no futuro, quando todos se  tornem  uma  associação em prol de fazer Vossa vontade com todo o coração.”12

Considerando as presentes circunstâncias globais, parece urgente que todos saibam sobre  o  conceito  de  união como um  meio  para  alcançar  o Criador.  Assim  que todos nós saibamos e aceitemos esse princípio, paz e fraternidade  naturalmente prevalecerão.

Na realidade, de acordo com o reconhecido Cabalista, Rav Yehuda Ashlag, conhecido como  Baal  HaSulam  [Dono da Escada] pelo seu comentário Sulam [Escada] sobre O Livro do Zohar, a necessidade de conhecer o  Criador tem sido urgente há praticamente um século até agora. Em “Paz no Mundo,” um ensaio que data do princípio dos anos 30, Baal HaSulam explica que porque somos todos interdependentes, devemos aplicar as leis de responsabilidade mútua ao mundo inteiro. Enquanto o termo, “globalização,” não era ubíquo em tratados do seu tempo, suas palavras claramente ilustram sua necessidade urgente de tornar o mundo uma  única  unidade  solidificada.

Aqui está a descrição de globalização e interdependência de Baal  HaSulam:  “Não  fique  surpreso se eu misturar juntos o bem-estar de  um  coletivo  particular com o bem-estar do mundo inteiro, porque certamente,  já  chegamos  a  tal  grau  que  o  mundo   inteiro é considerado um coletivo e uma sociedade. Isto é, porque cada pessoa no mundo extrai sua essência e vivacidade da vida de todas as pessoas no mundo, um é coagido a servir e cuidar do bem-estar do mundo inteiro.

“…Desta forma, a possibilidade de levar condutas boas, felizes e pacificas num país é inconcebível quando não é assim em todos os países no mundo, e vice -versa. No nosso tempo, os países estão todos ligados na satisfação de suas necessidades da vida, como os indivíduos estavam nas suas famílias em tempos anteriores. Desta forma, não podemos mais falar ou lidar somente com condutas que garantam o bem-estar de um país ou uma nação, mas somente com o bem-estar do mundo inteiro porque o benefício ou dano de toda e cada pessoa no mundo depende e é medido pelo benefício de todas as pessoas no mundo.”13

Contudo, para o mundo alcançar essa união, essa garantia mútua, ele precisa de um modelo exemplar, um grupo ou coletividade que possa implementar a união, alcançar o Criador, e através de exemplo pessoal, pavimentar o caminho para o resto da humanidade. Porque nós Judeus já estivemos nesse ponto, e o mundo sente isso subconscientemente, é nosso dever reacender esse amor fraterno entre nós, alcançar essa força singular, e passar ambos o método de união e a realização do Criador ao resto do mundo. Este é o papel dos Judeus: trazer a luz do  Criador para o mundo, ser uma luz para as nações.

Em “O Amor a Deus e o Amor ao Homem”, Baal HaSulam descreve claramente esse modus operandi: “A nação Israelita já foi estabelecida como uma transi ção. À mesma medida que os próprios Israel são purificados ao manter a Torá [a lei (de união), que dissemos na introdução ser uma condição prévia para a realização do Criador], eles transmitem seu poder ao resto das nações. E quando  o  resto das nações também sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se unem e alcançam  o Criador],  o  Messias [a força que nos puxa para fora do egoísmo] será revelado.”14

Rav Yehuda Altar similarmente descreve o papel dos Judeus em respeito ao resto das nações: “Pareceria que os filhos de Israel, os recipientes da Torá, são os mutuários e não os fiadores, exceto que os filhos de Israel se tornaram responsáveis pela correção do mundo inteiro através do poder da Torá. É por isso que lhes foi dito, ‘E vós sereis   para  Mim  um  reino  de  sacerdotes  e  uma   nação sagrada’. …E foi a isso que eles responderam, ‘Isso que o Senhor  disse,  nós  faremos’,  corrigir   o   todo   da   Criação. …Na verdade, tudo depende dos filhos de Israel. Tanto quanto eles se corrigem a si mesmos, todas  as  criações os seguem. Como os estudantes seguem o Rav [professor] que corrige a si mesmo … em semelhança,  o todo da Criação segue os filhos de Israel.”15

 

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Prefácio: O Espectro e o Espírito

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

Como eu vim a escrever este livro

Nasci em Agosto de 1946 na cidade de Vitebsk, Bielorrússia. Era o segundo verão depois do fim da Segunda Guerra Mundial, minha vida era preguiçosa, lentamente mancando para trás em direção à afável monotonia da normalidade. Sendo o filho primogénito de um pai dentista e uma mãe ginecologista, tive uma infância despreocupada, convenientemente crescendo num bairro suburbano, não tendo preocupações materiais que a maioria dos meus amigos de infância tinha.

E todavia, uma sombra me perseguia pela minha infância e até durante a minha adolescência: o espectro do Holocausto, esse fantasma que muitos nunca escolhem mencionar, embora esteja sempre lá. Nomes de familiares ou amigos que pereceram foram mencionados num tom sombrio lhes dando uma presença estranha, como se ainda estivessem conosco, embora soubesse que nunca estiveram.

E mais estranha ainda era o asco dos meus colegas Russos dos Judeus. Crianças com as quais cresci odiavam Judeus simplesmente porque eram Judeus. Elas sabiam o que tinha acontecido aos seus vizinhos Judeus há apenas um ano atrás, mas eram tão sarcásticas e insensíveis como antes da guerra, o que me foi contado pelos mais idosos. Isto, eu não conseguia entender. Porque eram eles tão odiados? Que mal imperdoável os Judeus fizeram? E de onde tinham eles aprendido essas histórias de horror sobre as coisas que os Judeus podiam fazer?

Como seria de esperar do filho de pais em profissões de medicina, eu, também, assumi a profissão médica como minha carreira “de escolha.” Estudei bio-cibernética, uma ciência que explora os sistemas do corpo humano, e tornei-me um cientista, um investigador no Instituto de Pesquisa do Sangue de São Petersburgo. E enquanto fantasiava comigo mesmo radiando orgulho sobre o púlpito em Estocolmo na Suécia, vencedor de um Prémio Nobel, uma paixão profunda que já nutria e que vinha à superfície da minha consciência.

“Eu quero compreender o sistema”, comecei a pensar, “saber como tudo funciona.” Mas mais que tudo, comecei a ponderar porque tudo era da maneira que era.

Enquanto cientista de coração, comecei a pesquisar respostas cientificas que pudessem explicar tudo, não só como calcular a massa de um objeto ou a aceleração de sua queda, mas o que causava esse objeto a existir em primeiro lugar.

E dado que não consegui achar uma resposta na ciência, decidi avançar. Depois de ser um refusenik (Judeus soviéticos a quem era negada permissão para emigrar para o estrangeiro) durante dois anos, finalmente obtive a minha licença e parti para Israel em 1974.

Em Israel, continuei a procurar o sentido e a razão por trás de tudo. Dois anos depois de ter chegado a Israel, comecei a estudar Cabalá. Mas não foi até Fevereiro de 1979 que encontrei o meu professor, o Rabash, o filho primogénito e sucessor do Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) pelo seu comentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar.

Finalmente, minhas orações foram respondidas! Cada dia, cada hora , novas revelações despertavam em mim. As peças do quebra cabeça da realidade caíram em seu lugar uma de cada vez e uma imagem coerente do mundo começou a se formar perante mim, como se o nevoeiro em si mesmo estivesse se formando diante de meus olhos atônitos.

Minha vida havia sido transformada e eu submergia a mim mesmo nos estudos e em assistir o Rabash da maneira que conseguia. Era sortudo o suficiente para ser capaz de suportar a minha família com apenas algumas horas de trabalho todos os dias e dedi cava o resto do meu tempo a absorver a sabedoria tanto e quão profundamente podia.
Para mim, vivia numa realidade de sonho. Tive uma maravilhosa família, vivia num país onde me sentia realmente livre, tinha uma boa vida com facilidade e tinha encontrado as respostas às minhas perguntas vitalícias.

Uma dessas perguntas persistentes era aquela sobre o ódio aos Judeus. Na Cabalá, descobri porque acontece, porque é tão persistente e mais importante, o que deve ser feito para o curar. Certamente, antissemitismo é uma ferida no coração da humanidade, um eco de uma dor não curada que o mundo carrega há praticamente 4000 anos, desde Abraão, nosso Patriarca, ter deixado a Babilônia.

A Cabalá ensinou-me que Abraão tinha proposto ao seu povo se unir e ser uma vez mais de “uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), e que Rei Nimrod, governante da Babil ônia nessa altura, tinha proibido Abraão de circular a sua ideia. Gradualmente, vi que o que o mundo agora precisa é dessa mesma união, essa camaradagem e responsabilidade mútua que Abraão havia desenvolvido com seu grupo e descendência e que Rei Nimrod o tinha impedido de doar aos seus irmãos e irmãs Babilônios.

Em uma aula matinal, meu professor, o Rabash, ensinou-me a “Introdução ao Livro do Zohar,” de Baal HaSulam. No final dele, Baal HaSulam escreveu que a menos que os Judeus doassem ao mundo o conhecimento e orientação para a união, as nações do mundo desprezariam os Judeus, os humilhariam, os expulsariam para fora da terra de Israel e os atormentariam onde quer que estivessem. Havia lido esse ensaio insondável anteriormente, mas nessa manhã teve um impacto mais profundo em mim. Senti outra fase no meu desenvolvimento a emergir por dentro.

Mais tarde nesse dia, fomos até Kfar Sába, uma pequena cidade perto de Telavive, a um Kolel (seminário judaico) com o nome do meu estimado mentor. Na cave, o Rabash mostrou-me uma caixa de cartão de tamanho médio cheia até à borda de pequenos pedaços de papel. Ele perguntou-me se o levaria para o carro e o traria para a sua casa.

Coloquei a caixa na mala do carro e no caminho de volta perguntei -lhe o que eram esses papeis na caixa. Sem a menor cerimónia ele murmurou, “Alguns velhos manuscritos de Baal HaSulam.” Eu olhei para ele, mas ele olhou diretamente para a estrada à frente e manteve-se silencioso todo o caminho de volta.

Nessa noite, as luzes estavam acesas na cozinha de Baruch Ashlag toda a noite. Fiquei lá e li meticulosamente cada pedaço de papel até que descobri um que não me deixaria procurar mais. Era a peça do quebra cabeça que procurava sem sequer o saber. Era o capeamento, o primeiro passo na marcha que estava prestes a tomar doravante.

O papel que tinha encontrado, que é agora parte de “Os Escritos da Última Geração” de Baal HaSulam,” contava um conto de agonia e sede, amor e amizade, libertação e compromisso. Aqui estão as palavras que descobri: “Há uma alegoria sobre amigos que estavam perdidos no deserto, esfomeados e sedentos. Um deles havia encontrado um acampamento abundantemente cheio de cada delicia. Ele lembrou -se dos seus pobres irmãos, mas ele já se havia afastado deles e não sabia onde estavam. …Ele começou a gritar alto e a soprar o chifre, talvez seus pobres, amigos esfomeados escutassem sua voz, se aproximassem e viessem a esse acampamento abundantemente cheio de cada delícia.

“Assim é a questão perante nós: nós nos perdemos no terrível deserto juntamente com toda a humanidade e agora encontramos um grande e abundante tesouro, nomeadamente os livros da Cabalá. Eles preenchem nossas ansiosas almas e nos preenchem abundantemente com exuberância e acordo.

“Somos saciados e há mais, mas a memória dos nossos amigos deixados desesperadamente no terrível deserto permanece fundo dentro dos nossos corações. A distância é grande e palavras não conseguem abrir caminho entre nós. Por esta razão, temos de montar esta trombeta para soprar com força para que nossos irmãos possam escutar e se aproximar e serem tão felizes como nós.

“Saibam, nossos irmãos, nossa carne, que a essência da sabedoria da Cabalá consiste de conhecimento de como o mundo desceu do seu lugar elevado e celestial ao nosso estado ignóbil. …É desta forma muito fácil descobrir na sabedoria da Cabalá todas as correções futuras destinadas a vir dos mundos perfeitos que nos precedem. Através dela saberemos como corrigir nossas maneiras doravante.

“. . .Imaginem, por exemplo, que certo livro histórico fosse descoberto hoje, que descreve as últimas gerações milhares de anos a frente, descrevendo o comportamento tanto dos indivíduos como sociedade. Nossos líderes procurariam cada conselho para organizar a vida aqui correspondentemente, e nós não chegaríamos às manifestações nas praças. Corrupção e o terrível sofrimento cessariam e tudo chegaria pacificamente ao seu lugar.

“Agora, distintos leitores, este livro encontra -se aqui diante de vocês, em um armário. Ele afirma explicitamente a inteira sabedoria do estadismo e as condutas da vida privada e pública que virão a existir no fim dos dias. Eles são os livros da Cabalá, onde os mundos corrigidos estão dispostos. Abram estes livros e encontrarão todos os bons comportamentos que virão a aparecer no fim dos dias e encontrarão dentro deles as boas lições pelas quais ordenar as questões mundanas hoje também.

“…Não consigo mais me conter. Resolvi divulgar as condutas da correção do nosso futuro definitivo que descobri pela observação e pela leitura nestes livros. Decidi sair ao povo do mundo com esta trombeta e acredito e estimo que ela será suficiente para reunir todos aqueles que merecem começar a estudar e a mergulhar nos livros. Assim eles se sentenciarão a si mesmos e ao mundo inteiro a uma escala de mérito.”1

Cerca de um ano depois de descobrir estes artigos, publiquei os meus primeiros tr ês livros com a orientação e apoio do meu professor. Tenho publicado livros desde então e circulei a Cabalá por numerosos outros meios, também.
A realidade de hoje é muito dura, e as pessoas frequentemente não têm paciência ou desejo de mergulhar em livros, como Baal HaSulam imaginara. Mas a essência da sabedoria, o amor, e a união que são as fundações da realidade e que a Cabalá instiga nos seus praticantes, permanecem tão verdadeiras como sempre foram.

Além do mais, desde o virar do século, o antissemitismo tem aumentado uma vez mais, desta vez por todo o mundo. O espectro e o ódio aos Judeus enraizaram-se mundialmente. Se espalhando furtiva e venenosamente, ele ameaça infestar nações inteiras com fobia de judeus e repetir os horrores do passado.

Mas agora sabemos qual é a cura. Cada vez que os Judeus se unem, a serpente esconde a sua cabeça. O espírito de camaradagem e responsabilidade mútua que sempre foram a nossa “arma,” nosso escudo contra a adversidade.

Agora devemos reunir esse espírito, nos vestirmos com ele e deixar que o seu calor curativo nos rodeie. E assim que o tenhamos feito, devemos partilhar esse espírito com o resto do mundo, pois esta é a nossa vocação, a essência do nosso ser “uma luz para as nações.” E assim, porque todos precisamos de respostas para as nossas perguntas mais profundas, porque bem fundo todos os Judeus querem saber a cura para o antissemitismo e porque é o legado do meu professor e de seu pai e grande professor. Decidi detalhar o que significa ser um Judeu, o que significa ser comprometido e o que significa partilhar. Mas acima de tudo, eles me ensinaram o que significa amar o Criador.

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Michael Laitman, PhD

Como Um Feixe de Juncos  é um livro aprofundado de mais de 200 páginas por Dr. Michael Laitman que oferece introspecções atempadas e ferramentas pelas quais mudar a tendência ameaçadora de Antissemitismo e trazer uma perspectiva inteiramente diferente e solução para este velho demônio.

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