Quando uma marcha que defende a inclusão como seu lema exclui os judeus, não há mal entendido, é um sinal de perigo.
Participante com a bandeira de orgulho judia caminha pela Parada de Tel Aviv 2017. (foto:BECKY BROTHMAN)
Durante a Marcha de Chicago Dyke 2017 do mês passado, a verdadeira face da “inclusão” entre “progressistas” finalmente veio à superfície. Segundo o jornal oriundo de Chicago Windy City Times, a marcha decorreu calmamente com pessoas “de todas as raças e identidades de gênero” presentes, até que “o Colectivo da Marcha Dyke expulsou três pessoas que transportavam bandeiras de orgulho judias (uma bandeira arco-iris com uma estrela de Davi no centro).”
“Era uma bandeira da minha congregação que celebra minha identidade judia gay, que tenho feito há mais de uma década de marcha na Marcha Dyke com a mesma bandeira,” falou a participante expulsa Laurel Grauer para o Windy City Times.
O jornal também relata que “um membro do colectivo da Marcha Dyke falou quando questionado pelo Windy City Times, que foi dito às mulheres que fossem embora pois as bandeiras ‘faziam as pessoas se sentirem inseguras,’ que a marcha era ‘anti-sionista’ e ‘pro-palestiniana.'” Lá se vai a inclusão.
Eleanor Shoshany Anderson, outra das participantes expulsas, lamentou, “Senti que, enquanto judia, não sou bem-vinda aqui.” Ela está certa, os judeus não são bem-vindos entre os progressistas, liberalistas e esquerdistas. Num futuro próximo, isto se tornará cada vez mais perceptível e por uma razão muito boa.
O “Estranho” Entre as Nações
O antissemitismo não aparece do nada. Ele persegue nossa nação desde sua origem e está directamente conectado à nossa vocação comum.
Bem desde o início, nossa nação tem sido um “estranho” entre as nações. De facto, não só fomos estranhos, mas habitualmente em desacordo com aqueles que nos rodeavam, frequentemente com as pessoas mais próximas de nós. Abraão discordou com seu pai, que fez com que fosse julgado e condenado à morte por Nimrod, Rei da Babilónia. Isaac e Jacób estavam em desacordo com seus irmãos e José estava em desacordo com sua família, mas principalmente em desacordo com o resto da nação.
Depois da nação ser estabelecida, seus membros ainda assim frequentemente estavam em desacordo uns com os outros, mas também então em desacordo com o mundo inteiro. Onde quer que fossemos, nossos anfitriões nos odiaram, nos atormentaram e finalmente nos expulsaram, senão nos exterminaram por completo. Até em países que inicialmente nos acolhiam no seu meio acabaram por impiedosamente nos expulsar.
Hoje, o ódio para o povo judeu e seu estado nação, Israel, uma vez mais está a aumentar. Se, até hoje, os judeus do lado esquerdo do mapa político podiam dizer para si mesmos que suas visões progressistas e apoio dos inimigos de Israel os poupariam do duro criticismo jogado contra o estado judeu, espero que o evento da Marcha de Chicago Dyke seja o começo do entendimento de que o inteiro povo judeu está hoje em perigo.
Como começou o Judaísmo e Como Sua Queda Criou o Antissemitismo
Quando Abraão, o inquisidor filho mais velho de um estimado fabricante de estatuetas de Ur dos Caldeus, na Babilónia, que ocasionalmente ficava no lugar do seu pai na loja, reparou que o povo de Ur cada vez mais estava infeliz, isso o incomodou. Segundo várias fontes tais como o Mishnê Torá de Maimónides e o Midrash Rába, Abraão começou a caminhar pela cidade e pelo país tentando entender por que as pessoas eram tão miseráveis.
Passadas muitas noites sem dormir e muitos dias a observar a natureza, ele entendera que toda a realidade mantém sua estabilidade através do equilibrio de dois elementos opostos: dar e receber, altruísmo e egoísmo. Mas aquilo que se aplicava a toda a realdiade, não se aplicava aos humanos. As pessoas, assim aprendera ele, são egoístas até ao núcleo. Alguns séculos mais tarde, Moisés capturou a essência das perspectivas de Abraão em relação à natureza humana através de versículos tais como “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21), “Pecado rasteja à porta” (Génesis 4:7) e “Grande é o mal do homem na terra; toda a inclinação do pensamento do seu coração é somente mal o dia inteiro” (Génesis 6:5).
Abraão não guardou suas descobertas para si mesmo. Assim que ele se apercebera do egoísmo da natureza humana, ele começou a desenvolver um método de correcção que permitisse às pessoas se elevarem acima do seu ódio e portanto instalarem o elemento positivo que existe em todo o lado excepto entre os humanos. Segundo Maimónides, o Rei Nimrod perseguiu e finalmente expulsou Abraão da Babilonia precisamente porque ele desejava compartilhar suas ideias, que pareciam ameaçar a hegemonia do rei. Todavia, enquanto abraão deambulava para aquilo que se iria tornar a Terra de Israel, ele escreveu livros sobre seu método e ele e Sara ensinaram a toda a pessoa que quisesse aprender o método da união.
Embora Abraão pretendesse compartilhar seu método com todos os Babilónios, porque ele fora expulso de sua pátria, ele teve de contentar por ensinar somente aqueles que o seguiram, deixando o resto daquilo que agora chamamos “o berço da civilização” a chafurdar no egocentrismo e ódio até que seu império se desmoronasse e eles se dispersassem.
O livro Pirkei de Rabi Eliezer (Capítulo 24) descreve a situação na Babilónia através da sua descrição da alienação entre os construtores da Torre de Babel. “Se um homem caisse e morresse, eles não lhe prestariam qualquer atenção,” está escrito no livro. “Mas se um tijolo caisse, eles se sentariam e lamentariam, ‘Ai de nós; quando tomará outro o seu lugar?'” Enquanto sua alienação cresceu até ao ódio, eles “queriam falar um com o outro mas não conheciam a língua um do outro. O que fizeram eles? Cada um pegou na sua espada e lutaram uns contra os outros até à morte. Certamente, metade do mundo ali morreu e de lá se dispersaram por todo o mundo.”
Está escrito no Mishnê Torá que Abraão legou seu conhecimento aos seus discípulos e ao seu filho, Isaac, que então o legou a Jacób. Jacób, por sua vez, ensinou a seu filho, José, que desejou unir seus irmãos. Apesar da rejeição inicial que ele sofrera de seus irmãos, José eventualmente os uniu ao seu redor e eles prosperaram na terra do Egipto.
Todavia, quando José morreu, os hebreus quiseram abandonar o método da correcção do ego e serem assimilados entre os Egípcios. “Quando morreu José,” está escrito no Midrash, Shemot Rába, disseram os hebreus, “Sejamos como os Egípcios. Porque eles assim fizeram, o Senhor transformou o amor que os Egípcios tinham por eles em ódio, como foi dito (Salmos 105), ‘Ele transformou seus corações para odiarem Seu povo, para abusarem dos Seus servos.'” A escravidão e perseguição dos hebreus no Egipto foi talvez o primeiro caso distinto de antissemitismo. Os eventos que se seguiram estão escritos na Torá e se tornaram o símbolo da luta do homem pela liberdade.
Contudo, inicialmente, os Egípcios deram a Israel o melhor da terra e tratamento de realeza. Então é vital nos lembrarmos que a perseguição dos judeus começou não porque os Egípcios subitamente se tornaram odiosos de judeus. Isso aconteceu porque os próprios judeus haviam começado a rejeitar o caminho da união e procuravam se tornar como o resto dos Egípcios: egoístas e egocêntricos.
Para triunfar sobre os Egípcios, Moisés não atiçou os hebreus para a revolta violenta. Tudo o que ele pediu a Faraó foi uma chance para estrem juntos, o povo inteiro. Assim que eles escaparam do Egipto, Moisés transformou os hebreus numa nação pelo seu juramento de se unirem “como um homem com um coração.” E para se certificar que eles não se esqueciam que tinham de transmitir o método da correcção ao mundo inteiro, a recente nação hebraica imediatamente foi encarregue de ser “uma luz para as nações.”
Desde esse dia, o mundo tem sido ambivalente para a nação judia. Somos sempre elevados a um padrão superior em relação resto do mundo. Ao mesmo tempo, somos acusados de todo o golpe que atinja as nações. Aquilo que chamamos de antissemitismo é na realidade a acusação das nações de que não estamos a levar a cabo nossa vocação de mostrar ao mundo o caminho para a união. Evitando-o, estamos a fazer com que eles continuem a se odiar uns aos outros, ódio é a origem de toda a dor e sofrimento desde o começo dos tempos.
No passado fim-de-semana, outro acto antissemita nos lembrou da natureza da culpa das nações quando vandalos cobriram um local de memória do holocausto com um lençol que continha a inscrição, “Hebreus não nos dividirão.”
O mais notável antissemita da história americana, Henry Ford, reconheceu o papel dos judeus para a sociedade no seu livro O Judeu Internacional – O Principal Problema do Mundo: “Não está esquecido que certas promessas lhes foram feitas em relação a sua posição no mundo e é dito que estas profecias serão concretizadas. O futuro do judeu está intimamente conectdo ao futuro deste planeta.”
Depois do seu compromisso para a união e a concepção da nação, os judeus experimentaram numerosos conflitos e reconciliações. Porém, todos eles fizeram parte da aprendizagem para equilibrar o ego com o altruísmo. Está escrito no Livro do Zohar sobre isso (porção, Beshalach): “Todas as guerras da Torá são pela paz e pelo amor.” Este método é o motivo dos judeus terem concebido conceitos tão sublimes como a caridade, responsabilidade mútua e preocupação com o estranho muito antes que qualquer outra nação desenvolvesse qualquer tendência para a compaixão e consideração.
Até aproximadamente a ruína do Segundo Templo, nós (mais ou menos) nos seguramos ao método da correcção. Mas perto desse tempo, o ódio entre nós dominou a nação e nos separou na totalidade. Foi por isso que nossos sábios não apontaram para um inimigo externo como a causa de nosso exílio e destruição do Templo, mas para o ódio infundado entre nós.
Desde então, cada vez mais nos tornamos alienados e odiosos de uns pelos outros e até hoje o mundo não nos consegue suportar. Enquanto indivíduos, as pessoas podem não desgostar dos judeus. Há pessoas decentes entre nós tal como há pessoas decentes em todo o lado. Mas enquanto nação, o claro contraste entre a união que é suposto projectarmos e a abominação de uns pelos outros que projectamos de facto é a causa do ódio das nações pela nação judia e pelo estado judeu.
Até Adolf Hitler não odiava todos os judeus. Seu comandante companheiro durante a Primeira Guerra Mundial era um judeu chamado Ernest Hess e Hitler instruiu Himmler para o proteger. Como resultado, em 27 de Agosto de 1941, Himmler instruiu à polícia secreta para conceder a Hess “o alívio e a protecção segundo os desejos do Fuhrer.” Todavia, isto não ajudou os judeus enquanto nação ou semelhante assim que Hitler determinara executar a Solução Final.
Procurando uma Sociedade Unida
Em busca de um remédio para os males da sociedade, a humanidade adoptou quase toda a ideologia e toda a forma de governo. Todavia, todas falharam pois em prol da sociedade manter sua estabilidade, primeiro devemos equilibrar nosso egoísmo com a união. Até alcançarmos isto, eventualmente o ego sempre vai dominar e toda a forma de governo e ideologia estão destinados a declinar para o fascismo ou nazismo, ou para ambos.
Agudamente consciente dos defeitos da sociedade, Henry Ford procurou respostas nos judeus. Quando ele não as conseguiu achar no judaísmo dos tempos modernos, ele procurou e as encontrou no nosso passado. “Os reformistas modernos, que constróem os sistemas sociais exemplares, fariam bem em olhar para o sistema social sob o qual os primeiros judeus se organizavam,” escreveu ele. Ao mesmo tempo, ele detestava a judiaria americana moderna, que está cheia de divisão e egoísmo.
Por falta de união, as pessoas concebem todos os tipos de noções, tais como a interseccionalidade. Elas fazem marchas que celebram a inclusão, mas elas excluem os judeus delas porque a divisão entre os judeus é a razão pela qual elas não se conseguem suportar umas às outras em primeiro lugar. Subconscientemente, elas dizem para os judeus: “Deixem-nos e unam-se entre vocês! É isto que precisamos de vós!”
No seu livro Os Judeus na Alemanha de Weimar, Donald L. Niewyk escreve que em 1929, Dr. Kurt Fleischer, lider dos Liberalistas na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, salientou a conexão entre o antissemitismo e a desunião judaica: “O antissemitismo é o flagelo que Deus nos enviou em prol de nos conduzir juntos e nos manter juntos,” salientou ele. Quão trágico é que os judeus nesse tempo não seguiram esta observação.
No despertar da disputa reacesa à volta das áreas de oração do Kotel [Muro das Lamentações], David Friedman, Embaixador Americano para Israel, fez um forte apelo pela união entre nós. Todavia, como notou Caroline Glick na sua coluna, “O verdadeiro problema aqui é que enquanto todos os envolvidos falam da necessidade da união judaica, nenhum dos envolvidos na conversa parece motivado para trabalhar para essa meta.”
Hoje, penso que devemos nos unir independentemente. É claro que não estamos motivados. Como pode qualquer pessoa razoável querer se unir com uma pessoa que ela odeia? Porém, deve estar claro para nós que nosso ódio de uns pelos outros está a incitar o mundo contra nós.
Está escrito no Midrash Rába, “Esta nação, a paz mundial reside dentro dela” (Bereshit Rába, Capítulo 66). Mas se não há paz entre nós, como pode haver a paz no mundo? No seu livro Orot (Luzes), o Rav Kook escreveu, “A construção do mundo, que presentemente está desmoronado pelas terríveis tempestades de uma espada ensanguentada, requer a construção da nação israelita. A construção da nação e a revelação do seu espírito [de união] são uma e a mesma coisa e são uma e a mesma coisa com a construção do mundo, que se desmorona em antecipação pela força da união completa e sublimidade.”
Certamente, não podemos dizer que não sabíamos: Nossa segurança e aceitação entre as nações dependem inteiramente da nossa voluntariedade para sermos uma luz de união para todas as nações.
Publicado originalmente no The Jerusalem Post