Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Pêsach

‘Mão de Deus no Êxodo e a Travessia do Mar Vermelho,’ pintura de mural da sinagoga de Dura-Europos na Síria. (crédito:Wikimedia Commons)

Em breve, como fazemos todos os anos, estaremos sentados novamente à volta da mesa do séder.

De acordo com o calendário Judeu, Pêsach é na realidade o começo do ano. Oficialmente, o ano começa em Rosh HaShaná, mas o calendário Judeu também tem um nível mais profundo, escondido, que descreve nosso desenvolvimento interior, espiritual.

A nação Judia é uma especial. Ela foi formada não por afinidade biológica ou proximidade geográfica, mas por adesão a uma ideia – a ideia da união! Nos tornámos uma nação somente quando concordámos viver “como um homem com um coração” e nos foi dada a tarefa de sermos “uma luz para as nações” quando prometemos amar nossos próximos como a nós mesmos. E Pêsach é quando tudo começou.
Até que Moisés nascesse, o povo de Israel era muito feliz no Egipto. Eles eram prósperos e ricos e desfrutavam das amenidades da vida de “potes de carne” e “pão até enfardar” (Êxodo 16:3). Mas o contentamento material só nos consegue levar até aí. É da natureza humana que assim que tenhamos o que queremos começamos a querer outra coisa, algo superior. Nesse ponto começámos a procurar prazer na conexão humana.

Esse momento de começo é o nascimento de Moisés – uma aspiração pela fraternidade e conexão. Ela sempre existiu, amadurecendo na casa de Faraó e desfrutando dos prazeres materiais que a vida tem para oferecer até ser preenchido.

Nesse momento começa o exílio no Egipto. Faraó, nosso egoísmo, não se consegue render a tais ideias “sublimes” como a fraternidade, conexão e responsabilidade mútua. Ele as abomina e despreza.

E porém, quanto mais os filhos de Israel se desenvolveram como indivíduos e como sociedade, mais eles sentiram que a união era o próximo passo, um cenário obrigatório. Os filhos de Israel atravessaram por um processo semelhante a aquele que hoje acontece, em que nos apercebemos que nossa felicidade, saúde e bem-estar geral dependem da qualidade de nossas relações sociais. Faraó não queria torturar os filhos de Israel; ele queria simplesmente que eles o continuassem a abastecer, nomeadamente ao ego, em vez de seguirem Moisés, portanto a meta da fraternidade e cuidado mútuo. E quando eles não o acompanhavam, ele tornava-se o rei perverso que conhecemos da história.

Nossos antepassados insistiram na sua união e eventualmente venceram. Eles se uniram no pé do Monte Sinai e receberam a lei, cuja essência o Sagrado SHLAH exprime com estas poucas palavras: “Amor é o mandamento sobre o qual a inteira Torá se apoia: ‘Ama teu próximo como a ti mesmo.'” Os filhos de Israel cuidadosamente se apuraram do chametz [fermentado], o egocentrismo dentro deles e passaram do egoísmo para a fraternidade até que se tornaram uma nação atada junta e unida pela visão do amor pelos outros.

Hoje, quando despertamos do Sonho Americano para a realidade de que não podemos basear nossas sociedades na competição e isolamento, estamos a começar a sentir-nos mais e mais como os filhos de Israel no exílio. Até agora o Egipto era bem divertido, mas agora está a tornar-se hostil e parece-se mais e mais ao exílio.

Agora é a hora de reacender nossa fraternidade e amor pelos outros e passar uma vez mais. É o começo de um novo ano, uma nova era na nossa sociedade. Está na hora de mudar para um novo paradigma de relacionamentos.

A cultura “Eu, eu, eu” se esgotou a si mesma pois simplesmente não somos felizes estando confinados a nossas conchas separadas. Em prol de sermos felizes, nós, os descendentes dos filhos de Israel, devemos mudar como nossos antepassados do egoísmo para a fraternidade e responsabilidade mútua.

Imagine a vida que teremos quando cuidarmos uns dos outros. Ninguém terá de lutar pelas provações da vida pois todos vão ajudar todos os outros. E em semelhança, vamos desfrutar de ajudar os outros. E enquanto cada um de nós contribui para os nossos próximos, nossos laços se fortalecem e criam uma conexão que construirá uma sociedade baseada na amizade, calor e união. “Ama teu próximo como a ti mesmo” deixará de ser um cliché e se tornará o que desde sempre devia ter sido – a nossa realidade.

Recentemente têm havido numerosas referências na imprensa sobre a desunião da comunidade Judaica. Esse é um bom sinal. Isso mostra que estamos a começar a ver a fragmentação e a alienação como a raiz de nossos problemas. Nós sempre teremos a diversidade, mas em vez de a temer, devemos abraçá-la! Quão mais diversos formos, mais nossa fraternidade crescerá, enquanto valorizarmos a união acima de tudo o resto.
E há outro bónus. Quando nos unirmos acima de nossas diferenças apresentaremos um modelo de uma comunidade próspera que tem sucesso devido a sua diversidade, em vez de apesar dela. Isto é algo de que o mundo desesperadamente necessita hoje. Nós podemos oferecê-lo. Nós o tivemos quando saímos do Egipto e podemos reacendê-lo agora e compartilhá-lo com o mundo. Nisto nos podemos tornar “uma luz para as nações” um farol de esperança para o mundo.

Nesta Pêsach, vamos passar da alienação para a fraternidade, da indiferença para a responsabilidade mútua. Abreviadamente, vamos todos sair do Egipto, juntos.

Michael Laitman, um Professor de Ontologia, um PhD em Filosofia e Cabala e um MSc em Bio-Cibernética aplicada à Medicina, foi o principal discípulo do Cabalista, Rav Baruch Shalom Ashlag (o RABASH). Ele escreveu mais de 40 livros, traduzidos para dezenas de idiomas e é um orador procurado.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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Publicado em Artigos, Notícias