Na última semana, celebrámos a libertação de nossos antepassados da escravidão. Alguns fizeram-o com Gefilte Fish, alguns saborearam o Fatoot (sopa iemenita com matzá), alguns se deliciaram em Mina (tarde de carne com matzá, popular entre os Judeus dos Balcãs), ou com certa outra comida tradicional que desfruamos na noite de Pessach.
Tradições de lado, a essência do séder de Pessach é a mesma para todos nós. Mas a história de Pessach não termina quando as paredes do mar dividido se desmoronam sobre os Egípcios e se tornam seu túmulo marítimo. Esse é só o começo de uma jornada.
Como escrevi na coluna da semana passada, para entender o verdadeiro poder da história do êxodo do Egipto devemos olhar além da narrativa tradicional. Em uma das suas cartas, Maimónides escreveu, “Devemos saber que Faraó é certamente a inclinação do mal.” Então Faraó e consequentemente o Egipto, reflectem um lado de nós que preferimos ver nos outros, em vez de em nós mesmos: o ego.
Mas fora do Egipto fomos liberados do nosso opressor, o ego e pudemos começar a formar a qualidade única que nos fez uma nação. Começámos a formar a fraternidade e união. A partir daqui começa uma jornada que culmina no pé do Monte Sinai, onde prometemos nos unir “como um homem com um coração,” deste modo nos tornando uma nação.
Nossa fraternidade nos havia mantido fortes durante gerações. Ela era nossa “principal defesa contra a calamidade” como o Maor Vashemesh o coloca. Nem sempre a conseguimos manter, mas conseguimos restaurá-la de tempos a tempos, até que não conseguimos mais. Essa hora fatídica, há cerca de dois milénios atrás, foi a ruína do Templo e o exílio — o resultado de nosso próprio ódio infundado.
Imersos no egoísmo e contendas, nos tornámos o “Judeu deambulante,” sempre procurando abrigo, mas sempre guardando “uma mala feita.” A luz da união que nos havia sido destinada emitir havia esmaecido e as nações começaram a questionar se nós somos verdadeiramente “o povo escolhido.”
Mas trágicas circunstâncias nos trouxeram de novo para a terra de nossos antepassados e para a liberdade. Ganhámos novamente a soberania e reconstruímos nossa força, mas ainda nos falta lembrar para que servem elas. Sendo um porto de abrigo para os Judeus é uma causa digna, sem dúvida.
Mas a fenda crescente entre Israel e os Judeus da Diáspora diz-nos que há mais sobre Israel que se tratar de um “campo de refugiados” espaçoso. Nosso país forte e soberano pode realizar seu destino. Mas em vez de sermos uma luz para as nações, estamos ocupados a brigar entre nós, demonstrando completa incompetência no que diz respeito à união e fraternidade e em vez de sermos “uma luz para as nações,” nos orgulhamos de sermos uma nação de incubadoras de empresas. A tecnologia é óptima como meio auxiliar, mas se é isto tudo o que temos para oferecer ao mundo, então devemos fazer séria introspecção sobre o que somos enquanto estado Judeu.
Há poucas semanas atrás, a Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO) votou (com uma maioria de 33-6!) a favor de uma declaração de que Israel não tem parte no Monte do Templo. O mundo simplesmente não faz ideia de por que estamos aqui. É nosso trabalho mostrar que estamos aqui em prol de nos unirmos e espalharmos essa união pelo mundo, para todas as nações. Ser-se “uma luz para as nações” significa dar um exemplo de fraternidade e responsabilidade mútua, preocupação, consideração e empatia, precisamente aquilo que o mundo mais precisa. A responsabilidade que estabelecemos no pé do Monte Sinai foi um “conceito comprovado,” se preferir. Mas agora é hora de a espalhar e ajudar o mundo a encontrar a paz.
Tal como emergimos da opressão do ego quando saímos do Egipto, nosso mundo pós-moderno, super-tecnológico está a procurar um caminho de saída do egoísmo que se tornou maligno. Nós, tal como Moisés, temos de mostrar o caminho. Sem nosso exemplo de superar o ódio, a humanidade vai quebrar-se em pedaços.
O mundo acusa-nos de provocar a guerra não porque o façamos, mas porque não estamos a espalhar a paz — primeiro entre nós, uma espécie de “ensaio prático” e imediatamente depois entre todas as nações. Nós não fomos “escolhidos” para ser a Tailândia do Médio Oriente, mas para ser um povo virtuoso, cuja qualidade é a misericórdia e cuja meta é compartilhá-la. Quando nos tornarmos isto, não haverá questão que é nosso direito termos um estado soberano e precisamente onde pensamos que ele deve ser.
Passados milhares de anos no exílio, somos agora livres de levar a cabo nossa missão. É uma oportunidade que não nos devemos permitir perder. As diferenças entre nós são um abismo profundo. Mas como o Rei Salomão disse, “Amor cobre todos os crimes.” Não devemos temer nossas diferenças, mas vê-las pelas pontes que elas são. Quanto mais subirmos acima delas e nos unirmos, mais forte nosso laço será e mais brilhante nossa luz vai brilhar.
Tomemos estes últimos dias de Pessach e usemos este fim-de-semana para cultivar a fraternidade e amizade. É imperativo para o nosso sucesso hoje, como país e como nação, onde quer que vivamos.
Michael Laitman, um Professor de Ontologia, um PhD em Filosofia e Cabala e um MSc em Bio-Cibernética aplicada à Medicina, foi o principal discípulo do Cabalista, Rav Baruch Shalom Ashlag (o RABASH). Ele escreveu mais de 40 livros, traduzidos para dezenas de idiomas e é um orador procurado.
Publicado originalmente no The Jerusalem Post