Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
− Em psicologia, uma “fronteira” é determinada como o lugar onde meus interesses colidem com os interesses das pessoas ao meu redor. Como acontece frequentemente, o recurso desejado é limitado. Nesse caso, dois cenários podem se desdobrar: ou eu obtenho esse recurso de outra pessoa ou eu luto para possuir o recurso. No conceito de sociedade integrada, o ser humano do futuro vai ceder ou lutar?
− Nenhum dos dois. Vai afirmar o que é compartilhado, e apenas o que é compartilhado. Não há “seu” ou “meu”. Você e eu temos a propriedade dos recursos em conjunto, e isso não significa que cada um de nós tenha sua própria metade, mas que o recurso é compartilhado. Esse é o objetivo da educação integrada.
− Quando os americanos tentaram civilizar os índios, encontraram um problema: os indígenas não possuíam propriedade privada. Eles não entendiam o significado de “roubar” ou “tomar a propriedade alheia”, porque tudo era compartilhado em sua comunidade.
− Agora você está descrevendo algo similar. Isso significa que não deve haver propriedade privada?
− Isso mesmo. Os índios não possuíam propriedade privada antes de o egoísmo surgir. Mesmo agora, na maioria deles, o egoísmo está em um nível muito baixo de desenvolvimento. Estou familiarizado com algumas dessas pessoas e eu mesmo tive a oportunidade de observá-las no Canadá.
Hoje, porém, estamos no pico mais alto de desenvolvimento egoísta. Nosso egoísmo é enorme, exigindo satisfação constante, independentemente de todos e, inclusive, apesar deles. Eu gosto de ser superior aos outros. Quanto pior outra pessoa se sinta, melhor me sinto.
Em nosso estágio atual, temos de criar uma sociedade na qual sentirei que tudo pertence a todos, incluindo eu mesmo, o que significa que eu pertenço a todos e não a mim mesmo. Não deve haver nada em mim que eu possa chamar meu próprio “eu”, mas apenas “nós” e “nosso”.
Nós, não os índios, somos os únicos que temos de conseguir isso hoje. Esse trabalho exige esforço enorme, educação e ensino, mas, quando acontecer, será uma correção séria da natureza do homem. Por meio do egoísmo corrigido, sentiremos uma realidade completamente diferente, um mundo diferente!
− Deixe-me ser mais específico. Suponha que haja cinco crianças e três cadeiras, e todas as cinco queiram se sentar. Como a situação deve ser tratada?
− Elas devem ser educadas de modo que, se não há cadeiras suficientes, elas não deveriam desejar se sentar em uma cadeira, mas prefiram se sentar no chão, ou pelo menos insistam para que alguém se sente na cadeira. Temos de incutir nelas o entendimento de que, se outra pessoa se beneficia, então eu também me beneficio.
Isso não é fácil, mas as crianças aceitam naturalmente, especialmente na idade de 9 ou 10 anos. Captam muito mais naturalmente do que adolescentes de 12 anos ou jovens adultos com 17 ou 18 anos. Nessa idade precoce, é possível criar os pré-requisitos para resolver os problemas de “meu”, “seu” e “nosso”.