Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Na vida frequentemente encontramos situações onde uma criança tem de completar um trabalho que ela não quer fazer, mas entende que não fazê-lo vai infligir uma punição. Ela se encontra a si mesma apertada entre estreitos, passo a expressão.
– É necessário discriminar com absoluta clareza que esta abordagem está incorrecta. A criança tem de ser transferida para um tipo diferente de aperto: por um lado, a sociedade a pressiona e por outro lado, ela se vê a si mesma e se associa a si mesma à sociedade.
Não haverá um tratamento de punição dominante sobre ela. Ela mesma vai entender que inversamente ela não vai ganhar a aprovação da sociedade, que ela tanto deseja. Para ela é precisamente este o método para medir e se avaliar a si mesma, ao seu “Eu.”
Por outro lado, teremos de lhe dar a capacidade de controlar o seu “aperto,” ou seja a força de correcção compulsiva. Isto é possível se a criança entender de sua própria vontade que ela tem de fazer o seu trabalho-de-casa ou arrumar o seu quarto.
Suponhamos que meus pais iam de férias e me deixavam sozinho em casa, encarregue da casa. Mas em vez de desfrutar disso, eu tenho de limpar a casa pois quando os pais regressarem a casa eles me vão punir se eu não o fizer. Portanto, incapaz de evadir a punição, eu amaldiçoou minha vida minúscula e começo a fazer aquilo que é esperado que eu faça.
– Ou eu não o faço de todo.
– Neste caso, tudo depende da punição. Se ela for correcta, então da próxima vez eu não estarei à procura de uma maneira de evitá-la.
Suponhamos que a punição me força a superar a minha preguiça. Isto é, o sofrimento dela tem de ser maior que o prazer de ser preguiçoso. É assim que tentamos corrigir os animais, nós os punimos para que eles não repitam o seu crime.
Mas o que podemos fazer para que a criança entenda que tipo de tarefa a Natureza, a sociedade, ou seus pais lhe deram, um entendimento pelo qual ela seja capaz de superar a sua involuntariedade para fazer aquilo que é exigido dela? Falando na prática, qualquer tarefa que se resuma a superar a preguiça, egoísmo, o desejo de ter prazer da pessoa e levar a cabo uma tarefa que não lhe dê qualquer prazer. Onde vou eu buscar a energia para isso?
O medo da punição me dá energia negativa. O castigo pode parecer tão horrível que eu levarei a cabo a tarefa involuntariamente enquanto amaldiçoou tudo no mundo.
Mas é também possível criar um meio circundante, livros e uma sociedade, que apresentem esse mesmo trabalho para mim numa luz positiva. Para uma criança, isto pode ser algo como uma excursão e para os adultos uma descoberta interessante. Isto funciona somente se a sociedade circundante realmente aprove esta tarefa e a louvar.
Então o próprio trabalho se torna prazer. Eu não só não serei punido, mas talvez os pais até me recompensem com um quilo de gelado. O que é importante não é isto, mas o facto de que eu recebo prazer por este trabalho ser importante aos olhos das pessoas que me rodeiam. Eu não abro mão dele para ninguém. Eu próprio o farei porque ele se torna importante para mim.
Tudo depende do jeito através do qual criamos um meio ambiente à nossa volta que louve qualquer acção anti-egoísta, até a mais difícil, a tal medida que dê tanta importância que a vamos executar com prazer. E é assim que avançamos com alegria.
Para concretizar isso, deve ser ensinado à criança a ser psicóloga de si mesma e a saber como criar o meio ambiente certo. Ela tornará a sua vida agradável, embora ela lhe apresente constantemente novos problemas e barreiras ante ela. Mas ela vai olhar para eles como níveis que conduzem para um estado superior que é valorizado pela sociedade.
O problema reside em criar uma sociedade circundante e perto da criança que sempre a ajude a valorizar os esforços anti-egoístas. É isto que temos de fazer e temos de ajudar toda a pessoa a fazer isto.
– Como podemos fazer isso? Um dos meus amigos tem de escrever uma dissertação agora porque é necessário para o seu trabalho e para o seu progresso. Então deve cada pessoa no seu meio ambiente dizer-lhe quão importante é isto para o bem comum?
– É claro! Ele vai se sentar e vai escrever e vai completar a obra em dois meses! Você sabe que é possível trabalhar numa dissertação durante anos, ou isso pode ser feito literalmente durante vários meses. Tudo depende da tensão interior e você quer que essa tensão seja positiva.
Essa é a única maneira como eu trabalho. Eu acumulo os impulsos necessários que me obrigam, os ventos que inspiram, encorajam e me exaltam. E então começo a me sentir entusiasmado e revigorado, revelando completamente novos canais de percepção e sensação e modos de expressar as coisas. Isto é necessário.
Você me pergunta, “Como pode isto ser feito?” Nós temos de criar uma pequena sociedade ao redor de cada pessoa que se torne o seu diapasão para se sintonizar correctamente nestas acções anti-egoístas. Com a sua ajuda a pessoa será capaz de se levantar a si mesma constantemente. E isto se tornará a sua inspiração e alegria.