Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Assim como qualquer outra profissão, a profissão de educador envolve deformação profissional. Ou seja, qualquer atividade que uma pessoa desempenhe a modifica, distorce a sua personalidade e atenua certos traços de personalidade.
– Exceto nesta profissão, uma vez que todas as pessoas no mundo terão de se tornar seus próprios educadores e estudantes de si mesmos. E cada uma delas terá que se posicionar da mesma maneira em relação aos outros. Uma pessoa entende a sociedade, o meio ambiente e o meio ambiente consiste em todos, assim todos devem ser simultâneamente um professor e uma criança.
– Durante muitos séculos, os professores receberam títulos de oficiais. Eles andavam por todo o lado com armas e outros atributos masculinos. A metade dos educadores da sua organização também são ex-oficiais do exército. Eles são sérios, homens atléticos.
– Muitos deles serviram no exército e alguns têm altos títulos de oficial.
– É apropriado trazer a masculinidade ao coletivo masculino para diferenciar os homens das mulheres, para alterar a sociedade “unissexo” que existe agora?
– Não deve haver nenhum “unissexo”! Os meninos têm que se sentir como homens, como os donos do planeta, preparando-se para realmente possuí-lo. E não apenas o planeta, mas o universo inteiro. Isso é necessário.
Nos nossos grupos nós estudamos a natureza do homem, sua liberdade de escolha, a oportunidade de realizá-la e a influência de uma pessoa no mundo. Ao estudarmos, vemos que não se pode conquistar a Natureza pela força. Atualmente, o homem não faz nada além de mutilá-la, criando um ambiente inabitável para si mesmo. Portanto, é improvável que as crianças respeitem a força nos seus educadores e professores.
Os rapazes têm uma inclinação física para desportos e jogos. Isto lhes dá uma compleição física para fazer uso da mesma quando necessário. E há educadores que realizam essas sessões. Mas é claro que eles não influenciam as crianças com a sua força física.
– Nós dissemos que os educadores têm que alternar, e um rapaz tem que estar acostumado a expressões de qualidades completamente diferentes nos educadores. Mas da nossa parte, somos insuficientemente educados e, portanto, sem percebê-lo, um educador automaticamente suprime as crianças. O que podemos fazer para que isso não aconteça?
– Tudo deve ser destinado a permitir que as crianças se auto-eduquem, para que elas se organizem e realizem as suas próprias discussões e tribunais. O educador é como um “agente secreto” em seu meio, guiando ligeiramente esses processos.
Mas se a situação fica inflamada e as crianças são incapazes de estabelecer as coisas por conta própria, então este é o único caso em que o educador pode se expressar como organizador e educador, usar sua autoridade e forçá-las a voltar ao estado correcto.
– Como podemos evitar que a influência autoritária do educador se torne uma razão para temê-lo?
– O uso da força física nem sequer é um tópico para discussão! As crianças têm que ver que o educador intervém apenas para colocá-las de volta dentro dos limites. E para conseguir isso, ele só pode usar a explicação.
Em cada grupo de 10 crianças, deve haver 2 educadores. E se qualquer criança se torna desobediente e interfere com os estudos de todos, ela deve ser influenciada pelo grupo e isso deve acontecer imediatamente. Cada criança deve ser constantemente moldada através do grupo. Essa é a única maneira de como deve acontecer.
Claro,isto é uma arte! Mas é uma arte fascinante, o que lhe dá a chance de ver imediatamente os frutos do seu trabalho.
É expressa em crianças muito rapidamente e permanece nelas naturalmente. Elas imediatamente se adaptam e imediatamente se esquecem porque o egoísmo cresce constantemente, especialmente durante a infância. Explode, como se nada fosse criado há um minuto atrás, apagando instantaneamente tudo, e você vê um egoísta à sua frente novamente. Então, onde foi tudo? Não foi a lugar algum. Somente maior egoísmo veio agora à tona. Este cresce constantemente e um educador deve formatá-lo em uma atitude altruísta e integral para todos.
– Você disse que é muito importante para um instrutor tratar uma criança como um adulto. Mas uma criança não é um adulto.
– Ela não deve ser tratada como um adulto, mas como pessoa independente e responsável. No entanto, isso deve ser feito sem forçá-la ou pressioná-la. Tem que acontecer no nível que uma criança tem que se comportar de acordo com a sua idade.
– Há uma dificuldade aqui. Por um lado, relaciono-me com a sua opinião de forma séria e respeitosa, mas, ao mesmo tempo, tenho sempre que me lembrar que ainda é criança. Ou está errado?
– Nossa vida inteira é um jogo. O que isso significa para nós? Temos que mostrar às crianças como nos relacionamos com elas e o tipo de comportamento que esperamos delas. Uma vez que estejamos convencidos de que elas entenderam e aceitaram a nossa abordagem, que elas a viram, pedimos que elas mostrem a mesma abordagem para as crianças mais novas, o que nos permite ver como elas a entenderam. Ou seja, nós verificamos se elas podem “sentir-se bem” no nosso carácter, nos entender e demonstrar isso às crianças mais novas. Isso deve ser feito com cuidado e ternura, corrigindo-as sem obstáculos.
Quem estamos criando em uma criança? Um educador. Quando ela soube o que significa ser um educador de uma criança mais nova, ela me entenderá melhor como seu educador também. Assim, desenvolvemos uma relação de iguais. Quando eu a ensinar, ela entende por que me comporto desta maneira e constrói o seu comportamento apropriadamente. Alguns dias depois, ela irá ao grupo mais jovem e exibirá o mesmo comportamento.
Dentro de cada pessoa, estamos criando seu “eu”, sua justaposição com o nível superior – o educador – e com o nível inferior, os alunos, em relação aos quais ela é o educador. Acontece que cada pessoa é estudante de grau superior e educadora do inferior.
A sensação de que você é um elo nesta cadeia tem que ser natural para cada um de nós. Esta é a base para a integração na sociedade, com cada um dos seus membros suprimindo-se a si próprio como estudante e como educador. Isto é estudado como parte dos conceitos básicos de interação grupal.
Por uma questão de alcançar uma sociedade integral, eu tenho que conscientemente me baixar diante do meio ambiente, anulando-me perante a sociedade. E, por outro lado, tenho que me elevar para sentir a dependência da sociedade de mim e influenciar a importância do objetivo.
O nível mais baixo e o nível mais elevado devem ser realizados em cada pessoa. E a diferença entre eles determina a altura interna de uma pessoa.
– O educador também deveria estar nesses dois níveis? Além disso, ele deveria ter uma parte infantil e brincalhona vivamente expressa nele?
– Claro.
– Muitas vezes as pessoas que entram nesta profissão tiveram uma infância problemática e desejam compensá-la através das crianças.
– Compreendo. Muitas vezes, as pessoas que se tornam educadoras não têm auto-estima. Eles chegam a um grupo de crianças para se resgatarem, para compensarem a sua falta de segurança e confiança.
Mas, na nossa educação, temos que escolher pessoas completamente diferentes e formá-las! Eu aceitaria para este curso quem quisesse se juntar. Pelo menos, uma pessoa aprenderá algo e se aproximará da nova sociedade integral. Algo irá penetrá-la e ela mudará. Depois, devem ser selecionados bons instrutores a partir delas, pessoas que podem jogar e se posicionarem bem.
Em vez do seu “eu”, elas têm que ter a importância do objetivo. “Nós” tem que ocupar o lugar mais importante dentro delas. Esse tipo de pessoa não deve ter medo ou vergonha de não ter um “eu”. Ela não é como um galo que deseja governar todos. Ela é orgulhosa porque seu trabalho é necessário para o coletivo, porque encontraremos a verdade e a nossa nova existência na nossa unidade.
– Existem várias maneiras de determinar as qualificações para as pessoas que trabalham com outras pessoas. Vou nomear três delas.
Uma é a dos testes. Quando uma pessoa é avaliada positivamente, obtém um diploma e pode começar a trabalhar.
O segundo é quando uma comunidade de educadores determina que a pessoa é adequada para isso. A opinião de que “ela é um de nós” é suficiente para considerá-la profissionalmente qualificada. É assim que os psicoterapeutas são credenciados.
E a terceira maneira é quando as próprias crianças decidem se este educador é adequado para elas ou não.
Na sua opinião, qual deve ser o critério para determinar se um instrutor está pronto para esse trabalho? O que deveria torná-lo qualificado o suficiente para as pessoas confiarem-no aos seus filhos?
– Todo homem tem que ser – um pai e toda mulher – uma mãe. Todos nós temos que entender o que é uma sociedade integral e como interagir dentro dela, tanto com adultos quanto com crianças. Portanto, todos devem completar estes cursos, que devem estar disponíveis em todos os lugares.
Todos os meios de comunicação mediáticos devem falar sobre isso constantemente. É necessário libertar todas as pessoas que trabalham por um certo número de horas por dia para participar nestes cursos.
Se um adulto que completou o estudo destes cursos e entende a sua importância, é atraído para trabalhar com crianças, ele pode ser selecionado para aprender a ser educador. Mas mesmo aqueles que não são selecionados para isso se tornarão melhores pais e melhores membros da sociedade porque compreenderão a necessidade de interação entre todos.
Durante o estudo, observamos as pessoas, entre todos os alunos, que estão capazes e dispostas a ser educadores. O processo de seleção aqui é muito simples porque não há muitas pessoas que desejem ser educadoras. Trabalhar com crianças não é fácil. Requer paciência, atenção e a capacidade de estar constantemente sob pressão com as crianças.
Este não é um trabalho, mas uma vocação! Somente o amor e o senso de responsabilidade podem dar-nos a força e a paciência, e permitir que se faça essa escolha. É onde criamos uma nova humanidade.
Espero que não haja problemas com os recursos. Não é difícil dizer se uma pessoa é certa para este tipo de trabalho. Talvez sejam necessários certos testes. Mas eu não acho que eles serão testes em exames de papel ou múltipla escolha. Em vez disso, a seleção acontecerá na prática.
Será necessário um grande número de educadores para crianças e adultos de todas as idades e para todos os níveis de preparação. Eu acho que haverá trabalho para muitas pessoas nesta área. Isto pode resolver o problema do desemprego que será exacerbado em todo o mundo enquanto reduzimos a produção de produtos desnecessários.
– Devemos nós prestar atenção à opinião das crianças sobre se elas gostam ou não de um instrutor ou educador?
– Sim. Nós devemos prestar atenção à reação das crianças e, juntamente com elas discutir porque gostam de um educador ou porque não gostam de outro. Os educadores também devem-se explicar quanto à maneira de agirem. Eles não devem ocultar os seus métodos de exercer influência, ter segredos ou manipular secretamente as crianças! Definitivamente não!
Educadores e crianças passam juntos pelo processo. Estamos criando uma nova sociedade e estamos trabalhando juntos no nosso mal- o nosso egoísmo, tentando dar-lhe a qualidade oposta, a de doação e amor.
Isso não envolve nem deve envolver segredos ou manipulações. Não deve haver nenhum quarto de professores onde eles realizem conferências de portas fechadas ou intervalos de café curtos. Pelo contrário, podemos discutir tudo com as crianças de forma absolutamente aberta. Esta é uma abordagem completamente diferente da vida!
Estamos enfrentando o desafio da natureza. Esta nos criou como egoístas e está colocando uma tarefa diante de nós – nos mudarmos. Este é o nosso problema comum! E na medida em que cada um de nós sente que é um participante ativo na resolução, em vez de esperar passivamente a correção, na medida em que cada um, independentemente, se forma a si próprio e ao ambiente, o processo será criativo.
Será importante para todos. Todas as pessoas sentirão a sua responsabilidade e não poderão escapar disso. A este respeito, crianças e adultos são iguais.