Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
– Suponha um grupo de crianças cuidando de um projeto e o completando. Nós devemos recompensá-las de algum modo? Um adulto pode premiar uma criança?
– É claro que nós podemos! Nós fazemos questão de que, sempre que os adultos se reúnem, haja crianças participando junto com eles. Nós chamamos as crianças para o palco e calorosamente agradecemos a elas e aos educadores. Elas ficam juntas em nossa frente com seus educadores, enquanto nós as aplaudimos e “as admiramos”, por assim dizer.
– Quer dizer, elas ganham reconhecimento social.
– Definitivamente! Há outra forma!? Isso deve ser uma recompensa. Isso é a energia que faz uma pessoa continuar. Se uma pessoa não é recompensada, como ela vai continuar trabalhando?
– Suponha que eu observe as coisas como um especialista (pelas costas do instrutor) e veja que uma criança fez alguma coisa muito bem e superou um estado difícil. Eu poderia ir até ela, cumprimentá-la e dizer: “Ótimo trabalho, eu realmente gostei!”? Ou eu não deveria fazer isso e deixar que o grupo o faça?
– Você pode fazer isso. De fato, eu mesmo também o faço. A questão, no entanto, é que isso deve ser feito gentilmente, de uma maneira amigável e de um modo que não evoque presunção. Há o risco do orgulho, de fazer a criança se sentir superior aos outros, porque assim ela pode começar a mandar nas pessoas em volta, pensando: “Agora eu sei como as coisas deveriam funcionar aqui”. Tudo depende da preparação, da criança e das circunstâncias.
– Nos últimos 100 anos, a psicologia desenvolveu um método de tomada de consciência e de trabalho com emoções “negativas”, tais como rancor ou senso de culpa. Existe algum problema em revelar a uma criança como esse mecanismo funciona, de modo que ela se torne apta a superar sua irritabilidade, por exemplo? Isso também é um mecanismo comportamental. Se uma criança souber como isso funciona, talvez seja mais fácil para ela se livrar dessa falha ou usar isso corretamente?
– Nós definitivamente discutimos e contamos às crianças as razões do porquê de as emoções negativas surgirem. Não tentamos, porém, observar as doutrinas atuais, porque amanhã essas doutrinas irão mudar. Em vez disso, apenas apontamos as coisas que naturalmente decorrem de nossas observações. Isso é o mais importante. Você não dita fórmulas prontas para as crianças, mas as encontra junto com as crianças: “Uau! Olhe como as coisas acontecem na vida”. E junto com elas você descobre sua dependência de certas qualidades que elas têm e suas expressões.
Desse ponto de vista, eu realmente gosto dos museus naturais, onde uma criança pode conduzir pequenas experiências, assistir a alguns fenômenos, colocar isso em movimento por si mesma e observar o resultado. Talvez alguma coisa imprevisível ocorra, e então teremos uma explicação de por que isso ocorre na Natureza.
Então a criança pode escrever sobre isso, e aí está uma lição de física para você. Você não precisa de nenhuma aula, nem de se sentar na frente de um professor chato, de um quadro negro, ou até mesmo da tela de um computador. Essa é a melhor forma de aprender sempre que for possível. Se, no entanto, for impossível fazer algo assim, ainda há muitos filmes científicos. O melhor, porém, é fazer isso na vida real e discutir depois.