Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”
A educação é reconhecidamente um problema e uma questão dolorosa em todo o mundo. Crianças desinteressadas, notas escolares em declínio, violência e conduta desordeira indicam que os sistemas de educação em muitos países se tornaram disfuncionais.
Alguns dos problemas se originam na estrutura do sistema de ensino e na sua incapacidade de se adaptar às mudanças. No entanto, uma mudança é claramente necessária, sobretudo porque pouco mudou nas escolas desde a sua criação, por volta dos dias da Revolução Industrial à cerca de 200 anos atrás. Salas de aulas lotadas, crianças atrás de mesas, forçadas a ficarem sentadas por muitas horas seguidas, pausas curtas, e grandes quantidades de informação inútil para serem memorizadas ainda fazem parte do sistema de educação vigente. Nos dias em que as primeiras escolas foram estabelecidas, havia uma real necessidade de se educar as massas de trabalhadores para preencher as linhas de montagens.
Assim, a estrutura atual das escolas reflete uma perspectiva muito estreita do conceito de educação. A Enciclopédia Britânica, no entanto, define a educação da seguinte forma: “A educação pode ser considerada como a transmissão dos valores e conhecimento acumulado de uma sociedade. Neste sentido, é equivalente ao termo socialização e inculturação, proposto por cientistas sociais. Crianças concebidas tanto em uma tribo em Nova Guiné, quanto os florentinos da Renascença, ou as classes médias de Manhattan, nascem sem cultura. A educação escolar é projetada para guiá-los no aprendizado de uma cultura de moldagem, o seu comportamento nos caminhos da vida adulta, e direcioná-los para o seu eventual papel na sociedade”.”91
No entanto, as escolas de hoje tem como objetivo, apenas dotar os alunos com as ferramentas de que necessitam para continuar os estudos em universidades e faculdades. Escolas não educam, no sentido pleno da palavra.
Educação, como acaba de ser descrito, não é apenas o ato de fornecer conhecimento. É um processo para projetar a personalidade e o comportamento de cada um de nós. Na verdade, a essência da educação é ensinar o aluno como lidar e vencer na vida. Uma escola que ensina apenas como memorizar informação é irrelevante, na realidade de hoje.
À luz de todo o exposto, vemos que precisamos fazer uma mudança fundamental no paradigma educacional. Devemos examinar os desafios que o mundo moderno nos apresenta e ver se a educação que fornecemos aos alunos atualmente seja suficientemente dirige a eles.
Na realidade de hoje, nosso mundo se tornou uma aldeia global social, política e economicamente. A partir do momento em que nos tornamos ligados uns aos outros, perdemos a capacidade de continuarmos levando nossas vidas sob valores narcisistas e de desrespeito pelos outros. Esses valores podem ter sido útil no velho mundo, individual e egocêntrico, mas a partir do momento em que a humanidade se transformou em um sistema integral e global, as regras tornaram-se idênticas às que se aplicam a todos os sistemas integrais da Natureza.
O corpo humano é um exemplo de um destes sistemas integral. Dentro de nossos corpos, a cooperação e harmonia (conhecido como homeostase) entre todas as células e órgãos permitem que o corpo possa manter a boa saúde. Para se manter saudável, cada célula e órgão funciona de acordo com os interesses de todo o organismo. A harmonia entre as células torna o corpo surpreendentemente saudável, como à uma máquina que é, e a saúde do corpo contribui, por sua vez, para a saúde de cada célula individual.
A forma com que as células operam em nossos corpos manifesta a lei da responsabilidade mútua e reciprocidade, que se aplica a todas as ligações multilaterais na Natureza. De fato, a sustentabilidade do sistema depende das relações recíprocas entre os elementos que a compõem.
Portanto, enquanto continuarmos a nos relacionar uns com os outros egoisticamente, em contraste com o mundo que se tornou integrado, agimos em dissonância com as leis da Natureza. Ao fazê- lo, somos como células que são partes de um organismo, mas consomem apenas para si mesmos. No caso do corpo humano, o resultado de tais células é um tumor canceroso. No caso da humanidade, o resultado é uma das várias camadas da multifacetada crise global.
Para resolver esta crise, temos de ajustar nossas redes de conexões e torná-las verdadeiramente globais. Cada pessoa deve reconhecer a natureza do mundo em que vivemos, e entender que, no século 21 uma vida pessoal depende de sua atitude para com os outros. Portanto, temos de educar as pessoas para se tornarem sensíveis umas com as outras, para serem cuidadosos e responsáveis em suas abordagens para com o mundo.
Segue-se que, no século 21 o mundo precisa de mais do que uma solução econômica ou política para os seus problemas. Em primeiro lugar, ele precisa de uma solução educacional.
Numerosos estudos e livros já determinados, em que o elemento primordial na moldagem da personalidade de um jovem seja o ambiente circundante.92 Portanto, realmente “educar” uma criança significa colocar-lhe no ambiente real, uma educação que afeta com resultados positivos e com os valores corretos e reais. Para criarmos uma geração que vai aniquilar as crises que o mundo está experimentando atualmente, devemos criar um ambiente social diferente para as nossas crianças.
Desde cedo, as crianças precisam crescer com o entendimento de que o egoísmo, o desejo de desfrutar, em detrimento de outros, é a principal causa do sofrimento no mundo adulto. Ao mesmo tempo, temos de mostrar às crianças, utilizando-se vários auxiliares de professores, que relações baseadas na consideração mútua, tolerância e compreensão, podem facilitar a harmonia e a persistência da vida.
Dez Princípios Chave para a Educação Global
1) O ambiente social constrói a pessoa: O ambiente social é o principal elemento que afeta as crianças. Portanto, temos de criar entre elas uma “sociedade em miniatura”, onde todos se preocupam com todos. Uma criança que cresce em um ambiente como esse não só irá prosperar como terá sucesso em expressar o seu potencial criativo, e também abordará a vida com um senso de propósito, e com o desejo de construir uma sociedade semelhante no ambiente “extraescolar”.
2) Exemplo pessoal: As crianças aprendem tanto com os exemplos que fornecemos pessoalmente como os dos educadores e pais, quanto através da mídia e outros conteúdos públicos à que estão expostas.
3) Igualdade: Durante o processo de aprendizagem, não deve haver um professor, mas sim, um educador. Embora o educador seja mais velho em idade, ele ou ela será percebida pelas crianças como “um deles”, um parceiro. Desta forma, o educador pode gradualmente “puxar” as crianças em todos os aspectos do estudo- informacional, bem como moral e socialmente. Assim, por exemplo, durante a aula, tanto crianças como educadores irão sentar-se em um círculo e conversarem, com todos sendo tratados com igualdade.
4) Ensinar através de jogos: Através de jogos, as crianças crescem, prendem e aprofundam a compreensão de como as coisas estão ligadas. Um jogo é um meio pelo qual as crianças começam a conhecer o mundo. Na verdade, as crianças não aprendem palavras por ouvi-las. Em vez disso, eles aprendem através da experiência. Por isso, é necessária a utilização de jogos como um método primário para trabalhar com as crianças. Os jogos devem ser construídos de tal forma que as crianças irão ver que elas não podem ter sucesso sozinhas, mas somente com a ajuda de outros, que para ter sucesso têm de fazer concessões aos outros, e que um bom ambiente social só pode fazer-lhes bem.
5) Saídas semanais: Toda semana deve haver um dia em que as crianças deixem as escolas e vão para um lugar no país ou algum outro local, dependendo da idade da criança. Esses locais podem ser parques, zoológicos, fábricas, fazendas, estúdios de cinema, ou teatros. Além disso, as crianças devem ser ensinadas como os sistemas que afetam nossas vidas operam, tais como as aplicações da lei, os correios, hospitais, escritórios do governo, lares da velhice, e em qualquer lugar onde as crianças podem aprender sobre os processos que fazem parte das nossas vidas. Antes, durante e depois do passeio, as discussões devem ser realizadas sobre o que será visto, como será a experiência em comparação com as suas expectativas, as suas conclusões, e assim por diante.
6) Os mais velhos ensinando os mais jovens: Os grupos etários mais velhos irão “adotar” os grupos mais jovens, enquanto os grupos mais jovens irão ensinar os mais jovens ainda. Desta forma, todos se sentem parte do processo de aprendizagem e adquire ferramentas necessárias para a comunicação com os outros.
7) “Pequena corte”: Como parte do processo de aprendizagem, as crianças devem agir nas situações com que se deparam no seu quotidiano: a inveja, disputas por poder, fraude, e assim por diante. Depois de atuá-los, eles devem tentar analisá-los. Através de tais experiências, as crianças irão aprender a e serem sensíveis umas com as outras. Elas compreenderão que os outros também podem ter razão, embora seja difícil de aceitar seus pontos de vista no imediatamente. Eles vão ver que amanhã eles podem se encontrar em uma situação semelhante, de que cada pessoa e cada ponto de vista têm o seu lugar no mundo, e que todos devem ser tratados com tolerância.
8) Atividades de gravação de vídeo: Recomenda-se que todas as atividades sejam filmadas para posterior visualização e análise junto com as crianças. Desta forma, as crianças serão capazes de ver como reagiram ou se comportaram em determinadas situações. Eles serão capazes de analisar as mudanças por qual elas estão passando e desenvolver a capacidade de introspecção.
9) Pequenos grupos com vários educadores: É altamente recomendado que cada grupo de 10 alunos tenha uma equipe de dois educadores e um profissional de apoio (um psicólogo).
10) Apoio dos pais: Os pais devem apoiar o processo educativo se desdobrando nas escolas. Eles devem conversar com as crianças sobre a importância dos valores inculcados na escola, devem ser um exemplo pessoal desses valores em seu comportamento, e evitar completamente incutir outros valores. Para facilitar isso, também deve haver cursos para pais.
Colaboração com a UNESCO
O método de educação global tem sido calorosamente aceito pelo Diretor-geral da UNESCO, a Sra. Iria Bokova. No momento, um livro da UNESCO-ARI conjunta sobre educação global está em formação, e uma tivemos uma série de conferências e reuniões internacionais e está se planejando mais destas reuniões para o futuro.
91 “Education,” Encyclopædia Britannica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/179408/education
92 Probably the most notable example of the influence of the social environment on our psyche and even our physical well-being is the book, Connected: The Surprising Power of Our Social Networks and How They Shape Our Lives – How Your Friends’ Friends’ Friends Affect Everything You Feel, Think, and Do, by Nicholas A. Christakis, MD, PhD, and James H. Fowler, PhD (Little, Brown and Co., 2010).