Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”
Anteriormente dissemos que o ideal seria que o grupo fosse composto por 8 a 10 crianças e tivesse não um, mas dois ou três instrutores trabalhando com elas.
Eu penso que um grupo de 10 crianças com dois instrutores é a medida ideal.
– Um dos instrutores deveria estar sempre com as crianças ou eles deveriam se alternar?
– Penso que deveriam se alternar. É claro que as crianças sentem-se mais confortáveis com um instrutor, mas se acostumar com as coisas as limita, cria padrões que são perpetuados dia após dia. Em vez disso, nós deveríamos provocá-las constantemente, assim elas se veriam obrigadas a resolver os problemas de suas vidas como um quebra-cabeça. Isso tornaria seu senso de direção mais acurado. A criança teria de descobrir em qual posição ela se encontra frente a seus amigos, e também perante seus instrutores, e como ela deveria agir sob novas circunstâncias.
Isto é, nós temos de torná-la o mais flexível possível, e instrutores permanentes não se enquadram nessa questão.
Penso que parece mais desafiador ter muitos instrutores num grupo grande, simultaneamente. O espaço, no entanto, ainda é limitado. A melhor abordagem é mudar tudo o tempo todo, inclusive o cenário, a diversidade de crianças e o instrutor que está próximo a elas.
– De quantos instrutores estamos falando nessa rotatividade? Umas dez pessoas ou apenas uma pessoa nova a cada vez em que as crianças se reúnem?
– O mais importante é que eles se alternem. É melhor ter quatro pares de educadores que se alternam constantemente num grupo de dez crianças. Eles mudam de um grupo para outro e esses pares também mudam.
E assim haverá mudanças suficientes de cenário e as dinâmicas serão observadas. Adicionalmente, o grupo de crianças também se mistura.
Elas devem sentir que todos nós, todas as pessoas da Terra, estamos participando de uma única comunidade global integrada. Eu não me importo exatamente com quem está perto de mim, eu tenho de ser capaz de entender todo mundo e estabelecer um relacionamento com todos.
Deve haver menos barreiras quanto possível, qualitativas ou quantitativas. Temporárias ou humanas. O assunto também deve mudar constantemente. Absolutamente tudo deve mudar!
Dessa maneira a pessoa irá sentir as mudanças ocorrendo dentro dela. Ela será constantemente forçada a se avaliar, avaliar os outros e o cenário, para revisar o critério que anteriormente pareceu claro e correto, com o qual ela já cresceu acostumada. Hábito não é bom. Deve haver constante criatividade.
– Em essência, você acabou de sugerir que retiremos todos os recursos nos quais a pedagogia se baseia.
-Isso porque é mais fácil para os pedagogos. Eles criam um sistema ou cenário estagnado, porque se sentem confortável nele. Onde, porém, se encontra o espaço para a criatividade?
-Nesse caso, onde as crianças conseguirão recursos? Nesse sistema geral?
-Sim. De que outra maneira isso poderia funcionar? Existem sete milhões de pessoas a minha volta e eu tenho de me sentir confortável quando junto com todas elas. Eu tenho de estar disposto a absorver todas as imagens delas dentro de mim.
Se eu estou disposto a fazer isso apenas com um pequeno grupo, então nunca sairei de dentro da minha casa, do parque ou do jardim de infância. Em princípio, isso é o que está acontecendo com as pessoas atualmente. Elas experimentam coisas agradáveis na infância e, às vezes, na juventude (apesar de que, até lá, seu círculo de amigos estreitou-se consideravelmente), e assim não querem ir para lugar nenhum.
Por que a rede social “Classmate.com” é tão popular? Em que as pessoas são atiradas? Elas não possuem nada! É por isso que elas só querem retornar para seus parques e escolas. Por quê? Porque lá elas tiveram barreiras e se sentiram bem. “Então vamos voltar a ser crianças novamente”, elas pensam. Em outras palavras, elas continuam crianças. Elas nunca amadureceram, não receberam nenhuma ferramenta para entrar no mundo e achar orientação nele.
Quais são os atributos pelos quais eu escolho meus amigos no “Classmates.com”? Quando eu era jovem, eu era amigo deles. Mas agora sou adulto e não tenho ninguém. Então, eu voltarei para eles.
Aonde nós chegamos? Essencialmente, a pessoa nunca deixou a infância, sente falta. Mas que tipo de infância foi aquela? Ela também foi limitada pelas barreiras de um sistema rígido! O sistema não lhe ensinou ser flexível, portanto ela quer voltar à infância com o intuito de se sentir pelo menos mais confortável. Ela é um pequeno cubo dentro de uma pequena caixa e lá se sente bem.
– Nos primeiros três anos da vida de uma criança, ela fica perto da mãe, tem um contato próximo com ela. Repentinamente, uma mudança drástica ocorre, quando a criança começa a interagir com os outros. Como podemos tornar essa transição confortável?
Isso tem sido pré-planejado pela Natureza. Vemos como, de repente, na idade de 3 anos, a criança começa a brincar com outras. Anteriormente ela nem percebia a existência dos outros. Tudo o que ela conhecia era a si mesma, sua mãe e seus brinquedos. Isso era tudo; ela não tinha nenhuma vontade de ser sociável.
Ela, porém, começa a sentir “Eu quero brincar com alguém”, “Eu quero enxergar uma pessoa e aprender a fazer coisas junto com ela”. Ela começa a observar outras crianças. Isso acontece automaticamente e começamos a desenvolver essa atividade assim que aparece.