Por baixo das campanhas mescladas reside a batalha de Trump para salvar a verdadeira economia versus os esforços de Clinton para salvar Wall Street.
A actual eleição americana é fundamentalmente diferente de qualquer anterior campanha. Por baixo das campanhas mescladas sem precedentes reside um abismo entre visões do mundo que os eleitores devem ter consciência quando colocam seus votos, pois sua escolha vai directamente determinar o seu futuro.
Nesta eleição, os dois candidatos não representam duas variações do mesmo pensamento económico, mas em vez disso duas visões do mundo fundamentalmente diferentes. Donald Trump planeia reanimar a verdadeira economia, que produz bens e serviços, embora isso indubitavelmente venha às custas dos bancos de Wall Street. Hillary Clinton, por outro lado, planeia salvaguardar os bancos às custas da verdadeira economia e da plebe. É por isso que a colisão entre os dois candidatos está tão quente e é fundamentalmente irreconciliável.
Para entender as diferentes perspectivas dos candidatos, precisamos de entender o impacto da crise global de 2008 na economia americana. A Bretton Woods Conference estabeleceu um novo modelo económico que ligava todas as moedas estrangeiras ao dólar americano. A fixação de taxas de câmbio permitiu ao governo americano imprimir mais e mais dólares sem a ameaça da desvalorização. Enquanto o comércio global continuava a crescer, imprimir mais dólares era economicamente justificado uma vez que o dinheiro era necessário em prol de manter o comércio em expansão. Tendo mais dólares no sistema global, enquanto mantendo a força da moeda tornou a América cada vez mais forte e aos cidadãos americanos, cujas poupanças eram todas em dólares. Esses foram os melhores dias da era do Sonho Americano.
Mas em 2008, o mundo mergulhou numa crise económica da qual ainda não recuperou. Quando o comércio global caiu, a impressão de dinheiro já não era mais apoiada pelo crescimento. O governo tentou reanimar a economia ao reduzir as taxas de juros e forçou a introdução de novo dinheiro, conhecida como expansão monetária, ou no seu outro nome: imprimir ainda mais dinheiro. Todavia, isto resultou num enorme aumento da dívida nacional.
Em 2014, vendo que o crescimento era lentíssimo apesar da impressão e dívida que estava fora de controle, o governo começou a cortar na impressão em prol de abrandar o aumento da dívida. Consequentemente, os principais bancos, que agora apoiam Clinton, começaram a sufocar financeiramente. Os bancos sabiam que se quisessem libertar o sufoco, eles teriam de colocar “um dos seus” na Casa Branca, que retome a impressão de dólares. Hillary Clinton, cuja campanha depende imenso das finanças de Wall Street, está completamente endividada aos bancos e portanto fará o que quer que eles digam. É por isso que Wall Street a apoia tão apaixonadamente.
Donald Trump, por outro lado, é o pior pesadelo de Wall Street. Para ele, o interesse nacional americano é a principal prioridade. Trump coloca a verdadeira economia à frente de Wall Street e considera a recuperação económica e a redução de dívida nacional como suas metas primárias. (Ironicamente, a visão económica de Sanders está mais alinhada com aquela de Donald Trump que com aquela de Hillary Clinton.) Trump indubitavelmente vai aumentar as taxas de juros, tornará os empréstimos mais caros e menos rentáveis para a maioria das pessoas. Como resultado, os bancos, cuja principal fonte de revenda é a dívida pública, vão sufocar ainda mais e finalmente irão colapsar. Porém, isto salvará a economia americana.
Por outras palavras, Clinton planeia salvar os bancos às custas da economia e cidadãos americanos. Trump, por outro lado, planeia salvar a economia americana às custas dos bancos. Além do mais, implementar os planos de Trump vai eliminar o poder do grupo de banqueiros elitistas e financiadores que apoiam Clinton. Uma vez que eles prosperam às custas das manipulações monetárias, sem um fluxo constante de novo dinheiro, suas colheitas vão secar e a seca os arruinará.
Abreviadamente, os planos de Clinton ameaçam a verdadeira economia, a parte que na realidade produz bens e serviços e que Trump está a tentar reanimar. Isto torna o conflito entre Clinton e Trump irreconciliável.
Em prol da economia americana recuperar, o governo americano terá de reanimar a verdadeira economia. Trump já está a tentar alcançar isto pois ele sabe que só é possível viver das proezas financeiras até certo ponto. Em momento incerto, o governo terá de adoptar a agenda de Trump. Quanto mais o governo o atrasar, mais difícil e inevitável a mudança será para os cidadãos americanos. É por isso que nesta eleição, os eleitores não vão eleger somente um candidato, mas também um caminho económico que vai determinar seu futuro pessoal económico, o futuro económico do país e do mundo.
Originalmente publicado no Haaretz