Caro Michael,
Meu nome é Michael Laitman. Eu sou um judeu vivendo em Israel. Sua história sobre a experiência que seu filho teve no sul da Europa me tocou profundamente. Admiro a sua coragem de expor o que muitos temem abrir, e sua fama dá peso a uma questão sensível que requer escrutínio.
Como um judeu que nasceu na Rússia, eu tive minha parte de experiências antissemitas. Assim como você, elas não me enfraqueceram, mas ajudaram a moldar a minha identidade judaica, e acabaram levando a minha emigração para Israel. Pode-se dizer que os antissemitas forjaram meu Sionismo.
Meus muitos anos de pesquisa científica estudando filosofia, Cabalá e ontologia moldaram a minha visão de mundo, que é baseada em raízes judaicas estreitamente entrelaçadas com o pensamento científico moderno. Eu dediquei uma grande quantidade de tempo estudando e pesquisando o motivo do antissemitismo, a fim de entender por que esse fenômeno não desaparece, mas apenas ressurge com novos pretextos. Em dois artigos publicados recentemente no The New York Times, “Quem é Você, Povo de Israel?” e “O Que Nós Judeus Devemos ao Mundo? , “eu esbocei minha posição que eu gostaria de compartilhar com você hoje.
Há apenas uma raiz para todas as expressões de antissemitismo. Nem os judeus, nem aqueles que não gostam deles sabem a principal razão para o antissemitismo. Assim como impulsos inconscientes que nos obrigam a executar ações que não podem ser explicadas, o antissemitismo não requer qualquer base racional. Com os primeiros sinais de crises sociais ou financeiras, o antissemitismo fica mais forte e se revela na forma de acusações e reclamações contra os judeus.
A única maneira de erradicar o antissemitismo é arrancá-lo completamente da sociedade. A coisa mais surpreendente é que as vítimas do antissemitismo têm em suas próprias mãos a chave para resolver este problema. Todos nós, cada homem, mulher e criança, nascemos com um desejo básico de viver em paz, segurança e felicidade.
Profundamente enraizada no inconsciente de cada ser humano está a ideia de que isso só é possível se todas as pessoas do mundo aprenderem a tratar umas às outras com sensibilidade e cuidado. Assim como uma família que se preocupa com cada um de seus membros, a humanidade como um todo será capaz de sobreviver apenas se as pessoas forem capazes de se relacionar mutuamente como uma família, não como inimigas.
Muitas gerações atrás, antes da destruição do Templo e do exílio da terra de Israel, a nação judaica estabeleceu uma sociedade na qual eram cultivadas tais relações. Profundamente dentro de nós existe esse atributo dormente; nós temos que despertar esse atributo para que possamos restabelecer as relações de parentesco e amizade por toda a sociedade. Nós nos esquecemos que temos esse atributo, e os outros povos não estão sequer cientes de sua existência.
Os judeus e as pessoas de outras nacionalidades sentem instintivamente que o povo judeu está “retendo” algo especial que não querem compartilhar com as outras nações e que é vital para a sobrevivência da humanidade. Assim, em tempos difíceis as pessoas apontam para os judeus e nós invocamos raiva e ressentimento nelas, que muitas vezes levam à violência. As nações do mundo, instintiva e inconscientemente, sentem esse “algo”, que é o modelo de uma sociedade já construída por nós no passado e a nossa capacidade de manter a sociedade com base na solidariedade, garantia mútua, e cuidado pelos outros.
A antiga sociedade judaica foi baseada no mandamento “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Esse preceito deve voltar a ser obrigatório em nossa sociedade hiperegoísta, mas não temos ideia de como implementá-lo na vida.
Muitas pessoas odeiam os judeus, mas ninguém pode realmente explicar a razão para o seu ódio, e certamente não estão em posição de restringir isso. Como nós continuamos a carregar a semente da responsabilidade mútua de forma inata, temos que despertá-la à vida e compartilhar esse conhecimento exclusivo com o mundo inteiro. Se tivermos sucesso, não só o antissemitismo desaparecerá, mas também todas as formas de ódio deixarão de existir.
A maioria dos judeus não está ciente dessa propriedade dormente e não está sequer ciente de que ela existe. Imagine que lhe dizem que você tem um verdadeiro tesouro em seu bolso e você só precisa tirá-lo para fora do seu bolso para se tornar o dono do inestimável presente. Você questiona a necessidade de encontrar esta joia?
Nós temos um presente precioso chamado “garantia mútua”. Ele dorme em nossos corações e nos recusamos a reconhecê-lo. Se abrirmos um pouco nossos corações, vamos descobri-lo. Nós somos obrigados a compartilhar imediatamente esse tesouro com o mundo inteiro; essa é a única razão dele ter sido dado a nós. É uma propriedade milagrosa “embutida” em nós para que possamos passá-la às outras nações, em vez de armazená-la para nós mesmos.
Caro Michael, essa é a única maneira de tornar o futuro do povo judeu e de toda a humanidade mais seguro e brilhante, e eu espero sinceramente que você se junte a nossa missão.
Respeitosamente,
Michael Laitman
Publicado originalmente no HuffingtonPost