Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Uma Carta Para Um Amigo Sufi

Se por vezes eu soar como se estivesse contra o Islão, ou contra esta ou aquela posição política, devem saber que não estou. Eu sou contra qualquer radicalismo, pois isso nos separa uns dos outros.

Convenção Mundial de Cabala

Participantes de dezenas de países e de todas a religiões participando na Convenção Mundial de Cabala em Ganei Hataarucha, Tel Avive. (foto:Courtesy)

Há cerca de duas semanas atrás, recebi uma carta de um amigo que não sabia que tinha. Seu nome é Paul Salahuddin Armstrong e ele é o co-director de A Associação de Muçulmanos Britânicos e director do Khilafah Online, Ltd. Na carta, ele compartilhou comigo suas preocupações que algumas das minhas recentes afirmações a respeito de presentes eventos pudessem ser mal entendidas como políticas e afastariam as pessoas de mim. A preocupação na carta emocionou-me.

Encontrei-me com Sufis anteriormente e sempre achei que tínhamos muitas coisas em comum, incluindo o aspecto mais vital da sabedoria da Cabala, que corrigir nosso mundo requer unirmos nossos corações. Esta carta não foi diferente e concordo com as palavras de Paul: “Entre eles, a Cabala e o Sufismo têm o potencial de unir os corações de nossa Família Humana.”

Paul acrescentou que comentar a política é “obviamente um aspecto necessário de qualquer sociedade,” mas que essa é “uma área muito divisionista sobre a qual muitas pessoas têm visões muito firmemente defendidas.” Não podia concordar mais. Ele também escreveu que “caso um professor de sabedoria espiritual fosse visto se identificar fortemente ou apoiasse uma posição política especifica, isso pode afastar as pessoas que inversamente concordem com sua mensagem geral, mas não conseguem aceitar ou apoiar suas visões políticas.” Novamente, concordo totalmente e estou bem consciente disto.

Inicialmente, planiei responder com uma carta de agradecimento pessoal e deixá-lo assim. Mas então percebi que a corajosa abordagem de Paul fora uma oportunidade para explicar em maior detalhe para uma ampla leitura como a sabedoria da Cabala se relaciona aos presentes eventos e por que é tão vitalmente importante que não ignoremos o que está a acontecer no mundo, pois a correcção de nossas almas toma lugar precisamente aqui, entre nós, neste mesmo mundo físico.

Nessa nota, compartilho convosco minha resposta para meu amigo Sufi, Sr. Paul Salahuddin Armstrong.

Caro Paul,

Primeiro, gostaria de lhe agradecer por compartilhar suas preocupações, é sempre útil obter outra perspectiva e fazer a precisão onde foi necessário.

Em segundo lugar e talvez mais importante, elogio a sua coragem e resolução para ajudar a espalhar a mensagem da união. Se emancipar tanto em seu nome próprio como em nome da sua organização é verdadeiramente louvável em tempos em que o ódio afasta as pessoas do seu sentido.

Pode certamente soar que pendo para este ou aquele lado político, mas não o faço. Eu pendo para o lado da união acima de todos os conflitos. Lamentavelmente, neste momento, nenhum dos lados na arena política subscreve esta visão.

Isto sendo dito, a rápida deterioração do estado do mundo me promove para alertar mais duramente que no passado e por vezes com o risco de soar crítico para este ou aquele lado em particular. Como o vejo, enfrentamos uma crise sistémica que ameaça a humanidade de catástrofes incalculáveis, mas nos falta o requisitado conhecimento para lidar com tal obstáculo.

Ao mesmo tempo, os líderes do mundo estão passivos, não por não quererem melhorar as coisas, mas por não saberem como. Sua incerteza reflecte-se sobre seus países, que por sua vez conduz a agitação social e política e instabilidade.

Certamente, a humanidade está numa nova fase. O mundo se tornou interligado e interdependente, todavia não fazemos ideia de como operar num meio ambiente onde tudo aquilo que faço afecta toda e cada pessoa no mundo muito literalmente.

Até agora, vivemos amplamente segundo a mentalidade do vencedor leva a taça. No reino animal, há equilíbrio entre a presa e o predador e cada um prospéra precisamente quando e porque o outro prospéra. Mas entre humanos, o egocentrismo cego tomou o controle e estamos enrolados num tipo de disputa do último a ficar de pé, procurando a ruína dos nossos adversários em vez de coexistência harmoniosa. Por que não podemos viver todos em paz? Porque a natureza humana não o permite. Nos tornámos egoístas até ao cerne.

Todavia, num mundo interdependente, uma luta até à morte significa que se você morrer, eu morro, também. E embora muitas pessoas já entendam isto, temos de achar uma maneira de mudar a natureza humana de modo a prevenir este fim aparentemente inevitável e amargo, daí meu sentido de urgência.

Nossa missão, a missão de toda a humanidade, mas certamente daqueles que entendem a gravidade da situação, é de introduzir uma influência equilibradora na nossa sociedade humana. Se nossa enfermidade é o egoísmo excessivo, então o tratamento deve ser uma boa dose de consideração e preocupação com os outros. Na Cabala, como provavelmente sabe, referimos-nos a este equilíbrio entre dar e receber como “a linha média.”

Não podemos restringir nosso egoísmo, ou até prender sua intensificação. Em vez disso, devemos reconhecer quem somos e decidir nos conectar acima das nossas diferenças, primeiro cobrindo com consideração mútua e finalmente o cobrindo com amor.

Entre meus estudantes em Israel e à volta do mundo, há pessoas de toda a religião, raça, género, cultura e afiliação política. Todavia, nosso desejo de nos conectarmos acima de tudo aquilo que nos separa é tão forte que estas diferenças não formam barreiras. De facto, elas aumentam nossa vitalidade e intensificam a nossa conexão e união.

Baal HaSulam (Rav Yehuda Ashlag, autor do comentário Sulam [escada] sobre O Livro do Zohar) escreve que quando a humanidade alcançar seu estado corrigido, “a religião colectiva de todas as nações” será “ame seu próximo como a si mesmo” (Os Escritos da Última Geração e A Nação). Além do mais, acrescenta ele que “cada nação seguirá sua própria religião e tradição e uma não deve interferir com a outra.” Tentamos viver segundo este princípio.

Portanto, se por vezes soar como se estivesse contra o Islão, ou contra esta ou aquela posição política, deve saber que não estou. Eu sou contra qualquer radicalismo de qualquer partido e de qualquer religião, pois isso nos separa uns dos outros. E respectivamente, acolho a qualquer um que deseje se unir acima de todas as diferenças.

Meu caro amigo, espero ter conseguido compartilhar alguma luz sobre por que me sinto obrigado a por vezes falar com aparente repreensão. Na verdade, não tenho queixas para ninguém, é da natureza humana, mas agora é a hora que devemos nos instar a mudá-la.

Que possa avançar de força em força em tudo aquilo que faça e que seus esforços de trazer a união e amor à nossa família humana atormentada dêem frutos em breve nos nossos dias, Ámen.

Meu abraço,

Michael

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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